O encontro entre design e artesanato é um campo permanentemente tensionado, a despeito de todo o tempo que se passou desde os primeiros projetos reunindo designers e comunidades de artesãos e do quanto se evoluiu na área desde então. Posicionamentos os mais diversos são acompanhados de defesas apaixonadas de pontos de vista e fortes críticas a formas de atuação divergentes.
Surgem desde questionamentos sobre a legitimidade da intervenção de designers em uma comunidade tradicional de artesãos, pelo risco sempre presente de se extinguir toda uma cultura ancestral, até a argumentação de que promover essa intervenção é, pelo contrário, uma obrigação, já que possibilita elevar a renda de milhares de artesãos que, mesmo dotados de um incrível saber-fazer, por vezes vivem à margem da sociedade e em condições de indigência. Mesmo dentre aqueles que apóiam e promovem essa intervenção, há quase que um consenso de que ela deve se pautar por alguns princípios éticos que possibilitem uma relação equilibrada – segue-se daí, nova rodada de debates.
Em meio a isso, uma série de caminhos vêm sendo propostos e trilhados, não sem o reconhecimento dos diversos erros cometidos, bem como a celebração dos variados acertos e sucessos. Atualmente, esse campo conta com a participação de um leque variado de profissionais de diversas áreas, grupos produtores, instituições públicas e privadas, empresas, ONGs, universidades e museus.
Com o objetivo de compartilhar experiências e criar referências, A CASA realizou uma série de entrevistas com profissionais envolvidos nesse tipo de trabalho. Das mais de 20 realizadas até o momento – todas elas disponíveis em www.acasa.org.br –, estão reunidas neste livro as 10 primeiras, feitas entre junho de 2008 e março de 2009, que trazem um mosaico de opiniões e vivências.
Como fazer uma boa aliança entre designers e artesãos? Quais as diferenças entre artesãos e artistas populares? De que modo essa diferenciação implica na forma de atuação dos designers? É preciso educar o artesão para o mercado? É preciso educar o mercado para o artesão? Há descompasso entre aquilo que é produzido pelas comunidades artesanais e aquilo que designers e instituições, em nome do mercado, desejam que seja produzido? Como passar de uma política assistencialista a uma política transformadora? Como as políticas públicas podem contribuir nesse processo? O que é comércio justo? O que é cultura popular? O que é design sustentável? Qual o risco, para o meio-ambiente, da popularização do consumo de produtos feitos a partir de determinadas matérias-primas naturais?
Estas foram algumas das questões propostas aos nossos entrevistados. Como poderá ser visto ao longo da leitura do livro, se por um lado suas respostas ajudam a solucionar determinados problemas, por outro, criam outros tantos. O objetivo do livro é justamente problematizar e, com isso, aprimorar o encontro entre designers e artesãos. Por se tratar de um campo relativamente novo, ainda carente de publicações a respeito – embora isso já esteja mudando rapidamente –, as entrevistas visam contribuir para preencher parte dessa lacuna.
Este é um livro para todo tipo de leitor: artesãos, designers, produtores, ou mesmo o leitor que não tem relação direta com este universo e que acredita estar “alheio” aos dilemas relacionados ao encontro entre o design e o artesanato. Mesmo sem nos darmos conta, nos relacionamos cotidianamente com objetos de origem artesanal e frutos do design. Além disso, como consumidores, somos nós que ditamos o ritmo e o andamento dos processos que envolvem a produção do objeto brasileiro. Este é, portanto, um convite a se debruçar e refletir sobre as dimensões material e simbólica do objeto brasileiro contemporâneo.
entreVistas design + artesanato - Vol. 1
272 páginas. R$20.
O livro pode ser adquirido em A CASA.
Informações: 11 3814 9711 ou acasa@acasa.org.br