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A CASA E O MUNDO

ENTREVISTA

ANTONIETA CONTINI

Publicado por A CASA em 26 de Agosto de 2011
Por Daniel Douek

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“Temos que respeitar a vocação das pessoas”


Antonieta Contini é consultora, com especialização na área de desenvolvimento local.
antonietagcontini@gmail.com


Você atuou no Sebrae por mais de duas décadas na área de empreendedorismo e desenvolvimento local – especialmente feminino. Como se envolveu com esse tipo de trabalho?
Entrei no Sebrae em 1985 e, em 1986, fui contratada. Atuei na área de projetos de viabilidade econômica, de financiamentos, e na área de consultoria empresarial.
Em 1991 ou 1992, tive a oportunidade de fazer o curso de Desenvolvimento do Espírito Empresarial Feminino, na Itália, em Turim, dirigido à mulheres da América Latina. O curso era justamente voltado para a mulher artesã, que gostaria de empreender e nunca teve oportunidade. Foi um curso intensivo, de três meses de duração, no qual conhecemos a experiência da mulher empresária da Itália, da Suíça, da Espanha e de toda América Latina.
O curso foi muito bom, e percebi que o Sebrae tinha tudo para desenvolver um projeto em prol da mulher. Nesta época, o Sebrae já atendia a mulher de classe média, e acreditei que poderia atender, também, a de baixa renda. Desenvolvi um projeto que se chamava “Pró-Mulher”. Estava muito empolgada para implementar esse projeto,  sabendo que teria que procurar parcerias. Procurei as embaixadas, o Sesi, o Senai.
A primeira experiência de parceria, foi com o Sesi de Brasília para Tabatinga, porque lá eles já tinham uma estrutura muito boa de maquinário e de professores.  Trabalhavam com donas de casa de baixa renda que faziam costura doméstica. A minha proposta foi transformar a costura doméstica em um projeto de costura industrial de uniformes profissionais. O Sesi entrou com um maquinário muito bom, com uma coordenadora e com os cursos; eu acompanhava tudo e entrei com o empreendedorismo, ajudando a buscar o mercado. O próprio Sesi absorvia grande parte da produção, e as mulheres tinham trabalho o tempo todo.
Quando a parceria foi cancelada, elas constituíram uma associação, alugaram um espaço e continuaram fazendo uniformes profissionais. Esse foi o primeiro projeto, um piloto. A proposta não era manter o grupo para sempre, era um laboratório para aprenderem e, depois, cada uma seguir seu caminho; aos poucos, algumas mulheres saíram e as que dominavam as principais noções de empreendedorismo montaram seu próprio negócio sozinhas, em duplas ou com o marido. O resultado me empolgou e me incentivou a continuar.
Um dia, um diretor do Sebrae sugeriu mudar o nome do “Pró-mulher” para “Associativismo”. Comecei com o Associativismo, mas não tínhamos recursos. Então, na época do presidente Fernando Henrique Cardoso, surgiu um projeto no Sebrae para todo o país, o DLIS, Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Eu pensei: “É a minha cara”. Consegui aprovar o projeto e implantá-lo nas cidades satélites de Brasília. Trabalhamos quase três anos e formamos duas turmas com o mesmo maquinário e a mesma estrutura. Era o tempo dos assentamentos e o governador Joaquim Roriz distribuía lotes. Era só terra, não tinha energia, não tinha água, e eu no meio daquela terra toda.
Tínhamos que fazer um diagnóstico da situação. Resultado: pessoas desempregadas, desqualificadas, mães arrimos de família e crianças na rua. Então a proposta foi: mãe em casa, com associativismo. Conseguimos uma máquina para cada uma, uma consultoria para o grupo todo, e foi assim que a gente trabalhou, descobrindo talentos individuais. A riqueza é justamente a diversidade dos talentos dentro de um grupo; uma é boa pra comprar, outra é boa para fazer as críticas, a outra é boa para fazer os objetos, e ainda tem que ter uma líder.

Como é escolhida a líder do grupo?
Você tem que descobrir uma líder no grupo. Se você não identifica uma, o grupo acaba ou míngua quando você sai.  Então, minha preocupação maior era identificar uma líder, que não eu. O líder surge naturalmente, não é imposto. É o grupo que dá autoridade, credibilidade e legitimidade ao líder. Se não tiver um líder, a coisa não anda.

