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A MÃO NA MODA, UMA HISTÓRIA BRASILEIRA

Publicado por A CASA em 16 de Novembro de 2001
Por Giselle Paixão

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De Morros da Mariana para o mundo fashion

Walter Rodrigues apresentou sua coleção Primavera/Verão, em junho de 2001, nos salões da Bienal, no Parque Ibirapuera, durante a São Paulo Fashion Week, um dos mais importantes eventos de moda brasileira.

Dentre as peças de maior destaque estavam os vestidos de rendas de bilro pretas, confeccionadas nas almofadas das rendeiras de Morros da Mariana. As aplicações e rendas feitas por Socorro, Fátima, Graça, Alzita, Neile, Hortênsia, Laura, perto das dunas e dos carnaubais do delta parnaibano, chamaram a atenção do público e da imprensa especializada do grande centro.

O interesse e a repercussão gerada pelas peças apresentadas no desfile demonstram as inegáveis possibilidades trazidas pela reunião do design e do artesanato, numa bem sucedida síntese de beleza e tradição.

O museu, o estilista e a rendeira

A CASA - Museu de Artes e Artefatos Brasileiros elegeu a Associação das Rendeiras de Morros de Mariana como grupo de trabalho no sentido de promover esta comunidade pela divulgação e qualificação de seu artesanato para o mercado, tendo sempre em vista o respeito às formas tradicionais de produção.

No ano de 2000, A CASA promoveu o encontro do estilista Walter Rodrigues e da estudiosa da moda Suzana Avelar com as rendeiras do Piauí. O trabalho conjunto resultou na introdução de novos fios e novas cores, além da adaptação dos desenhos crivados em papelão para cópias reprográficas, que permitem ampliar os padrões sobre os quais são feitas as rendas.

Com as rendas e aplicações feitas em fio de viscose, elastano ou fio de seda, Walter compôs parte de sua coleção Primavera/Verão 2001, apresentada no São Paulo Fashion Week.

O sucesso resultante dessa atividade conjunta despertou novo entusiasmo nas rendeiras de Morros da Mariana, que se sentiram estimuladas a criar novas peças e desenhos e a aumentar sua capacidade produtiva. O reconhecimento de seu trabalho abre agora novas possibilidades para Maria do Socorro, Maria José, Maria Santiago, Chiquinha, Isa, Oneide, Dona Creuza, Teresinha, Marileide, membros desta especial comunidade de artesãs do litoral do Piauí.

Rendas e rendas

Rendas são obras de malha ou tecido aberto em que os fios entrelaçados formam desenhos, podendo ser confeccionadas em fios de algodão, linho, seda, ouro, prata, e até de fibras como as de bananeira.

Usadas na confecção de peças de vestuário ou em detalhes como golas e punhos, têm sido tradicionalmente empregadas também na decoração de enxovais de cama e mesa e na guarnição de toalhas de altares.

Segundo a técnica de elaboração, há vários tipos de rendas, destacando-se as rendas de agulha, as de bilros e o crochê, além daquelas chamadas mecânicas, ou feitas industrialmente.

No Brasil, as rendas de bilros estão dentre as mais tradicionais, ocorrendo desde o nordeste até o litoral sul do país.

Tu me ensina a fazer renda...

A renda de bilros é tecida sobre uma almofada sobre a qual se fixa um cartão perfurado segundo um desenho que serve de orientação à rendeira.

Cada desenho requer uma quantidade de bilros, que são sempre trabalhados aos pares. Assim, diz-se que uma renda requer 24 pares de bilros, ou 86 pares de bilros, por exemplo.

O bilro é uma peça de madeira constituída por uma haste com extremidade esférica ou em formato de pera. Em Morros da Mariana, Piauí, os bilros são feitos de madeira sabiá e as extremidades em noz de tucum, uma palmeira existente na região. Os fios são enrolados na ponta de cada bilro, numa operação denominada "encher o bilro".

As almofadas são feitas pelas próprias rendeiras em chita ou outro tecido, e recheadas de palha de arroz. Apóiam-se sobre suportes de ripas de madeira chamados grades.

Os fios que constituem a renda vão sendo entrelaçados à medida que se manuseiam os bilros em movimentos circulares, uns em torno dos outros, sempre aos pares, num constante "trocar".

Os pontos executados, sempre seguindo o desenho, vão sendo presos à almofada por intermédio de alfinetes.

É um trabalho que, por sua delicadeza e complexidade, demanda muito tempo para progredir, podendo uma peça levar de semanas a meses para ser concluída.

Uma arte secular

A forma atual da renda deriva de um artesanato essencialmente europeu, que se consolidou na época do Renascimento. Suas origens mais remotas, entretanto, residem em técnicas elementares trazidas do Oriente Médio.

No século XIV a renda já era conhecida na França, Bélgica e Inglaterra, mas seu uso se generaliza nos fins do século seguinte, chegando à Itália no quinhentos. A valorização das rendas nos séculos XVII e XVIII leva ao surgimento das manufaturas, sob o patrocínio das cortes e essa arte passa a ser ensinada nos conventos e em escolas profissionalizantes.

Em 1768 cria-se a primeira máquina de fazer rendas, cujo aperfeiçoamento levou à produção de rendas que se confundiam com as manuais. Em 1815 inaugura-se na Inglaterra a primeira fábrica de rendas à máquina.

No Brasil, a renda de bilros chega com os portugueses, que se inspiraram nas rendas flamengas, em virtude das tradições comerciais entre Portugal e a Flandres. São famosas ainda hoje as rendas de Peniche, Vila do Conde e Viana do Castelo.

Em terras brasileiras a renda de bilros dissemina-se especialmente no litoral, destacando-se hoje os centros nordestinos, catarinenses e do Espírito Santo.

Texto: Giselle Paixão

Veja exposição

 

 


Fonte: A CASA casa-museu do objeto brasileiro