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Igba Kekere Awo – Pequena Cabaça do Mistério. Técnica Mista. 107 x 14 x 27 cm. Acervo Mestre Didi. Fonte: Catálogo Mestre Didi – Escultor do Sagrado, p.27



























ARTIGO

A CABAÇA NA ARTE, HOJE. [61]

Publicado por A CASA em 31 de Outubro de 2012
Por Moira Anne Bush Bastos

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Antes o artista era visto como supremo e único criador de imagens, já não é mais. Nunca visualizamos tanto, nem estivemos tão submersos em visões criadas por tantos indivíduos não especializados sendo que cada imagem tem a sua razão de ser: nada é verdade, nada é mentira, tudo é de acordo com o cristal que se vê. [62]
A cabaça deixa de ser representada junto ao homem e a sociedade e passa a ser suporte artístico na criação de artistas contemporâneos. Esses foram cuidadosamente selecionados, pela forma de relação do fruto por meio do sagrado, do som, do movimento, da luz e imagem, da instalação e da arte da rua – o grafite.
A arte exige do espectador uma interpretação, que é individual e única, por que o símbolo tem o seu lado oculto. A relação na comunicação entre o artista e a obra, a obra e o espectador, o espectador e o artista parecem ser desvelados no momento em que a obra é vista e passa a fazer parte do imaginário de alguém. No espaço virtual e imaginário do espectador, surgem os desenhos, as imagens, os cenários e as fantasias, que passam a fazer parte de sua vivência.
Com olhos e intuição voltados ao movimento artístico latino- americano observo a multiplicidade de aspectos que envolvem a cabaça nesse circuito de arte.


Cabaças sagradas de Mestre Didi
Ele (o Rei de Ketu) muito espantado com meu nagô ioruba, mandou que eu desse prova do que tinha dito. E assim foi que cantei algumas cantigas enaltecendo a terra, o Rei e a riqueza de seu povo.
Mestre Didi Asipá [63]
Deoscoredes Maximiliano dos Santos, conhecido como Mestre Didi, nasceu em mil novecentos e dezessete na cidade de Salvador, na Bahia. Na Ilha de Itaparica, aos oito anos é iniciado no culto aos ancestrais. Após nove anos de dedicação foi confirmado sacerdote.
É autor de inúmeras publicações que aproximam povos pela tradução do vocabulário Yorubá para o Português, pela transmissão dos Contos de Nagô, Contos Negros da Bahia entre tantas outras. Realizou pesquisas comparadas entre Brasil e África pela África Ocidental, contratado pela UNESCO. Realizou a viagem com sua esposa e Pierre Verger. Recebeu o Prêmio Estado da Bahia na Bienal Nacional do Brasil, em Salvador. Foi curador em exposições internacionais ligadas a arte Afro-Brasileira, fundou e preside a Sociedade Religiosa e Cultural Ilê Asipá do culto dos ancestrais Egun, em Salvador, Bahia. É membro do Conselho Consultivo do III Congresso Da Cultura Negra nas Américas, São Paulo. É artista premiado, condecorado e recebe inúmeras homenagens no Brasil e no mundo.
Segundo o diretor curador do Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, foi durante a infância que Mestre Didi recebeu de sua mãe o conhecimento dos passos secretos do culto dos seus antepassados. Desta forma ele foi preparado e recebeu a incumbência de seguir a tradição herdada. Afirma ainda, que esse artista é um mensageiro, marcado pelos deuses da natureza. Suas obras são objetos litúrgicos – artísticos que passaram a fazer parte do circuito de arte e podem aproximar culturas.
Ao entrar no espaço expositivo do Museu Afro Brasil, em São Paulo, fui atraída pelos totens - esculturas de Mestre Didi, construídas com materiais naturais como madeira, nervura de palmeiras, palha, ráfia, búzios, sementes, cabaças, pedaços de couro associados a produtos industriais como tecidos, fios e contas plásticas coloridas, durante a exposição individual do artista. No cenário criado para apresentar suas esculturas, o espaço é sombrio e escuro, onde cada escultura sagrada recebe um foco de luz. Em seu livro de arte popular brasileira[64], Percival Tirapeli afirma que Mestre Didi constrói esculturas rituais que são objetos de culto.  De acordo com Juana Elbein dos Santos
A originalidade que caracteriza o trabalho de Mestre Didi advém fundamentalmente de sua fidelidade, convicção e fé em sua tradição, que constrói seu fundamento intelectual e estético.[65]
A relação entre a arte e o expectador é estabelecida da mesma forma que ocorre entre o encontro de diferentes e tão diversas culturas. A necessidade e sede de saber mais para aliviar a ansiedade causada pelo mistério instalado – o destrinchar dos porquês.  As relações se unem entre o artista terreno e a sabedoria sagrada, o presente e o passado, o tradicional e o contemporâneo, o interior e a transcendência que flui quando ele conecta tudo ao cosmos, a outro mundo, outro espaço, provavelmente ao que Juana Elbein dos Santos[66] denomina de: vertente mitológica das artes, ao projetar uma energia poética de caráter universal. Ainda segundo a autora Juana,
Didi contribui para reconduzir e recriar todo o sistema cognitivo emocional comunitário, em relação tanto ao cosmos quanto à realidade humana.[67]
O artista cria uma mão dupla tanto entre o homem e seus ancestrais, quanto o homem e a natureza.
Suas esculturas mágicas, alongadas, naturais e coloridas parecem ter olhos que nos observam através dos múltiplos furos que lembram pétalas de flores recordadas nas faixas de couro, cuidadosamente distribuídas na escultura sagrada.
As cabaças que fazem parte de várias de suas esculturas, raramente aparecem. São envolvidas e protegidas por cordas, tecidos, fibras de ráfia. O mestre não elimina a forma do fruto natural e seco. Pelo contrário, salienta-a com amarras e decora-a com búzios.
A cabaça, nas mãos de Mestre Didi e em diversas religiões afro-brasileiras, tem um significado repleto de poder, mistério, segredo e tudo isso é intrigante, por que mesmo que suas esculturas sagradas contenham toda uma simbologia da qual eu não compreenda, elas me atraem pelo poder que está oculto.
Juana Elbein dos Santos explica que os elementos que ornamentam as obras ou os materiais com que são executadas têm um significado autônomo.[68]
A obra Sasara Ati Ado Meji é inspirada pelo Xaxará, uma vassoura ritual, atributo do Orixá Obaluaiê, cujo domínio é a Terra. É atribuído a ele poderes totalmente opostos: o da cura e o de causar enfermidades. Deve ter relação com o conteúdo secreto, distintas ervas medicinais, que elas contêm em seu interior.
Encanta a forma estética de suas esculturas. Elas apresentam tamanhos diversos e diferentes formas geométricas, como triângulos, retângulos, círculos. Possuem um tronco principal, de onde brotam formas que lembram asas, serpentes que se entrelaçam entre si mesmas e apontam para direções opostas. De acordo com a crítica de arte Lélia Coelho Frota a predominância da vertical caracteriza esses trabalhos, nos quais a linha reta e as curvas estão sempre em perfeita harmonia.[69]

