“Ao contrário de outros países onde o design se desenvolveu a partir das habilidades e tradições artesanais, no Brasil e em outros países latino-americanos essas duas atividades sempre viveram em mundos separados, em campos até opostos. Esta oposição tem dado lugar a uma aproximação”. Essas frases são de Adélia Borges, jornalista especializada em design e curadora da exposição “Encontros design + artesanato”, e sintetizam o panorama da relação entre artesanato e design no país.
Algumas iniciativas têm mostrado na prática que isso é possível. Na última Fashion Rio, foi destaque a grife Apoena (em tupi-guarani: “que vê longe”), comandada pela estilista Kátia Ferreira. A grife nasceu em 2004 a partir de um projeto social de formação de mulheres das cidades satélites de Brasília. Hoje, suas roupas desfilam com desenhos de Oscar Niemeyer nas passarelas do Rio.
A Associação das Rendeiras do Morro da Mariana, do Piauí, fez uma parceria com o estilista Walter Rodrigues na confecção de vestidos com renda de bilro. Para as artesãs, a experiência trouxe reconhecimento e ajudou as mulheres de lá retomarem a tradição de fazer renda. “Chegamos a ter quatro rendeiras na associação, porque renda não vendia. Agora somos 120, e exportamos até para a Holanda. Não deixamos de fazer as rendas tradicionais, mas além delas fazemos coisas novas. Hoje quem manda é o cliente”, conta Maria do Socorro Reis, rendeira e presidente da associação.
Para a rendeira: “Moda passa. Mas a renda não cai. Mudamos o desenho e ela continua na moda”. O artesanato parece ser retomado com um novo vigor a partir das trocas com o design. A prática mostra que a aliança não só é possível como também é bem-sucedida, mantendo tradição e identidade.