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ARTIGO

POR QUE COMPRAR BORDADOS? CONSUMO DE BORDADOS E PERFORMANCE DE BORDADEIRAS EM FEIRAS DE ARTESANATO E DESIGN

Publicado por A CASA em 2 de Agosto de 2011
Por Thaís Fernanda Salves de Brito

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GT 3 – POR QUE COMPRAR BORDADOS? CONSUMO DE BORDADOS E PERFORMANCE DE BORDADEIRAS EM FEIRAS DE ARTESANATO E DESIGN

 

Thaís Fernanda Salves de Brito

Universidade de São Paulo/ Universidade Presbiteriana Mackenzie



     1.    Introdução

 

Os bordados são elaborados por meio de um aprendizado inteligente, feito com destreza, agilidade e asseio, tem um efeito visual, fruto de uma técnica específica e de muita disciplina.

Trazem consigo relações pessoais em torno do objeto: a mão de quem faz, a escolha das cores, a sensação do bordado no corpo de quem o toca. Apesar de geralmente anônimo, guarda em si o caráter coletivo da criação, da transmissão, da produção e da circulação das peças, essa percepção demonstra que o bordado apresenta, também, relações sociais.

As feiras são espaços para pensar sobre essas relações. O foco é a promoção de produtos, ao mesmo tempo, promove a elaboração de posicionamentos frente ao mundo, muitas vezes, distante de sua origem. Para as bordadeiras de Caicó, as feiras estimulam um olhar para si, por extensão, olham sua produção, rede social, modelos de organização, agências de fomento e relação com o consumidor por meio dos discursos sobre o porque comprar bordados.

As feiras apresentam o bordado e as bordadeiras da cidade de Caicó, região do Seridó, situada no interior do Rio Grande do Norte, nordeste brasileiro. Em todo o Seridó, o bordado traz algumas especificidades, não no que se refere à criação dos pontos (esses são comuns por todo o território brasileiro: richilieu, matiz, ponto cheio, crivo, presponto, cordonê), mas na composição dos elementos, geralmente, flores e arabescos. A feitura do bordado é pautada em técnicas e habilidades que são conquistadas com tempo e com dedicação. Contudo, mais do que trabalho, bordar traz, em si, referências sobre o contexto em que é produzido, sobre quem o faz e os circuitos percorridos.

Um bom bordado, de acordo com boa parte das artesãs que participam da Associação das Bordadeiras do Seridó – ABS [1], deve ser realizado com calma e precisão para que se consiga obter uma boa aderência ao tecido, resistências às lavagens e beleza permanente. Gell (1999) observa que a produção das coisas é inseparável dos agentes que nela operam, por isso, objetos permitem acessar relações e intenções, apresentando-se, até mesmo, como elementos disparadores de ação social. Seguindo os passos de Gell, o bordado aponta para relações que se estabelecem entre a bordadeira e o bordado, mais do que falar sobre a produção e do contexto, importa observar as relações que se tecem em torno do bordado. Essas relações conduzem à percepção das bordadeiras como um grupo heterogênio, apontam os diálogos entre bordadeiras, a Associação e as agências de fomento ao artesanato, além de promover o encontro entre bordadeiras e aqueles que usufruem do bordado como consumidores.

Por esse olhar, é possível uma aproximação com os produtores e com suas trajetórias.

Geralmente, mulheres, que se tornam bordadeiras durante um processo que tende a ser longo. O bordado pode ter sido aprendido em casa, com a família ou na vizinhança; na escola, durante aulas de educação artística; com as comunidades/pastorais católicas; ou por meio das parceiras, por exemplo, com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae - e Associação das Bordadeiras do Seridó - ABS; o que importa é que a presença do bordado tem sido parte da formação feminina de algumas gerações em Caicó e em toda a região, tornando real a busca pelo prazer da beleza.

O objetivo deste trabalho é apresentar “performances” das bordadeiras em três feiras: Gift Fair, Finart e Famuse, a partir de dados obtidos em etnografia realizada entre os anos de 2006, 2007 e 2008, nas cidades de São Paulo, Natal e Caicó. Para isso, o artigo está dividido em cinco seções, incluindo esta Introdução, as demais seções estão assim intituladas: Caicó e seu bordado; Um parceiro para as feiras: Sebrae; As feiras: Gift Fair, Finart e FAMUSE e Considerações finais.