Fruto de Plástica Sonora de Walter Smetak
A cabaça, fruto da cabaceira, vem de algum desejo de uma natureza incógnita. Criar uma cabeça dentro do reino vegetal com centenas de sementes colocadas no miolo. Fator idêntico acontece com o cérebro humano - são os pensamentos e idéias que dão impulso à vida energética ou à vida consciência. São várias as maneiras de usar cabeças e cabaças para cuias e instrumentos. Diálogos com Smetak[70]
Anton Walter Smetak nasceu em Zurique, Suíça, em mil novecentos e treze. Estudou música em Zurique, Salzburg e Viena, na Áustria. No início, seus estudos eram voltados aos instrumentos musicais piano e violoncelo, mas também se dedicou à teoria geral da música, harmonia, morfologia e orquestração.
No Brasil o artista assumiu o ofício de luthier[71]. Há registros de sua passagem em Porto Alegre, no Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo informação publicada na sua própria página eletrônica, sua opção de vivência na Bahia ocorreu no final da década de cinqüenta, período em que a Bahia passou a receber influências culturais internacionais, por meio das vanguardas estético-intelectuais européias nas áreas de música, artes plásticas, teatro, cinema e dança.[72] 
O pólo multiplicador dessa efervescência cultural foi a Universidade Federal da Bahia, local onde o artista ministrou aulas de improvisação musical e pesquisa música experimental.
Investigou o silêncio, o som e a relação de ambos com o homem.  A discografia, composições textuais e musicais, filmes, instrumentos, obras para inúmeras formações de conjuntos musicais, que intitulou ”plásticas sonoras”[73] , fazem parte de seu extenso currículo.
Walter Smetak faleceu em mil novecentos e oitenta e quatro. Mesmo falecido, o legado que deixou, por meio de seus estudos, instrumentos, sons e publicações, atualmente é estudado, possuindo inúmeros seguidores, brasileiros e estrangeiros.
O primeiro contato que tive com as obras e os sons das esculturas de Walter Smetak ocorreram na exposição denominada “Smetak Imprevisto”[74]. Essa mostra de obras plásticas sonoras do artista invadiu e reverberou o espaço expositivo e passou a fazer parte de mim.
A imagem criativa, divertida e, de certa forma, disposta de forma lúdica está atrelada ao som que repercute em todo o espaço expositivo. Sons inéditos e desconhecidos são explorados pelos instrumentos escultóricos, de diversas formas, tamanhos e materiais, criados pelo artista.
No documentário Smetak Imprevisto e Radiofônico a locutora Adriana Ribeiro relata que o artista artesão sente a necessidade de elaborar com as mãos, precisa dar forma a uma sonoridade e que sua obra é inclassificável[75].
Walter Smetak se apropria de uma diversidade incalculável de materiais. Parecem ser escolhidos ao acaso, por estarem ao seu alcance ou por terem sido colhidos em lugares por onde passou. Ao resgatá-los, explora o som que extrai de cada instrumento visual e sonoro e convida a todos, para que também descubram os sons presentes no silêncio.
Cabaças estão presentes na maior parte de suas esculturas, assumindo diversas formas e tamanhos. Para o artista são caixas de ressonância, que ao serem colocadas acima dos instrumentos fazem reverberar outros sons. Produzem ecos. Quando inteiras recebem uma camada de proteção de verniz, podendo apresentar furos nas extremidades, por onde o artista deve limpar o interior dos frutos e associá-los a outros materiais, como canos plásticos, fios de aço com rodas de ferro, hastes e outros materiais. Partidas ao meio são apresentadas em sua cor natural ou pintadas em branco, preto, verde, entre outras cores, podendo receber, ainda, uma camada prateada ou dourada, com desenho detalhado em seu interior e exterior, ou aplicações de penas, palhas e outros elementos naturais.
A mais importante das obras com cabaças é a denominada Vina itaparicana. Ele dizia que ela não chora, não ri, soluça. Levou nove meses para concluí-la e originou outros instrumentos como sol e lua.
Para o artista Smetak, as formas expressam um simbolismo, uma linguagem que se aproxima de um mundo de formas estáticas emanando vibrações intensas[76]. Círculos para ele tem início e fim, por esse motivo apresentam-se inclinadas, pois o infinito é representado pela elipse[77].
    A inspiração do artista está ligada à sabedoria indígena e à curiosidade exploradora da criança. Ele relaciona a cabeça do ser humano ao fruto da natureza – a cabaça. Para Walter Smetak, a linguagem simbólica é a forma do fruto e é tão importante quanto o som empregado nessa concha acústica[78]
As sementes são comparadas às idéias e aos pensamentos, que proporcionam o conhecimento e, ao serem multiplicadores propiciam, a si e aos outros, uma vida mais proveitosa, a partir de instrumentos. Na opinião do artista esses instrumentos:
São de materiais pobres e precários, mas que geram uma riqueza ilimitada de formas e sons, que reverberam por todo o espaço, por meio de ruídos inventados por descomposições ou pelo silêncio contemplativo, meditativo, transmutador e transformador dos estados de ser[79].
Como era um desconstrutor do som, acreditava na infinidade e motivava seus seguidores a criarem seus próprios instrumentos. Por meio de seu trabalho transmite as seguintes mensagens às próximas gerações:
Criem suas próprias formas de exprimir a alma em possibilidades infinitas de sons e formas. Inventem uma música orgânica vinda de qualquer fonte da matéria, não lhe impondo uma forma, mas sendo um com ela. Não se anulem em meio à barbárie da cena contemporânea, embotando a mente frente aos produtos da indústria cultural, onde mais importa o produtor cultural do que o criador, o artista[80].
O músico Smetak trabalhou incessantemente na face misteriosa dos sons, em instrumentos que possam ativar a percepção mental, transmitindo a paz para a consciência. A forma, o movimento, o gesto, o silêncio rompido pela sonoridade compassada, que flui e dialoga entre si no espaço interno e externo dessa grande mostra, faz com que o espectador participe de um campo inimaginável, capaz de tocar a alma com sons esquecidos, compassos guardados na memória e outros que não são comuns aos ouvidos, causando certo estranhamento.
O espaço se torna uma partitura, uma orquestra com sons que permeiam o local, o observador e suas esculturas musicais. Com o auxilio de caixas acústicas distribuídas em locais estratégicos, o som toma o corpo do visitante.
Segundo os curadores da exposição Smetak Imprevisto, Jasmin Pinho e Arto Lindsay, a partir de obras plásticas sonoras, o artista integrou conhecimentos e sinalizou a fundação de uma arte espiritual, transformadora de cabaças, de cabeças, de artes e de ciências[81]. 
As paredes internas da cabaça oferecem um limite ao som, que se faz audível e ressoa, explora o vazio e o oco das esculturas. Esse fruto torna-se mais do que uma caixa acústica, pois serve como produto visual agradável, de formas simples e diversas. Por meio da cabaça transformada em instrumentos criativos, o artista cria um elo que busca unir as artes coletivas[82].
O artista parece ter explorado de maneira intensa tudo o que fez parte da sua vida. Esse detalhe é perceptível, também, nos depoimentos de amigos artistas de diversas expressões reunidos em uma das salas da exposição, onde é apresentada a instalação “As cabaças falantes”. Segundo a curadora Jasmin Pinho a intenção era criar uma sala que tivesse relação com a arte espiritual, através da memória afetiva de quem o conheceu.
Em frente à porta de entrada, quatro grandes cabaças são disponibilizadas ao público. Na parte superior, um cabo plástico as mantinha conectadas ao teto e a fones de ouvido. Monitores internos apresentavam diferentes depoimentos sobre a importância de Smetak, feitos por aqueles que, atualmente, são multiplicadores do seu trabalho. Uma cabaça continha depoimentos relacionados a assuntos espirituais, filosóficos, de símbolos alquímicos e platônicos. A outra tratava das plásticas. Outra era dedicada ao homem Smetak, pois todos tinham histórias a serem contadas.
O espectador se conecta a obra ao manuseá-la, colocá-la no colo e ouvir os ensinamentos do artista por meio da voz de outros. Imagens em movimento e som são encapsuladas no interior destes frutos. A cabaça, nas mãos desse artista, coloca a natureza nas mãos do espectador, em seu corpo e em seu espírito.     
Ao fundo, vários filmes de Smetak eram projetados na parede. Demonstra o processo do trabalho, a criação, a busca do material exato para a construção, o fazer, o gesto móvel e repleto de vitalidade, a feição de satisfação ao externar o som, o aspecto lúdico ao demonstrar algumas maneiras de interagir com os instrumentos, individualmente ou em grupo.
Uma sala em forma oval expõe diversos instrumentos feitos com cabaças associadas a outros materiais. As obras chamam a atenção do observador, que busca a luz na escultura plástica sonora. Luz, som, movimento, que se desprega de um lado a outro, através das sombras multiplicadas pela iluminação nas paredes, de acordo com o som produzido pelo instrumento e transmitido por pequenas caixas acústicas. Smetak é quem realizou essa partitura e apresentou em seminário na Universidade Federal da Bahia.
No núcleo educativo dessa mostra, o espectador tem a oportunidade de explorar o som e vivenciar os instrumentos feitos com cabaças. Nele, as pessoas exploram todos os tipos de sons que são capazes de produzir, que brotam de si mesmas, ao baterem palmas, ao estalarem línguas ou dedos, ao baterem e rasparem os pés no chão, fazendo com que sons e gestos em movimento transcendam, criando um elo com artista.
A transformação é proporcionada por instrumentos e gestos de pessoas que intercambiam essa experiência. “Pindorama” é um instrumento musical de sopro, composto de cabaças, tubos de plásticos, bambu, cano de PVC, madeira e metal. Através dele um grupo de até sessenta pessoas pode interagir com o instrumento e soprar, produzir diferentes sons que em conjunto, misturam-se dentro da cabaça e ressoam como uma orquestra no espaço.
A voz de Walter Smetak participou na sétima Mostra da Bienal do Mercosul, na mostra denominada “Radiovisual”, por meio da difusão da Rádio FM Cultura e também meio eletrônico para que através da rede sua obra ultrapassasse o espaço da Bienal do Mercosul[83] e irradiasse para um público mais amplo.
Sem a divulgação dos horários da programação, da execução de sua entrevista, sem seus intrigantes e majestosos instrumentos musicais é difícil avaliar o resultado desta experiência.

