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Detalhe de surdo com pele de lona e pino de parafuso de construção.
















MATÉRIA DO MÊS

DO LIXO, O LUXO DO SAMBA

Publicado por A CASA em 5 de Fevereiro de 2013
Por Lígia Azevedo

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No meio da periferia de Santo André, em São Paulo, no alto de uma das milhares de ladeiras da comunidade do Jardim Santa Cristina, vê-se um barracão de paredes de metal rodeado por restos de estruturas de carros alegóricos. É a sede da Asa Branca, escola de samba local cujo trabalho exemplifica uma prática frequente em pequenas agremiações e comum também em grandes escolas: o reaproveitamento de materiais. Em tempos de extrema preocupação com redução de lixo e consumo, o carnaval dá seu exemplo: o que iria para o lixão vai para a avenida do samba.
“Tudo o que chega na nossa mão vira matéria-prima”, afirma o presidente da escola Wellington dos Santos. Todo o barracão foi construído com material reaproveitado: antigos postes de luz se transformaram nas vigas do barracão, pedaços de carpete se tornam revestimento das paredes e restos de madeirite serviram para construir mesas e bancos.
Na ala da bateria, também é preciso muita criatividade para estender ao máximo a vida útil dos instrumentos. Além das clássicas soalheiras (chocalhos) feitas de tampinhas de garrafa, os surdos são os exemplos mais comuns disso. Toda sua estrutura pode ser remontada: o corpo do instrumento, originalmente de madeira, é reproduzido com latões de lixo; parafusos de construção substituem os pinos originais que fixam a pele na parte superior; e a pele original de couro ou PVC é remodelada para recuperar a afinação e, quando não pode ser reaproveitada, é substituída por recortes de lona.
“Depois de um tempo as peles sofrem um esgarçamento e perdem sua afinação. Mas usamos técnicas que fazem a pele encolher e voltar a ter a sonoridade original”, explica o mestre Alek Reis, diretor de bateria da Asa Branca. “As peles de couro são encolhidas com água e as de PVC com aquecimento no fogo”.
Mas nem sempre o reaproveitamento é garantia de segurança para o percussionista.  “Isso é o que chamam de ‘engenharia arriscada’”, conta o presidente da escola. “Geralmente no surdo os pinos ficam na parte de baixo. Como aproveitamos o outro lado do instrumento, as pontas dos pinos ficam para cima e, se não tomar cuidado, quem está tocando pode machucar as mãos ali”, explica.
As fantasias também são reutilizadas ano a ano, frequentemente repassadas de uma escola para outra.  “Compramos fantasias que outras escolas usaram em desfiles passados. Aqui, elas são reformadas pelos próprios integrantes para serem adaptadas ao enredo do nosso carnaval”, conta o carnavalesco Felipe Milanes.
“Todas as escolas pequenas e mesmo as grandes escolas também praticam o reaproveitamento, pois a cada desfile gasta-se muito material e levantar um carnaval sai muito caro”, comenta Felipe. A verba pública recebida é insuficiente, completada com arrecadações de festas, vendas de camisetas da escola e investimento pessoal dos membros da diretoria. “No ano passado, recebemos R$ 8 mil da Prefeitura e gastamos R$ 40 mil para montar nosso carnaval”, completa o carnavalesco.
Da garagem ao barracão
A Asa Branca foi fundada em 2008 e funcionava inicialmente numa garagem alugada – que depois deu lugar a uma igreja evangélica. Os ensaios gerais das alas eram feitos na rua, diante de um “palco” de cimento.
Hoje, a “verde-e-rosa do ABC” é composta por 300 integrantes, da própria comunidade. Na quadra recém-inaugurada, construíram espaços para ensaios e festas, depósito de instrumentos e de figurinos.
Por dois anos consecutivos, a escola foi vencedora do grupo de acesso do carnaval de Santo André. Este ano, batalha por seu terceiro título com um enredo sobre a alquimia. Ao que parece, os alquimistas já lhes abençoaram com o dom da transmutação.