 

     2.    Caicó e seu bordado

 

Caicó se localiza na região do Seridó, no estado brasileiro do Rio Grande do Norte, distante 269Km da capital do estado, Natal. A cidade de Caicó está inserida no Polígono das Secas e seu regime pluviométrico é marcado por extrema irregularidade de chuvas, o que tem sido um entrave para o desenvolvimento econômico e para subsistência da população. A região é frequentemente descrita em função do meio físico e da carência em todos os níveis. Por exemplo, para Medeiros, é:

 

Região descalvada, montanhosa, eriçada de pedregulhos e espinhos, sujeita ao flagelo contínuo das secas, convida o homem para o labor contínuo, para a luta áspera com os elementos da natureza e não lhe permite lazeres para a contemplação das coisas belas, de resto muito raras naquelas paisagens. (Medeiros apud Macêdo: 2004, 72). Grifo meu.

 

Apesar da descrição se configurar como uma representação frequente sobre o ambiente do sertanejo: seco, de sobrevivência difícil e cuja viabilidade econômica tende à infertilidade, conheci Caicó por meio da contemplação de suas coisas belas. Foi o bordado que me levou ao lugar.

A cidade é conhecida, no território do Rio Grande do Norte, como a “terra do bordado”. E a delicadeza e a perfeição das peças contrastava, de imediato, com a imagem projetada da cena de aridez e da carência do sertão nordestino. Da imaginação de um lugar árido, caracterizado pela luta, deparei-me com a beleza fértil e confortável dos enxovais e com a busca pela perfeição na composição de matizes coloridas e traçados minuciosos. Encontrei, ainda, a alegria da festa que louva uma santa acolhedora - avó - e que na festa a seu louvor reúne bordadeiras e bordados.

Dificuldade e beleza se cruzam na percepção do território local. A cidade, como muitas outras, nasce a partir da fazenda de gado, fruto de um modelo português de domínio do espaço. No caso do Seridó, como atividade complementar à pecuária, desenvolveu-se a cotonicultura. (Dantas: 2005; Morais: 2005; Macêdo: 2004). A produção algodoeira foi estimulada pelos governos e grandes proprietários de indústrias de tecelagem, uma alternativa às graves secas e modernização da tecelagem. Esses dois elos produtivos permaneceram característicos da cidade até as décadas de 1960 e 1970 (Morais: 2005; Macêdo: 2004).

O período de prosperidade trazido pelo algodão entrou em declínio quanto a produção paulista se mostrou regular (Morais: 2004, 164). É durante essa crise econômica que se registram os primeiros relatos sobre uso do bordado como mercadoria. De prenda doméstica, torna-se, por meio de Maria do Vale Monteiro, uma modista da região, fonte de renda. Na década de 1970, a agricultura enfrentou sua crise mais séria. Houve uma terrível seca que dizimou o gado e a já restrita produção de algodão. É, também, nesta fase que a Associação das Bordadeiras do Seridó - ABS - foi fundada, em 1973, e as inserções das agências políticas governamentais e não governamentais se tornam mais presentes na região, cujo posicionamento intervencionista a fim de possibilitar que o bordado traga sustentabilidade econômica para as famílias de bordadeiras.

Se o trabalho, renda e sobrevivência estão intimamente relacionados, um olhar mais detido sobre o bordado mostra que seus sentidos ultrapassam a dimensão econômica. Antes de mais nada, o bordado foi parte da formação feminina de algumas gerações. Pobres ou ricas, as mulheres bordavam, como uma tarefa feminina para a alternância das épocas de colheitas e de plantio.

Porém, independente da classe social ou da função das peças, importa que as roupas, os enxovais, os adereços bordados estão no cotidiano, mas vão além dele. Os bordados apresentam o prazer da beleza o que, talvez, revele um novo olhar frente aos discursos de miséria e confinamento que cercam o imaginário do sertão nordestino e do uso do bordado como mera possibilidade de desenvolvimento econômico regional.

O bordado, atualmente, é uma prática de suma importância para a vida local da região do Seridó, envolvendo cerca de 20% das mulheres que se dedicam a sua produção como trabalho e geração de renda, de acordo com os dados da ABS. Os impasses quanto ao desenvolvimento econômico e a própria trajetória da produção econômica seridoense, considerada irregular pelos órgãos do governo, nos últimos 30 anos, tem criado um movimento de geração de trabalho e renda, tendo no bordado uma possibilidade concreta de inserção econômica.

Desde sua fundação, a ABS estabeleceu parcerias com agências de promoção social que se dedicam ao desenvolvimento econômico, a partir do que se considera a “vocação regional”: o bordado. Para isto, essas organizações elaboram análises dos produtos com potencial de inserção em um mercado mais amplo, usualmente, o dos centros urbanos. A inserção dos produtos regionais, com frequência experimenta intervenções no modo de produção, no “aperfeiçoamento” estético, no desenvolvimento de design, na análise de mercado consumidor, na elaboração de custos, no apoio logístico, entre outros temas.