Cabaça: A arte milenar em movimento de Catin Nardi.
Arte em cabaças - Catin Nardi transpassa a casca suave da cabaça, mergulhando na poética do vazio em seu interior. É o elo entre oriente e ocidente, encontrado neste fruto mestiço e primitivo, criando personagens expressivos e articulados. Ao explorar as diversas formas da cabaça na produção destes bonecos, o artista transmite aos espectadores seus valores, preocupações, questionamentos e compartilha seus conhecimentos com toda a comunidade. É um artista contemporâneo que faz uso da fonte popular.
Moira Anne Bush Bastos, 2008[84]. 
Catin Nardi é argentino, nasceu em Santa Fé e vive no Brasil desde o início de mil novecentos e noventa. Como ator, sempre se dedicou a trabalhos teatrais e de palco. Ao chegar ao nosso país, no Espírito Santo, sentiu a necessidade de seguir interpretando e participando em peças teatrais.
A fim de possibilitar e desenvolver seu trabalho em nosso país, o artista passou a dedicar-se a arte milenar do teatro de marionetes. Bonecos passaram a formar seu elenco e a expandir sua criatividade, bem como continuam a proporcionar alegria, por onde se apresenta.
Durante dois anos viajou pelo país e representou inúmeros personagens nos palcos de diversos estados brasileiros. Viveu oito anos na cidade de Belo Horizonte e instalou-se em Mariana, cidade onde vive atualmente. Na cidade histórica de médio porte, encontrou a visibilidade, sem ter que disputar o espaço com as grandes corporações.  Seu foco está voltado à qualidade de vida e proporcionar liberdade a seus dois filhos. A Cia Navegante Teatro de Bonecos – grupo de teatro de marionetes foi fundada em mil novecentos e noventa e quatro, com sua sócia e esposa Cássia Saldanha.
Seu ateliê encontra-se na cidade histórica de Mariana, em Minas Gerais. O espaço possui vitrines para expor muitas de suas obras, que retratam o início de seu envolvimento com os bonecos articulados. Há uma sala onde ministra palestras a grupos da comunidade e oficinas de criação e manipulação de bonecos em cabaças ou materiais recicláveis, com a utilização de ferramentas domésticas. Ao fundo construiu um pequeno anfiteatro com o palco junto de seu ateliê, para realizar espetáculos dedicados a grupos de turistas, moradores da comunidade e demais interessados nesta arte milenar, junto com um café, onde tem contato direto com o público espectador.
A multiplicidade de Catim está representada nas articulações que assume profissionalmente, como bonequeiro ou marionetista, mescladas as atividades de ator, diretor, iluminador professor e artista plástico.
Seus personagens são criados a partir de seu olhar para os frutos distribuídos cuidadosamente ao seu redor, formando um circulo. Inspirado no roteiro das diversas apresentações, após investigações e adaptações para cada um dos eventos propostos por ele. 
O artista já produziu mais de trezentos bonecos. Participou de diversos festivais de bonecos e de programas de televisão, como para produções da rede Globo: o personagem com fios da entrada da novela “As filhas da Mãe”, e animais do terreiro, que fizeram parte da microssérie dirigida por Luiz Fernando Carvalho, Hoje é dia de Maria.
Catin Nardi revela que se sente atraído pelo fruto natural chamado cabaça[85]. Estudou o fruto e toda a diversidade de sementes contidas em seu interior. Em uma caixa coleta as sementes dos frutos abertos, partidos e fragmentados e menciona que parecem ter o formato do fruto, guarda-as para posteriormente serem plantadas, pois necessita deste suporte a fim de realizar sua obra. Cabaças de diferentes formas, cores e texturas circundam o artista enquanto as estuda, uma por uma.
Ao confeccionar os primeiros bonecos, decepcionou-se por que eram estáticos. Para conseguir os movimentos necessários dos personagens para a realização de seus espetáculos, partiu para uma investigação sobre as articulações dos seres humanos e animais e um aprofundado estudo de observação de todas as possibilidades de seus movimentos.
Cortou os frutos em pedaços de tamanhos diferentes, em tiras, para desta forma, uni-los e montá-los para criar os “personagens esculturas”, que havia desenhado previamente, com múltiplos movimentos, a fim de contagiar os espectadores. Desta forma surgiram os patos que parecem falar através da abertura de seus bicos, galinhas e pintinhos que abanam e abrem agitadamente suas asas, ciscam o chão, beliscam a terra em busca de alimento. No mundo imaginário do artista, jacarés tocam instrumentos musicais, dançam aos movimentarem as patas e cobras gigantes, que se arrastam ocupam o espaço do palco. Como são articuladas e costuradas com tecido de chita e cabaças, são capazes de engolir personagens como sapos saltitantes.
Estes são apenas alguns dos personagens feitos de cabaça, ricamente representados ao receberem os devidos cortes e formas com aplicações de sementes, pedaços de madeira pintados, ossos e cordas, para compor os detalhes de suas características e personalidades. A Cia Navegante apresenta vários espetáculos, oferecidos ao mercado como um cardápio cultural. São quatro as apresentações oferecidas pela companhia: “Que bicho será?” Foi como um presente que o artista recebeu do escritor Ângelo Machado[86], que lhe entregou em mãos, cinco contos infantis, que foram adaptados ao roteiro teatral por Catin Nardi. Chico do Chapéu é o personagem que conduz e conecta as estórias, a partir do aparecimento de um ovo numa fazenda do interior. Narrador e bichos: libélula, patos, coelho e galinha, buscam descobrir tudo a respeito daquele ovo, que revela um mundo de mistérios, curiosidades e novidades que encantam a todas as faixas etárias.
Na atração “Musicircus” o diretor e ator Catin Nardi é responsável pela manipulação dos personagens, dois ou três ao mesmo tempo, pela iluminação e som. Faz com que o palco transcenda o próprio espaço, por meio da música, dos gestos, do movimento e atividades executadas por cada um dos personagens, transformando-o em um espaço mágico, próprio para ilusões, uma mescla entre picadeiro de circo, onde se apresentam cuspidores de fogo, boneco com pernas de pau, engolidor de facas, ou em uma arena de lutas onde duelam lutadores de sumô e também o palco de onde ecoam vários estilos musicais, em homenagem aos músicos populares Tom Jobim – personagem que representa o Brasil e Astor Piazzolla, a Argentina. Um desses personagens, que é o simpático boneco, apresentador dos números circenses, foi também o personagem que participou da abertura da novela “As filhas da mãe”[87]. 
O espetáculo denominado “Catavento” é resultado de uma pesquisa realizada pelo artista que aborda as relações entre o homem, a mulher, o bebê e a natureza. A questão de dependência, importância e sobrevivência de uns pelos outros, do homem e da natureza. A simplicidade do enredo que inicia com a mudança de rotina de uma família que vive em uma fazenda no interior do Estado, provocada pelo mau funcionamento do mecanismo rústico e tradicional responsável pelo fornecimento de água e luz - o catavento. 
As “caixas de teatro” são uma atividade, com possibilidade de apresentar até quatro caixas, que remetem o público ao passado, pelo tipo de instrumento utilizado e, ao presente por atender as necessidades do homem contemporâneo. Um teatro em miniatura, montado dentro de uma câmera de fotografia, do tipo lambe-lambe, transporta o espectador curioso a um mundo encantado, com a execução de um espetáculo apresentado individualmente em apenas dois minutos por pessoa. A harmonia entre palco, personagem, luz, som e tempo proporcionadas pelo artista Catin Nardi são mais um modelo, de como artistas contemporâneos estão atentos as necessidades do povo, atingindo o maior número possível de pessoas, que se posicionam em fila, diante de sua obra, cuja soma das apresentações podem durar até três horas.
A atração do teatro de rua apresentado pelo grupo foi uma das formas do artista homenagear a cultura brasileira. Por seguir com a tradição da manifestação popular e folclórica em cidades históricas de nosso país, motivar a participação da comunidade, que se integra aos turistas e criar personagens miscigenados como o próprio povo latino americano. Durante uma hora, do local de encontro previamente marcado até o final do trajeto, o “Bloconeco de Catin” recebe aplausos e o carinho das pessoas que se alinham nas laterais das ruas para cortejá-los. Uma turma com até dez bonecos de gigantes anões, o artista que assume o papel de apresentador juntamente com seis componentes da banda, desenvolvem uma série de movimentos em seqüências devidamente ensaiadas de acordo com as coreografias relacionadas às músicas e ritmos variados apresentados como: tango, sons orientais, samba de raiz, forró ou até mesmo as tradicionais marchinhas de carnaval. Durante a evolução também ha desfiles, performances com bandeiras e artes cênicas. A população é contagiada pela alegria e sonoridade transmitida pelos integrantes do bloco durante o percurso e, ao final, mistura-se aos personagens e ao elenco, que fazem parte deste espetáculo. Cabaças são utilizadas para caracterizar os narizes dos bonecos, são cortadas de forma a serem adaptadas aos rostos dos personagens, recebem várias camadas de tinta, aplicação de massa para incluir algum detalhe nas narinas ou são apresentadas em sua forma natural como uma das frutas na cabeça da personagem inspirada em Carmem Miranda.
 Preocupado com os recursos naturais, com o meio ambiente e a conscientização do ser humano em relação ao excesso de consumo que ocasiona o lixo, Catin Nardi busca manter a comunicação com crianças e jovens através de oficinas ministradas com a construção de bonecos. Para maiores de 18 anos com conhecimento básico em teatro e trabalhos manuais, que demonstram interesse pelas artes cênicas e visuais, oferece oficinas de, aproximadamente, quarenta horas de criação e manipulação de bonecos de balcão.
Disponibiliza-se a ministrar palestras sobre as atividades voltadas para o universo de marionetes de fios, cuja criação e manejo representam uma arte oriental milenar de alta complexidade. Também aborda a experiência que obteve através dos trabalhos executados junto aos meios de comunicação de massa.
Este artista e, ator social, integra o tempo, a comunicação, a forma, o movimento, o ritmo, a luz, os elementos da natureza e o público a si mesmo. Catim Nardi cria um círculo que possibilita que ele desempenhe qualquer um de seus projetos com preocupações e questões muito contemporâneas.

