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A CASA E O MUNDO

ENTREVISTA

PAULA DIB

Publicado por A CASA em 13 de Junho de 2011
Por Daniel Douek

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“Está na hora do design se aproximar das políticas públicas”

Paula Dib é designer social, atua em comunidades, co-criando e oferecendo insights para inovação, bem estar e transformação social.



Como você iniciou o trabalho de design junto às comunidades?

O que me levou a trabalhar com isso está muito relacionado à minha própria história. Estudei a vida inteira na Escola Waldorf, que tem uma proposta de ensino humanista, totalmente relacionada com as artes e com os trabalhos manuais. Ao sair da escola, tive a oportunidade de viver em uma aldeia aborígine na Austrália onde já trabalhava ajudando artesãos e ensinando a comunidade a lidar com o lixo (embalagens plásticas eram algo novo naquele local). Voltei para São Paulo, entrei na FAAP, no curso de Desenho Industrial, e me deparei com uma visão totalmente diferente do que estava acostumada. Foi um momento muito importante, mas olhava para aquilo e para muitas das referências que nos eram dadas e pensava: “Está faltando alguma coisa”. De alguma forma, não me sentia completa. Durante quase toda a faculdade, trabalhei com a ceramista Kimi Nii, minha segunda formação, e do dia a dia com ela tirei lições que aplico até hoje em minha vida. O início do trabalho com as comunidades foi uma intuição. Tive a oportunidade de passar um mês em uma vila de pescadores. Lá, eu observava a vida deles, o dia a dia, o modo como a mulher cozinhava, quais eram as ferramentas que ela usava, o homem consertando o barco no fim de tarde, as crianças brincando, e pensava: “Aqui tem originalidade, tem beleza, tem espontaneidade”. Aquele universo era delicado, mágico e inspirador. Foi assim que nasceu em mim essa vontade de me envolver com esses grupos.  Entendi que percepção requer envolvimento, ou seja, é preciso estar no lugar, se envolver com aquilo, para perceber as possibilidades. Isso, pra mim, foi muito forte. Voltando a São Paulo, comecei a trabalhar nos subúrbios e me envolver com comunidades da periferia. Tinha a certeza de que queria trabalhar com pessoas. Então, comecei a procurar antropólogos, pesquisar técnicas artesanais, me envolvendo para descobrir quais eram as possibilidades. Com o tempo, conheci a permacultura.  Permacultura significa “Cultura Permanente”, que além de ser um método para desenhar sistemas numa escala humana, apresenta uma maneira sistêmica de ver o mundo e a correlação entre todos os seus elementos. Queria entender como isso poderia funcionar no contexto do Design e transferi essa idéia para os processos que estava desenvolvendo.


Em 2006, você recebeu o prêmio Jovem Designer Empreendedor do Ano, na Inglaterra, por conta de trabalhos desenvolvidos junto com comunidades de artesãos. Como foi o processo de seleção e que impactos o prêmio trouxe em seu trabalho pessoal?

Dentro desse processo de exploração das possibilidades, a Adélia Borges me indicou para o prêmio.  Houve então o processo de seleção aqui e fui escolhida para representar o Brasil. Nos documentos de inscrição, era preciso preencher um campo indicando a área com que eu trabalhava dentro do design. Ficava pensando: “E agora, como me descrever aqui?”. Pensei nos meus trabalhos, no que ele ativava dentro dos núcleos produtivos e nas regiões remotas por onde passava e ponderei: “Não sou designer de produtos, sou designer social”. Levei para Londres essa ideia de Design Social. Para mim, foi uma surpresa ganhar, mas também um momento interessante, de olhar e perceber um novo movimento se iniciando no campo do design.  O prêmio foi para uma proposta dentro do design, que era generosa, que usava os olhos frescos e criativos dos designers para co-criar e oferecer insights e inovação para a transformação social e bem estar.


Além de comunidades de artesãos no Brasil, você também trabalhou em Moçambique, onde há vários designers brasileiros fazendo trabalhos com artesãos de lá, assim como em outros países africanos. A que se deve toda essa presença de profissionais brasileiros da área do design na África?