 

     3.    Um parceiro para as feiras: Sebrae

 

O bordado de Caicó está inserido em um circuito comercial. Desde quando Maria do Vale Monteiro constituiu na região um grupo de artesãs aptas para atender o mercado de moda e de enxovais que se expandia no território norte-rio-grandense e em outros Estados no nordeste brasileiro. Nos últimos 20 anos, o movimento de produção e de comercialização dos bordados tem se tornado mais intenso. Provavelmente, uma das razões para a ocorrência de ampliação do mercado foi a incorporação de agentes externos [2] à rede de bordadeiras ampliando a circulação dos bordados, o que gerou um impacto representativo na organização das bordadeiras, principalmente naquelas que são parte da ABS. No que tange à produção e à circulação das peças o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae – tem estado presente na vida das bordadeiras em Caicó.

Em resposta ao Programa de Artesanato Brasileiro – PAB [3], em 1997, o Sebrae criou o Programa Sebrae de Artesanato. O foco é atuar no artesanato como um negócio que obedece às leis do mercado e que dialoga com as expectativas de clientes, por isso, coloca-se como mediador nos diversos contextos por onde circulam as bordadeiras, ampliando, muitas vezes, o circuito de outrora. Para isso, o Sebrae cria cursos e modelos de estímulo ao empreendedorismo em comunidades que, tradicionalmente, produzem artesanato, objetivando a organização da produção.

De acordo com o Sebrae, suas ações brotam da realidade cultural da comunidade, com base na produção (o domínio da matéria-prima, o modo de fazer que se relaciona com o imaginário local, o contexto ampliado da produção), nas habilidades dos produtores e nas relações sociais que já são constituídas. Com novas informações, via “intervenções de especialistas em análise de mercado”, criam-se formas adaptadas a um outro público consumidor, mantendo a “identidade cultural do artesanato” (Sebrae: s/d).

Trata-se de um processo de agenciamento interventor, objetivando oportunidades de ocupação e renda, formalizando o setor artesanal, ampliando o acesso ao crédito e promovendo o acesso ao mercado [4], uma vez que a inserção no circuito das feiras internacionais, principalmente, no âmbito do design e turismo, deriva dos contatos e, principalmente, do financiamento do Sebrae.

 

     4.    As feiras: Gift Fair, Finart e Famuse

 

O bordado pode ser entendido como uma mercadoria [5] que inclui a vida social, traz significações, agenciamentos e movimentos. Trata-se de uma mercadoria, mas que não está, simplesmente, vinculada às trocas monetárias. Constitui redes, sociabilidades e eventos que tendem às noções reciprocidade (Appadurai: 2008). Isso é fácil de observar , inclusive, na relação que o consumidor estabelece com uma peça, afinal: não é comum jogarmos fora uma toalha bordada por nossa avó, um lenço presenteado por alguém que resolveu incluir a delicadeza no nosso cotidiano ou até mesmo um souvenir comprado em um momento de férias.

Produzir e vender é um processo de comunicação. Parte representativa da produção do bordado, em Caicó, é para clientes de outras cidades. Para Canclini (1991), consumir é comunicar, envolve interação e transações, mais do que um exercício dos gostos e das atitudes individuais, ou de compras irreflexivas, trata-se de “um conjunto de processos socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos” (Canclini: 1991, p. 6), portanto, uma realidade sociopolítica interativa, que envolve disputas e legitimações, da produção às maneiras de se usar.

A produção artesanal dialoga internamente, por meio do aprendizado, da feitura das peças, dos encontros entre as bordadeiras, da participação na ABS. Dialoga externamente, com o consumidor, sendo que as feiras são um momento importante, pois criam situações de suspensão do cotidiano. As feiras organizam, movimentam e deslocam as bordadeiras para fora da cidade, ou, trazem consumidores para Caicó e quando fazem isso, criam performances específicas. Mammeri e Bourdieu (Bourdieu: 2006), conversando sobre a produção da poesia oral na Cabília, trazem os poetas/artesãos argelinos como agentes de comunicação entre a comunidade e o mundo exterior. Os artesãos são aptos ao deslocamento, ao encontro daqueles que são exterior ao grupo. A habilidade comercial que é atrelada à prática artesanal impele aos artesãos uma postura mediadora. Cabe aos artesãos a codificação da realidade local, por meio de uma leitura global.

As reflexões presentes no diálogo de Bourdieu (Bourdieu: 2006) podem ser projetadas nos discursos das bordadeiras participantes das feiras, principalmente nas falas da presidente da ABS e, também, do Sebrae. Participar das feiras, apresentar as peças e dialogar com os compradores é a comunicação das bordadeiras com mundo exterior, por isso, desde a seleção das feiras que irão participar às peças escolhidas para cada evento, bem como a participação das associadas e os discursos das artesãs nessas situações são coerentes às realidades.

