Trechos do texto de Roberto Pontual, por ocasião da exposição de Zanine no Museu de Artes Decorativas do Louvre: “Zanine, le architecte de la foret”, 1989/90. Tradução de Silvio Maciel.
Inquieto e otimista, rigoroso e visionário, paisagista, escultor, designer e arquiteto (mas arquiteto que substituiu o diploma pela invenção), José Zanine Caldas sempre soube cultivar o acordo entre a técnica e a estética. Artista na alma e humanista em todas as suas fibras, concentrou-se por muito tempo sobre uma grande missão: procurar a habitação ideal para um país como o Brasil, profundamente desfavorecido neste domínio. Se, em função de sua formação, foi sensível à utopia modernista, suas preocupações ecológicas o levaram a uma heterodoxia dentro do panorama da arquitetura brasileira. A começar pela escolha do material de sua predileção: a madeira. Para Zanine, somente a madeira poderia resolver a penúria da habitação no Brasil. De todos os materiais primários, é aquela que demanda menos energia para sua utilização, adaptando-se à mão-de-obra pouco especializada existente. Enquanto criador de espaços para viver, Zanine crê firmemente que a casa deve se assentar sobre o terreno como seu complemento lógico. São casas centrípetas, feitas de forma direta e simples, aonde a idéia, de certa maneira indígena, seria instituir um nó, um ninho, com salas e quartos simultaneamente protegidos e ventilados. Sua paixão pela madeira explica muito o entendimento ao mesmo tempo ecológico e escultural de seu processo de trabalho: unidade dentro da diversidade. A construção se transforma em invenção...