Há uma forte relação entre esses dois países, que se dão muito bem. A relação com os profissionais moçambicanos é muito boa. A proximidade na língua, o jogo de cintura dos brasileiros facilita as coisas. Com isso, profissionais brasileiros de diversas áreas são convidados a trabalhar lá.

Moçambique está neste processo de desenvolvimento e muito dinheiro de doadores internacionais é empregado. Isso, inclusive, representa um problema: como os africanos recebem e reagem à esta “ajuda”? Há uma revisão, um questionamento do que realmente acontece com todo esse dinheiro que entra na África. O que posso afirmar é que as pessoas com quem trabalhei e que a gente conhece, estão super envolvidos e fazem um trabalho serio, fazendo jus a esse recurso tão abundante que, às vezes, não temos aqui.


Como você enxerga a parceria entre designers e comunidades de artesãos?

Vejo muitas instituições passando por um momento de revisão com relação a essa parceria. A missão de gerar renda é muito mais complexa do que se imagina.  Muitas vezes, chegamos a estes núcleos produtivos e nos deparamos com uma carência geral, uma falta de desenvolvimento de base, mínimo. Nós, designers, não somos milagreiros para chegar num lugar remoto, onde não houve oportunidades em educação, saúde, saneamento, estrutura e, em pouco tempo, fazer com que eles virem empreendedores de sucesso. Às vezes, até acontece, por força de vontade e brilho de alguns, mas não é isso que temos que esperar deles. Vejo que designers sensibilizados para o trabalho com comunidades podem contribuir muito em grupos com alguma estrutura. E, neste momento, deve-se trabalhar fortemente o tripé comunidade, designer e parceiro comercial para que as vendas realmente se efetivem. Eu particularmente acredito que o Sebrae, que é hoje um dos maiores investidores nesta área, pode ter um papel muito mais interessante e potente do que vem tendo hoje em dia. Os diagnósticos deveriam ser o ponto primordial de maior atenção. No caso do trabalho com artesanato, esse diagnóstico dá uma idéia de quem são as pessoas com que se vai trabalhar, qual a história do lugar, quais as ferramentas, quais as habilidades, quais as matérias-primas, como se extrai essa matéria-prima e em que quantidades, se é uma iniciativa sustentável, como é esse grupo, como as pessoas estão organizadas. Em minha opinião, deve-se primeiro entender o porque de se trabalhar em um grupo ou região. Só depois que isto estiver respondido, partimos para como e teríamos o que como uma conseqüência embasada. Uma comunidade pode ser empreendedora e produtiva de muitas maneiras; seja trabalhando com artesanato, com agro-negócio, turismo comunitário ou até com todas estas atividades de forma complementar.
Acredito que a contribuição do designer social é co-criar com as comunidades e oferecer inovação para a transformação de um vilarejo, gerando impactos significativos no desenvolvimento destes locais.


Trata-se de atuar menos no design de produtos e mais nos processos que estão por trás?

Exatamente. Não sabemos o que iremos fazer como produto final, mas pensamos no porque iremos fazer. Revertendo-se esse ciclo, foca-se no processo, porque é dali que vão sair as coisas. O designer torna-se um catalisador para infinitas possibilidades. Precisamos sair desses modelos preestabelecidos: “As coisas funcionam assim, assim, assado”. Hoje em dia, há tantas outras coisas que podemos colocar no bolo e gerar novos temperos, novas formas de fazer. É esse olhar curioso contínuo, que questiona todas as coisas, o modo como elas estão impostas, e as repensa para a melhoria da vida das pessoas. Por isso digo que vejo o design como uma ferramenta de transformação que tem base nas pessoas, sempre querendo melhorar. Ele pode atuar no artesanato, na saúde, na educação, onde for.


Você acabou de participar de uma conferencia de design e ativismo na Holanda, chamada What design can do. Quais as impressões trazidas de lá? Qual é visão que se tem fora do Brasil sobre aquilo que estamos fazendo aqui?