As feiras são baseadas em contatos que envolvem a relação entre sujeitos e com os objetos produzidos. A tensão que emerge dos encontros, no caso, das feiras utilizadas para a promoção do artesanato, tratam de uma inserção e, prioritariamente, da interpretação dos modelos locais no contexto global, daqueles que, em princípio, estão à margem. Frente aos encontros, Agier (2001) observa que

 

 (...) a própria criação cultural é tomada por uma tensão do mesmo tipo: ela consiste em colocar em relação, por um lado, imaginários locais que devem sempre acomodar a densidade dos lugares, de suas racionalidades, de suas memórias e, por outro lado, as técnicas, os conjuntos de imagens e os discursos da rede global que, por sua vez, circulam praticamente sem obstáculos, despojados de todo enraizamento histórico. (Agier: 2001, p. 19)

 

Herzfeld (2004), ao estudar os artesãos gregos e suas inserções na realidade global por meio produção artesanal, observou um engajamento na repercussão da sua identidade coletiva. Esse engajamento é incorporado na produção dos objetos em uma articulação que envolve experiência social, base histórica, identidade cultural e uma auto-avaliação. Talvez, o engajamento dos artesãos gregos seja perceptível, também, entre as bordadeiras de Caicó, principalmente, quando precisam selecionar as peças para os eventos.

A semana que antecede às feiras é marcada pela tensão da seleção das peças. Essa seleção não é algo simples, normalmente, é realizada pela presidente da ABS, com base no provável público consumidor e na disponibilidade dos bordados [6]. É um momento de tensão, revelado nos discursos das bordadeiras e, frequentemente, alguns conflitos, outrora calados, vêem à tona. De um lado, está a responsabilidade da presidente da ABS em levar as peças mais vendáveis, com melhor acabamento e com maior adequação ao público, de acordo com os parâmetros da feira e das indicações do Sebrae e, para atender às demandas externas, a voz do mercado, mediada pela presidente da ABS, colide com a voz das bordadeiras. Do outro lado, há tensões inerentes às vivências coletivas, permeadas por ruídos na comunicação e embates políticos.

No momento da seleção, a provável “identidade coletiva” sai de cena. Entra a diferenciação, a ruptura e o isolamento. As escolhas das peças podem gerar problemas entre as bordadeiras e a direção da ABS. Quando o trabalho de uma bordadeira não foi selecionado ou suas peças que não foram vendidas, geram-se suspeitas e críticas à presidente da ABS. A responsável pela ABS, algumas vezes, foi acusada de “dar preferência” e se “esforçar para vender o bordado” de artesãs que são “amigas”. Neste contexto que envolve momentos de festa e muito trabalho, há, também, um desconforto, uma preocupação sobre possíveis interpretações das associadas, do cuidado das peças e da imagem da região, projetada para um público que, em princípio, não teria acesso à Caicó.

O grupo de bordadeiras, em si, é uma composição social múltipla e em tensão. Podem ser observadas a partir de uma rede social que se comunica com agentes externos que, uma vez introduzidos no universo desta prática artesanal, colocam-se como mediadores nos diversos contextos por onde circulam as bordadeiras, ampliando, muitas vezes, o circuito de outrora. Durante o processo etnográfico pude acompanhar a Associação das Bordadeiras em algumas feiras, consideradas pelo grupo como as mais centrais na divulgação do bordado. Aqui, a análise se deterá na Gift Fair, na FIART e na FAMUSE. A escolha destas duas feiras justifica-se pelas adequações necessárias para alcançar públicos completamente distintos.

 

 

 4.1.  Gift Fair

 

A Gift Fair (Brazilian Internacional Gift Fair) ocorre todos os anos, em março, para cerca de 70 mil pessoas e reúne fabricantes, representantes, atacadistas, importadores, distribuidores e compradores. É uma feira para o mercado de presentes e de decoração [7], realizada em São Paulo.

Parte do calendário de negócios da cidade, seu foco é o público lojista do segmento de utilidades domésticas e profissionais do segmento de decoração e arquitetura, interessados em “design diferenciado”. Lança tendências, estimula um comportamento de consumo intenso e de circulação de objetos de luxo.

