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Figura 2 - Jóias do Pará. Fonte: Catálogo da I Pará Expojóias








ARTIGO

O ARTESANATO COMO ESTRATÉGIA PARA A CONCEPÇÃO DE PRODUTOS CULTURALMENTE RELEVANTES

Publicado por A CASA em 5 de Fevereiro de 2013
Por Emanoel Tavares Moreira

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Palavras-chaves: Artesanato, Design e Cultura, Objetos Simbólicos.

O presente trabalho discorre sobre Design, artesanato e suas possíveis inter-relações aplicadas ao design de produto: seja na apropriação de signos típicos ou de técnicas artesanais. Através de uma pesquisa exemplificada, analisou-se iniciativas locais(Pará) e nacionais. Após esses estudos, pode-se perceber que o artesanato paraense e brasileiro somente tem a engrandecer os valores estéticos e simbólicos dos produtos concebidos.


Considerações introdutórias

Pretende-se, neste, abordar alguns aspectos da inter-relação entre Design e Artesanato, analisando algumas possibilidades fusão de conceitos e estilos e, bem como, ressaltando a importância da cooperação mútua dos profissionais designer e artesão. Pretende-se, portanto, ilustrar uma fatia dessas possibilidades através de exemplos da influência do Artesanato no Design.
Diante desse tema, a relevância de estudar esse assunto é vista devido à atual cena do Design Brasileiro, que, em muitas de suas soluções, busca, no artesanato, inspiração para a solução formal dos produtos. seja pela cultura de um povo registrada nas peças artesanais, ou, até mesmo, para inserir valor simbólico com características típicas de um povo.
Outro motivo relevante para o estudo dessa temática é a necessidade de resgatar as raízes de cada localidade, tendo em vista que esse resgate se tornou prioridade para diversas instituições culturais. Segundo Borges (2003) diante do avanço da globalização e da desterritorialização, o mundo passa por momentos de perda de identidade, de descaracterização, por conta disso, aumentou-se a necessidade do homem de pertencer a um lugar específico do mundo que o defina. É por esse motivo que ele busca, cada vez mais, por objetos típicos gerados no decorrer do tempo pela região em que ele se identifica.
Como pode-se ver, o artesanato possui impregnado em si essa identidade capaz de territorializar o consumidor final, tendo em vista que o produto artesanal

[...] exprime um valioso patrimônio cultural acumulado por uma comunidade ao lidar, através de técnicas transmitidas de pai para filho – ou melhor, de mãe para filha, já que esta é uma atividade predominantemente feminina – , com materiais abundantes na região e dentro de valores que lhe são caros. Por tudo isso, ele acaba se tornando um dos meios mais importantes de representação da identidade de um povo (BORGES , 2003, p.64).

Portanto, o reconhecimento e a valorização desses signos de identidade cultural local, além de uma iniciativa culturalmente relevante, é algo muito bem aceito pelo mercado. Dessa maneira, a busca por produtos com alma, produtos com um significado ou com características específicas de um local aumenta a cada dia.


Artesanato

Analisando o artesanato pela etimologia, vê-se que “[...] a palavra artesanato é um neologismo francês artisanat, usado pela primeira vez em um artigo publicado pela La Gazette des Mérties, de Estraburgo, França, em 1920[...]” (FRANCO apud BORGES, 2004, p.13).Artesanato esse, que começou a ser produzido desde os primórdios da civilização humana, desde os povos primitivos e que carrega, hoje, uma grande carga cultural .

As características básicas [do artesanato] são: ser uma atividade do tipo industrial, de natureza econômica típica. O seu processo de produção não comporta produção em série. O seu produto final pode ser padronizado, porém deverá conservar toda a originalidade, típica de um trabalho manual. O artesão é o responsável por todo ou a maioria das etapas de produção do artesanato. (BORGES, 2004, p.14)

Provavelmente, a característica que mais demonstra a relevância cultural dessa atividade é a hereditariedade, as técnicas vêm passando de geração para geração por décadas, demonstrando, dessa forma a força simbólica dos produtos artesanais.
Sobre as categorias de artesanato, adotar-se-á nesse artigo a classificação do SEBRAE(2004), como pode-se ver a seguir:

• Artesanato indígena: objetos produzidos no seio de uma comunidade indígena, por seus próprios membros. Em sua maioria, resultante de uma produção coletiva, incorporada ao cotidiano da vida tribal.

• Artesanato tradicional: Conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um determinado grupo, representativo de suas tradições. Sua produção é, em geral, de origem familiar ou de pequenos grupos vizinhos. Sua importância e seu valor cultural decorrem do fato de ser depositária de um passado, de acompanhar histórias transmitidas de geração em geração.

• Artesanato de referência cultural: São produtos cuja característica é a incorporação de elementos culturais tradicionais da região onde são produzidos. São, em geral, resultantes de uma intervenção planejada de artistas e designers, em parceria com os artesãos, sempre preservando seus traços culturais mais representativos.

• Artesanato conceitual: Objetos produzidos por pessoas com alguma formação artística, de nível educacional e cultural mais elevado, geralmente de origem urbana. Tem na inovação o seu elemento principal. Por detrás destes produtos existe sempre uma proposta, uma afirmação sobre estilos de vida e de valores.


