CAICÓ: LUGAR DE BORDADO E DE FESTA
Determinados lugares provocam inquietações e guardam memórias seja pelas tramas tecidas no cotidiano ou pelos momentos de suspensão deste mesmo cotidiano – como a festa, por exemplo. Caicó é um destes lugares. De acordo com Dantas (2005), uma estudiosa da região, "nascida e criada no sertão, a fisionomia da cidade" é a própria expressão daqueles que a habitam, reveladora de fantasmas, conflitos, desilusões que constroem o emaranhado da existência humana", onde seus habitantes "tramam o seu cotidiano e a sua história" (DANTAS: 2005, p.19).
A tessitura do espaço e das relações criadas em Caicó remete à fundação da cidade em 1687 quando foi construída a casa "Forte do Cuó", dando origem ao povoamento na região, em 1735, ampliou-se o número de habitantes com o estabelecimento da fazendo Penedo, atualmente, bairro Penedo, naquela época, a cidade era chamada Vila Nova do Príncipe. Em 1748, foram lançadas as bases para a construção da Capela de Sant´Ana, originando a Freguesia de Sant´Ana. Em 1788, Caicó torna-se cidade[2]. Localizada na região do Seridó, no Estado do Rio Grande do Norte, semi-árido nordestino brasileiro, região caracterizada pela escassez e pela instabilidade das chuvas, pelas altas temperaturas e baixa umidade. Para Medeiros (apud MACÊDO: 2004, 72), também "filho da terra", a região pode ser assim explicada:
Região descalvada, montanhosa, eriçada de pedregulhos e espinhos, sujeita ao flagelo contínuo das secas, convida o homem para o labor contínuo, para a luta áspera com os elementos da natureza e não lhe permite lazeres para a contemplação das coisas belas, de resto muito raras naquelas paisagens. Grifo meu
No entanto, apesar da descrição acima se configurar como uma representação freqüente sobre ambiente sertanejo, conheci [3] Caicó por meio da contemplação de suas coisas belas. Foi o bordado que me levou ao lugar, conhecido como a "terra do bordado". Delicadeza e perfeição que contrastava, de imediato, com a imagem anteriormente projetada da aridez e da rusticidade do sertão nordestino. Da imaginação de um lugar árido, caracterizado pela luta e que não permite lazeres, deparei-me com a beleza fértil e confortável dos enxovais, da busca pela perfeição na composição de matizes coloridos e minuciosos; encontrei, ainda, a alegria da festa que louva uma santa acolhedora, avó.
Para Valery (1934), bordados são como poemas que "apresentam as mais rubras produções da vida". Guardam algo de precioso, exigem calma e tempo, em direção ao limite da perfeição, trata-se da arte da paciência, é o resultado da produção de uma "uma indústria obstinada e virtuosa". Caicó é a "terra do bordado", cuja arte está no cotidiano e nas festas em Caicó. As roupas, os enxovais, os adereços vão além do traje e da função ornamental de uma casa, apresentam o prazer da beleza o que, talvez, revele um ato transgressor frente aos discursos de miséria e confinamento que cercam o imaginário acerca do sertão nordestino.
Os enfeites que compõem enxovais e roupas representam o empenho para com o trabalho, trata-se de um aprendizado inteligente, feito com destreza, agilidade e asseio. Pautase em técnicas e habilidades conquistadas com o tempo e com dedicação. Requer, ainda habilidade comercial, já que é uma atividade que proporciona possibilidades de renda e permite, adicionalmente, acesso para fora do lugar de aparente restrição, visto que a produção artesanal se estabelece no contato com realidades outras, permitindo deslocamentos, seja dos produtos e/ou das produtoras quando, por exemplo, vão às feiras de exposições, ou quando suas peças estão nas lojas nas capitais e, até mesmo, quando os bordados são levados para outros lugares como recordações dos dias que estiveram na cidade.
Atualmente, as principais atividades econômicas da região são: a agropecuária, o extrativismo, o comércio e a mineração. Caicó é a 3ª. Cidade no estado do Rio Grande do Norte e está em 1694ª. no Brasil (1694/5561). De acordo com a projeção do IBGE, a partir Censo de 2000, a população total no ano de 2005 seria a de 60.988 habitantes, sendo 48,20% masculino e 51,80% feminino, 80% são alfabetizados e 12.986 lares estão no perímetro urbano, enquanto 1486 estão na área rural. Cerca de 20% das mulheres da região[4], de acordo com os dados com o de dedicam-se à produção do bordado como trabalho e geração de renda.