Nessa conferência, havia gente do mundo inteiro, apresentando projetos dentro do tema “O que o design pode fazer”. Os mais esperados eram justamente os profissionais do Brasil e da Índia. Por que somos os mais esperados? O que está acontecendo? Acho que está em curso uma revisão de valores dentro do Design. De repente, desenvolver “A” cadeira é muito pouco dentro de um mundo que já não precisa mais de muita coisa. Esse movimento de busca por novos caminhos está acontecendo na Europa: “Já passamos por todos os estágios do design, já chegamos até no design conceitual, para onde vamos agora?”. Eles estão buscando as respostas no Brasil, na Índia, na China.


No âmbito dessa revisão, quais as possibilidades do trabalho com comunidades tradicionais?

Como designer, sou muito curiosa pelos indivíduos. Cada indivíduo percebe o mundo de determinada maneira, cada pessoa nasceu numa época e num lugar, foi educada dentro de certa cultura, tem ou não irmãos e irmãs. Suas experiências são únicas e moldam sua forma de ver o mundo. Quando vou pra uma comunidade, é isso que me fascina: chegar lá com pensamento, sentimento, coração, visão, e encontrar aquele contexto de diversidade. A partir dali, temos essa tarefa de construir alguma coisa juntos. Nunca gostei de me apegar ao que iremos fazer, mas sim ao por que iremos fazer. A partir desse porquê, é possível pensar no como e só depois do como, chegar ao o que. Procuro inverter um pouco a ordem das coisas, porque é esse envolvimento que me interessa, as pessoas trazendo o que elas pensam, o que elas sentem, o que elas têm. Não se trata disso que todo mundo fala: “O artesão entra com a história, a técnica”. É preciso ir além. Na Holanda, me perguntaram: “Então você não acredita no design autoral?”. De certa forma, não. Não tenho esse apego, porque meu barato está em outro lugar. Estamos ali, a princípio, reunindo pessoas com histórias. Gosto mesmo é de saber o que nasce dessa interação.  Não pode existir nada mais único e especial, contextualizado e real.


Que cuidados devem ser tomados para que a relação entre designers e artesãos seja harmoniosa?

É preciso respeitar, isso é óbvio. Respeitar a técnica, respeitar o artesão, respeitar o que está acontecendo ali, não chegar querendo quebrar paradigmas, impondo seu ritmo. Para que se gere um encontro harmonioso, é como chegar à casa de alguém: você deve respeitar o tempo do lugar. Acho que se aprumar com o tempo é fundamental. Quando você consegue se sintonizar com o tempo do lugar, já se tem meio caminho andado. Deve-se deixar que aquele lugar aflore para você. Usar seu olhar virgem pra ver todos os potenciais. Ao criar e seguir um modelo rígido para trabalhar com pessoas dentro de contextos com infinitas variáveis, corre-se um grande risco de fazer besteira. Eu, realmente, aprendo todos os dias. A cada lugar que vou, percebo coisas novas. Quando as pessoas começam a caminhar, a te mostrar, e você tem uma escuta ativa, está interessado nesse caldo que vem das pessoas, dos lugares, das cores e de tudo o que há em volta, é possível mostrar as possibilidades a essas pessoas, que acordam para aquilo, que trazem para você e você devolve. É aí que as coisas começam a nascer.


Quais erros mais comuns podem ser destacados nesse tipo de projeto?

Acho que a falta de diagnostico é o erro mais grave que tem se cometido. É um prejuízo enorme chegar em um local e perceber que o projeto é inadequado à vocação e à estrutura da comunidade. Com o diagnóstico, este recurso poderia ser melhor empregado nos verdadeiros potenciais desta região.


O que pode ser feito para melhorar a relação das comunidades de artesãos com o mercado?

É preciso criar um triângulo: comercialização, design e Sebrae. Sempre que possível, trabalho em conjunto com outros parceiros. Por exemplo, a Tekoha, uma organização que cria canais de comercialização para produtos feitos à mão. Nos unimos justamente para que a gente consiga criar uma ação transversal, que vá de um ponto até outro, mas passando por todos os estágios, de modo a conseguir chegar num lugar mais próximo do que todos  esperam.