Artesanato no Design: possíveis estratégias de inter-relação.

Muito se fala em Design como estratégia para a melhoria dos artefatos artesanais, há várias propostas metodológicas, estudos de caso, programas de incentivo, entre outros. Mas atualmente as relações entre design e artesanato não se estabelecem de modo unilateral, pois o artesanato está contribuindo de maneira muito forte na concepção de novos produtos, principalmente no sentido de aumentar seus valores simbólico, cultural e estético.
Acredita-se que um dos motivos desse fenômeno seja o ecletismo e o pluralismo da pós modernidade, tendo em vista que “O design Brasileiro inserido neste cenário entre a pós-modernidade e o modelo de globalização iminente, começa a ter como referência maior a riqueza e a expressividade das próprias manifestações culturais do país” (MORAES 2006 p.183)
Segue abaixo algumas das novas facetas dessas possíveis inter-relações.

- As formas do artesanato como fonte de inspiração para a criação.

Pode-se perceber que a apropriações da forma plástica do artesanato para a configuração de novos produtos vem se tornando recorrente tornando-se até uma das mais importantes tendências do Design contemporâneo Brasileiro. Essas apropriações formais, quando feitas de maneira ética e justa, se transformam em valorosos símbolos de identidade cultural
Algumas peças do design de jóias do estado do Pará podem exemplificar esse item, tendo em vista que elas costumam se apropriar de motivos marajoaras, tapajônicos, além da estética de objetos artesanais, como trançados, cuias, artefatos indígenas entre outros. (Figura 1)
Um outro exemplo é o case da Coleção Rendas da Paraíba projetada por Christus Nóbrega. Como ele estudou e prestou diversos trabalhos de assistência à comunidades artesãs rendeiras desse estado, concebeu uma linha de chinelos cuja a estética remetia a elementos dessa renda. Dessa maneira, criou uma linha produtos contemporânea, destacando-se por ter elementos peculiarmente tradicionais.(Figura 8)

-A utilização de matéria-prima e mão-de-obra artesanal como diferencial para a configuração de novos produtos.

No Brasil a prática de utilização da mão-de-obra e de matérias primas artesanais também se tornou uma tendência para a configuração de produtos de caráter étnico e simbólico.
Como exemplo dessa tendência pode-se citar o “Projeto Trançado” coordenado pela Designer Núbia Suely Santos que utiliza o trançado de palha para inserir o eco-design na produção de móveis e artefatos de madeira no estado do Pará (Figura 5). Trançados esses que tem origem em sociedades indígenas das mais tradicionais como as dos Wayania-Apalai e que hoje são produzidos também por comunidades caboclas do interior do estado (SANTOS, 2004).
Iniciativa interessante que utiliza matéria prima renovável, colaborando para a sustentabilidade, embute estética e simbolismo aos produtos, valorizando, desta forma, o trabalho de artesãos, gerando renda para as comunidades.
Pode-se citar, também as linhas de móveis feitos dom renda, concebidas por Flávia Pagotti Silva e desenvolvidas pela DECAMERON em 2003, que tinha como temática costumes, técnicas e materiais brasileiros.

- No Tech Design ou Design feito a mão

Essa inter-relação trata se refere à nova corrente de objetos-conceito, feitos por designers, geralmente não envolvendo tecnologias avançadas. Segundo Botelho,

“esse conceito [No Tech Design] foi criado no século XX com o intuito de resgatar as raízes, ambientes e produtos que fujam da agitação do mundo. Para entender melhor é preciso fazer uma reflexão profunda sobre a cultura nacional e a origem das matérias primas e sobre a necessidade dos indivíduos”

Há quem classifique essa tendência de design-artesanato, por acreditar que o conceito de design não contemplem esses objetos, e há quem crê em conceitos mais abrangentes.
Os grandes ícones desse estilo no Brasil são os irmãos Campana e Alexandre Herchcovitch.

Considerações Finais

Conclui-se, a partir deste, que a inter-relação Design-Artesanato somente têm a engrandecer os valores estéticos e simbólicos dos produtos concebidos por designers, a prova disso é que vários objetos decorrrentes dessa da mesma são premiados em concursos. Podendo-se inferir, portanto, que o amálgama desses dois elementos, quando feita de forma lúcida e coerente, é instrumento importante para a potencialização da cultura de um povo. Combatendo, dessa forma, os freqüentes sentimentos de desterriteriolização do indivíduo contemporâneo.
Concluí-se també que é de fundamental importância os designers lutarem pela valorização do artesanato por ele ser um objeto cultural de extremo valor.Pois, segundo Adélia Borges(2003), o artesanato é produto não apenas da mão do homem, como da sua capacidade de transformação, engenhosidade. Ele exprime um valioso valor cultural e é exatamente por isso a busca por produtos artesanais cresce, paradoxalmente, junto com a globalização e a desterritorialização, que lançam cada vez mais “gadgets” e “traquitanas eletrônicas” com datas marcadas para morrer.


Bibliografia


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