A região do Seridó, da qual Caicó é parte, compõe o Polígono das Secas, cujo regime pluviométrico é marcado por extrema irregularidade de chuvas, e este tem sido um entrave para o desenvolvimento econômico e da subsistência da população[5].Os impasses quanto ao desenvolvimento apontam um possível empenho governamental (principalmente, o do Governo do Estado do Rio Grande do Norte), por meio de agências na institucionalização de "produtos" regionais para subsistência e fomento da identidade do Seridó. Um dos interesses para a consolidação destes produtos é a ampliação do roteiro turístico potiguar, para isso, criou-se o "Roteiro Turístico do Seridó", cujo "cartão de visitas" é o bordado.
A Associação das Bordadeiras estabeleceu parcerias com agências de promoção social que se dedicam ao desenvolvimento econômico, a partir do que se considera a "vocação regional". Para isto, essas organizações elaboram análises produtos com potencial de inserção em um mercado mais amplo, usualmente, o dos centros urbanos. A inserção dos produtos regionais, com freqüência experimenta intervenções no modo de produção, no ‘aperfeiçoamento’ estético, no desenvolvimento de design, na análise de mercado consumidor, na elaboração de custos, no apoio logístico, entre outros temas. Em Caicó, encontram-se representantes do Programa de Artesanato Solidário, Rede Potiguar de Design, Agência do Desenvolvimento Sustentável do Seridó – ADESE, Programa do Artesanato Potiguar, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, dos Correios, Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Secretaria do Trabalho e Bem-Estar, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Departamento Diocesano da Ação Social, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.
Dentre estas agências, o IPHAN traz especificidades. É um organismo federal de proteção ao patrimônio, criado no final dos anos 30, pelos modernistas. É parte do Ministério da Cultura e cabe a esta agência realizar identificação, documentação, proteção e promoção do patrimônio cultural brasileiro. Cria diretrizes, planos, instrumentos de preservação e elabora relatórios que informam a situação dos bens patrimoniais, observando o que está sendo feito e o que ainda necessita ser realizado, que elabora programas e projetos, com vistas a integrar a sociedade civil aos objetivos do Instituto.
A inserção do IPHAN em Caicó data do final de 2006, quando foi aprovado o Inventário das Referências Culturais do Seridó - IRCS e escolhida a Festa de Sant´Ana como eixo para inventariar as referências culturais do Seridó. Um projeto multidisciplinar que uniu IPHAN e UFRN tendo em vista o registro do patrimônio da região. O processo de elaboração e de realização do questionário IRCS dividiu-se em fases que englobam: identificação dos possíveis entrevistados e da possibilidade de acesso às narrativas em torno do conhecimento do grupo; aplicação de questionários a estes indivíduos eleitos como representantes da produção; investigação dos objetos e agentes empregados, funções e possíveis destinos dos produtos; bem como histórias e representações que cercam a atividade, processos de transmissão e possíveis alterações na forma de produção.
Aqui, há, em princípio, duas especificidades que tornam Caicó um local interessante para uma reflexão sobre patrimônio: seus bordados e a festa de Sant´Ana. Neste artigo, a proposta é observar os dois temas a partir de uma investigação realizada em 2007. Para isso, algumas entrevistas com as bordadeiras deram-se com o apoio da exibição de fotografias contendo imagens das peças produzidas por elas mesmas, a fim de compartilhar os dados e as percepções sobre o produto e sobre o processo de produção, na qual as fotos funcionaram como um detonador de discursos. Somado às entrevistas, que são parte de um projeto mais amplo conduzido pela etnografia, entrevistou-se, no período da festa 3 artesãos (2 mulheres e um homem) em parceria com uma pesquisadora do IPHAN, utilizando-se da metodologia de inventário da agência.
A escolha da festa de Sant´Ana como mote para o inventário foi uma decisão interessante visto que a festa pode ser pensada a partir da noção de fato social, a partir de seu "caráter tridimensional", lembrando a introdução de Lévi-Strauss à obra de Marcel Mauss (2003, p.24). Encontram-se dimensões sociais, como expressões econômicas, políticas, ofícios, expressões estéticas e religiosas, somados às experiências pessoais, enfim, histórias individuais que se manifestam nos encontros e na memória da experiência com a cidade e com as relações criadas no local, as emoções, as devoções.