Na 35a. Edição do evento, em 2006, houve uma parceria entre os organizadores do evento e o Sebrae que, entre outras associações, enviou a ABS para expor suas peças e participar da Rodada de Negócios. A Gift é a vitrine mais importante para o mercado de presentes e de decoração, e a participação das bordadeiras foi uma oportunidade para visibilidade dos produtores da região, inclusive, visando o mercado externo, principalmente o europeu. Nesta feira, a postura assumida pela presidente da ABS era como a de uma mulher de negócios, versada em negociações. O stand fora cuidadosamente decorado, com espaço e proporcionava um ambiente para conversas. Ao apresentar os produtos, falava sobre o bordado como algo único e de acabamento impecável, sua preocupação era destacar a elegância dos jogos de cama e de mesa, contando sobre o ar aristocrático que uma casa ganhava ao se ter uma toalha toda bordada em richelieu. Somado à apresentação das peças, assumia a possibilidade de cumprir com os prazos de entrega, sem abandonar a qualidade e a perfeição dos bordados. Além disso, mais importante do que vender, era a troca de cartões com os lojistas que visitavam o estande. No entanto, em termos práticos, poucos negócios foram fechados.

Eram muitas ofertas e concorrentes. A feira era muito grande e os estandes do Sebrae ficavam em um lugar de difícil acesso, impossibilitando a maior parte dos clientes de conhecer o trabalho das associações. Foi um evento cansativo, caro e de pouco resultado imediato.

Por sua vez, as Rodadas de Negócio são oportunidades relevantes para as associações de artesãos e para os pequenos e médios empresários. Consolidam um canal de divulgação dos negócios, de estabelecimento de alianças e parcerias, por meio de intercâmbio comercial.

Prioritariamente, é um momento de atuação prática da formação empreendedora, por meio de uma negociação direta do cliente com fornecedores. A “educação empreendedora” que ocorre nas Rodadas de Negócio consolidam a proposta do Sebrae.

             

4.2.  FIART

 

A Fiart - Feira Internacional de Artesanato - ocorre há 13 anos, na cidade de Natal – RN, em janeiro. Nos últimos anos, ocorre no Pavilhão das Dunas do Centro de Convenções da cidade, que fica entre a Via Costeira e a Praia de Ponta Negra, circuito dos turistas que visitam Natal. Esta feira é parte do calendário turístico do Rio Grande do Norte, uma vez que incrementa a alta-estação de verão em Natal e em 2008, foram cerca de 350 estandes com peças artesanais. Seu público são os turistas que vão a procura de comidas típicas, de ouvir música de terra e de comprar souvenirs a preços módicos. Os artesãos são provenientes de várias cidades do Rio Grande do Norte, de outros Estados - principalmente nordestinos - e, também, de outros países. Fruto de uma parceria entre SEBRAE, Governo Estadual, Ministério do Turismo e da Integração Nacional e Prefeituras do Estado do Rio Grande do Norte.

A ABS, na Fiart, precisa lidar com alguns questões específicas. Primeiramente, são muitas as ofertas de produtos artesanais, o que torna intensa a concorrência, com um montante de vendas não muito empolgantes e baixa margem de ganho. Apesar de se vender bem peças pequenas e camisetas, boa parte das artesãs filiadas à Associação não gostam de mandar as peças para lá, porque é frequente o roubo de peças e calotes, sendo este o segundo desafio [8]. O terceiro movimento é dado ao uso do discurso como um “bem cultural”. Oliveira (2006) observa que os produtos artesanais se tensionam frente alguns termos como os projetos desenvolvimentistas do Estado, a questão dos bens culturais, comodização da identidade de um grupo, das atividades correntes diante de novos contextos:

 

 (...) dependendo do contexto, essa identificação assume outros contornos. O estrangeiro ou o turista nacional tem a necessidade de adquirir uma “prova” da sua viagem a lugares exóticos (distantes de sua cultura) como souvenirs ou sente-e “encantado” quando, originário de um grande centro urbano, deparase com artefatos “feitos à mão” e pertencentes a uma produção que parece única. Este é um discurso para promover o desenvolvimento da “cultura popular” através do turismo, construído para alimentar uma rede de novos produtos e serviços”. (Oliveira: 2006, p. 46)

 

Acompanhei a ABS na Fiart durante os anos de 2006 e 2007. Estes outros contornos de que fala Oliveira (2006) se tornam explícitos nos discursos que acompanham as vendas na FIART. O público é enorme e a promoção da feira é voltada para o varejo, sendo que o bordado e as bordadeiras se tornam os representantes de uma região, o “cartão de visitas do Seridó”, como repetido no discurso da governando Vilma Farias.

