Tudo começou quando o Secretário de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, avisou Adélia Borges que a Prefeitura de São Paulo iria herdar o acervo do Museu do Folclore Rossini Tavares de Lima e perguntou o que poderia ser feito com ele. A resposta foi imediata: "Ressignificá-lo". Eram os primeiros passos para a criação do Pavilhão das Culturas Brasileiras, que pretende ser um espaço "onde as diferentes culturas brasileiras possam se encontrar, se contrapor e dialogar" e fazer com que "possamos, todos, nos ver como produtores de cultura, e não apenas consumidores e espectadores".
De acordo com Adélia Borges, uma das responsáveis pela elaboração do
pré-projeto conceitual da instituição, "Hoje as coisas são muito
segmentadas, cada museu é dedicado a uma coisa. Há um museu dedicado a índio,
outro museu dedicado a arte popular, outro dedicado à arte contemporânea etc.
Havia a necessidade de se criar um espaço onde pudéssemos nos reconhecer e
sermos reconhecidos. A cidade ganha, assim, um museu do reconhecimento".
O novo museu estará localizado no Pavilhão Engenheiro Armando Arruda Pereira,
um edifício de 11 mil metros quadrados projetado por Oscar Niemeyer nos anos
1950. Nas últimas décadas, o prédio abrigava a Prodam (Companhia de
Processamento de Dados do Município de São Paulo), e constituía o último prédio
do Parque do Ibirapuera ainda ocupado por escritórios administrativos. A
iniciativa marca a retomada da vocação cultural de todos os equipamentos do
principal parque da cidade. Segundo Borges, o local escolhido para a criação do
Pavilhão é sugestivo. "O parque do Ibirapuera é um local onde diversas
tribos, faixas etárias e classes sociais convivem no mesmo espaço. É como as
praias do Rio de Janeiro".
Desde o dia 11 de abril, o Pavilhão abriga a exposição que pretende dar uma
idéia de como o espaço será aproveitado. Em "Puras Misturas", que tem
curadoria geral de Adélia Borges, os visitantes têm a oportunidade de conferir
parte do acervo do futuro museu, que inclui, além das peças do Museu do Folclore
Rossini Tavares de Lima, a Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade
e objetos de arte erudita, popular e indígena adquiridas recentemente pela
Secretaria Municipal de Cultura.
Logo na entrada, o visitante é convidado a participar de uma experiência pouco
comum em museus tradicionais: interagir com as obras. Dezenas de banquinhos das
mais diversas origens estão prontos a acolher o espectador. Há desde bancos
produzidos por designers conceituados, como o Mocho, de Sérgio Rodrigues, até
um banco de papelão que deixa dúvidas no visitante se é resistente o suficiente
para agüentar seu peso. O melhor de tudo é que a dúvida pode ser tirada a
limpo. Há também uma série de bancos indígenas e outros de autoria anônima.
Lado a lado, estes bancos parecem simbolizar exatamente a diversidade
brasileira.
De acordo com Adélia Borges, a exposição está sendo visitada por grupos que
nunca haviam entrado em um museu, como os moradores da periferia da cidade.
Além disso, pipoqueiros que trabalham no parque têm trazido suas famílias para
verem e fotografarem o carrinho de pipoca em exposição. A curadora conta também
que, no dia da abertura, foi organizada uma apresentação musical envolvendo
cinco grupos de diferentes estilos. Um deles, composto por índios que trabalham
na construção civil em São Paulo, voltou ao local dois dias depois como
visitante. "Não pode haver coisa mais linda do que essa, eles ensinaram
aos educadores sobre as coisas deles. Ao se reconhecer, as pessoas se apropriam
dessa herança comum", afirma.
Mesmo assim, Borges acredita que ainda existe um desprezo pela cultura indígena
e popular em alguns segmentos. "Há, na própria imprensa, certo silêncio em
relação à exposição devido a um preconceito sobre tudo o que existe de arte
popular". Por isso, ao falar em Culturas Brasileiras no plural, a idéia é
enfocar a diversidade cultural do país, entendida como riqueza. "Nós temos
uma diversidade muito presente e é preciso estimular a troca respeitosa. O
Brasil tem a ensinar para o mundo a tolerância e o regozijo pelas
diferenças".
SERVIÇO:
Exposição "Puras Misturas"
Visitação: de 11 de abril a 12 de setembro de 2010
Horários: terça a domingo, das 9h às 18h, entrada até às 17h.
Grátis . Censura livre . Exposição acessível
Local: Pavilhão Eng. Armando Arruda Pereira - Parque do Ibirapuera, portão 10
Endereço: Rua Pedro Álvares Cabral, s/nº - São Paulo, SP - Telefone: 11 5083 0199
Visita monitorada: atendimento a grupos escolares, organizações da sociedade civil, associações de moradores etc, mediante agendamento pelo telefone 11 5083 0199 ou e-mail.