Como um fato social, a Festa de Sant´Ana permite pensar as pessoas que tomam parte na festa, em suas relações e seus objetos. Esta festa guarda elementos que são parte do cotidiano da vida dos habitantes do Seridó: a fé e as celebrações, a alimentação, o gado – e tudo aquilo que ele representa, os encontros e os desencontros da política, a experiência estética, o exagero e o luxo etc. A festa de Sant´Ana é a ocasião em que o povo da região se dirige a Caicó. Há uma multiplicidade de manifestações culturais, estéticas, econômicas e sociais que são expressas na época. É um momento de encontro e manutenção de laços sociais, portanto, é quando se torna possível acessar as bordadeiras a partir de seus grupos.
Existem dois momentos de visibilidade, um deles é a missa do artesão e, o outro, é a feirinha que será detalhada à frente.
Apesar de "terra do bordado", encontrar os bordados e, principalmente, as bordadeiras pela cidade não é uma tarefa fácil, mas, a Festa de Sant´Ana revela suas bordadeiras, normalmente, confinadas em suas casas. São raras as lojas na cidade que se dedicam à comercialização das peças, ademais, o local de produção, usualmente, são as residências, o que nem sempre é acessível.
1. Na Ilha de Sant´Ana[6] acontece a Feira de Artesanato – FAMUSE – uma oportunidade sui generis de encontrar com as bordadeiras da cidade, uma vez que utilizam a feira para expor seus trabalhos – vendendo-os e competindo entre si, ou que simplesmente visitam a feira para saber o que tem sido produzido. Também conhecida como "feirinha", a FAMUSE é um espaço de comércio, de encontro e de ação política por parte das bordadeiras, uma vez que se tornam em uma classe de trabalhadores. A abertura da Feira é acompanhada de discursos (do representante do Governo, do representante do Sebrae, do representante dos artesãos), da consagração do espaço por algum clérigo, pela homenagem ao artesão do ano e pela saudação aos artesãos realizada por algum artesão de reconhecida ação. A FAMUSE é um território a produção do bordado e a sua circulação, assim como, as relações sociais se tangenciam.
FESTA DE SANT´ANA
A paisagem continua encantadora. Tudo muito verde, com muitas flores, é lindo ver o sertão em flor. A temperatura, minha inimiga de outras vezes, está agradabilíssima – deveria ter feito as pesquisas apenas em julho. A cidade começa a se enfeitar para a festa de Sant´anna: são banderolas pelas ruas e, como o vento está batendo gostoso, as bandeiras tremem no ar, são todas de cores bem fortes, é bom o ânimo da festa[7]!
O mês de julho é o mês de Sant´Ana. Sant´Ana gloriosa, como diz o hino, é o terno afeto de Jesus, a avó do Cristo. Para os nativos, é a figura máxima da família sertaneja, reavivadora dos laços de parentesco que representa o amparo e o destino compartilhado por todos. É a santa que produz a mesa farta e que protege a casa. Em torno dessa figura sacralizada, reúnem-se os caicoenses; aqueles que estão "ausentes"[8] voltam para festejar.
Revela-se a fé, por meio das missas, procissões e do "beija", da mesma forma, os laços de sociabilidade. O cotidiano é interrompido para caminhar pelas ruas que, em outras épocas do ano, costumam ser tranqüilas, todavia, em tempos de festa, são tomadas por todos os que dela participam.
A festa de Sant´Ana é celebrada há 259 anos em Caicó, entre os dias 19 e 29 de julho. São 10 dias de festa que alternam o fervor religioso católico e os festejos de cunho profano, recordando histórias da terra e feitos milagrosos, materializando o sentimento de irmanação nas rodas de conversas, nas festas, no culto. A Igreja é toda adornada, assim como as casas dos munícipes. Para enfeitar, usam-se bordados em profusão, seja nos territórios do rito católico, nas vestimentas do clero, nos adornos que acompanham as estátuas como, também, nas cortinas, nas mesas e nas roupas daqueles que participam da festa.
A festa de Sant´Ana remete à "Lenda do Vaqueiro"[9], que narra a fundação da cidade. Essa história aponta o enfrentamento dos moradores diante de um território não-domesticado.