Neste evento, mais importante do que as qualidades formais e estéticas das peças, a capacidade empreendedora e o compromisso com o mercado, o que importa é a forma pela qual o bordado foi feito e o lugar de origem. As peças precisam estimular a lembrança do tempo de lazer do turista-consumidor. Por isso, o discurso de altera e, para promover as vendas é comum ouvir que “este é um produto da terra” ou, então, “que é um presentinho prático para levar na mala” e que “agrada a todos”. O discurso e o posicionamento da ABS se altera, se comparado à outra feira. Não é mais a qualidade e a elegância, mas a relação com o lugar e o tempo dedicado à tarefa.

Contudo, o consumidor da Fiart, apesar de, ocasionalmente, interessado no processo do bordado, não se detêm e não determina sua compra por isso. Focado do consumo direto e insensível até mesmo à estética, no final das contas, o turista tem uma verba para consumir o máximo de coisas, em tempo apressado - algo que não combina, definitivamente, com o bordado.

Dois motivos, entretanto, são importantes para continuar expondo as peças na FIART. O primeiro deles é a divulgação, obviamente, o turismo é uma porta para outras regiões que, em princípio, estão inacessíveis para as bordadeiras; e, o segundo, talvez o mais importante, é a relação política fruto da parceria com o Sebrae, uma vez que a presença da ABS na feira divulga o projeto do Sebrae da região.

 

4.3. FAMUSE

 

Tradicionalmente, mais do que vender e comprar, as feiras são um espaço privilegiado de encontro do outro, de vínculos e de memória. A Famuse - Feira de Artesanato do Seridó – ocorre todos os anos em Caicó, durante os festejos de Sant’Ana e traz em si este caráter de encontro e de vínculos criados e nutridos por um grupo que compartilha uma identidade: ser artesão e ser seridoense. Essas duas características marcam a distinção das feiras anteriormente narradas. Além disso, nas feiras internacionais as bordadeiras saem da cidade, levando seus bordados para outras terras, rumo ao mercado ampliado, na Famuse, as bordadeiras apresentam os seus trabalhos na cidade e recebem o povo que vem de fora para ver as coisas de sua terra.

O evento revela o que se produz materialmente e imaterialmente na região e, mais do que tudo, conta sobre o que os caicoenses entendem importante de sua produção. É uma oportunidade única para encontrar as bordadeiras da cidade, uma vez que utilizam a feira para expor seus trabalhos. Essa exposição marca, também, um movimento de competição, ainda que velado, entre as bordadeiras. A abertura da Feira é acompanhada de discursos (do representante do Governo, do representante do Sebrae, do representante dos artesãos), da consagração do espaço por algum clérico, pela homenagem ao artesão do ano e pela saudação aos artesãos realizada por algum artesão de reconhecida ação. Revela, também, um movimento de ação política por parte das bordadeiras, utilizado, principalmente, pela liderança daquelas que são parte da Associação das Bordadeiras do Seridó, uma vez que se tornam uma classe de trabalhadores em militância diante dos representantes políticos que são parte do evento.

A Famuse é o momento em que as bordadeiras da região se voltam para si, , é um momento de confraternização, socialização, confronto e competição, por ocasião do evento, percebem movimentações internas, debatem sobre privilégios e hierarquias, principalmente, quando a pauta é a distribuição dos estandes. Soma-se à organização do espaço, a oportunidade das bordadeiras avaliarem o que deve ser produzido com base nas conversas que ocorrem pela cidade [9]. Além de seu caráter comercial, é uma celebração, um encontro de famílias, território de aproximação com os políticos, de fofoca, das bandas de forró ...

Esta feira tem uma trajetória e um contexto. Ocorre durante a Festa de Sant’Ana e não há dados específicos sobre a origem do encontro que começou sem grandes pretensões, somente para expor os produtos da região, vendê-los e contribuir com as obras da Igreja de Sant’Ana, mas, com o tempo, foi ampliando e se profissionalizando. Anteriormente chamada de “feirinha”, seu lugar era o entorno da praça da Matriz até 2006, quando foi inaugurado o “Complexo Turístico da Ilha de Sant’Ana” [10].

A maioria dos expositores migraram para o novo espaço, dividido em setores distintos e organizados. Recebem, ainda, na época da festa, o parque de diversões e os shows diários. No setor do artesanato, além dos bordados, encontra-se um trabalho muito rico com o couro e a presença de alguns pintores da região, que expõem seus quadros, usualmente, inspirados na geografia e na forma de vida do povo sertanejo. É válido observar que a alteração do local de comércio e do nome do evento (da Praça da Matriz - “feirinha” para a Ilha de Sant’Ana - Famuse) permite observar o investimento na profissionalização do artesão que desde 2003 foi organizada pelo Sebrae, sendo que a partir de 2007 coube a ABS a organização do evento.