Você já afirmou que a missão do design é “melhorar a vida das pessoas” e que, como designer, deseja atuar como uma “agente de transformação”. Ainda defende essas idéias? Como o design é capaz de transformar e melhorar a vida das pessoas?

Vejo o design como uma ferramenta criativa de transformação. O designer pode intervir de várias maneiras e essa melhoria, inevitavelmente, é sempre para as pessoas. Para mim, tem sido cada vez mais interessante perceber essas possibilidades por onde o design pode caminhar. Há o artesanato, o incremento na renda e, talvez, na própria economia local, mas há muitas outras formas de gerar melhorias.


Você poderia citar algum exemplo?

Em Moçambique, por exemplo, realizamos um projeto com a Fundação Aga Khan em uma escolinha. Iniciamos as atividades com um “passeio” pela aldeia, recolhendo todo material local descartado ou disponível na natureza, como galhos, bambus, sementes, sabugos de milho, retalhos, areia, penas, pedras, caracóis de terra, etc. Com todo o material reunido, convidamos os educadores a entrar em um túnel do tempo, onde, recordando a infância, pensaríamos em brinquedos com os materiais que tínhamos em mãos.

A primeira produção foi bastante livre, totalmente criada pelos educadores, que se descobriram capazes e habilidosos, produzindo bonecas, carros e instrumentos musicais. Estes brinquedos se tornaram um ponto de partida realista (considerando público e ambiente) para os novos direcionamentos, mais estruturados e com base pedagógica adequada às necessidades das crianças de 3 a 5 anos que frequentam a escolinha.

Num segundo momento, continuamos explorando a diversidade de materiais naturais encontrados na aldeia e criamos, junto com os educadores, uma vasta linha de brinquedos, tintas, colas e pincéis que buscam estimular o desenvolvimento motor, físico, emocional e social da criança.

Através destas atividades, os educadores redescobriram seu entorno, percebendo que os materiais se transformam de muitas maneiras. Eles diziam: “Eu não sabia que espiga de milho virava animais”; “Eu não sabia que bambu poderia virar carrinhos”.

Os dias seguiram com muita experimentação e troca de experiências. Conforme eles ganhavam intimidade com os materiais, se sentiam mais confiantes para produzir coisas novas. Capacitá-los a desenvolver isso, a ter esse olhar e descobrir o que há em volta foi muito poderoso, tanto para os professores quanto para as crianças.


Qual a importância de olhar para dentro, isto é, trazer um pouco de si mesmo, da sua história, dos materiais e dos valores culturais locais ao desenvolver produtos?

A importância é descobrir-se hábil e capaz. Falo em “acordar as pessoas”. Na conferência que citei a pouco, na Holanda, o Oliviero Toscani falou antes de mim e disse que não há mais pessoas criativas no mundo. Eu discordo dele, pois acho que todos têm um potencial criativo, um potencial para olhar e ver. Quando a gente vai pra um lugar novo e tenta acordar as pessoas para os valores que eles têm ali, faz toda a diferença, porque depois não irão precisar mais de você lá. A partir dali, elas se descobrem capazes, descobrem que o que tem em volta é passível de transformação.

É preciso deixar claro que isso não é uma regra. Quando falo essas coisas, há um tom meio otimista demais, mas só falo porque percebo que isso acontece em muitos lugares. Na África, por exemplo, o que aconteceu foi transformador: a vontade de aprender e de fazer, o envolvimento com o material, o relacionamento interpessoal. Criou-se uma intimidade com essas coisas que trouxe mais e mais soluções e uma euforia, uma felicidade de se perceber capaz, que é fundamental. Estamos nos deslocando, estamos falando de outros contextos. De repente, aqui em São Paulo, onde as pessoas têm muito mais referências e facilidades, isso não acontece com essa intensidade. E para cada indivíduo isso acontece de uma forma diferente.


É preciso ir além da inserção de ícones locais nas peças?

