MATÉRIA DO MÊS
A TRADIÇÃO POPULAR DA LOUÇA DE BARRO DE POXICA
Publicado por A CASA em 16 de Dezembro de 2010

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A partir do dia 16 de dezembro, quinta-feira, até 18 de março de 2011, A CASA museu do objeto brasileiro, receberá a exposição e venda de obras de Louça morena do povoado de Poxica, uma das mais importantes regiões brasileiras de tradição popular na produção e comercialização de louças de barro, localizada no município de Itabaianinha, em Sergipe.
A exposição faz parte do projeto Sala do Artista Popular, que é uma realização do Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart)/Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) e Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec), que contam com a parceria regional de A CASA Museu do Objeto Brasileiro, além da parceria institucional e apoio financeiro do BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Itabaianinha
Itabaianinha está localizada na região centro-sul do Estado de Sergipe, a 118 km da capital Aracaju, com aproximadamente 38.000 habitantes divididos entre os cerca de cem povoados da região. É referida sempre como a "Princesa das Montanhas", como a teria batizado o poeta sergipano João Pereira Barreto, por sua localização entre cadeias de montes.
Se a produção cerâmica destinada à construção civil logo se anuncia na paisagem, ao olhar imediato do visitante escapa haver ali uma outra atividade que transforma o barro, dispersa nas oficinas de seus produtores, em geral instaladas no ambiente doméstico. A "louça morena", como a chamou Cecília Meireles, pode ser encontrada na área urbana ou em diferentes povoados. Fazer peças de barro em Itabaianinha aparece como uma atividade caracteristicamente masculina quando ocorre o uso do torno, mas a produção manual de louça para uso doméstico é de domínio feminino. E é no povoado Poxica, a sete quilômetros de Itabaianinha, que a produção manual da louça de barro está concentrada e adquire expressão.
"É coisa passada de geração"
As louceiras de Poxica modelam mais frequentemente vasilhas arredondadas - passarinhos, caqueiros, pratos e alguidares. Mais recentemente produzem travessas, além de grande variedade de peças introduzidas - lembradas, aprendidas ou inventadas - por dona Valdeci, conhecida por Nem, sejam panelas, xícaras, bules, sopeiras, flores, moringas e tantas mais.
Começaram a aprender crianças ainda, quando, olhando as mães, se distraíam fabricando boizinhos e miniaturas para as brincadeiras. O aprendizado da louça se iniciava com os "passarinhos", vasilhas pequenas assim chamadas porque nelas se usava deixar água para essas aves coloridas virem beber e se refrescar. À medida que pegavam jeito cresciam as peças, abrindo-as a partir de seu interior e fazendo girar o barro entre as palmas das mãos, como em uma espécie de torno imaginário.
As mulheres do povoado perguntam apreensivas quem irá continuar fazendo a louça quando as que aí estão também deixarem, mas, de pouco em pouco, moças e meninas têm chegado, revelando que dar forma à massa espessa é memória compartilhada e que no fazer do barro pode estar guardado um percurso também para si.
Fonte: ZACCHI, Marina Sallovitz. Catálogo da exposição Louça Morena puxada à mão: o fazer do barro no povoado de Poxica. Novembro de 2010.