Conta que um vaqueiro estava perdido no meio de uma mata bem fechada. Receoso do lugar desconhecido, encontrou com um touro bravo, e de lá não conseguia fugir. Diante do touro e do temor que crescia, o homem fez uma oração a Sant’Anna, avó de Jesus, para que ela o livrasse do animal e o tirasse daquele local. Como um milagre, de repente, o touro sumiu. No local do ocorrido, o vaqueiro, então, resolve edificar uma capela para adoração da Santa, porém, conforme edificava a igrejinha, uma seca muito intensa tomou conta da região, colocando em perigo a vida dos habitantes do vilarejo e, do mesmo modo, o término da construção da capela. Sabendo que Sant’Anna é poderosa, buscou-a novamente, encontrou um poço e rogou para que aquele poço não secasse. E, ao longo dos anos, assim tem ocorrido, independente de quão grave é a seca, o poço de Sant’Anna nunca seca.
Caicó como parte de uma região que, usualmente, está distante das ações de políticas públicas, a religião exerce um papel fundamental para solucionar problemas, de forma milagrosa e personalista, já que são os valores mágico-religiosos os instrumentos disponíveis para o enfrentamento das dificuldades do cotidiano. Por conseqüência, a festa religiosa marca a concretização de saídas e de esperanças para a gestão do cotidiano, por isso, é o território excelente de culto e, também, de encontro de pessoas, de acontecimentos, de desfechos e de testemunho de milagres (Cavignac e Alves, 2007).
Para além das instituições religiosas, o sagrado é parte do movimento comum das sociedades e trata da própria existência do social, dos movimentos heterogêneos que cercam a experiência, envolve o irracional, o que transgride, o excesso, o desperdício, os movimentos de fé, um reencantamento do mundo que pode, inclusive, extrapolar a racionalidade e a utilidade da produção capitalista.
A Escola Francesa de Antropologia (cf. Durkheim: 2003; Callois: 1950; Leiris: 1979) tem inspirado as reflexões sobre a Festa, seja como dissolução e desregramento para uma nova ordenação ou, então, como libertação momentânea da racionalização. Amaral (1998) observa que é preciso uma mediação das leituras realizadas por esta Escola quando a análise será realizada em "sociedades complexas", heterogêneas e, com freqüência, antagônicas. A Festa de Sant´Ana está a meio termo, não se trata de uma dissolução temporária das regras, seguida pela necessidade de regras, ou, então, como acredita Callois, da experimentação momentânea de uma sociedade sem regras.
Segundo as pesquisas realizadas por Amaral (op. cit), as festas brasileiras colocam em cena, projetos coletivos e individuais. Não se trata de um fenômeno alienante, visto que parte do real e remete-se a este mesmo real. As festas brasileiras, segundo a antropóloga, dialogam, com os grupos organizados localmente e, com freqüência, apontam uma ação social concreta e objetiva, inclusive, lembra que, recentemente, festas são criadas para "fortificar a economia local". Por isso, constituem:
uma mediação privilegiada entre dimensões e estruturas várias, unindo o passado e o presente, o presente ao futuro, a vida e a morte (...), o sagrado e o profano, a fantasia e realidade, o simbólico e o concreto, o mito e a história, o local e o global, a natureza e a cultura (Amaral: 1998).
Percebe-se que os comportamentos da festa são regidos por uma estrutura social e cosmológica, apontando a relevância da festa de Sant´Ana como um poderoso veículo de memória, de ação e de identidade coletiva. É um espaço de sociabilidades e, para Cavignac e Alves (2007:s/n), apresenta as expressões religiosas e profanas "que se entrelaçam na construção da identidade coletiva". Segundo as autoras, a Festa de Sant´Ana guarda estas características, porquanto que esta é:
(...) uma ocasião especial para relembrar a história da cidade, reavivar laços de solidariedade fundados na família ampliada, reafirmar valores cristãos e acionar registros específicos da cultura seridoense, sobretudo no que diz respeito à sociabilidade fundada no inter-conhecimento.
Esses dias festivos de Sant´Ana seguem uma agenda rigorosa que se divide nas esferas do sagrado e do profano[10]. Na vertente sagrada, inicia-se com o emocionante "Encontro das imagens", que acontece após a série de peregrinações rurais e urbanas que tem início no mês de junho[11], e tem seu ápice na missa de ação de graças aos "peregrinos de Sant´Ana".
Seguem-se procissões e missas, diariamente, até o dia da Missa Solene que acontece às 10h da manhã do último domingo da festa. A festa de Sant´Ana envolve rituais e a preparação da imagem para a Missa Solene, eis o momento de maior segredo. Assim que a missa se encerra, a Igreja é fechada, pouquíssimas pessoas têm acesso a este território sagrado.