Já fiz trabalhos em outros lugares onde se enfatizava a iconografia local. Aí se escolhe aquela ponte que é super importante na cidade como ícone. Claro que você pode traduzir esse símbolo de jeitos incríveis, as peças podem ficar super bonitas, mas acho que um produto que mostre realmente o que tem em determinado local vai muito além dessas referências visuais. Ele tem que trazer a alma do lugar, o envolvimento e a mão de quem está fazendo. É energia.

Uma vez, fui trabalhar numa tribo indígena fazendo um resgate de matérias-primas. Um índio estava trabalhando com plástico e queríamos que ele voltasse a trabalhar com a fibra. Ele largou o plástico todo contrariado, reclamando, e começou a tecer a fibra, no começo, meio rabugento. De repente, ele falou: “Essa peça tem a minha energia, está aqui, é aquilo que meus avós falavam de passar a intenção para as coisas que fazemos”. E ele me deu um colar, dizendo: “Tenho certeza que esse colar vai te fazer muito bem, porque a energia que eu pus nele é a melhor possível”.


Naturalmente, o índio havia substituído as fibras naturais pelo plástico e vocês desejavam que ele voltasse a trabalhar com as fibras, mesmo que, no início, a contragosto. Como recuperar materiais tradicionais utilizados no trabalho artesanal de forma respeitosa e sem condenar comunidades a viver numa redoma?

Sempre que possível, prefiro incentivar a manutenção daquela cultura e a utilização das matérias-primas tradicionais. Mas sem radicalismo. Muitas vezes, a troca ou adequação é necessária, até mesmo por questões ambientais.

Para mim, o mais interessante é entender porque os materiais tradicionais não têm mais importância. Por que aquele negócio tão bacana da cultura dele se perdeu? Há uma pasteurização que deixa tudo igual. Muitas vezes, artesãos vão ao supermercado e querem que seu produto fique igual àquele da prateleira.


Talvez pela percepção de que aquilo que está no supermercado significa “desenvolvimento”, “avanço”, enquanto que as peças artesanais tradicionais representariam “subdesenvolvimento”, “atraso”, “pobreza”.

É preciso mudar essa “chavinha” das pessoas. O artesanato não significa atraso, significa beleza, significa que as mãos dos artesãos estão nesse processo e é isso que conta na hora de comercializar as peças. Não se vende apenas o objeto, mas toda a história que está nele. Não é que eu quero que eles fiquem presos, mas se eles valorizarem o que têm, terão condições de não se massificarem. Dificilmente eles vão conseguir competir com o produto do supermercado. O diferencial do artesanato está na sua manualidade e na sua história.


Grupos tradicionais antes vistos como um entrave ao desenvolvimento do país – devendo ser “aculturados” e “civilizados” para se pudesse progredir mais rapidamente –, deixaram de ser vistos assim e passaram a ser encarados como uma mola propulsora desse próprio desenvolvimento. A valorização, promoção e elevação do status desses grupos e suas especificidades pode contribuir de fato com o desenvolvimento do país?

Absolutamente. Eu acredito nisso. É falsa essa idéia de que crescimento é massa. Não precisa ser assim, porque a gente acaba perdendo certos pilares e vira uma massa incontrolável. Acredito muito nas peculiaridades que compõem uma sociedade e que vão caminhar e evoluir dentro de ritmos mais humanos e mais normais, dentro de um desenvolvimento com pilar, de base, não um desenvolvimento econômico numa esfera que está tão distante desses grupos. Quando se quer fazer esse desenvolvimento da massa, pelo contrario, exclui-se muita gente.


E para o futuro, quais são as prioridades em seu trabalho como designer?

Este é um momento de revisão fundamental pra mim como designer. Não é um momento de crise, é momento de novas possibilidades. Para mim, está na hora do design se aproximar das políticas públicas. Acho que trabalhar não apenas com foco na geração de renda, ampliar essas fronteiras, pensar o design como ferramenta para transformação pode ativar muito mais coisas. Pode chegar muito mais perto do verdadeiro potencial do design.