MATÉRIA DO MÊS
O GÊNIO TRANSFORMADOR DE JUM NAKAO
Publicado por A CASA em 30 de Março de 2009
Por
Lígia Azevedo

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Todos se lembram do desfile de despedida do estilista e diretor de criação Jum Nakao, há cinco anos, quando as modelos, que vestiam roupas de papel, rasgaram seus vestidos ao final da apresentação. O descontentamento com o universo fashion era evidente. Jum revela: “o meu descontentamento era com a falta de conteúdo na moda e a valorização da aparência. Isso acontece na moda, na música, nas artes plásticas, no design, etc. Aquilo foi um manifesto sobre a dificuldade de repensar a questão da criação. É preciso mudar na essência, não na aparência”.
Afastado das passarelas desde então, atualmente Jum Nakao faz parte do projeto Floresta Móbile, que acredita que o objeto tem que ser a conexão entre o homem e a natureza, e envolve pequenos fabricantes de móveis e artesãos de comunidades rurais e urbanas no norte e nordeste do Brasil. A idéia é oferecer um modelo inovador de design sustentável em regiões pouco desenvolvidas. Jum, que já realizou trabalhos em diversos locais do país, como nos estados da Bahia e Amazonas, lembra da importância de se utilizar referências e valores tradicionais da cultura brasileira para as criações: “é preciso repensar os ingredientes, valorizar ingredientes locais”. Para ele, a base de um país está na cultura: “um país não se define pelo aspecto territorial e sim pelo aspecto cultural. Um país sem cultura, sem raízes, de analfabetos, não é um país”.
Ao mesmo tempo, Jum afirma que devemos cuidar do modo como as coisas são feitas. Em sua avaliação, desde a revolução industrial a materialidade ficou valorizada demais em detrimento do processo de produção. Ou seja, o modo como as coisas são feitas acabou sendo deixado de lado e os novos trabalhos de Jum Nakao pretendem mudar essa configuração: “a idéia é fazer o contrário. Mais importante do que ‘o que é feito’ é o ‘como é feito’”. Na contra-mão do que se costuma observar em muitos projetos desse tipo, Jum afirma que a idéia de trabalhar com comunidades não é inserir pessoas no sistema: “o sistema tem muitos problemas. Temos que formar escolas de pensamento. As pessoas têm que perceber que elas são fundamentais, elas são as personagens principais. Não é processo que deve moldar o homem e sim o homem que deve moldar o processo”.
Jum deixa em aberto a possibilidade de, no futuro, retornar às passarelas. Por ora, a maior parte de seu tempo é dedicada à área acadêmica, em que Jum faz aquilo que, segundo acredita, é fundamental: “quero formar uma guerrilha, um exército de pessoas. E essa é a forma mais eficiente: formas pessoas. Quanto mais pessoas e profissionais forem transformados, mais eficiência”.