Sant´Ana é coberta de flores e de jóias para sair às ruas, reúnem-se o povo comum, os peregrinos e as autoridades. É uma procissão que, segundo os dados da polícia municipal, carrega cerca de 30.000 pessoas, entoando o hino de Sant’Ana, vestidos branco – a roupa, usualmente, é nova, preparada para a festa e, com freqüência, bordada; os fiéis seguem à Santa adornada com demonstrações de fé ao longo do caminho.
O cortejo é aberto com os sacerdotes, vêm o andor com a Santa, carregado pelos fiéis agraciados pelo privilégio de levar a imagem e que se revezam na tarefa. Soma-se um mar de gente, seguido por um trio elétrico, com a imagem do prefeito – patrocinador do carro – estampada na dianteira. Após o carro, mais uma multidão de pessoas que ora cantam, ora rezam, fazem silêncio, cumprimentam os que estão nas calçadas.
Fiéis cercam a imagem para tentar beijá-la, ou, pelo, tocar no andor e sacar uma flor. O "beija" causa impacto. No final da procissão, há uma (Cavignac e Alves, op. cit.):
(...) missa campal seguida da exposição da imagem da santa para veneração, com o tradicional "beija" que é o momento de euforia em que os fiéis depositam sua última oferenda em dinheiro. Em troca, trazem consigo flores que representam as virtudes da santa: essas serão guardadas como lembrança da festa e como objeto sagrado.
É o final da tarde e o retorno da imagem à Igreja a emoção é latente. Celebra-se a eucaristia. Relembra-se o sacrifício do Cristo e do milagre da Santa cujo poço nunca se seca.
A prece pode ser materializada, caso consiga uma das flores. Mistura-se alegria, emoção e devoção, numa estética singular que se desfaz no momento em que as flores são retiradas.
Sant´Ana, ora enfeitada, despeja-se em flores sobre os seus fiéis, destrói-se para renascer em bênçãos àqueles que a adoram e, por isso, entrega-lhes as suas virtudes.
Não é só o sagrado/religioso que compõe a festa. Além da experiência mística coletiva com a Santa, as manifestações profanas servem como um outro elo que une os caicoenses. A praça é também o lugar de encontro, onde as relações sociais são postas em destaque. Na quinta-feira da semana da festa, no centro da cidade, as famílias se reúnem, são dezenas de festas que acontecem simultaneamente, compartilhando o mesmo espaço, cada qual com seu grupo, espalhando sons e de sabores[12]. Tudo remete ao excesso[13]: comidas, músicas, bebidas, conversas. Para este encontro, também conhecido como "feirinha", os grupos confeccionam roupas especiais, camisetas, logos. Talvez, este momento seja tão ou mais esperado que o "beija". Brandão (1989) analisa que os excessos da festa, o exagero e a transgressão exprimem comportamentos latentes dos homens. É o exagero do real transformado em evidências que se apossam da rotina e excedem a sua lógica. A festa, no limite, não escapa a rotina, exagera-a, reaviva a vida coletiva e as tradições, reforça laços. O fio tênue que separa sagrado e profano revela a dramatização da vida coletiva, é performance da vida, contato com o que acontece, é, também, comunicação que incorpora novos elementos na própria vida do grupo. Revela, ainda, o que se produz, materialmente e imaterialmente na região e, mais do que tudo, revela o que os caicoenses separam como importante.
A inserção do IPHAN, neste contexto, configurar a festa de Sant´Ana como uma experiência coletiva integradora, tornando-se plausível pensá-la como ‘patrimônio’.
Conseqüentemente, a patrimonialização, pode transformar a dimensão da vida social e cultural em um ‘produto’ que possibilita ação práticas de cunho intervencionista, via políticas públicas.
Para o inventário dos bens materiais e imateriais é utilizada uma metodologia que não permite muitas abstrações. No entanto, a aparente restrição metodológica está interessada no conhecimento cunhado pelos atores sociais que estão inseridos na realidade investigada.
Assim sendo, mais do que transformar o inventário em um ‘produto’ que foi pensando a partir de uma metodologia rígida, é possível perceber que os registros apontam para a
heterogeneidade dos grupos e para histórias escolhidas pelos entrevistados que sugerem configurações distintas do relacionamento com as atividades. O foco é a atividade, não obstante, uma atividade inserida em uma rede social.