Com os recursos do DLIS, ainda era necessário estabelecer novas parcerias?
O dinheiro do DLIS era muito pouco, então eu continuava com as parcerias: Sesi, Senai e embaixadas, que me ajudaram muito. Sou muito teimosa e determinada. Atrás de um Sebrae, achava que poderia fazer muita coisa! Depois do DLIS, o projeto se fortaleceu. Enquanto capacitávamos o empresário e fortalecíamos as iniciativas que surgiam, o DLIS fortalecia as empresas que já existiam, identificava oportunidades. Criamos então a “Ação empresarial”; a ideia era levar o Sebrae todo até as comunidades para atender o empresário de todos os seguimentos, em todas as suas necessidades, como arrumar uma vitrine, elaborar o fluxo de caixa, o controle de banco, preencher os  impressos do Sebrae, e também levar cursos de empreendedorismo. Levava todas as lideranças que trabalhavam comigo de porta em porta à procura de cursos. Percebi que eu era só uma facilitadora, quem tinha que conduzir tudo eram as lideranças.

No DF, em especial, interesses políticos conflitantes estão sempre presentes. Seu trabalho era influenciado por isso?
Eu trabalhava com todos, não defendia nenhum partido, era neutra. Se me perguntavam, “O que você é?”, respondia “Não sou nada, estou trabalhando pela comunidade”.

Há algum trabalho que pode ser destacado como exemplo de sucesso do projeto?
Fizemos um trabalho belíssimo em Riacho Fundo, onde surgiu uma cooperativa de catadores que existe até hoje e é referência no Brasil, a 100 Dimensão. É uma maravilha, tem galpões, caminhões, um trabalho incrível. Eles têm uma líder que já deu palestra até na Getúlio Vargas! Era um talento que estava lá escondido e surgiu. Isso é uma vitória.

O que é empreendedorismo social?
Quando pensei nesse nome, “empreendedorismo social”, o objetivo era a inclusão social por meio da geração de trabalho e renda. Inclusão social se faz com oportunidades, capacitação. Muitas dessas mulheres voltaram a estudar e os filhos se formaram em faculdades. Para mim, é melhoria na qualidade de vida, dar oportunidade a quem nunca teve. Essa oportunidade muda muito a cabeça das mulheres. Muitas delas, hoje, são multiplicadoras e estão trabalhando em outros estados e até em outros países. É gratificante. Até o jeito que ela se porta e se veste é outro, a vaidade e a autoestima afloraram. Essas coisas é que fazem a gente se empolgar e querer multiplicar, querer levar para outros locais. Há uma artesã em Brasília chamada Lúcia que faz um trabalho fantástico. Lembro que ela não levantava a cabeça, não me olhava, quando começou a trabalhar comigo. Um dia, tivemos uma reunião com um deputado e a vi discutindo política com ele! Veio-me até lágrimas nos olhos. Esse trabalho é uma coisa tão barata e tão simples; se dividimos o recurso destinado por pessoa atendida vemos que é nada.

O artesanato é utilizado como meio para o empreendedorismo?
Sim, mas não só o artesanato, trabalhamos com diversas atividades. Trabalhamos, por exemplo, com uma cooperativa de catadores. Dessa cooperativa surgiu um grupo que hoje está independente e exportando. Depois surgiu as Panteras do Lar, que trabalham bolsas maravilhosas vendidas nos EUA. Trabalhamos também com a produção de doces.  Utilizamos aquilo que as mulheres sabem fazer.
Aprendi isso no Pró-Mulher, onde tive uma lição de vida. Lembro-me de que quando eu chegava, tinha uma mulher que havia feito um curso de modelagem, costura industrial e estilismo e estava sempre passando os uniformes que eram produzidos ali. Uma vez, perguntei: “Por que você só fica passando roupa ao invés de participar da confecção?”; ela respondeu: “Vou te confessar uma coisa: detesto costura, estou aqui porque gosto do grupo”. Aí, quis saber: “O que você gosta de fazer?”. Ela respondeu: “Sou doceira”. Compreendi que aquele não era o seu lugar. Fui visitá-la em sua casa, e percebi que já tinha uma pequena estrutura, onde ela fazia doces e tortas. Ela estava pronta, era só uma questão de empreendedorismo. Temos que respeitar a vocação das pessoas. Ela continuou como doceira e passou a ser instrutora: onde havia um grupo que gostava de fazer doces, ela ia e ensinava, na maior alegria. Hoje ela continua com essa atividade que é sua paixão. Acho que só é possível fazer bem feito o que se gosta.