Alegorias do Instante de Gina Celeghini
Para quem possui como eu, uma natureza nômade, a cabaça é um bem precioso para uma jornada, por poder portar água, coisas ou música. As minhas portam as cores, as formas e os fluxos que capto com meus sentidos, todas as possibilidades entre o ser e o vir a ser dos instantes. Depois, deixo flutuar.
                           Gina Celeghini[88]
A artista Celeghini é mineira, nasceu em Belo Horizonte onde estudou dança - balé clássico, música - teoria musical e canto. Quando morava no Espírito Santo, estudou artes plásticas na Universidade Federal do Espírito Santo.
Têm diversas participações em salões de artes, exposições onde apresenta suas obras em cerâmica e pintura. Gina capacitou-se, por meio de cursos como: técnicas de esmaltação em cerâmica, de papel nepalês, esculturas em metal, técnicas de pintura renascentista e “dorattura” em Florença – Itália, curso de afresco e técnicas de pinturas orientais. Realizou sua viagem de estudos e pesquisa, percorrendo o Egito, Israel, Turquia, Grécia e Itália. Recebeu inúmeros prêmios, entre eles: Primeiro prêmio de pintura no Salão de Artes Fundação Cultural da Bahia. Prêmio de pintura na II Bienal do Recôncavo pela Fundação Danneman, na Bahia e Prêmio Calé Bittencourt pelo conjunto da obra, também na Bahia.
Foi no ano de mil novecentos e noventa e oito que a artista iniciou suas primeiras obras utilizando a cabaça como suporte de arte. A artista realizou uma mostra individual internacional de esculturas em cabaças, em Frankfurt na Alemanha[89].
Durante uma viagem de estudos da arte barroca, em cidades históricas de Minas Gerais[90], tive a oportunidade de encontrar-me com Gina Celeghini, enquanto acompanhava a montagem da exposição com obras em cabaça, “Alegorias do Instante”[91].
A cidade histórica de Ouro Preto, em Minas Gerais é uma das cidades que compõem o cenário do Barroco brasileiro, pela sua arquitetura, pintura, obras religiosas e decorativas. Caminhar nas ruas íngremes com o calçamento de paralelepípedos, observando construções do passado transporta o espectador para outro tempo e espaço.
A exposição “Alegorias do Instante” construiu um espaço, que criou um diálogo entre o passado e o presente. Uma releitura do barroco a partir da criação desta artista contemporânea. O muro branco com telhas históricas não revela o seu interior - o espectador entra em contato com o mundo contemporâneo, em um espaço interior que o transporta, sem interferência da arquitetura barroca. Depara-se com paredes brancas e apenas uma de cor mais forte é utilizada para realçar as obras da artista. Cubos brancos dispostos em vários ângulos da sala, de diferentes larguras e alturas, apoiados no piso de madeira antiga e pesada, serviram de suporte para as esculturas em cabaças, originais, coloridas, divertidas e dinâmicas.
A artista capta e congela determinado instante de um movimento ou de uma emoção e encontra outra forma para apresentar o instante do movimento, que nada mais é, do que uma abertura para infinitas possibilidades.
Surgem obras inspiradas em artistas consagrados como o russo Marc Chagall e o flamengo Pieter Brueghel. Eles servem de ponto de partida para a realização de duas de suas esculturas para essa exposição. “Em busca do Violinista” – uma personagem em cabaça pendurada no teto da sala e que voa na amplitude do espaço expositivo.
A obra de Brueghel, “Misantropo”, apresenta uma figura com manto negro, que tem um coração pendente pelas artérias prestes a ser roubado durante a caminhada. Porém na versão alegórica da artista Gina Celeghini, o tolo segura algo cortante em uma das mãos para roubar uma pequena cabaça dourada, que está presa por um fio de ouro, preso a uma personagem magnífica de capa dourada e negra, que possui múltiplos olhares para a atitude do ladrão.
Para esta exposição, em homenagem à arte da cidade histórica, Gina criou sua versão barroca de “Sant’ Ana”, mãe da Virgem Maria, portanto a avó de Jesus Cristo. Essa Santa representa a família. Ana se tornou protetora dos ourives, que extraem do ventre da terra, as riquezas para realizarem seus ofícios[92].
A imagem de Ana pode ser representada como mestra ou guia. A que faz parte da mostra “Alegorias do Instante”, é a Santa Ana Mestra, pois segura em suas mãos um livro - a Bíblia. O instante que a artista congelou, foi o momento em que Maria menina atende ao chamado de sua mãe, Ana, que lhe mostra o porquê veio a este mundo, através da oração “Ave Maria” escrita nas páginas do livro que parece folhear em suas delicadas mãos.
De forma diferente das imagens sacras, Maria por sua vez, está apoiada no colo da mãe. Uma mãe acolhedora, amável e confortante. Há encanto, doçura maternal e singeleza nesta imagem, de cores suaves, secas e pastéis, cujo único brilho é dos cristais distribuídos por todo o manto da santa. As dobras das vestes da mãe e da filha também se fazem presentes em muitas esculturas em madeira, nas igrejas visitadas durante a viagem de estudos.
Entre as obras expostas nessa mostra, esta é a mais exuberante, complementa o estilo barroco que se mostra na complexidade da escultura e, ao mesmo tempo, na simplicidade representada pelos gestos da imagem. Sentimento e movimento estão presentes nas obras de Gina Celeghini. O espectador se sente tocado por essa atitude maternal.
Durante a entrevista concedida pela artista, a mim ela comentou que sua admiração pelo fruto, cabaça, já se apresentava enquanto residia no Espírito Santo. Ao pensar nesses frutos bojudos, o que lhe vem à memória são os frutos secos, de diversas formas, pendurados em pencas nos cantos da casa para secagem e, o seu encantamento pela multiplicidade das formas de utilização.
Gina faz uso de toda a simplicidade e ao mesmo tempo explora a ambigüidade, que está contida nas cabaças. O vazio, o cheio, o som ou o silêncio que contem em seu interior. Foram estes fatos que fizeram com que a motivasse a criar obras transformando a cabaça em suporte artístico. Ela revela que os frutos da cabaceira provocam sensações inexplicáveis.
Quando são observadas, por ela, por determinado tempo, parecem dizer que gostariam de ser transformadas. É um exercício de fruição e de interação com a natureza. Desta forma surgiram as primeiras obras em cabaças - as sereias. Outras podem ser construídas com a junção de fragmentos de cabaças, de cabaças inteiras de tamanhos diferentes e podem receber detalhes em massa ou papel machè.
Suas esculturas são trabalhadas com técnicas de pintura acrílica; veladura renascentista, que é feita com óleo de nozes acrescentado  tinta a óleo, desenho, douramento bizantino, em técnicas desenvolvidas e adequadas pela própria artista, que utiliza pigmentos minerais ao produzir as suas tintas.
A artista projeta nas cabaças símbolos do imaginário popular. Parte da cultura popular, através da utilização desses frutos, percorre caminhos eruditos por meio de técnicas dos mestres da pintura que a inspiram. Gina se insere na arte contemporânea com as experimentações em processo, para a realização de suas esculturas. De acordo com Morgan da Motta[93] na imaginação de Gina, as cabaças ganham identidade nova, ao serem transformadas em sereias, bailarinas, trapezistas, princesas e rainhas.
A artista explora por inteiro tudo que está contido na cabaça. Como prolongamento da forma do fruto, seu trabalho se expande na música, no gesto de suas pinceladas, no traço que dá o movimento à sua personagem, nos círculos rubros espalhados de forma crescente, de baixo para cima, entre as linhas desenhadas, que proporcionam volume e movimento à veste da peça que, sendo estática, transmite a sensação de mobilidade no espaço.
Seu corpo ereto, tenso, forte e rígido e sua cabeça estão levemente inclinados à esquerda indicando que está concluindo um giro ou vai dar um giro naquela direção. Parece estar se preparando para um salto no ar ou acaba de dar um salto, com todo o glamour revela a delicadeza, a sensualidade e a agilidade da mulher. Isto é percebido, pelo movimento e pelo volume do cabelo avermelhado com tons de dourado da escultura. A ponta do delicado pé direito já tocou o solo enquanto o esquerdo ainda está no ar.
Esta obra possui algumas aplicações de micro cristais, que são descobertas aos poucos pelo espectador, pelo brilho proporcionado em contato com o foco de luz. Brincos, bracelete, laterais do corselete e em um dos dedos, como um anel brilhante, que chama a atenção para o gesto da sua pequena e delicada mão, dando continuidade ao passo da personagem.
No rosto da bailarina de Gina Celeghini, há um sorriso discreto de satisfação, como que concluído com sucesso os movimentos arduamente praticados e ensaiados, como os realizados por quem pratica este ofício.
A artista capta determinado movimento e congela-o, juntamente com uma emoção representada, pelo giro do corpo e pelo sorriso espantado em seu rosto, pela bela apresentação do salto. Acrescentou um impulso de satisfação, proporcionando ao espectador a continuidade da apresentação, através de um rodopio ou de qualquer outro movimento que o observador tenha a imaginação de criar.

