Jussara Rocha, Mariana Madureira e Marianne Costa
ENTREVISTA
JUSSARA ROCHA, MARIANA MADUREIRA E MARIANNE COSTA
Publicado por A CASA em 21 de Dezembro de 2012
Por
Daniel Douek

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“Queremos mostrar que existem modelos possíveis além do assistencialista”
Jussara Rocha, Mariana Madureira e Marianne Costa são empreendedoras sociais da Raízes Desenvolvimento Sustentável.
A Raízes Desenvolvimento Sustentável propõe soluções de desenvolvimento local utilizando o turismo e o artesanato como ferramentas. Em que consiste o trabalho da empresa?
Mariana Madureira: A Raízes trabalha com projetos de desenvolvimento local voltados para turismo, associativismo e capacitação. Nossa história com o artesanato se iniciou em 2009, quando começamos a fazer comércio justo de artesanato do Vale do Jequitinhonha e do norte de Minas Gerais. Ao longo desse tempo, percebemos que quando estávamos presentes nas feiras e mostras de artesanato, vendíamos mais, pois contávamos a história de como o objeto era produzido, quem era a pessoa que fazia aquilo, o que estava por trás do produto.
Marianne Costa: Vendemos mais do que um produto, vendemos um valor agregado, uma história, um conceito.
Mariana Madureira: Atualmente, organizamos viagens para que as pessoas possam conhecer essas comunidades artesanais. Nessas viagens, os turistas comem na casa das pessoas, participam de oficinas de cerâmica. Assim, terão essa lembrança da cerâmica que eles mesmos produziram e desse contato com as artesãs. Enquanto eles estão fazendo a cerâmica, as artesãs explicam como aquilo funciona, desde quando fazem. Há toda uma história de vida por trás disso: “Aprendi com a minha mãe... fazíamos, principalmente, coisas de cozinha para uso próprio... temos que caminhar dois quilômetros para buscar a matéria-prima... o barro vem como pedra e é preciso batê-lo”.
Jussara Rocha: Tudo isso que agrega valor ao produto é experimentado ao vivo na própria comunidade. Quando contamos, já há um apelo muito grande, porque a pessoa passa a entender que aquilo não é um objeto simplesmente, é muito mais. Mas quando a pessoa vai e vê as artesãs fazendo, vivencia, faz junto e percebe a dificuldade do fazer, entende que aquilo é um saber repassado de mãe para filha, é muito diferente. O viajante carrega o orgulho de ter vivido aquilo e de trazer com ele um pouco da vida do Vale do Jequitinhonha. Quando viajamos a uma comunidade, vivenciamos a vida das pessoas, dormimos nas casas delas, comemos a comida que elas fazem. Há todo um recurso que está sendo distribuído ali. Então, além de ser comércio justo de artesanato, passa a ser uma experiência diferente e um negócio que tem essa característica de ser social.
Promover o desenvolvimento local em comunidades de baixo IDH pode dar lucro? Como conciliar essas duas ideias que parecem contraditórias?
Marianne Costa: Esse foi exatamente o nosso propósito quando criamos a Raízes Artesanato: mostrar que podemos fazer um trabalho lucrativo e, ao mesmo tempo, gerar impacto na sociedade em que vivemos. Foi a partir daí que decidimos que o modelo que queríamos era o de negócio social. Seria possível criarmos uma ONG, talvez receber recursos, mas não é nisso em que acreditamos. Acreditamos num modelo de desenvolvimento de parceria do tipo ganha-ganha, na qual todos saem ganhando – nós e a comunidade. Trata-se de um negócio pautado na transparência e no respeito. Queremos mostrar que existem modelos possíveis além do assistencialista. Tentamos mostrar para elas que é possível construir um negócio de longo prazo que pode resultar em independência.
Mariana Madureira: Além disso, esse tipo de projeto gera muito mais autoestima do que os assistencialistas, porque você não chega lá com o discurso de que está indo ajudar – “você é um pobre coitado”. Ao contrário: “estamos vindo aqui porque vocês têm muito a oferecer”.
Jussara Rocha: No negócio social, lucro não é antagônico a desenvolvimento, é complementar.
Em breve, novos trechos da entrevista!