Como seu trabalho se diferencia de outros trabalhos do Sebrae com comunidades de artesãos?
Trabalho com mulheres que nunca pegaram numa agulha. Os artesãos já têm um conhecimento prévio, já sabem como fazer. Além disso, trabalho com mulheres e grupos, não é um trabalho individual; o artesão é individual.
Nós fazíamos o treinamento e o desenvolvimento do produto. Elas faziam a ficha técnica de cada produto para saber o custo, a margem de lucro, o preço final, no atacado e no varejo. Nosso material era maravilhoso, pouco empresário tem igual. Agora, é com elas. Elas estão preparadas como empresárias, podem empreender sem medo. Só faltava, para muitas, coragem, porque prontas elas estavam. O resultado, estamos vendo agora: elas se juntando e pensando em participar de uma feira; juntando para ficar mais barato. Para mim, esse é um resultado fantástico.

Qual a importância das feiras para o empreendedorismo?
As feiras são muito importantes, porque abrem mercado. O Brasil todo vai comprar em São Paulo, então é lá que temos que estar. E nosso espaço nas feiras era um dos mais bonitos, fazíamos para encher os olhos das artesãs, para se motivarem. Agora, nossas líderes já são empreendedoras individuais, passaram por toda a caminhada que o empresário deve passar, tiveram todos os cursos de empreendedorismo, consultorias de gestão, já conseguiram até nota fiscal. Uma das líderes tem hoje um showroom em Brasília!

O trabalho se estendeu para outros países com necessidades parecidas?
Fui pela Organização Internacional do Trabalho a vários países da África capacitar mulheres empresárias, sempre levando essa experiência. Guiné Bissau, Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique, países de língua portuguesa.

O projeto é desenvolvido principalmente com mulheres, sempre visando seu empoderamento. Como os maridos se posicionam em relação a isso considerando que, muitas vezes, o trabalho é desenvolvido em comunidades machistas?
No início os maridos são contra. Já ouvi maridos falarem que lugar da esposa é na pia e no fogão. Precisamos convencê-los de que ela tem tanto talento quanto ele, só precisa de uma oportunidade. Hoje, os maridos têm orgulho das mulheres. Elas compram televisão, trocam o sofá, aumentam casa e ajudam em tudo. O dinheiro que entra é todo para a casa, para a família. O filho tem orgulho da mãe que está na feira. Quando a feira é em Brasília, o filho e o marido,se puderem, vão até lá. Hoje, a situação se inverteu: todo marido quer ter uma mulher mais esclarecida, mais informada.

Mesmo que isso signifique menor tempo de dedicação às tarefas domésticas?
Costumo dizer para elas que a mulher é empreendedora por natureza e uma administradora nata. Ela consegue administrar o tempo dela. Falo que o filho não pode deixar de ir à aula, nem chegar atrasado; o marido não pode ficar sem comida ou roupa lavada. Se tiver que acordar mais cedo, acorda. Se tiver que deixar tudo pronto, deixe, e reserve uma tarde ou uma manhã para fazer um curso. Elas são administradoras por natureza, conseguem organizar a casa, então o marido não tem motivo para reclamar, só pra se orgulhar, porque está entrando dinheiro, a mulher está mais bonita e se cuidando mais. Teve uma perdeu quinze quilos, veio pra São Paulo e arrumou um namorado! Isso melhora a autoestima, a mulher começa a se arrumar mais, se pentear, passar batom, e vem para a feira toda bonita. O marido tem orgulho disso. Mesmo os mais ciumentos. Pedimos para que elas não descuidem do marido, que façam um chamego. E eles confiam bastante em mim e na equipe. Fica mais fácil o marido aceitar a partir do momento em que criamos esse laço com a comunidade, com os familiares.