Trocas de experiências perceptivas: Miguel Takao Chikaoka
Assim sempre que possível, volto às pessoas e aos contextos fotografados, pela simples vontade de experimentar o meu olhar passando de mão em mão sob o prisma de outros olhares.    Miguel Chikaoka[94]
O artista Miguel Chikaoka nasceu na cidade de Registro, em São Paulo. Graduou-se em engenharia eletrotécnica e atualmente reside em Belém do Para e é fotógrafo-educador. Idealizou a “FotoAtiva”[95], local onde olhares diversos e  fotografia se encontram em constante efervescência. Possui um currículo rico em exposições individuais e coletivas, nacionais e internacionais.
Chikaoka transita entre o foto jornalismo e uma visão mais subjetiva da realidade. Em seus trabalhos, a Amazônia, a natureza e os elementos necessários à vida humana, são diluídos na busca de uma concepção de formas e texturas[96]. 
A questão das interfaces da imagem é constante nas obras que produz. Segundo o depoimento do próprio artista a ciência é um aproveitamento furioso do mundo, a alquimia do nosso poder [...] é a nossa humanidade[97]. Chikaoka cria obras que instigam as relações que fluem entre a ciência e o homem. Sua formação é na engenharia eletrotécnica na UNICAMP. Em Nancy, na França, estudou na Escola Superior de Mecânica e Eletricidade. Desta forma, permeia as energias humanas associando-as a ciência e a todas as outras possíveis disciplinas, a partir da imagem individual, particular existente em cada um, múltipla como o coletivo humano.
Possibilita a percepção entre o real, o virtual, o imaginário e a ficção. Em seus projetos, a história da sociedade evolui juntamente com a história da ciência e transcende ao possibilitar que a sociedade se conheça, reconheça e reinvente a partir do mergulho na imagem de si mesmo, da alma, do mundo que o rodeia e do meio onde vive.
Segundo a opinião do próprio artista, na poética da fotografia e em cada uma de suas obras:
O mundo segue nos seus múltiplos fluxos e energias, mas a humanidade, que é nossa, sustenta-se na imagem de um mundo terceiro, o universo da comunicação[98]...
Explorar o suposto vazio contido no interior da cabaça permite que o observador preencha-a com a imagem que deseja. A imagem se torna dinâmica ao materializar-se por meio da própria comunicação. Possibilita inúmeras representações de outras realidades singulares a cada ser em particular, principalmente no campo da imaginação e da interpretação.
Para Miguel, as imagens criaram sua reprodução alterada, constituíram os referentes com que sentimos e sonhamos. Ao complementar-se com outros meios, a imagem deixa de ser apenas visual e se torna poesia.   O artista é um ator social, engajado em movimentos políticos e culturais em defesa dos direitos humanos e da natureza.
Ao apropriar-se da luz, Miguel Chikaoka se volta à “fotografia estenopeica” ou de “pin hole”[99], para trazer a razão a realidade e sedução proporcionada por essa técnica fotográfica, que o processo digital não ensina. A imagem se torna meio de comunicação entre o artista, o observador ou o público espectador, trazendo à luz a reflexão e o questionamento. 
A cabaça nas mãos de Chikaoka potencializa a fruição entre o ser humano e a natureza; o popular e o contemporâneo; a memória e o tempo; o cheio e o vazio; a sombra e a luz; o som e o silêncio, o profano e o sagrado. Suas obras são repletas de mensagens reais ou imaginárias, que conectam o artista ao público, potencializando relações, percepções e provocam inúmeras reações em espectadores.
O fotógrafo e professor Miguel Chikaoka foi curador da exposição “H2Olhos”[100]. A mostra foi organizada em três partes. Em “H2Olhos no Olho” as cabaças representam o olho d’água, em “H2Olhos no Leito”, não ha presença visível e táctil do fruto e no espaço intitulado “H2Olhos nas Nuvens”, os frutos são transformados em verdadeiras câmeras obscuras, pendurados em diferentes alturas, oportunizando a acessibilidade a todos os espectadores.
Esta exposição foi dedicada pensar a importância de um elemento vital ao ser vivo - a água em seus diversos estados. A imagem capturada durante o passeio oferecido pelas oficinas de “pin hole” se tornou obra coletiva, constituída de cinco mil fragmentos de papéis fotográficos, previamente numeradas no verso, de acordo com a imagem e luminosidade registrada no rio Tietê. A imagem é formada aos poucos, à medida que os grupos de espectadores a constroem. Observada à distância, faz com que retornemos ao lugar de onde partimos, à entrada da exibição. A fotografia do rio Tietê, está registrada em algum momento no passado.
Uma mostra circular, que conecta o fim ao início, cria um elo infinito entre o espectador e o próprio ciclo da vida. Através da metáfora H2Olhos o observador toma consciência da relevância deste assunto ao percorrer os três diferentes núcleos.
Painéis sintéticos, grandes e iluminados com imagens ampliadas de árvores desenhadas, que lembram cuieiras, devido à forma de seus frutos, são apresentados no primeiro ambiente expositivo: “H2Olhos no Olho”. O espaço faz-nos recordar a importância da mata ciliar, responsável pela proteção e drenagem das encostas dos rios, assim como a função dos cílios nos olhos dos seres vivos.
Ao percorrer o corredor, o artista dispôs painéis menores, com imagens de olhos desenhados. Sentimo-nos observados por diversos olhos, que formam um corredor de múltiplos olhares. Uma relação imediata entre o corpo e a alma, o terreno e o espiritual.
Cuias grandes e ovaladas, secas e maduras, em estado natural foram apoiadas em pedras brancas marcadas com linhas profundas em forma de espiral, contendo a representação simbólica da água. Dispostas individualmente em três nichos iluminados que conectam o chão ao teto, como a terra ao cosmos, a escuridão à luz, como a reflexão à ação.
 O artista abriu a parte superior das cabaças secas e colocou um espelho redondo no interior de cada fruto, fazendo refletir a imagem do olho do espectador que espia. Um dos mediadores desta exposição comentou, que durante a montagem desta mostra, antes do espelho havia se armazenado água nas cabaças, como na tradição primitiva, mas o efeito do reflexo não foi o esperado, pois a cabeça do espectador causava uma sombra no espaço, interferindo no feixe de luz que iluminava cada fruto seco.
 Ao unir a imagem do olho do espectador, ao reflexo apreendido no olho d’água, pode-se escutar o som da água, como que se estivesse brotando uma vertente naquele espaço, que conduz o público ao leito, o segundo núcleo desta exposição.
Uma sensação de paz invade o ambiente. O leito foi representado por tecidos brancos, translúcidos, cuidadosamente pendurados no espaço. Em cada banner, o artista aplicou um desenho de diversos seres aquáticos imaginários realizados em oficinas de pincel de luz[101]. O espectador percorre por onde escolher, por entre o tecido macio ou ao lado do mesmo. Nomes dos mais variados peixes estão escritos no rodapé da sala, a vida e diversidade existem quando as águas são puras e limpas. Um convite a flutuar e caminhar suavemente ao som de águas correntes durante o percurso, onde o vazio proporciona ao público um espaço para meditar e conduz ao terceiro espaço: H2Olhos nas Nuvens.
Um espaço reflexivo e iluminado, que proporciona a interação entre o público. Dividido em módulos que se destinam ao conhecimento, a investigação, a interação por meio de jogos, livros, filmes, computadores conectados a página do artista para possibilitar um espaço de diálogo, manifestação e relação entre artista e público, público e exposição, exposição e artista. Todas as atividades abordam a água como tema.
Nesse espaço o espectador experimenta a magia da imagem por meio de câmeras obscuras feitas de cuias de diversos tamanhos, penduradas no teto a diferentes alturas do chão. Um local onde a obra de arte, feita de cabaças com protetores de CDs transparentes, parecem receber as imagens que projetam. São fixados por arames que costuram o material reciclável ao fruto seco, oco e furado de um lado e na ponta inversa um pedaço de papel alumínio, um furo e um papel manteiga ou uma lente. A instalação integra a obra ao espectador e à imagem, por seu aspecto rígido, natural, liso e suave, as cabaças atraem o público e a exposição se torna interativa. Ao proporcionar a liberdade de escolha para que as pessoas as tenham em mãos e possam escolher em que direção apontar e o que ver, reflete a imagem invertida daquele recinto mágico refletindo-se em quem a capturou. Como se estivesse nas nuvens, olhando o mundo de cabeça para baixo.
Um vidro transparente conecta o ambiente com o início da exposição, a fotografia antiga do Rio Tietê de águas límpidas, disposto na entrada. O múltiplo artista Miguel Chikaoka vem trabalhando com cabaças/cuias há muitos anos, em diversas exposições.
Em resposta a minha pergunta durante entrevista ele se diz fascinado pela forma circular do fruto e pela similaridade com uma bola e, também, com o significado e a utilidade que tem para diversos povoados. Utiliza a cuia como câmera obscura, o que proporciona à instalação a possibilidade de olhar as imagens ao contrário, além disso, tem a familiaridade dos moradores do Pará têm com a cabaça, e por isso se tornam parte da obra.
Com o enfoque voltado para o social, para a educação e a conscientização do cidadão, o curador promoveu diversas oficinas voltadas aos estudantes de escolas públicas e privadas, educadores, pesquisadores e demais interessados. Compartilhou todo o seu conhecimento e, aproximando o conhecimento adquirido pelas tradições do oriente os transmitiu para o ocidente. Enriqueceu as oficinas, ministradas no Brasil, Venezuela, França, Portugal e Reino Unido, com suas próprias experiências e vivências, interagindo com os participantes e tornando públicas as suas preocupações em relação ao homem e à natureza, como por exemplo, as conseqüências que cada gesto humano pode gerar.  O artista dá  importância à força exercida por alguém ao realizar uma obra ou atividade, ao mesmo tempo que valoriza as diferenças produzidas por grupos diversos, no aproveitamento do material utilizado para evitar desperdício e na exploração total de cada fase da atividade proposta. Todos esses fatores influenciam e se tornam perceptíveis no resultado final do trabalho.
O artista é acessível, pois ao término da palestra, menciona sonhos concretizados e outros ainda não realizados, abre espaço para a receptividade e a troca de conhecimentos através das conversas e do debate.
Através de diversas oficinas que denominou, “Brincando com a Luz”, o próprio artista ensinou adultos e crianças a realizarem exercícios lúdicos de fácil execução, para serem usufruídos nas salas de aula, na comunidade e até mesmo, no grupo familiar.
 Na “Oficina Caixa Mágica”, cada participante produziu sua própria câmera obscura com a utilização de papel cartão, ao invés da cabaça, papel vegetal, papel alumínio e chamou a atenção para o aproveitamento e reciclagem deste mesmo material.
Durante a oficina denominada “Pincel de Luz”, os participantes experimentaram o desenho e a pintura em papel fotográfico velado. Foram inspirados, de acordo com o assunto abordado nesta exposição como nomes de peixes citados previamente pelo curador ou pelo toque de sementes de diferentes árvores que constituem nossas florestas e têm função vital para a conservação e limpeza de nossas águas.
O artista e mediadores, monitores e professores, com grupos de crianças de escolas públicas, visitaram a nascente do Rio Tietê, em Salesópolis, no estado de São Paulo, durante a permanência da exposição na cidade de São Paulo. O registro de imagens através da técnica de “pin hole” documentou as atividades dos grupos, realizando o sonho de navegar em um trecho do rio e ter revelada a imagem captada durante este passeio.
A partir da ruptura do fruto, abre-se a possibilidade de transformação[102]. O artista Miguel Chikaoka tem utilizado cabaças-cuia em diversas exposições e por meio de objetos naturais, relaciona o homem à natureza. Câmaras feitas de cabaças ocas aproximam o popular e o contemporâneo, pois contém em si a sabedoria ancestral por serem recipientes de líquidos e mantimentos até os dias atuais. Associa ao olho o que a câmara representa e liberta a imaginação. A apropriação da luz remete à intenção lúdica da obra e revela a fascinação que o homem tem pelo mundo em que vive.

Cabaça em Performance e instalação de Marepe
“Nécessaire, nécessaire. Nécessaire,                   
desnécessaire. Desnécessaire,
desnécessaire”.
  Marepe[103].
Marcos Reis Peixoto nasceu em Santo Antônio de Jesus, na Bahia. Estudou artes plásticas e agronomia. Recebeu bolsa para viagem à Europa, em mil novecentos e noventa e um, onde realizou pesquisas na Itália, Alemanha, Suíça e Holanda. Segundo Marepe, foi Duchamp quem lhe deu coragem de assumir a natureza do objeto, porém seu processo vem da cultura popular[104], esse universo dinâmico, diverso, que explora a simplicidade com um olhar para o seu entorno. O artista possui um amplo currículo de participações em exposições individuais e coletivas sendo reconhecido nacionalmente e internacionalmente.
Marepe tem sido um ator político e social entre tantos outros artistas contemporâneos. Por meio de obras, se posiciona perante o subemprego, a criatividade que o povo desenvolve nas atividades desempenhadas no dia a dia a fim de sobreviver, a questão da moradia, da fome e da marginalização.
A pesquisadora Juciara Maria Nogueira Barbosa afirma que:
O artista possui dois eixos principais: a referência familiar, pois na opinião do artista a família é um vínculo muito forte, que perpetua os valores da sociedade e a influência da cultura popular que se manifesta nas ruas[105]
No ano de dois mil e sete, o artista Marepe, realizou uma intervenção na Ponte das Bandeiras, na cidade de São Paulo intitulada “Pérola de Água Doce”[106], em comemoração ao aniversário da cidade, na qual utilizou a cabaça como um dos suportes artísticos para sua performance, com curadoria da crítica de arte, Cacilda Teixeira da Costa. A idéia desse projeto partiu da Escola São Paulo[107] e contou com o apoio da Galeria Strina[108], divulgadora das mostras do artista.
Através do ato de lançar no rio Tietê, treze mil, cento e setenta e três pérolas de água doce, o artista questiona o descaso com águas deste rio e de uma forma poética devolve-lhe toda a pureza e beleza.
Uma cabaça natural, continha água e as pérolas. Muitos são os aspectos simbólicos contidos neste gesto. A utilização do fruto homenageia os primeiros povos habitantes de nossas terras e que tradicionalmente mantém o relacionamento harmonioso na exploração da natureza. Também faz referência à herança cultural africana ao presentear Oxum - a mãe das águas doces. A presença do fruto cabaça flui do campo à cidade, como o próprio percurso do rio, ao transitar pela vida cotidiana rural e urbanizá-la. Marepe une o povo de todas as regiões brasileiras, por meio deste fruto e, quem sabe tenha conseguido atingir pessoas de culturas de níveis sociais distintos, para refletirem a respeito da poluição das águas que cortam as cidades. Para a crítica de arte e curadora Cacilda é deprimente viver numa cidade, cujo rio é um esgoto[109]. 
A poética faz parte da memória coletiva, sua fonte é simples e popular. Este detalhe está registrado nas imagens publicadas. Marepe se importa com o público e quer que sua obra se torne pública. Na opinião do próprio artista, tanto a arte quanto o artista deveriam ser públicos[110].
No mesmo ano o artista realizou uma exposição individual na cidade de São Paulo[11]. Suas obras imponentes e de grandes dimensões ocuparam todos os espaços expositivos da Galeria Luisa Strina. Entre diversas esculturas criadas com os mais variados elementos retirados do mundo tradicional e popular, Marepe apresenta no terraço da galeria, ao ar livre, no chão de concreto do último piso, uma instalação de esculturas de cabaças de alumínio polido, de diferentes formas e tamanhos, distribuídos cuidadosamente em locais previamente marcados no chão do espaço expositivo, pelo artista. As cabaças foram deixadas ao tempo, como o fruto encontrado na própria natureza. Receberam a interferência e modificação da ação do tempo, que deixa marcas em suas novas cascas revestidas e brilhantes como espelhos.
Segundo a curadora Lisette Lagnado, o conjunto de objetos, na sua diversidade utilitária, uma vez dês-locado, esvazia-se de sentido.[112]  Esse fruto é encontrado em abundância na região nordeste do Brasil. É comercializado em feiras e mercados públicos. É fruto de sobrevivência da população e de fácil reconhecimento. Ao ser revestido de outro material, no caso alumínio, mantém a sua forma original, porém sua função foi modificada. Ainda na opinião de Lisette, a respeito dos trabalhos de Marepe, em todos se percebe um “prestar atenção” aos encontros, salvaguarda de uma memória, sobre tudo do “feito a mão”[113].
A poética de Marepe está na sua própria origem, nos seus valores, na preocupação com o outro, na vontade de viver em um mundo melhor e mais justo. Por suas mãos, gestos e obras, o pequeno, o simples, o comum, o popular, enfim o invisível passa a ser engrandecido.
A instalação causa impacto pelos diferentes reflexos que o seu material espelhado proporciona, como se tivesse apreendido os edifícios ao redor do espaço, a poluição do ambiente, as gotas da chuva, o céu e as nuvens e até a mim mesma.
Mais do que a própria necessidade do objeto na vida, surpresas foram sendo desveladas durante horas diante da poética dessa instalação. Do ângulo apresentado na figura acima, outros edifícios e outras paisagens se refletiam nas cabaças distribuídas de pé, inclinadas ou totalmente deitadas, absorvendo também a sombra do piso. Deformações da imagem, aproximações e distanciamentos são proporcionadas aos espectadores, ao entrarem em contato com estas obras, que parecem engolir a si mesmas e tudo o que as rodeiam. Cada escultura de cabaça contém o todo, por sua forma circular e por sua disposição na instalação. Multiplica a mesma figura, que se desmembra em duas ou mais imagens, por meio da parte curva e estreita do fruto, que está direcionada à máquina digital. Imagens diferentes, proporcionadas por cabaças situadas no mesmo ângulo, mas de forma distinta no espaço oferecem inúmeras leituras da paisagem e do próprio espectador, nelas refletido. 
Na figura abaixo o céu está acima da terra, que se encontra também acima do céu. Céu e terra compõem esta dualidade de magia, mistério, de sedução e a vontade de ser real. Dois mundos iguais na vida e na morte, como se a terra intercalasse os céus, proporcionando ao espectador a sensação do encontro com a eternidade.
Percebi-me multiplicada ao fotografar a obra. A forma é circular como o próprio mundo em que vivemos. O reflexo distorcido é proporcionado pelo material. Há uma luz que surge do céu, ilumina e faz brilhar o que está acima da terra. O muro, que na realidade é reto, se torna ondulado como ondas do mar, inexistentes na capital de São Paulo. O reflexo se deforma, como que acompanhando o impacto de ondas invisíveis que me atingiram, mas que ao mesmo tempo me apóiam. Engrandeci-me na terra e diminui no céu. Uma sensação da história Alice no país da Maravilhas toma conta de mim. Na parte superior, mais estreita do fruto, minha cabeça desaparece e se emenda a outra, como uma escada alongada na vertical, apenas como um corpo despregado da terra e conectado ao céu em direção à luz.