BORDADEIRAS DE CAICÓ
O bordado é de suma importância para a vida local, tanto por suas referências artísticas como para a produção econômica. Fazer o inventário do bordado permite encontrar as influências, as confluências, as apropriações e as transformações que se tecem em torno da prática. Amplia-se, ainda esta questão ao saber que as apropriações do objeto envolvem uma apropriação mercantil, derivado de relação entre produtor e consumidor em um mercado que tem regras próprias.
Ao inventariar a Festa de Sant´Ana, o bordado teve um papel de destaque, pelos motivos descritos nas linhas acima. Era preciso, portanto, investigar o ofício, as formas de fazer, as formas de transmissão, os materiais utilizados, a comercialização das peças etc.
Durante o processo de pesquisa, a heterogeneidade da produção e dos produtores vieram à tona, somado às indeterminações – sejam elas nas formas de transmissão, nos fluxos de sociabilidade, nos modos de produzir – e às ambigüidades – como as percepções acerca do produto e do seu fazer, o grau de importância e de centralidade na vida daqueles que bordam e de seus receptores
Na produção acadêmica sobre patrimônio, no geral, articulam-se noções como identidade e memória, experiência social inalienável e decisões políticas que legitimam esta questão. Aqui, este não é o tema central, no entanto, vale observar que as noções sobre o patrimônio revelam a busca de um sistema de pensamento e de produção de bens (materiais e imateriais), considerando-o como fruto de situações sociais e existenciais do fluxo da vida social, envolvem, portanto, um processo de formação de subjetividades individuais e coletivas que são construídas, reconstruídas, necessárias, contingentes e, eminentemente, transmitidas (GONÇALVES: 2005). Este processo de transmissão, por exemplo, pode ser investigado, no caso do bordado de Caicó, por meio de uma metáfora usada com freqüência: "Bordado é coisa que se ensina de mãe para filha".
Quando se pensa em uma manifestação popular, como o bordado, o aspecto geracional é uma questão importante porque envolve correspondências e processos de transmissão, enfoque importante para a patrimonialização. Trata-se da contínua invenção da cultura.
Afinal, é de uma geração para a outra que se aprende o quê e como fazer; o que ensinar, quando ensinar, como ensinar; o que não ensinar e os segredos a serem mantidos. E, mais do que ensinar a técnica, no processo de aprendizado do bordado ensina-se concepções sobre o que é ser uma boa bordadeira. No processo etnográfico desta pesquisa, foram entrevistados 15 artesãos[14]. Buscou-se encontrar referências para a metáfora acima, levando-a ao pé da letra. O objetivo era saber se era a mãe – biológica ou responsável pela criação – quem havia ensinado a bordar. Dentre esses, apenas uma aprendeu a bordar com a mãe e, dentre aquelas que são mães, apenas uma ensinou para a sua filha. Três delas aprenderam na escola. O único rapaz, aprendeu com as bordadeiras que ele empregava na produção, duas aprenderam a bordar na Associação das Bordadeiras e pelo Sebrae e as outras aprenderam a bordar com parentes. A filiação, portanto, pode ser entendida como uma metáfora presente na figura de mestre. Percebe-se, então, que a noção de parentesco não é negada, mas ressignificada no bordado. Como parte de uma construção social que se manifesta nas noções, nas técnicas empregadas e na expressão estética. Mediante isso, conhecer os sentidos e a importância da metáfora remete à transmissão de conhecimento que indica referências, histórias e inspirações que delineiam uma "maneira de pensar investida de uma maneira de agir" (CERTAU: 1997).
Certau (1997), ao analisar as práticas do homem ordinário, aponta a vida cotidiana como uma experiência privilegiada para compreender as engenhosidades práticas e discursivas em torno da produção criativa que inclui invenção, apropriação, interpretação e resistência na relação entre grupos sociais e produção de objetos. O agenciamento discursivo [a mãe que ensina a filha] na feitura, no posicionamento e no comércio das peças, permite ponderar, igualmente, as relações discurso-objeto, no cerne da experiência coletiva.