Há homens que participam dos projetos?
Sim, mas é mais difícil. A mulher tem tempo de se capacitar; o homem participa quando está desempregado. Teve um caso de um homem que fazia bichinhos de crochê para serem costurados nos panos de prato e sustentou a família desta forma por muito tempo – até passou num concurso. Tem outro que trabalhava junto com a mulher. Ele era gari de dia e bordadeiro de noite, e fazia isso para complementar seu salário. Há outro que conseguiu um cargo político na prefeitura, mas gosta mesmo é de ser artesão. Ele evoluiu muito com o designer Renato Imbroisi e faz bolsas maravilhosas que chamam a atenção de grifes. Às vezes, vara a noite produzindo bolsas, e a mulher dele, que não é artesã, ajuda nas vendas. Quando recebe um número grande de pedidos, coloca toda a família para trabalhar. Há vários exemplos, mas alguns não querem aparecer.

Ainda tem muito preconceito em relação à participação do homem em trabalhos artesanais?
Certa vez, a Globo me procurou para que eu indicasse alguns artesãos que faziam crochê. Não pude, eles não queriam aparecer, por causa do machismo. Mas têm muitos que fazem crochê, marchetaria, costura ou bordado. E fazem muito bem! Tem preconceito ainda, mas por parte do homem, não da mulher. O homem ainda é machista. A mulher evoluiu muito, buscou independência, mas o homem não foi preparado para isso. Acho que o homem não acompanhou a evolução da mulher.

Qual a importância da formalização desses grupos?
É muito importante, é o nosso objetivo. Mas não queremos formalizar por formalizar, há um caminho a seguir, é preciso se preparar para ser empresário. Há muitos aventureiros e isso faz com que o índice de mortalidade de empresas ainda seja grande.

Os custos envolvidos na manutenção de uma cooperativa não dificultam sua durabilidade?
Vejo a cooperativa como uma forma de buscar parcerias e benefícios, mas não é adequada para a comercialização. Se uma cooperativa comercializa produtos, começa a pagar todos os impostos de uma empresa comum, que são altos demais para o grupo. A cooperativa é a forma ideal de integração e de inclusão social, mas deveria passar por uma reforma tributária. Muitas vezes, é mais vantajoso constituir uma microempresa, na qual entram sete pessoas, ou duas microempresas, se o grupo é grande, ou ainda a líder se constituir como empreendedora individual. Como empreendedora individual, a líder tem nota fiscal, contribui para aposentadoria, tem assistência médica, tem todos os benefícios, só que tem também a limitação do faturamento.
A proposta não é o grupo permanecer sempre como grupo. Um grupo só se mantém porque a maioria das mulheres não quer empreender. Todas têm todos os cursos, têm todas as informações, mas às vezes o marido não quer que a mulher entre numa sociedade ou numa cooperativa. Então, ela só quer trabalhar e receber seu dinheiro. Não quer comprar nem vender, quer que lhe entreguem o material, ela faz o trabalho e recebe. Muitas são assim e isso tem que ser respeitado. De qualquer maneira, ela tem a formação, a capacitação, e, se um dia ela resolver empreender, terá todas as ferramentas.

Qual a importância de aliar o design no trabalho com comunidades artesanais?
É muito importante. O mercado não quer mais do mesmo, o mercado quer novidade, inovação. É preciso dar uma cara nova ao pano de prato que os grupos fazem, por exemplo. Nada de copiar de revista, porque mesmice não vende. Então, o design é uma ferramenta muito importante para alcançar o mercado, que está cada vez mais exigente. E não precisamos copiar nada, temos uma diversidade muito grande, a fauna, a flora, é a questão da brasilidade. Um detalhe pode enriquecer um produto. Resgatamos aqueles bordados antigos e fazemos uma aplicação diferenciada. Minha preocupação é que elas precisem sempre do design. Só que percebo que de tanto elas trabalharem com design, acabam desenvolvendo a própria criatividade. Às vezes, criam um produto, e quando o designer chega, só querem a aprovação dele – que muitas vezes aprova e, às vezes, dá pequenas dicas. O design é fundamental, e cada vez que o grupo vai à feira, tem que vir com novidades e brasilidade.