Super Cuia de Saint Clair Cemim
Canivetes, alicates e óculos foram criados pelo esqueleto.
A filosofia é filha do vinho com o espelho rococó.
Saint Clair Cemin, provérbios[114].
Saint Clair Cemim nasceu em Cruz Alta, no interior do Rio Grande do Sul. A presença do artista gaúcho Saint Clair Cemin na Quarta Bienal de Artes Visuais do Mercosul foi a primeira oportunidade que o artista teve para mostrar seu trabalho ao público latino-americano. Foi o primeiro artista vivo a ser homenageado.
O artista obteve formação clássica em Paris e passou a viver em Nova York desde o final dos anos de mil novecentos e setenta onde, segundo ele mesmo, iniciou seu trabalho artístico como gravador nos Estados Unidos da América[115]. A partir de mil novecentos e oitenta e três iniciou seu trabalho em esculturas.
Sua inspiração vem dos objetos do cotidiano e suas formas atraentes e inusitadas.  O amigo e artista Vik Muniz, afirma que Cemim, pensa no objeto como centro da emanação espiritual, em toda a sua complexidade representativa.[116] Desta forma, o objeto comum permeia suas esculturas revelando a alma de seu objeto artístico.
Realiza suas esculturas com materiais, formas e tamanhos diversos. Através dessa característica, suas combinações criam determinados atritos formais e conceituais, na opinião do crítico de arte Gaudêncio Fidelis[117].  Em sua opinião, a variedade e multiplicidade que apresenta em suas esculturas, foi o fator que possibilitou uma democracia total de sua arte. Cemim apresentou nessa grande mostra de arte latino-americana, quinze obras do início de sua carreira, em uma sala especial e a escultura de grandes dimensões “Supercuia”.
Em entrevista concedida ao canal televisivo local voltado à educação, explicou o processo de criação de sua obra. Comprou doze cuias de chimarrão e ao retornar aos Estados Unidos construiu um objeto poligonal, com doze faces em papelão e adaptou as cuias ao dodecaedro. Desta forma uniu a forma sensual da cuia ao rigor platônico deste elemento geométrico regular.
Para a realização da obra em tamanho monumental, contou com o auxilio do arquiteto Daniel Plentz, responsável pela construção. Durante a exposição, a obra se encontrava no espaço térreo da Usina do Gasômetro[118], junto ao cais do porto em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
A “Supercuia” foi realizada em aço e resina sintética[119] para resistir à ação do tempo. Após o evento, essa obra doada pelo artista à cidade de Porto Alegre, ganhou um espaço externo, em frente ao Parque da Harmonia na orla do Rio Guaíba.
O trabalho de Cemim parte do tradicional, de sua própria história e vivência através da forma e se lança ao contemporâneo pela transformação do objeto em outra coisa e em outro material.
Para alguns, as cuias podem ser consideradas como objetos de mau gosto, mas unidas podem simbolizar o desejo da união da América Latina, e também, o encontro dos migrantes do campo à capital. No espaço central da obra, fechado com soldas. Em um vazio fictício podem estar os sonhos, a esperança de integração do povo que faz parte desta região chamada Cone Sul, daqueles que partiram para outras terras e outros mundos. 
A escultura está em diálogo direto com o espaço, pois é no Parque Harmonia que acontecem os encontros dos gaúchos, nativistas e apreciadores das tradições do sul do país.
   