No entanto, o mais relevante disso é que quem borda, o faz exatamente como aprendeu e da forma com que essa "MÃE" simbólica bordava. Saber bordar, bordar bem ou mal, o estilo[15] que se borda, ser excelente ou produtivo no traço depende do grau de aproximação e afinidade, somados à exigência da "MÃE" em relação ao "FILHO". Há, ainda, um processo de reciprocidade, porque quem aprende, deve encontrar alguém para ensinar (algumas revelam angústia em não ter a quem ensinar) e, caso não se encontra, anuncia que não o faz porque "a vida está mudando e as pessoas de hoje em dia não querem mais saber do que é bonito". O processo artesanal é, também, um processo geracional: a mãe que ensina a filha, que ensina a filha etc...talvez, seja permitida, ainda, mais uma abstração que aponte, novamente, à festa de Sant´Ana, uma vez que Sant´Ana é mestra, que ensina Maria, que ensina o Menino....
Portanto, mais do que consangüinidade, o jogo de palavras e de metáforas inspiram processos de filiação no trabalho artesanal e na afinidade entre os artesãos por meio de integração social, da reciprocidade e do aprendizado da cultura.
Aprende-se bordar em contextos específicos, relacionados às representações acerca do grupo que se é parte e, principalmente, pelo modo ao qual aquele que ensina aprendeu a fazer, com a geração anterior. Isso conduz à análise de Gallois (2005:3), acerca dos saberes imateriais, para quem "(...) a produção de objetos culturais é indissociável da produção de sujeitos sociais (...), configurando sujeitos novos, práticas novas fazendo re-emergir sujeitos tradicionais, enfim, uma intrincada rede de possibilidades".
Fala-se em bordadeiras. Mas, assim como são múltiplos os pontos, são também múltiplas e heterogêneas as bordadeiras da região. A rede social que produz o bordado apresenta não apenas o objeto ou a forma de fazê-lo, mas conta sobre o que é ser uma bordadeira, quais são as redes de bordadeiras que se tecem na produção artesanal, como se transmite o ofício e o que está contido neste ofício, além de saber como, o quê, para quem e quando se produz. A multiplicidade marca a distinção pelo:
a) Tipo de bordado: bordado à mão, à máquina de pedal, à semi-industrial, à industrial e, nos últimos tempos, à eletrônica;
b) Idade: as que são jovens, as que são mais velhas, às já idosas;
c) Colocação profissional: há as empresárias, as autônomas, as que trabalham em parceria com outras bordadeiras, alguns lojistas, aquelas produzem para uma clientela fixa, as que vendem a força de trabalho porque não máquina própria, as que estão aprendendo, as que se dedicam à militância política, as que são especialistas em algum tipo de ponto;
d) Associativismo: as que são parte da associação por militância, as que são parte da associação porque conseguem comprar material a um preço acessível, as que não gostam de participar da associação, as que vão às feiras, as que nunca saíram da cidade;
e) Produto: moda em geral, moda para festas (trabalham em parceria com costureiras e modistas, principalmente com vestidos de festa e vestidos de noiva), especialistas em camisetas e malha em geral, aplicações, especialistas em trabalho com linho, especialistas em lingerie camisolas, roupa de cama, mesa e banho, infantil e produção de bordado em redes;
f) Comercialização: preço, mercado, participação nas feiras;
g) Sexo: mulheres e homens na produção do bordado.
ARREMATES
O bordado, como parte do universo artesanal, apresenta relações pessoais em torno do objeto: a mão de quem faz, a escolha das cores, a sensação do bordado e do tecido no corpo de quem toca, requer técnicas e habilidades estéticas e comerciais que são heterogêneas, como são suas produtoras.
Apesar de geralmente anônimo, o bordado não é uma produção impessoal, guarda em si o caráter coletivo da criação, da transmissão, da produção e da circulação. Mais do que uma função ornamental, pode se revelar como um ato transgressor frente aos discursos de miséria e de confinamento.
Na tentativa de extrapolar as relações entre produção artesanal e contexto, buscou-se investigar a produção estética em função das percepções acerca da vida social da qual as artesãs estão inseridas. Por meio das relações entre discurso-objeto, via o uso de metáforas, como a que afirma que o "bordado é coisa que se ensina de mãe para filha", analisou-se a filiação e a herança a partir do nexo criado entre a produção artesanal e rede social observada em meio ao processo de transmissão de conhecimento.