Quais devem ser os limites do trabalho do designer no trabalho das comunidades?
Há uma diferença muito grande entre o artesanato tradicional e aquele que a gente faz. Na produção artesanal, em que o artesão vai ao mato, pega a madeira e a transforma em arte, não se deve interferir, é da cultura do artesão. O artesão, principalmente os mais velhos, é resistente a mudanças. Os mais jovens já estão abertos para inovação. Acho que no artesanato tradicional, não deve haver interferência. Em Brasília, conheci um artesão maravilhoso que faz coisas belíssimas em cerâmica, quadros de borboletas, margaridas, pássaros. Ele é moderno, está atento aos ícones de Brasília, está atento ao mercado e vende muito. É outra visão. Agora, aquele tradicional que tem na feira de Brasília, eu nem ousaria sugerir alguma mudança, a não ser que ele procurasse. Não se pode impor nada, o artesão é que tem que querer inovar. Se ele não está vendendo, alguma coisa está errada, e ele é que tem que chegar a essa conclusão. No nosso trabalho, é diferente. Ensinamos a costurar, bordar, já começamos com foco no mercado, porque é trabalho manual, é muito diferente do artesão.

Muitas vezes, os mesmos designers fazem consultorias em várias regiões do país. Com isso, não há um risco de criar certa homogeneização nesses produtos?
Já me preocupei muito com isso. Algumas coisas acabam ficando parecidas, principalmente em tecelagem, e o designer tem que ter muito cuidado. Uma das formas de evitar isso é trabalhando com matérias primas locais. É isso que enriquece o artesanato, utilizar a riqueza própria de cada região. Em Brasília, não tínhamos tradição nenhuma, então começamos a usar o cerrado como referência, as flores, a fauna, e a própria arquitetura de Brasília, que é linda. Temos tudo ali, não precisamos copiar nada. Copiar não vende. É preciso encontrar a identidade de cada grupo.

Como inserir a identidade de um lugar em um produto?
Fazemos isso principalmente por meio de estudos iconográficos que identificam ícones da arquitetura, da fauna, da flora e de tudo que representa o cerrado. Tais ícones passam para produtos de moda, cerâmica. Um trabalho muito interessante é o do arquiteto Athos Bulcão, que criou azulejos que são a cara de Brasília. Em um desses azulejos, há um pombo, que é o símbolo da cidade e nós o reproduzimos em jóias. Ficou a coisa mais linda! Então, a ideia é trabalhar com os símbolos e aplicá-los em tudo: na moda, nos produtos de cama, mesa e banho, na cerâmica. Ainda falta isso em Brasília. Quando se chega num hotel, a ambientação é importada, quando deveria ser local.

Quais as dificuldades enfrentadas na comercialização dos produtos artesanais? Como superá-las?
O chinês assusta muito, porque em qualquer feira que você vá, ele aparece para fotografar e copiar. Digo para as artesãs que o nosso produto sempre terá mercado se tiver qualidade e inovação, e aí, é uma questão de design. Por mais que tenha crise, o produto terá mercado se tiver um diferencial.
O lado empreendedor também é importante, porque se a pessoa não tem formação sobre como empreender, não terá como planejar.

Quais são os planos para o futuro?
Quando o Sebrae DF interrompeu o projeto, estávamos com 25 grupos na área rural. O trabalho estava dando um resultado muito bom, as mulheres receberam todas as orientações, do fazer ao mercado.
Tenho uma fila de mais de cem grupos me procurando para iniciar um trabalho. Isso corre de boca em boca, não vou atrás, e é uma pena que tenha acabado no Sebrae, porque tinha tudo a ver com esse projeto da presidente Dilma de combate à miséria. Acho que combate a miséria, se faz não só com cesta básica, mas também com capacitação, com oportunidades e era isso que fazíamos.
Espero continuar pelo Instituto Mazal, para que o trabalho não pare. Foram mais de dez mil mulheres nesses quinze anos. Acabou sendo uma verdadeira revolução silenciosa, porque os resultados foram grandes.