Por meio das experiências vivenciadas pelas bordadeiras nas outras feiras, a Famuse se parece, cada vez mais, com uma organização racionalizada, inspirada nos eventos internacionais.

Apresenta um modelo racionalizado e empreendedor que cria espaços determinados para fazeres e ações específicas. Além disso, serve, também, de estímulo para os roteiros turísticos, algo que combina com os programas de incentivo para a consolidação do Roteiro Seridó [11].

Apesar de tradicional, são poucas as bordadeiras que se dispõem a alugar um estande [12]. Os motivos são vários: custo, tempo dispensado para o varejo em uma época de festa, entendimento sobre o funcionamento de mercado (uma vez que acreditam que a oferta de bordados é muito grande durante o período e isso pode baixar os preços das peças). Ainda que seja reduzido o número de expositores, é muito comum um encontro informal das bordadeiras da região, afinal, todas querem ir à feirinha para encontrar as outras, para matar a curiosidade de saber o que está sendo feito ou para criticar os trabalhos feitos. Há, ainda, outra forma de participar da Famuse, que, também não é isenta de tensões, realizada por meio da filiação à ABS e exposição coletiva no estande da ABS, no entanto, participar desse modo pode ser um problema, uma vez que dizem que porque as bordadeiras de plantão no estande dão prioridades para os seus produtos em detrimento da produção das demais companheiras da ABS.

Os consumidores são uma personagem importante. Boa parte dos compradores dos bordados são os “caicoenses ausentes”, as pessoas oriundas de Caicó, mas que vivem fora da cidade e voltam para a terra natal em virtude da Festa de Sant’Ana. Eles vêem da capital do Estado, de cidades maiores de regiões próximas, como Campina Grande, e de outros centros urbanos como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Eles vêem cheios de saudades e precisam levar para casa e para os amigos de onde vivem aquilo que a cidade guarda de mais bonito. Diferentemente das “lembranças” buscadas na FIART, esse público não quer coisas baratas e pequenas que não ocupam lugar na mala e fazem questão em saber quem fez a peça e quais foram as condições da produção, neste caso, quem bordou vale como uma assinatura, o que traz valor à peça. Interessante notar que, na Famuse, as bordadeiras não precisam advogar em favor de suas peças, os consumidores sabem o que querem e de quem querem comprar.

As pessoas da cidade aguardam ansiosas a “feirinha de artesanato”, como ainda é conhecida pelo povo. Os moradores da cidade buscam novidades, afinal, boa parte das compras de bordados, principalmente o enxoval para enfeitar a casa, são feitas em um período anterior à Festa.

Em 2006 houve uma “febre”. Uma de artesãs bordou, em richilieu com aplicação de pedras, flores em camisetas. As mulheres da cidade compraram muitas destas peças e outras bordadeiras resolveram fazer o mesmo, o que, posteriormente, se tornou um debate sério, envolvendo a questão da autoria e dos possíveis direitos que envolvem a criação. Anos depois, as camisetas continuam nos estandes da Famuse, no entanto, a diversidade dos desenhos é que definem as vendas.

 

5. Considerações finais

 

O primeiro contato que tive com o bordado feito em Caicó foi no Mercado Modelo de Fortaleza e, posteriormente, no Centro do Turismo de Natal. Lá estão alguns estandes ou lojas que comercializam o bordado feito na região do Seridó. São lojistas que vendem as peças e, normalmente, não tem muito contato com as bordadeiras. Nestes locais, é comum o discurso da “perda da tradição” e da urgência em se comprar esses bordados porque “as mulheres do sertão não querem mais saber de bordar”, ou, ainda que raro, é possível ouvir o discurso de que é bom comprar bordados porque assim “é possível ajudar uma comunidade que é carente”.

Durante todo o período de etnografia em campo, percebi uma diferença crucial entre as vendas realizadas por comerciantes que não tem relação direta com o bordado, frente às que presenciei pela presidente da Associação e de outras associadas que a acompanhavam nas viagens.

Ao invés do discurso de morte e de urgência, há ações de vitalidade e resistência. Nesses discursos, o que se vê revelado são as possibilidades reflexivas do posicionamento das bordadeiras frente à produção e ao comércio. São arranjos discursivos, que englobam tensões internas e externas, revelando movimentos sociais que não se calam, ainda que treinados para um contexto de empreendedorismo capitalista. Por isso, permite observar bordado a partir de um modo relacional, saber como os bordados e as suas bordadeiras vão se compondo frente aos jogos, sendo que as feiras podem ser compreendidas como um jogo que se constrói a partir das identidades e dos contextos de produção e de comercialização (Agier: 2001).