No diálogo entre vida social e relações em função da produção artesanal, emerge a festa de Sant´Ana como emergência das redes sociais. A festa é um espaço múltiplo que dialoga com os grupos locais, organizados ou não, serve para a economia, para a religiosidade e para a comunidade. A festa é local de comunicação, guarda a experiência coletiva, a inserção na vida do grupo, a performance, os agenciamentos dentro e fora da principal festa da cidade, os encontros e os desencontros, as percepções estéticas, os debates e as heranças.
Não é à toa que a Festa de Sant´Ana e o bordado de Caicó passam a ser interpretado, pelo IPHAN, como um patrimônio cultural e, por sê-lo, há interferência nas ações políticas e nas várias questões acerca da comercialização e da produção do artesanato, em diálogo com a região diante do processo de uma realidade moderna. Frente a isto, o registro do patrimônio pode se tornar algo relevante a partir do momento que ele revela as atividades da coletividade, considerando seu caráter múltiplo.
NOTAS
[1] Trabalho apresentado na 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia,
realizada entre os dias 01 e 04 de junho de 2008, Porto Seguro, Bahia,
Brasil.
[2] A cidade recebe alguns nomes, primeiramente, é chamada de Cidade do Príncipe, depois, Cidade do Seridó e, por fim, em 1890, é chamada Caicó, apresentando, segundo Câmara Cascudo, a presença indígena no território.
[3] Este artigo é fruto de etnografia e da participação no programa do IPHAN de Inventário das Referências Culturais do Seridó em julho de 2007. Composto como uma narrativa, utilizarei a 1ª. Pessoa na composição do texto quando houver referência à pesquisa de campo.
[4] Dados da Associação das Bordadeiras do Seridó, em pesquisa realizada em 2005 por meio das oficinas de formação e de especialização de bordadeiras, promovidas em parceria com o SEBRAE-RN.
[5] Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponível em http://www.FJP.gov.br/produtos/cees/idh/Atlas_idh.asp
[6] O Complexo Turístico Ilha de Sant´Ana foi inaugurado em 2006. pensado para abrigar, prioritariamente, a festa de Sant´Ana, conta com espaço para shows artísticos e culturais, espaço para parque de diversões, ginásio poliesportivo com capacidade para 3.000 pessoas, área para exposições com boxes e anfiteatro e praça de alimentação.
[7] Fragmento do diário de campo da autora.
[8] Caicoenses ausentes que são aqueles que vivem longe da cidade de Caicó.
[9] Desde 2006, na semana da festa, um grupo de artistas da cidade, ligados à Casa de Cultura, acrescidos de outros munícipes, encenaram a "Lenda do Vaqueiro", no Centro de Exposições "Ilha de Sant´Ana" (inaugurado em 2006 e que, atualmente, é o local onde se concentram boa parte dos eventos, principalmente os profanos). A narrativa contada aqui é a interpretação da interpretação, enfim, é a autora contando a história encenada pelo povo da terra.
[10] A denominação "sagrado-profano" foi inspirada na programação da festa, divulgada de forma impressa como folder ou nos jornais locais e estaduais, soma-se, ainda, a divulgação via rádio que é intensa. A programação é elaborada em parceira com a Cúria e a Prefeitura de Caicó, sendo assim, uma possibilidade de pensá-la como denominação nativa.
[11] Quanto às peregrinações rurais, Cavignac e Alves (op. cit), assinalam que este é o momento "em que as famílias católicas se preparam espiritualmente para receber a imagem da santa, mobilizando amigos e parentes para uma recepção calorosa" e esta recepção inclui novenas, depósito de dinheiro e leilões de produtos doados (agrícolas e artesanais) para a festa, sempre acompanhados por confraternizações regadas a lanches.
[12] Comida e bebida não podem faltar, assim como a música. Em um espaço de 20 metros, somente do lado direito da praça da Matriz, havia, na última festa, 5 bandas de forró. Entre as comidas, há o tradicional chouriço, feito à base de sangue e banha de porco, com castanhas.
[13] Amaral (1998) acentua que a "fartura e a possibilidade de fazer uma festa cada vez mais rica são motivos de orgulho de uma comunidade".
[14] Desses 15 artesãos, há um rapaz, uma mulher que não borda, mas se tornou a presidente da Associação e outra que deixou de bordar porque se tornou professora na UFRN- Campus Seridó. Aqui, escolho usar a palavra artesão na mediação com este jovem, visto que a palavra bordadeira é eminentemente feminina.
[15] Isso envolve os temas utilizados, a escolha da linha (tipo e cores) e do tecido, o tamanho dos pontos e as proporções do bordado.
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