Queríamos não só projetar móveis e objetos de madeira, mas também acompanhar sua execução, experimentar diferentes soluções, tipos de encaixes e acabamentos – enfim, queríamos diminuir a distância e o tempo entre a prancheta e o produto acabado. Entramos então em outra escala de trabalho – com o obrigatório acompanhamento in loco – sem, no entanto, abrir mão do projeto de arquitetura lato sensu do escritório. Ao contrário: projetávamos tudo, de cabo a rabo. E tudo era arquitetura.
Era e continua sendo. Na Baraúna, projetamos móveis “de arquiteto”, se é que se pode dizer assim. Os raciocínios, os conceitos, o modo de abordar cada questão são os mesmos adotados nos projetos de edificação ou de urbanismo. A lógica da estrutura, do equilíbrio, do comportamento e da resistência dos materiais, do conforto, da economia de meios e insumos, da essencialidade, tudo nos leva à explicitação do sistema construtivo. Móveis sem “bagaços”, sem sobras, que seguem a lógica das máquinas e ferramentas e só sobrevivem se têm um bom funcionamento, se atendem ao seu fim. Móveis que precisam durar, que têm de ser econômicos e belos ao explicitar com precisão seus propósitos, ao responder às necessidades e anseios de seu tempo.
O mergulho no mundo das madeiras é fascinante. Revelam-se texturas, cores, cheiros e, o que é mais interessante, diferentes propriedades que as qualificam para múltiplas funções; peso, densidade, comprimento da fibra, flexibilidade, dureza e outras variáveis orientam a aplicação mais adequada. E, no caso específico da flora brasileira, sua diversidade apresenta um campo vastíssimo a explorar.
Assim como em nossa arquitetura, ao desenhar móveis refletimos e buscamos soluções na história brasileira colonial, na experiência vernacular, nos pioneiros modernos nacionais e internacionais. Olhamos à nossa volta, no tempo e no espaço, sem no entanto fazer disso uma receita, sem preconceitos contra inovações ou novidades de onde quer que venham, mas arredios a modismos e estilismos. Não vestimos a carapuça de inventores ou criadores originais; nem mesmo nos denominamos designers, uma vez que essa palavra, repleta de significados na língua inglesa, acabou por se banalizar no Brasil. Somos arquitetos que projetam móveis.
Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz