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APIAÍ: A TRADIÇÃO DA CERÂMICA EM SÃO PAULO
Publicado por A CASA em 29 de Setembto de 2009

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Localizada no Vale do Ribeira/SP, Apiaí fica a 320 km da cidade de São Paulo. Temos notícias da cerâmica lá produzida desde 1950, quando os vasos de Apiaí foram reconhecidos por Oswald de Andrade Filho como “verdadeiras peças de arte”. A partir de então, pesquisadores e interessados têm documentado e se dedicado ao estudo da produção artesanal de cerâmica da região. As peças já foram expostas no Paço das Artes/SP (1979), no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand/MASP (1981) e na Sala do Artista Popular do Museu de Folclore Edison Carneiro/RJ (1989 e 2002), e integram diversas publicações sobre artesanato e arte popular brasileira.
Em Apiaí é possível conhecer não só a cerâmica produzida atualmente como também peças pertencentes ao acervo municipal. A Casa do Artesão, localizada no centro da cidade, além de comercializar a produção dos artesãos da região, mantêm uma exposição permanente na Sala das Mestras, com exemplares da cerâmica tradicional de Apiaí. São peças zoomórficas e antropomórficas, potes, moringas e vasos datados da segunda metade do século 20, que formam um conjunto singular, de uma beleza ao mesmo tempo despojada e sofisticada. Informações sobre o processo artesanal de produção da cerâmica e amostras das diferentes tonalidades de barro encontradas na região complementam a mostra.
Tradicionalmente produzida nos bairros rurais da região, a cerâmica de Apiaí mantêmcaracterísticas do processo artesanal de produção documentado na década de 70: a atividade da cerâmica é complementar ao cultivo das roças e ao trabalho doméstico; desde a retirada do barro até a queima da peça, todas as etapas do trabalho são realizadas no próprio bairro; embora os homens ajudem em algumas etapas, como a coleta do barro e a construção do forno, são as mulheres que predominantemente criam e confeccionam as peças.
As mulheres são também as responsáveis pela transmissão deste saber tradicional às novas gerações. Ivone da Cruz de Lima aprendeu a trabalhar com o barro com sua mãe, Custódia Pontes. A produção de Ivone, que pode ser vista em seu paiol no bairro rural Encapoeirado, remete imediatamente aos potes de autoria de Custódia, expostos na Sala das Mestras da Casa do Artesão. Custódia, falecida em 2001, ensinou Ivone a modelar os potes de grandes dimensões, com pintura em tauá – barro avermelhado, próprio para pintura. Uma tradição que passa de mãe para filha, há diversas gerações, constituindo inestimável patrimônio cultural.