Outro elemento interessante está para além dos discursos e envolve as releituras dos próprios bordados, por exemplo, na feitura do richelieu em malha para camisetas, tornando sedutor para o turista ou, então, na adaptação do espaço e dos produtos para os consumidores das lojas de luxo das capitais. A feitura dos produtos apresentam relações de alteridade, revelando leituras possíveis que as bordadeiras fazem dos possíveis clientes. O mais importante é que não se trata de uma relação de subjulgamento, na qual as bordadeiras estão rendidas ao gosto do consumidor, mas de uma relação social dinâmica e que considera os grupos externos em relação, portanto, em comunicação, com o que elas produzem. São territórios de disputas e de acordos.

Fiart, Gift e Famuse são feiras muito distintas, seja no que se refere aos locais em que essas feiras são realizadas e, inevitavelmente, o público atingido, ou, seja na forma de agir das bordadeiras (a seleção das peças, o acesso aos discursos, a postura como comerciante, o modo de negociar, etc). Essa diferença revela o significado que as próprias artesãs atribuem às feiras e ao comércio na região, aos impactos advindos dos contatos com outras realidades e ao encontro consigo, por meio do bordado.

 

Bibliografia

 

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____. A identidade cultural no artesanato. Disponível em <<http://www.sebrae.com.br/setor/artesanato/sobre-artesanato/identidadecultural/integra_bia?ident_unico=652>>Acesso em

13/6/2009.

 

 Notas:

 

1 Segundo os dados da Associação das Bordadeiras do Seridó, cerca de 20% da mulheres da região são bordadeiras (aproximadamente, 5.000 vivem em Caicó), destas, apenas 120 mulheres estão filiadas à Associação. Somente as que são filiadas podem comercializar as suas peças por meio das feiras.

 

2 Dentre as agências parceiras das bordadeiras em Caicó, encontram-se representantes do Programa de Artesanato Solidário, Rede Potiguar de Design, Agência do Desenvolvimento Sustentável do Seridó – ADESE, Programa do Artesanato Potiguar, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Secretaria do Trabalho e Bem-Estar do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Departamento Diocesano da Ação Social, entre outras.

 

3 O PAB foi desenvolvido entre as décadas de 70 e 80 do século XX. Sua meta foi o desenvolvimento das regiões brasileiras a partir de suas vocações regionais. Este programa é uma tentativa de resposta à visão depreciada do artesão, por isso, houve um empenho de profissionalização do artesão, por meio de Associações e Cooperativas. Por isso, as metas do PAB são:

 

4 A dissertação de Maíra Bühler (2006) apresenta um olhar fundamentado e crítico sobre a inserção dos programas de fomento do artesanato, principalmente daqueles que articulam o “local” e o “global”, das parcerias com o Estado e com o mercado.

 

5 O embate em torno das questões culturais e identitárias fogem ao escopo deste artigo, apesar de reconhecer que são vitais para a reflexão, uma vez que a dimensão cultural está embutida nele.

 

6 A bordadeira que prepara material para ser vendido nas feiras precisa, em um primeiro momento, investir dinheiro e tempo na preparação das peças e, ainda, correr o risco de enviar as peças para a feira e não ser vendida.

 

7 Com cerca de 700 estandes e ocupando um espaço de 50.000m2 é organizada pelo Grupo Laço, desde 1990. Em 2008, movimentou 1.5 bilhão de reais.

 

8 As duas vezes que acompanhei a feira, apesar do lugar ser mais destacado do que na Gift, era bem desconfortável, improvisado e deixava as peças vulneráveis ao roubo ou à deterioração devido à quantidade de visitas e à impossibilidade de acompanhar o movimento no momentos de maior pico de turistas.

 

9 É interessante notar que na FIART e na Gift as bordadeiras produzem olhando o circuito externo, na FAMUSE, por sua vez, a medida da produção é observada nas conversas entre as bordadeiras, algumas vezes oblíquas.

 

10 A Ilha de Sant’Ana foi inaugurada em 2006. Realização do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, foi pensado para abrigar, prioritariamente, a Festa de Sant’Ana. Conta com espaços para apresentações artísticas e culturais, espaço para parque de diversões, ginásio poliesportivo com capacidade para 3000 pessoas, área para exposição com boxes, anfiteatro e praça de alimentação. A maior parte dos expositores são da região do Seridó, mas há uma presença de expositores externos, frequentemente, nordestinos, sendo é comum a presença das outras associações de artesãos, apoiadas pelo Sebrae.

 

11 Projeto do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, em parceria com o Ministério do Turismo e do Sebrae-RN.

 

12 O valor do estande em 2008 foi de R$400,00, durante os cinco dias da feira. O valor não se diferencia pela disposição, e são vendidos em função da ordem de reserva.