Cabaças grafitadas de OSGEMEOS
Quando estamos criando, nos conectamos com “Tritrez”, que é o nosso universo particular, lúdico, onde só tem coisas boas. É o nosso equilíbrio espiritual.
OSGEMEOS[120]
Os irmãos artistas, Gustavo e Otávio Pandolfo nasceram em São Paulo na década de setenta. Sob influência da cultura “Hip Hop”, grafitam há mais de vinte anos os muros da cidade de São Paulo. O interesse dos artistas está na arte de rua, que tem relação com a transformação; interferências do clima, da poluição, da natureza, inclusive de transeuntes; o anonimato, pelo menos antes do reconhecimento e da identificação dos personagens; a ultrapassagem de fronteiras impostas por leis urbanas; a aproximação de distintas culturas; o trânsito entre o popular e o erudito, a possibilidade de apresentar o mundo imaginário e de tocar as pessoas que entram em contato com suas obras.
Os artistas dividem os méritos de seu sucesso com a família. Um tio que exercia a prática da pintura. A mãe, que também pinta e pratica a arte tradicional do bordado. O irmão Arnaldo, engenheiro mecânico e escultor, é responsável por dar vida e movimento, luzes e diversas “engenhocas” criadas de acordo com a imaginação dos irmãos. São portas e asas que se abrem, buzinas, teclados, caleidoscópios entre tantas outras invenções. A irmã Adriana tem a função de gerenciar e administrar a carreira dos irmãos gêmeos. Todos se envolvem na coordenação e montagem das obras. 
No Brasil, OSGEMEOS já realizaram trabalhos em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, nas cidades de Porto Alegre, Recife, Maceió e Natal. Juntos pintaram um painel para os Jogos Olímpicos de Athenas, na Grécia. Realizaram exposições em Sittard, na Holanda, em Nova York, nos Estados Unidos da América, em Madrid, na Espanha e também de uma exposição coletiva em Paris, França; em Hiroshima, Japão, bem como da Nona Bienal de Havana, em Cuba. Pintaram a fachada de uma loja em Barcelona, na Espanha; um mural de grandes proporções na East Village em Nova York, um castelo em Ayrshire, na Escócia e a fachada da Galeria Tate Modern, em Londres, na Inglaterra.
Suas obras saíram das ruas e migraram para galerias e museus. Sem nome definido para essa arte, realizada com tinta aerossol, colagem de lantejoulas e utilização de uma série de outros objetos do cotidiano como madeira em paredes, metais, cabaças e objetos de uso cotidiano, os artistas desafiam o meio envolvido com as artes e o público, ao causar estranhezas. 
Ao realizar o percurso em visita à exposição Vertigem[121], meu olhar foi atraído pelas cabaças, presentes em diversas obras de grafite e instalações expostas pelos artistas naquele espaço.
Num primeiro momento os frutos pareciam ex-votos distribuídos de forma aleatória, mas isso seria o óbvio, e pouco diante de tal manifestação popular.  Para mim, são os irmãos que acolhem e se despedem dos visitantes por meio das cinco cabaças presentes na porta de entrada e saída. Na minha fantasia, é Arnaldo o irmão ninja, pois tem o conhecimento e poder de concretizar as idéias dos irmãos gêmeos. O resultado é a transformação de uma arte inspirada na arte de rua, numa instalação lúdica, comunicativa, interativa e o transporte para um mundo de percepção onde afloram diversos sentimentos.
Segundo Felipe Chaimovich[122] a técnica desenvolvida pela dupla pode ser identificada pelo estilo próprio das figuras. OSGEMEOS utilizam latas de tinta spray. Realizam tracejados finos, que repetidos num mesmo movimento, manipulam o material durante a aplicação, com mais ou menos intensidade, criando um sombreado nas cabeças de cabaças, salientando o volume em detalhes que compõem seus rostos. Como professor, explica a técnica do sombreado inovador, que causa a ilusão do volume da figura grafitada.
O efeito é conseguido pela pressão suave de um bico com orifício pequeno, por vezes adaptado de outras latas de aerossol. O jato é aplicado a uma curta distância da superfície. Seguem-se duas características: uma linha fina de contorno e uma aspersão de gotículas marginais à linha[123].
Rostos grafitados em cabaças transpassam o inconsciente dos irmãos brasileiros, deixam de serem apenas cabeças e passam a fluir em relação com o que faz parte do mundo simbólico, como flutuação e ambigüidade, entre o cheio e o vazio. Os usos tradicionais do fruto, representado como bóias para pescaria, ninhos de pássaros, ex-votos, instrumentos musicais, recipiente e balões.
Um fruto grande e natural se encontra na instalação: “casa 62”.
A casa humilde parece habitada e o espectador é convidado a entrar. Está decorada com objetos comuns encontrados nas residências. Uma televisão, que transmite filme de pessoas em ruas, que se portam como se fizessem parte de outro mundo. Uma pia, um fogão que elimina fumaça pela porta em determinado espaço de tempo. Um sofá e uma cama onde pessoas se sentam para observar o interior da casa que está repleta de detalhes como: quadros, pedaços de papel de parede e pensamentos escritos nas paredes. Um traço feito a laser cria riscos dinâmicos de luz no interior da obra, nas cores verde e vermelho.
Logo na entrada, há uma geladeira, desligada da tomada, transformada em porta trecos, cuja porta aberta revela o seu conteúdo. Em lugar de ovos, pedaços de metais. Livros e garrafa se encontram na prateleira lateral da porta. Uma garrafa vazia, uma maleta de madeira e um par de sapatos pendurados em um cabide descansam em prateleiras metálicas. O transbordamento do interior dessa geladeira enferrujada se encontra no mistério de uma cabaça natural. Apresenta a forma que se relaciona com o infinito. O fruto é grande, maior do que o espaço que o acolhe. Este fato pode ser comparado com as proporções entre o tamanho das casas e o número de pessoas que habitam e são acolhidas nelas. A cabaça está seca, não apresenta abertura. Está aguardando seu próprio destino. A impressão que se tem é que o fruto está prestes a explodir e revelar seu conteúdo, para ser transformado. Está coberta de fungos e sujeira causada pela ação do tempo, grafitada pela própria natureza. Trabalho, renegação, miséria, consumismo, lixo, seca, utilidade, solidão, abandono, valores, memória, morte são apenas alguns questionamentos, que estão atreladas aquele fruto gigante naquele espaço limitado.
Na parede externa da casa encontrei a dicotomia contida na cabaça e nos seres humanos. A dualidade entre a cabaça, que parece brotar de um dos olhos desse personagem e os cristais que vertem em lágrimas do outro olho. Dois universos, de diferentes níveis sócio-econômicos, de diferentes valores.
As cabaças parecem duelar com os cristais, ao se manifestarem no mesmo instante. No entanto, a dor atribuída às lágrimas de cabaças amarradas por um fio de arame ou as de cristais unidas por fios de nylon, é a mesma. O foco da obra é a dor, através do choro, da decepção, da tristeza e de sentimentos comuns a todos.
Esta instalação foi intitulada “Assum preto” em Milão, na Itália[124]. Lágrimas foram criadas com fios da cor verde, rosa e amarela, criando formas que lembram pandorgas ou pipas. Também foi apresentada na Holanda[125] como “a cabeça”, porém cacos de vidro, como os que são colocados nos muros de algumas casas para evitar entrada de pessoas indesejáveis, foram acrescentados acima na cabeça da instalação. Dos olhos vertiam lágrimas de fios amarelos e vermelhos, que se entrelaçavam formando inúmeros triângulos e ligavam o olho ao ouvido.
A obra dos irmãos gêmeos parece brotar do interior dos artistas. Os frutos populares saem da natureza e passam a habitar as paredes grafitadas. Trazem as referências do povo do nordeste do nosso país. A realidade para alguns e a fantasia para outros. A desigualdade é criticada por meio de fantasia, de uma forma sensível e lúdica. Neste universo imaginário, cabeças desenhadas em cor e em forma de cabaças estão suspensas na coroa da ave sentada que deveria voar. As cabeças foram pintadas em diferentes tonalidades de amarelo, do mais claro ao mais escuro, como a tez da nossa pele, da miscigenação, do encontro entre os seres. Como fantoches, se encontram em situação de repouso, apoiadas nas varetas fixadas a coroa. O bico do homem - pássaro, segura formas de cabaças pequenas, amarradas pelo mesmo fio. Uma pende mais que a outra remetendo-nos mais uma vez ao desequilíbrio e a desigualdade. Como pequenas bóias devem ter sido utilizadas para capturarem o peixe voador, repleto de escamas de lantejoulas coloridas, que está sendo seguro por uma das mãos do homem - pássaro. A presidente Maristela Quarenghi de Melo e Silva, do Museu Oscar Niemeyer de Niterói, Rio de Janeiro, afirma que:
Na poética das pinturas d’OSGEMEOS estão as referências do cotidiano simples, das pescarias com o avô, do amor, das viagens, dos relacionamentos, das fugas e das contradições, na busca por novos caminhos que nos permitam sobreviver[126].
A inversão e a ambigüidade são representadas pelos desenhos de cabaças. O ato de submergir ou flutuar em uma situação sofrida por tantas vítimas que enfrentam as enchentes. A casa barco é um ninho e os habitantes são impotentes perante a natureza. Esta situação parece não estar vinculada a raça, ao sexo, a idade, a profissão ou ao conhecimento, mas sim a solidariedade expressa no conjunto dos personagens, ao enfrentar situações adversas ou caóticas.
Muitas das cabaças apresentadas em Vertigem, também fizeram parte do espaço expositivo em Nova York, na exposição denominada “Too far, too close”, (muito longe, muito próximo), da Deitch Project, no ano de dois mil e oito. As dezessete cabaças foram penduradas no teto, por fios de nylon e agrupadas no centro do espaço. Os tamanhos das cabaças eram variados, algumas ocas, mas a maioria apresentada em sua forma natural, cuidadosamente grafitadas.
Cabeças ocas feitas de cabaças e peixes foram capturadas por anzóis. Circundam a parte externa do barco. Na parte superior da parede, as caixas que variam do amarelo ao marrom, parecem ninhos confeccionados para proteger algumas cabeças que observam o espaço.
O editor Guilherme Bueno[127] publicou a pintura mural “Princesa da Pororoca”, foi selecionada por Os Gemeos especialmente para a capa da dessa revista, especializada no mundo das artes. Nela quatro personagens amarelos, de diferentes tons, carregam uma casa, com uma “princesa” em seu interior, cujo telhado encontra-se apoiado em suas cabeças. A sensação de flutuação é expressa através da tridimensionalidade conseguida pelo arco-íris refletido por trás do sol, no rosto da personagem. As formas de cabaças apresentam-se como instrumentos musicais rústicos, violas de cocho, que estão sendo utilizadas como remos. Movimento, criatividade para solucionar os problemas, as idéias de solidariedade e peregrinação estão vinculadas a essa imagem.
A apresentação das esculturas em cabaças no espaço expositivo parece ser feita de forma inconsciente, prazerosa e natural. É uma poética construída a quatro mãos, que flui entre os irmãos gêmeos. Ao utilizarem esses frutos, a dupla estabelece relação com as raízes da cultura brasileira e desafia a propalada divisão entre a cultura popular e a erudita.


Notas:

[61] BASTOS, MOIRA ANNE BUSH. CAPITULO II DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: POÉTICA DA CABAÇA: FRUTO DE TRADIÇÃO, ARTE E COMUNICAÇÃO. INSTITUTO DE ARTES-UNESP.

[62]  EHRENBERG, Felipe. Ensaio Latitudinário. In: Rosa-dos-ventos. Posições e Direções na Arte Contemporânea. Fundação Bienal de Artes Visuais do MERCOSUL, 2005, p.58.

 [64] TIRAPELI, Percival.  Arte popular. Séculos 20 e 21. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006. (Coleção arte brasileira)

[65] Catálogo Mestre Didi – Esculturas. Exposição de 31 de maio a 21 de junho de 2000. Galeria de Arte São Paulo, São Paulo, 2000.

[66] Artigo Mestre Didi, emergência mítica – olhar universal. In: Catálogo Mestre Didi. Homenagem aos 90 anos: Deoscoredes Maximiliano dos Santos – Escultor do Sagrado, p.9-10. Juana é antropóloga e coautora da publicação West African Rituals and Sacret Art in Brasil. Editado pelo Institute of African Studies, da Universidade de Ibadan, Nigéria e de outras publicações.

[67] Idem Ibidem.

[68] Mestre Didi: Poesia mítica e contemporaneidade. In: Catálogo Mestre Didi. Exposição de 22 de outubro a 16 de novembro de 1997. Museu de Arte Moderna da Bahia.

[69] FROTA, Lélia Coelho. Pequeno dicionário da arte do povo brasileiro, século XX. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2005, p. 317-318.

[70] Texto extraído da exposição “Smetak Imprevisto” – módulo: “cabeças, cabaças falantes”, Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2008/2009. Anton Walter Smetak – Zurique 1913 -1984. Naturalizado brasileiro em 1962.

[71] Ofício de construir e consertar violinos, violas e rabecas, artesanalmente. No caso de Smetak, os violinos e violoncelos.

[72] Dados retirados do site do artista Walter Smetak. Disponível em www.waltersmetak.com em IMPREVISTO, BIOGRAFIA, acesso em 18 de outubro de 2008.

[73] Smetak Imprevisto. Catálogo. Museu de Arte Moderna de São Paulo. São Paulo: de 9 de outubro a 21 de dezembro de 2008, p. 121.

 [74] Smetak Imprevisto: Exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo, de 9 de outubro de 2008 a 11 de janeiro de 2009. Apresentação do artista no trabalho final para a disciplina: Imagem e Novos Meios, ministrada pelo Prof.Dr. Milton Terumitsu Sogabe, no Instituto de Artes, UNESP, no segundo semestre de 2008

[75] Smetak Imprevisto e Radiofônico – direção Geral Lilian Zaremba. Realização Museu de Arte Moderna de São Paulo -Volume I – Volume IV, 2008

[76] SMETAK, Walter Anton. Plásticas Sonoras. In: Catálogo “SMETAK IMPREVISTO”. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo 2008, p.39.

[77] Smetak: Imprevisto. Jasmin Pinho e Arto Lindsay (curadores). São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo; Documenta Vídeo Brasil. 2008. 1 DVD color. Português.

 [78] FONTELES, Bené. O visionário descompositor (2008). In: Catálogo “SMETAK IMPREVISTO”. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo 2008, p.81.

[79] dem Ibedem.

