No último dia 5 de novembro, foi comemorado o Dia Nacional do Design. A data escolhida é uma homenagem ao aniversário de Aloísio Magalhães. Bacharel em direito, pintor, designer, gravador, cenógrafo, figurinista, homem público, é difícil encontrar um único termo que dê conta de toda sua atuação, seja no campo profissional seja na cena política brasileira.
Aloísio Magalhães nasceu em Recife, em 1927. Ainda jovem, participou do Teatro do Estudante de Pernambuco - TEP como cenógrafo e figurinista. Após alguns anos vivendo em Paris e nos Estados Unidos, volta ao Brasil e passa a desenvolver atividades que o iriam consagrar como pioneiro e um dos mais importantes designers gráficos do país. Até hoje, suas ilustrações estão presentes na memória do brasileiro, como os símbolos do 4° Centenário do Rio de Janeiro, da Fundação Bienal de São Paulo, da Petrobras, do Unibanco, da Light e as notas do Cruzeiro Novo.
Aloísio também teve uma atuação de destaque na cena cultural do país. Em 1963, participa da criação da primeira escola de design do Brasil, a Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI). Mais tarde, assume a direção de diversos órgãos públicos, como o Centro Nacional de Referência Cultural, que ajudou a fundar, o IPHAN e a Secretaria de Cultura do Governo Federal.
A construção de uma identidade e memória nacionais sempre esteve em seu foco de ação. Tendo vivido a época do grande impulso à industrialização brasileira, tratou de pensar em formas para promover as manifestações culturais populares num contexto de homogeneização. Aloísio acreditava que o avanço econômico do Brasil não deveria ocorrer sem a valorização da própria cultura nacional. "Será que a nação brasileira pretende desenvolver-se no sentido de tornar-se uma nação rica, uma nação forte, poderosa, mas uma nação sem caráter?", perguntava ele.
Aloísio defendia a ampliação do conceito de bem cultural para além dos conceitos vigentes até então, isto é, os bens móveis ou imóveis impregnados de valor histórico ou bens de criação individual espontânea, que compunham o acervo artístico do país. De acordo com ele, "permeando essas duas categorias, existe uma vasta gama de bens - procedentes, sobretudo, do fazer popular - que por estarem inseridos na dinâmica viva do cotidiano não são considerados na formulação das políticas econômica e tecnológica. No entanto, é a partir deles que se afere o potencial, se reconhece a vocação e se descobrem os valores mais autênticos de uma nacionalidade".
Nesse sentido, conhecer o Brasil era uma necessidade urgente. Em novembro de 1980, durante um debate na semana de arte e ensino, argumentou: "É como se o Brasil fosse um espaço imenso, muito rico, e um tapete velho, roçado, um tapete europeu cheio de bolor e poeira tentasse cobrir e abafar esse espaço. É preciso levantar esse tapete, tentar entender o que se passa por baixo".
Em 1982, Aloísio viaja para Veneza como representante brasileiro na reunião de Ministros da Cultura dos Países Latinos. Subitamente, sofre duas hemorragias cerebrais e não resiste. Morre prematuramente no dia 13 de junho 1982, aos 54 anos, em plena atividade. Mas se o tempo em que exerceu atividades à frente de órgãos públicos foi relativamente curto, suas idéias permaneceram. A Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, que versam sobre cultura, trazem a sua marca de maneira muito clara. Atualmente, muito do que se discute hoje em política cultural tem sua origem nas idéias de Aloísio Magalhães, que reuniam o pioneirismo e a versatilidade de sua própria trajetória.