As redes sociais foram o mote para produtores têxteis de várias partes do Brasil iniciarem um movimento de organização de grupos para troca de contatos, informações e experiências. De uma foto postada no Facebook surgiram 100 comentários, dois grupos de discussão, e a ideia de se fazer um encontro não apenas virtual. O resultado disso foi o TENET, encontro organizado por Renato Imbroisi, Marta Meyer e Juan Ojea, que aconteceu no dia 30 de abril em São Paulo. O evento reuniu cerca de 50 pessoas, entre designers, artesãos e artistas, de várias partes do país, gerações diferentes e ramos diversos da arte têxtil - tecelagem, tapeçaria, design, wearable art, feltragem, etc. Cada um deles apresentou um objeto de sua autoria, compondo uma pequena amostra da produção têxtil brasileira atual que pode ser vista na exposição que abre dia .... de junho na sede do museu A CASA. (Saiba mais na coluna Acontece no Museu).
As peças foram feitas a partir de um kit básico entregue a cada participante: uma caixa contendo tecidos e fios de algodão brancos, aos quais poderiam ser acrescentados, de outros materiais, um percentual de 10% do produto final. Segundo Juan Ojea, "o kit de material básico era uma forma de dar unidade a uma coisa heterogênea que não dimensionávamos muito, que é o que está se produzindo atualmente na área têxtil no Brasil. E surpreendeu a diversidade do resultado". Marta Meyer complementa: "A ideia era cada um transformar aquele kit com a sua cara, trabalhar técnicas e acrescentar materiais com que trabalhavam. Nunca imaginamos que daquela caixinha pudessem aparecer coisas tão diversas, como um móbile de 4m²".
Uma foto e 100 posts no Facebook
A proposta do encontro surgiu através de uma movimentação na internet, a partir de uma foto de 1989 postada por Juan Ojea no Facebook em novembro de 2010. "A foto era de um evento chamado Tecendo na Vitrine, que realizamos numa loja que o Renato tinha na época em Pinheiros, a Manufacta. Era um grupo grande de tecelões reunidos diante da fachada da loja. Muita gente viu a foto no Facebook e surgiram cerca de 100 comentários sobre ela. A partir daí começou a se formar um grupo de discussão mais consistente, e todos com desejo de fazer outro encontro", conta Marta.
A movimentação no Facebook gerou dois grupos de discussão virtuais - o Têxtil, atualmente com 85 membros, e o Têxtil Artesanal do Brasil, com 103 membros. "Estão havendo discussões muito ricas nos grupos. O mundo dos têxteis está grande e interessante, num momento em que as pessoas estão se valorizando. Em geral os artistas ficam isolados, e esse é o grande barato da internet: poder trocar informações", comenta Marta.
Encontro de gerações
Liana Bloisi era uma das pessoas do grupo que estava na foto de 1989 e se reuniu novamente na TENET, assim como Renato Imbroisi, Juan Ojea, Marina Lafer, Marta Meyer e Glaucia Amaral. Liana levou para o encontro um conjunto de acessórios chamado "Cabeça, Mãos e o Grande Coração", que congrega técnicas diversas com as quais já trabalhou em cerca de cinco décadas de experiência com a arte têxtil. Para Liana, a ideia do encontro foi muito bem-vinda: "Estávamos precisando de algo assim. Em outros países há grupos organizados muito importantes na área têxtil, e aqui no Brasil não temos isso. Temos que nos juntar, nos organizar e assim dar um passo à frente na área têxtil. Juntos é mais fácil fazer algo. A pesquisa de fibras, por exemplo, é algo de extrema importância no mercado atual e não se desenvolve porque as pessoas fazem isso muito isoladamente", comenta.
Já Alexandre Herbete é um dos representantes da nova geração de tecelões reunida no evento. Alexandre veio do Vale do Cariri para São Paulo, aqui começou a trabalhar com a tecelagem, em 2006, e há dois anos está no mercado têxtil. "Para mim foi uma sorte estar entre grandes mestres da tecelagem. Tenho um catálogo da Exposição Nacional de Arte Têxtil de 1986 e alguns dos expositores de então estavam lá. Foi uma sensação maravilhosa poder entrar em contato com profissionais que você admira, que têm 30 anos ou mais de carreira", comenta.
Alexandre apresentou no encontro a peça Salão de Beleza, um livro feito do tecido de algodão e materiais reutilizados de diversos tipos. "Como trabalho com reaproveitamento de materiais, inseri coisas como pedaços de fitas VHS, fitinhas de Padre Cícero e strass. Fiz a peça logo que voltei de uma viagem a Juazeiro do Norte. Observo muito o universo dos salões de beleza, e isso tem pra mim também uma memória de juventude, porque todos os meus amigos fizeram curso de cabeleireiro", conta.
Alexandre é mais um exemplo que confirma a influência da internet nesse momento de criação de redes entre os produtores têxteis. Seu trabalho ficou conhecido através de seu blog Peixes em Peixes e dos grupos de discussão do Facebook, e foi a partir desses meios que veio o convite para o TENET. Segundo ele mesmo conta: "O têxtil há alguns anos passou por um momento de baixa. A primeira exposição da área foi feita em 1974. Até a década de 90, tínhamos bienais e trienais em São Paulo e Porto Alegre. Já nos anos 2000, não tivemos mais. Agora, vivemos um novo momento de ressurgimento da arte têxtil e, com internet, foi possível fazer um evento como esse novamente".
Juan Ojea conclui: "O grande salto qualitativo não só na área têxtil mas em todas as áreas é a Internet. Ela deu caráter nacional a coisas que em outras circunstâncias seriam só de alcance local. O resultado do evento foi algo surpreendente. Primeiro achei que 50 pessoas era número grande e na verdade ficou pequeno. Tanto é que estamos pensando em fazer uma nova edição no ano que vem com 100 participantes".