[80] O autor faz referência ao artista, compositor da música experimental e escritor norte-americano John Cage (1912-1992), que transmitia as mesmas mensagens. FONTELES, Bené. O visionário descompositor (2008). In: Catálogo “SMETAK IMPREVISTO”. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo 2008, p. 83.

[81] A arte espiritual, que o artista se refere, é o agir de “quintessenciar”, por meio da arte, ciência e filosofia. O trabalho se constitui da observação do fenômeno acústico e da análise da tese e da antítese. In: Texto de Parede na exposição “SMETAK IMPREVISTO”. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2008.
PINHO, Jasmin e LINDSAY, Arto. Smetak Imprevisto. In: Catálogo “SMETAK IMPREVISTO”. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo 2008, p. 11.

[82] O autor faz referência ao artista, compositor da música experimental e escritor norte-americano John Cage (1912-1992), que transmitia as mesmas mensagens. FONTELES, Bené. O visionário descompositor (2008). In: Catálogo “SMETAK IMPREVISTO”. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo 2008, p. 83.

[83] A 7ª Bienal de Artes Visuais do MERCOSUL ocorreu de 16 de outubro a 29 de novembro de 2009, em Porto Alegre, RS.

[84] Texto escrito pela autora, para banner a ser exposto durante período de exposição de seus personagens em cabaças e articulados. Mariana, Minas Gerais, 2008.

[85] Entrevista informal concedida à autora durante viagem à cidade de Mariana em Minas Gerais, maio 2008.

[86] Ângelo Barbosa Monteiro Machado (Belo Horizonte, 1934): Médico mineiro, dedicado à carreira acadêmica, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Entomólogo, cientista, ambientalista, que também se dedicou a escrever livros infantis e infanto-juvenis além de inúmeros artigos científicos sobre neurobiologia e entomologia (insetos, principalmente libélulas e suas relações com humanos, plantas meio ambiente etc.).

[87] A novela “Filhas da Mãe” composta de cento e vinte e cinco capítulos foi transmitida ás 19h, pela rede Globo entre agosto de 2001 e janeiro de 2002. Um dos três autores, Silvio de Abreu, classificou a narrativa como “cordel – sulista – paulistano”.  Disponível em< http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo.html> acesso em 20 agosto de 2009.

[88] Artista mineira, nascida em Belo Horizonte. Estudou balé clássico, música, canto. É graduada em artes plásticas na Universidade Federal do Espírito Santo.

[89]Exposição no ano de 2004.

[90] Viagem organizada pelo Prof. Dr. Percival Tirapelli (artista plástico e professor titular em Arte Brasileira na UNESP), com o apoio do Instituto de Artes da Universidade Estadual de São Paulo – UNESP, em 2008.

[91] Alegorias do Instante é o título da exposição que ocorreu no Museu da inconfidência – sala Manoel da Costa Athaíde- anexo I, em Ouro Preto, Minas Gerais. No período de 23 de maio a 22 de junho de 2008.

[92] Informação obtida em: SANTOS, Ângelo Osvaldo de Araújo (org). Catálogo Sant ’Ana – Coleção Ângela Gutierrez. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2003, p. 13.

[93] MOTTA, Morgan é jornalista e crítico de arte. Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA). Asas à Inspiração. Disponível em <www.morganmotta.com> acesso em 28 maio 2007.

[94] Artista paulista que explora a poética e as interfaces da arte da imagem fotográfica. Realiza trabalhos voltados a questões sociais e ambientais da Amazônia. Foi curador da exposição H2Olhos, no Itaú Cultural, SP, 2008.
Baseado em trabalho final para disciplina: Imagem e Novos Meios, ministrada pelo Prof.Dr. Milton Terumitsu Sogabe, no Instituto de Artes Julio de Mesquita Filho, UNESP, São Paulo. No segundo semestre de 2008 e Trabalho “Cabaça e Mate: Suporte da Natureza, fruição entre artes e povos” para o congresso: Poéticas e Políticas da Natureza, realizado dias 21 e 22 de agosto de 2008 na ECA/USP-SP.
Informações sobre o artista disponíveis em <http://www.fotoativa.blogger.com.br> e http://www.culturapara.art.br/miguelchikaoka acesso em maio de 2008.

[95] FotoAtiva  sediada em Santarém, no Pará. Nome da oficina onde pesquisa com grupos de investigadores e interessados na poética da fotografia, estimula e difunde a fotografia como prática de linguagem, desde 1983.

[96] MAGALHÃES, Ângela e PEREGRINO, Nadja. Visualidade da Amazônia – a questão da fotografia. In: Revista Extra Câmara: Amazônia, Luz e Reflexão, nº 2, Caracas, Venezuela, março 1995.
 
[97] Texto enviado à autora, com imagens pelo artista, em outubro, 2008.

[98] Idem, ibidem.

[99] Fotografia tirada por uma câmera cujo orifício (estenopo), que permite entrada de luz, substitui o sistema óptico e é responsável por formar a imagem em uma superfície sensível – pedaço de papel fotográfico.
 
[100] Exposição realizada no Itaú Cultural, em São Paulo, de 27 de março a 25 de maio de 2008.

[101] Oficina denominada pincel de luz é ministrada pelo artista e curador, que possibilita juntamente com  multiplicadores, educadores, estudantes de arte e demais interessados, experiências de desenhar e pintar papel fotográfico velado.

[102] BASTOS, Moira Anne Bush. Cabaça e Mate – Suporte da Natureza, fruição entre artes e povos. In: CANTON, Kátia (org.). Poéticas da Natureza. São Paulo: PGEHA/Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, 2009. Texto apresentado para o Congresso: Poéticas e Políticas da Natureza, realizado nos dias 21 e 22 de agosto de 2008, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

[103] Poesia escrita por Marepe em 1997. Publicado pela Galeria Luisa Strina. Disponível em
<<www. Artnews.org/gallery >> acesso em 25 set. 2007. 

[104] 27ª Bienal de São Paulo: Como Viver Junto: Guia / [editores Lisette Lagnado, Adriano Pedrosa]. São Paulo: Fundação Bienal, 2006, p. 156. 
 
[105] BARBOSA, Juciara Maria Nogueira.  Mestre (2003), doutoranda (2009) em Artes Visuais: Universidade Federal da Bahia – Escola de Belas Artes, 2003.  Artigo: Marepe – arte contemporânea do Recôncavo para o mundo, publicado na revista OHUN, Ano 1, número 1 em outubro de 2004. www.revistaohun.ufba.br/html/revistan1.html > acesso em: 30 jul. 2009.
 
[106] Performance, “Pérola de Água Doce”, Ponte das Bandeiras, Rio Tietê, São Paulo, 25 jan 2007. In: GALERIE MAX HETZLER, Berlin; GALERIA LUISA STRINA, São Paulo: HOLZWARTH PUBLICATIONS [s.l.]. Marepe, 2007, p.173.  

[107] Escola São Paulo está localizada na Rua Augusta, 2239 – (11) 3081-0364.
 
[108] Galeria de arte contemporânea mais antiga da cidade de São Paulo, dirigida por Luisa Strina promove exposições e mostras de artistas brasileiros em território nacional e no exterior.

[109] Depoimento encontrado na revista Continuum do Itaú Cultural. FUKUSHIRO, Luiz e PATRICIO, Patrícia. No curso da cidade (São Paulo – reserva de utopia) In: Relação de amor e descaso das capitais brasileiras com seus rios. Abril 2008.
 
[110] BARBOSA, Juciara Maria Nogueira. Artigo: Marepe – arte contemporânea do Recôncavo para o mundo, publicado na revista OHUN, Ano 1, número 1 em outubro de 2004. p.16. Disponível em <<www.revistaohun.ufba.br/html/revistan1.html >> acesso em: 30 jul. 2009. 

[111] Exposição individual de Marepe, realizada na Galeria Luisa Strina, em São Paulo, de 22 de agosto a 22 de setembro de 2007. 

[112] LAGNADO, Lisette. Catálogo Marepe – 2002.  Galeria Luisa Strina. São Paulo, 2002, p. 30.
 
[113] Idem Ibidem, p. 30.

[114] MUNIZ, Vik. As coisas. In: 4ª Bienal de Artes Visuais do MERCOSUL. Porto Alegre: Fundação da Bienal do MERCOSUL, 2003, p.175. 

[115] Programa Making Of da 4ª Bienal de Artes Visuais do MERCOSUL. Programa gravado em DVD, transmitido em pela TVE (Televisão Educativa) do Rio Grande do Sul, em outubro de 2003. 
 
[116] MUNIZ, Vik. As coisas. In: 4ª Bienal de Artes Visuais do MERCOSUL. Porto Alegre: Fundação da Bienal do MERCOSUL, 2003, p.175. 
 
[117] FIDELIS, Gaudêncio. Uma História Concisa da Bienal do MERCOSUL. Porto Alegre: Fundação da Bienal do MERCOSUL, 2005, p.118.  

[118] Idem Ibidem.  
 
[119] A construção é um elo entre o centro e a zona sul da cidade. O gasômetro foi construído em 1928. Responsável no passado por gerar energia elétrica, à base de carvão mineral para a iluminação das ruas da cidade. No ano de 1981 passou a ser mais um espaço cultural oferecido à população de Porto Alegre, RS.

[120] CREPALDI, Iara. OsGemeos – Duas cabeças e uma sentença. In: Folha de São Paulo - Revista Serafina, em outubro de 2009, p. 40 – 47.
 
[121] Exposição “Os Gemeos Vertigem” - Museu de Arte Brasileira, na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, no período 25 de outubro de 2009 a 13 de dezembro de 2009.
 
[122] Curador do Museu de arte Moderna de São Paulo e Professor Titular da Faculdade de Artes Plásticas da FAAP, SP.

[123] Publicado em folder para divulgação da exposição “Vertigem”.

[124] Imagem publicada na exposição intitulada “Assum preto”  – realizada de 03 de setembro a 03 de novembro de 2007  Catálogo Galeria Patrícia Armocida. Itália, 2007.
 
[125] Imagem “The head”, publicada na exposição intitulada “As flores deste jardim foram plantadas pelos meus avôs.” (The flowers in this garden were planted by my grandparents) – realizada de 16 de novembro de 2007 a 06 de janeiro de 2008. Catálogo Museum Het Domein Sittard. Holanda, 2008

[126] Os Gemeos – Vertigem: exposição realizada no Museu Oscar Niemeyer de 04 de outubro de 2008 a 01 de fevereiro de 2009/ prorrogado a março. Curitiba, 2008.

[127] Editor da Revista Dasartes, artes visuais em revista. Ano 1, número 6 – outubro/novembro de 2009.