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MATÉRIA DO MÊS

DO FUNDO DO MAR PARA A PONTA DAS AGULHAS

Publicado por A CASA em 6 de Março de 2012
Por Lígia Azevedo

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O mar é fonte constante de inspiração para poetas, compositores, pintores. E vem do mar também a temática da nova exposição do Museu A CASA: O Mar Está Para Peixe, que abre nesta quarta, dia 7 de março, às 19h30 (veja mais em Acontece no Museu). Nos próximos dias, o visitante da Rua Cunha Gago, 807 vai estar imerso num fundo de mar, cercado por cardumes de peixes. Sob uma ambientação toda azul, estarão expostos cerca de 35 painéis de peixes marinhos bordados por comunidades de artesãs de diversos estados, sob a curadoria do designer têxtil Renato Imbroisi.

A exposição será um work-in-progress, construída e ampliada desde sua inauguração até seu encerramento, no dia 27 de abril. No dia 7, estarão presentes bordadeiras do Jardim Conceição e convidadas como Liana Bloisi, Paula Yne, Cris Burguer, Mara Doratiotto e Adélia Borges. Durante a abertura, elas farão ao vivo bordados que serão integrados à exposição e estarão ainda disponíveis para o visitante interessado em aprender junto a elas e criar seu próprio bordado. “A ideia era fazer algo que fosse crescendo, e que o público também participasse. Além do dia da inauguração, teremos oficinas no Dia do Artesão (19 de março) para criar novos bordados. Queremos fazer o cardume crescer até o final da exposição”, conta o curador Renato Imbroisi.

Os painéis já expostos são trabalhos em pontos variados, como rede, areia, sombra, corrente, em suas mais diversas variações, e foram produzidos pelas comunidades Bonito Feito à Mão (MS); Brincando com Linhas (DF); Arcanjo (DF); Ser Brasileiro (DF); Agulha Mágica (DF) e Bordadeiras do Jardim Conceição (SP). “Alguns desses grupos já bordavam peixes, outros não necessariamente bordavam peixes mas já trabalhavam com temas da fauna e da flora”, explica Renato. “Com algumas das comunidades, como as de Brasília, trabalho há mais de 8 anos, são experientes e têm boa inserção no mercado. Já o Jardim Conceição é um grupo que, apesar de ter muita capacitação e fazer um bordado de altíssima qualidade, está ainda descobrindo seu público consumidor, e é a primeira vez que expõe num museu”, comenta. O Jardim Conceição, de Osasco, congrega quase 30 mulheres migrantes de várias regiões do Brasil, e desenvolve um trabalho há mais de quatro anos com apoio da Fundação Bradesco.

O Bonito Feito à Mão é um exemplo dos grupos que já tinham uma coleção baseada em peixes nativos, e que é o carro-chefe de sua produção, vendida majoritariamente para turistas brasileiros e estrangeiros. “Aqui em Bonito a principal atração são os rios, que têm uma água transparente e uma quantidade enorme de peixes. Os visitantes se encantam com essa questão. Por isso, em nossa coleção, selecionamos cinco peixes da região: piraputanga e mato-grosso (só encontrados aqui), dourado, pacu e pintado. E aos poucos estamos inserindo pássaros”, conta Albertina Gesser Orben, vice-presidente da associação.

O trabalho do grupo se destaca pelos bordados em relevo que fazem nas escamas dos peixes. “Fazemos bordado na cabeça, rabo e barbatanas em ponto matiz. Já as escamas fazemos separadas, com um trabalho pespontado em volta feito à mão, e pregamos uma a uma, em relevo. Fizemos até alguns com crochê aplicado”, explica Albertina. Além disso, há algum tempo vêm experimentando o bordado com seda. “Fizemos uma coleção para a Safira Sedas a partir de uma ideia surgida nas primeiras oficinas nossas com o Renato. O algodão cru, nosso carro-chefe, é mais rústico, e com a seda traço fica mais leve, mais fino. Mas esse trabalho fazemos em ocasiões especiais, porque temos bordadeiras que ainda estão se acostumando a bordar com a seda, por ser um tecido muito fino e delicado”, comenta.

Segundo Renato Imbroisi, trata-se de um grupo comprometido, bastante empreendedor, com boas noções de administração. Estão inseridos no mercado, já têm sua loja própria, e há algum tempo se mantêm sem o apoio do Sebrae. A produção compreende peças de vestuário, bolsas, toalhas, jogos americanos, almofadas, aventais, panos de prato e outros utilitários domésticos.

“Começamos praticamente sem nada, e com uma quantidade bem irrisória de produtos de cada uma. No grupo, a maior parte das pessoas não têm renda fixa e são de baixa renda, quase metade são professoras aposentadas. Trabalhamos portanto no âmbito de estar ajudando essa complementação de renda. Depois que começamos, estamos praticamente só investindo para crescermos. Nos últimos três anos, investimos mais do que lucramos, mas já estamos conseguindo receber por nosso trabalho”, conta Albertina.

Ela conta que, no total, são oito pessoas associadas e mais oito prestadoras de serviços, já que constantemente terceirizam a costura e o bordado. Isso porque o bordado é um trabalho muito minucioso e delicado, que exige muita dedicação. Para bordar um peixe de 25 a 35 cm em ponto cheio, leva-se um dia ou mais. “Ainda assim, é difícil achar pessoas que façam bordado. Já perdemos encomendas grandes de 4, 5 mil reais por mês porque precisamos de gente pra trabalhar e não é fácil conseguir. Temos cursos gratuitos de capacitação, mas as aprendizes bordam um pouco e depois somem. Aqui o pessoal se desloca muito para turismo. A cidade é pequena e nossa zona hoteleria e de restaurantes é enorme. Temos mais leitos que a capital Campo Grande. Fora que tem gente que prefere viver de Bolsa-Família”, explica.