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BRASIL NA ÁFRICA

Publicado por A CASA em 27 de Agosto de 2009
Por Daniel Douek

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Colônia portuguesa até 1975, Moçambique é um país da costa oriental do continente africano, com 801.590 km2 de área, habitado por pouco mais de 20 milhões de pessoas e cuja língua oficial é o português, apesar de haver um grande número de línguas nativas que, hoje, são patrimônio apenas das gerações mais velhas. Uma severa guerra civil que acompanhou a independência e a chegada e rápida disseminação do vírus da AIDS deixaram milhões de mortos e órfãos e paralisaram a economia do país. Atualmente, a agricultura de subsistência e pequenas criações de animais são as principais atividades desenvolvidas pela população do campo.

Neste contexto, dois projetos que promovem o diálogo entre Brasil e Moçambique, aliando a inovação e surpresa do design brasileiro ao apuro técnico do artesanato moçambicano, atuam no sentido de tentar mudar essa realidade. Um ao norte e outro ao sul de Moçambique, os projetos tiveram início no momento em que Eduarda Cipriano, diretora da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), em passagem pelo Brasil, conheceu o trabalho de Renato Imbroisi e ficou encantada. O designer foi convidado a visitar Moçambique e avaliar a possibilidade de fazer um projeto em terras africanas.

Com o objetivo de resgatar técnicas e tradições locais, delinear a identidade cultural moçambicana e local, fomentar o desenvolvimento de novos produtos e apurar a qualidade do produto final, gerando renda para as comunidades, surgiram o projeto Maciene, fruto da parceria entre a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade e a Catedral da Igreja Anglicana de Moçambique, e o projeto Ujamaa, realizado pela Fundação Aga Khan. Ambos os projetos foram coordenados por Renato Imbroisi e promoviam o intercâmbio cultural por meio de oficinas realizadas a partir de visitas periódicas de designers brasileiros à Moçambique.

De acordo com Dulce Solange Mudhlovo, gestora local do projeto Maciene, “em Moçambique havia de tudo: estrutura, espaço, máquinas adequadas, mas não havia produtos. Chamamos os designers brasileiros porque queríamos produtos com qualidade internacional. Hoje há um forte impacto em quem olha os objetos”. O artesão moçambicano Rachid Jonas Conjo, que esteve no Brasil para lançamento da exposição Brasil na África: artesanato moçambicano + design brasileiro, aponta: “os brasileiros deram-nos formação e ensinaram-nos a trabalhar com matérias primas que não conhecíamos. Nós estamos mudando de comportamento, tendo outras idéias a partir das idéias dos brasileiros. Estamos criando novos produtos. Isso é bom!”. Ainda segundo o artesão, os designers brasileiros enfatizavam a idéia de que a produção artesanal e a habilidade manual são patrimônios dos Moçambicanos. “Os brasileiros sempre diziam que tínhamos que mudar de atitude, que temos que ter consciência de que isso é nosso”, afirma. Rachid lembra também que muitos materiais abundantes em Moçambique e comumente descartados começaram a ser aproveitados: “a bananeira de Maciene estava sendo desperdiçada, agora tem um uso, assim como o pneu e o plástico. São coisas que a gente não conhecia. Não fazíamos esse tipo de produto com essas matérias-primas, mas agora estamos fazendo”.

Dulce Solange Mudhlovo destaca que “não se trata de trazer algo de fora e imputar dentro da comunidade. Trata-se de buscar o que nós temos e melhorar”. Ela afirma ainda que os benefícios trazidos pelos projetos são nítidos. “A vida das pessoas melhorou muito, pois todo o processo desde a coleta de matérias-primas até a comercialização do produto final é feito pela comunidade. Há uma série de envolvidos indiretos”.

Os projetos revelam que, além da língua e apesar da distância, Brasil e Moçambique têm muito em comum. A troca de experiências e idéias e o diálogo entre pessoas que convivem em realidades distintas é um jogo em que os dois lados só têm a ganhar.

O melhor dessa produção está em exposição no museu A CASA!  Confira!