Faça seu Login para que possamos configurar a navegação de acordo com as suas preferências.
Não está cadastrado?Clique aqui.

BIBLIOTECA

ARQUIVO:
COLEÇÕES
BIBLIOTECA
VIDEOTECA
EXPOSIÇÕES VIRTUAIS
SOCIOAMBIENTAL
A CASA E O MUNDO

MATÉRIA DO MÊS

DO OURO AO COURO, DA GEMAS ÀS PENAS: A JOIA EM NOVAS ROUPAGENS E SIGNIFICADOS

Publicado por A CASA em 21 de Março de 2011
Por Lígia Azevedo

Diminuir o texto Tamanho da letraAumentar o texto

As joias sempre foram itens marcados pela função de adornar e simbolizar, satisfazendo duas necessidades naturais do ser humano. Enquanto objeto simbólico, a joia representa funções sociais, status, ou sentidos místicos e religiosos na forma de amuletos e talismãs. Joias também se tornaram uma lembrança de alguém querido, uma herança, e por muito tempo foram encaradas como investimento por seu valor monetário e permanência - como as cobiçadas "joias da família", que perpassavam gerações.

 

A história da joalheria se inicia ainda na Pré-História, com objetos de adorno do período da pedra lascada. A partir do momento em que dominaram a fundição de metais, os povos primitivos deixaram de usar na confecção de seus adornos conchas, cascas de fibras e raízes, e passaram a valorizar materiais mais raros e belos, como metais nobres e as pedras preciosas. O ouro ganhou status entre as matérias-primas da joalheria por sua suavidade, cor e brilho, suas propriedades de maleabilidade, resistência à oxidação e possibilidade fundir-se a si mesmo, além de ser associado com o Sol, em muitas culturas considerado o deus supremo.

 

Um momento ápice das joias enquanto ostentação, símbolo de riqueza e poder foi o período barroco, quando a produção joalheira foi impulsionada pela colonização das Américas, devido à grande quantidade de metais nobres e gemas aqui encontrados. Na Europa grandes governantes europeus, a exemplo de Luis XIV, da França, enchiam-se de ornamentos e construíam palácios repletos de ouro como Versailles. Nas colônias, também as ex-escravas demonstravam seu poder e riqueza pelos vários balangandãs de ouro e prata que traziam junto ao corpo.

 

Mas em sua evolução histórica, a produção de joias foi ganhando novos significados e consequentemente novos materiais. Seja pela necessidade econômica, como ocorreu durante depressão financeira do período entre guerras, quando a alta joalheria abriu espaço para opções mais acessíveis e baratas: as chamadas joias folheadas popularizadas por Coco Chanel, feitas a partir de materiais como vidro assoprado, metal folheado e resina. Também pela experimentação de designers como o modernista de Rene Lalique que, em seus trabalhos pautados por formas orgânicas de representação da natureza e figuras femininas, para conseguir o efeito desejado, contrariava a tendência da época utilizando poucas gemas e as mesclando a pedras de menor valor e materiais desprezados como ossos de chifres de animais.

 

Semente também é joia?

Já o século XXI abre espaço para um novo ramo na joalheria: as chamadas biojoias ou ecojoias, feitas a partir de matérias-primas não convencionais, de baixo impacto ambiental ou reaproveitados, como madeira, sementes, casca de coco, penas, escamas etc. Mesclados a materiais nobres, esses elementos geram peças únicas, que cada vez mais estão ganhando espaço no mercado brasileiro e em joalherias no exterior, valendo o sustento de comunidades artesãs e indígenas em todo o país.

 

As biojoias estão se popularizando tanto que ganharam destaque em duas recentes novelas globais. Na trama de Araguaia, a personagem vivida por Lilian Lemmertz lançou uma coleção de joias chamada Rurbana, confeccionadas com capim dourado. As peças são, na verdade, da designer paulista Meire Bonadio, que desenvolve uma linha de joias aliando o capim dourado a ouro, prata e pedras.

 

Já a mineira Junia Machado há mais de 12 anos desenvolve um trabalho marcado pela experimentação em misturar materiais alternativos a ouro e pedras preciosas. Após ter passado pelo capim dourado e pela madeira, Junia desenvolveu uma coleção feita com reaproveitamento de garrafas PET - O luxo do PET (foto acima). O trabalho ganhou repercussão ao ser usado pela personagem de Isis Valverde no remake de TiTiTi e Junia foi convidada pelo Instituto Coca-Cola a desenvolver um projeto de capacitação para um grupo de catadores de lixo de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias (RJ).

 

Junia ressalta que, quando questionada sobre a durabilidade de suas joias, diante de uma peça de ouro que é eterna, relembra que uma peça de PET pode durar 100 anos. Segundo ela, esse tipo de trabalho representa também uma subversão no conceito de lixo: "agora o PET não demora 100 anos para se decompor, ele dura 100 anos”. (Veja entrevista da designer em http://www.institutococacolabrasil.org.br/not_entrevista_juniamachado.htm)

 

As primeiras joias brasileiras foram os adornos de plumaria indígenas. Para os índios, eles tinham equivalente valor a de joias de ouro ou diamantes; sua preciosidade equivalia à raridade do pássaro do qual se retirou as penas. Assim como na sua origem, a joia contemporânea brasileira vem se re-significando, sendo carregada de sentido simbólico não na ostentação de ouro ou pedras preciosas, mas pela construção de novos valores - o projeto do desenho e a usabilidade, a valorização de materiais da flora brasileira, o reaproveitamento e a sustentabilidade.