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JOIA: ARTE SOBRE O CORPO

Publicado por A CASA em 15 de Agosto de 2012
Por Lígia Azevedo

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A CASA recebe um retrospecto da produção da joia contemporânea brasileira, dos anos 40 até hoje, na exposição Joia Contemporânea: Percurso, que abre nesta quarta-feira, dia 15 de agosto, às 19h30. Sob curadoria de Miriam Korolkovas, estarão expostos trabalhos de designers, cooperativas de artesãos e comunidades indígenas, no total de 24 artistas de todo o território brasileiro. Entre eles, Amelia Toledo, de São Paulo, Kika Alvarenga e Nina Lima, de Minas Gerais, Paula Mourão e Rudolf Rutner, do Rio de Janeiro, Karin Jakobsson, de Brasília, Alice Floriano e Mariana Neumann, do Rio Grande do Sul, Carla de Carvalho, da Bahia, e Daniel Coxini Karaja, de Goiás. 

A exposição tem como motes desmistificar a concepção de joia como objeto de adorno de luxo feita com materiais nobres, enfatizar a relação entre joia e corpo e difundir o conceito de joia-arte, pouco divulgado no Brasil. “A joia é um objeto de expressão artística como qualquer outro. O designer de joias é um artista que, ao invés da pintura, escolheu a joia para se expressar. E, se uma pintura tem a parede ou a tela como suporte, a joia tem como suporte o corpo humano; as joias são, portanto, 'obras de arte ambulantes'. Nesse sentido, a joalheria se aproxima do design: é preciso considerar a joia como objeto de vestir. O corpo é transita por vários lugares, se movimenta e se modifica constantemente. Portanto, a relação corpo-joia é fundamental”, comenta a curadora.

As joias serão expostas em moldes de corpos em gesso feitos por Miriam. E, na abertura do evento, seis bailarinos farão uma performance interagindo com as peças. A exposição integra também o Design Week, evento que acontece em São Paulo de 23 a 26 de agosto.

Uma variedade de joias para diferentes expressões artísticas

Amélia Toledo, convidada especial da exposição, foi precursora da joia-arte no Brasil. Desenvolveu, na década de 40, um trabalho focado na experimentação de materiais e formas que rompeu com a tradição joalheira. Explorando as possibilidades construtivas e os efeitos de cada material, Amélia criou objetos que se transformam e se adaptam conforme os movimentos do corpo, como esculturas corporais.

A artista explorou as propriedades de reflexo, flexibilidade, e angulação de cada metal. Em algumas joias criou formas geométricas e retilíneas, seguindo o tipo de corte que o metal favorece.  Em outras, explorou a capacidade de construir curvas com fios de metal e chapas de ferro oxidadas. Criou também encaixes entre elementos menores para reduzir a rigidez do material e permitir que as peças se amoldassem à movimentação corporal.

“Apesar do engajamento em movimentos políticos de esquerda que tinha à época, meu trabalho não tinha vinculação política, não era feito em função de determinadas ideias abstratas. Eu estava mais interessada nos processos construtivos que me eram favorecidos por cada material e tipo de forma que havia disponível no mercado”, conta. 

Já a mineira Nina Lima em suas obras enfatiza a joia como expressão política e social, fazendo dela objeto de protesto. A designer desenvolveu a coleção Home: um Protesto, com o objetivo de questionar a degradação ambiental causada pela exploração agropecuária e pela extração mineral nas minas de ouro e diamante.
Tamanho e peso exagerados das peças são alguns recursos usados para explicitar o protesto. A peça Über, por exemplo, é um brinco de 10x15 cm feito de resina em formato de diamante vazado, que representa as minas de extração da pedra. Já a joia Algema é um par de braceletes em forma de algema presos a um pequeno brinco. Cada bracelete pesa 1,1 kg e, conforme a movimentação de quem usa, se puxado pode arrebenta o furo da orelha. A peça simboliza o peso das nossas escolhas. No caso, no uso de metais nobres como o ouro. E aqui, simbólica e praticamente, o objeto que adorna o corpo é também o que lhe causa danos.

Com a coleção, a artista questiona a própria indústria joalheira. Segundo ela: “Hoje há materiais muito mais interessantes que o diamante e o ouro, e já se produz diamante em laboratório sem necessidade de extração mineral. Mas as pessoas não aceitam, por uma questão cultural”. Em sua pesquisa, Nina descobriu que há uma quantidade de diamante estocada no mundo suficiente para ser usada nos próximos 5 anos, o que dispensaria a exploração. Mas um cartel impede que essa reserva seja liberada e controla a quantidade que é comercializada periodicamente, visando manter o preço do produto.

“As pessoas têm tanto orgulho de sair com uma joia de diamante, ficar expondo e falando sobre aquilo. Mas é preciso ter um pouco mais de informação em relação ao que se usa e questionar isso. Principalmente os designers de joia, que trabalham com isso. O designer de joias tem responsabilidade de reavaliar os passos dados pela joalheria, seja ela tradicional ou não. Não basta utilizar novos materiais. O correto é utilizar de maneira consciente os materiais disponíveis, reutilizar os já extraídos, e prestar atenção em novas possibilidades, mas que são pouco utilizadas por questões culturais”, enfatiza.

A artista Mariana Neumann, por sua vez, usa sua produção para falar das relações humanas e trazer ao último grau a relação joia-corpo. No trabalho Seu Corpo Minha Jóia, suporte e o objeto são uma coisa só. “Parti da ideia de que quanto menos material usasse para fazer uma joia, mais expressiva ela era para mim. Cheguei ao ponto de eliminar todo o material e me dei conta de que a própria interação humana faz surgir mil possibilidades de joias, um corpo abraçado a outro também pode ser uma joia”, comenta a artista. O conceito é de que não há matéria além do homem, que é quem aprecia a joia e é a sua maior joia ao mesmo tempo, pois o que possui de mais precioso é seu próprio corpo.

Na exposição, Mariana apresenta uma série de fotos feitas com duplas de modelos em poses diversas, cada uma formando uma joia diferente. Um exemplo é a Aliança Carne, composta por dois dedos entrelaçados. A foto foi feita com um casal posando como se estivessem trocando alianças, mas aqui o anel é o próprio dedo da noiva entrelaçado ao do noivo.

“Quando recebemos uma joia de alguém, a afetividade contida naquele gesto significa muito mais do que o metal, e por vezes as pessoas se esquecem disso. Na coleção, uso a frase: Use sua aliança, vista suas joias. Ou seja, relacione-se com as pessoas, que são as maiores joias que alguém pode ter”, finaliza.

SERVIÇO
Exposição Joia Contemporânea: percurso
Abertura: 15 de agosto, quarta-feira, às 19h30
Visitação: de 16 de agosto a 4 de outubro de 2012
Local: A CASA museu do objeto brasileiro
Rua Cunha Gago, 807 – Pinheiros. São Paulo-SP.
De segunda a sexta, das 10h às 19h
Sábados, das 12h às 16h
T. 11 3814 9711 – acasa@acasa.org.br – www.acasa.org.br
Entrada Franca