Equipe O Imaginário
ENTREVISTA
ANA MARIA QUEIROZ DE ANDRADE E VIRGÍNIA PEREIRA CAVALCANTI
Publicado por A CASA em 21 de Maio de 2013
Por
Daniel Douek

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“A pesquisa na universidade deve ser útil para a sociedade”
Ana
Maria Queiroz de Andrade e Virgínia Pereira Cavalcanti são
coordenadoras do O Imaginário, laboratório de design da Universidade
Federal de Pernambuco.
O que é e como surgiu o laboratório O Imaginário?
Ana Maria Queiroz de Andrade: O laboratório O Imaginário surgiu como um projeto de extensão universitária que tinha por objetivo aproximar design e artesanato, mas com um olhar de pesquisa também. Ou seja, a ideia era não só prestar o serviço à comunidade, mas realizar pesquisas sobre design, artesanato e todas as questões que o artesanato como ferramenta para gerar renda e incluir socialmente envolvia. Instituímos um núcleo na Universidade Federal de Pernambuco e, para fazer com que esse grupo sobrevivesse sem depender tanto do apoio governamental, começamos a prestar serviço também à indústria.
De que forma o laboratório articula design, cultura, inclusão social e desenvolvimento sustentável?
Virgínia Pereira Cavalcanti: O Imaginário foi desenvolvendo, ao longo dos anos, um modelo de atuação junto às comunidades na forma de uma espiral. Quando estamos trabalhando com esses grupos produtores de artesanato, atuamos na gestão, no design, na comunicação, na produção e no mercado. Esses são eixos norteadores e, a partir deles, trabalhamos a questão da qualidade e da sustentabilidade.
Ana Maria Queiroz de Andrade: Esses eixos terão foco na comunidade e no projeto coletivo dela. O que a comunidade tem? O que ela quer? O que ela precisa? O que é possível fazer? A construção desse coletivo é o que dá a liga.
Virgínia Pereira Cavalcanti: Além disso, temos algumas premissas que estão por trás e vão estabelecer o olhar do Imaginário. Aí entra a questão da cultura, do desenvolvimento sustentável e da inclusão social. O Imaginário acredita que é possível, sim, atuar nessas comunidades artesãs sem descaracterizá-las culturalmente, considerando e respeitando as suas referências identitárias.
Como foi a receptividade de um projeto como esse no âmbito da UFPE?
Ana Maria Queiroz de Andrade: A universidade está fincada em três eixos: ensino, pesquisa e extensão. A extensão, porém, sempre foi o “patinho feio”. Por muitos anos, era o professor visto como aquele que não sabia fazer pesquisa e, por isso, acabava fazendo extensão.
Virgínia Pereira Cavalcanti: Os próprios órgãos de fomento à pesquisa estimulam isso, ao enfatizar a “pesquisa pura”, que vai render muitos papers, publicações em periódicos, laboratórios com tecnologia de ponta. Existe essa restrição acadêmica em relação a esse trabalho que valoriza não só as questões teóricas, de laboratório, mas também as questões práticas, a pesquisa aplicada. E o que fazemos é pesquisa aplicada.
Ana Maria Queiroz de Andrade: Mas, felizmente, acho que há uma tendência de mudança. Um país como o Brasil não pode se dar ao luxo de ter uma pesquisa encastelada. A pesquisa na universidade deve ser útil para a sociedade.
Além dos projetos realizados junto aos grupos produtores de artesanato, há uma preocupação em refletir sobre o quê está sendo feito. De que maneira isso ocorre e qual a importância disso?
Virgínia Pereira Cavalcanti: A relação entre pesquisa, ensino e extensão não é fácil, mas temos conseguido fazer isso de uma forma bastante interessante. Na verdade, o que ocorre é que as pesquisas são feitas sobre o trabalho do Imaginário e vice-versa. Tanto os projetos geram a pesquisa, quanto a pesquisa se interessa por problemas que acontecem depois do projeto. Eles transcendem o fato de serem problemas reais e passam a ser problemas de pesquisa. Isso é o que vem gerando artigos, dissertações, monografias. Em 2006, criamos um grupo de pesquisa chamado Design, Tecnologia e Cultura, certificado pelo CNPq, e que é, também, uma linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação em Design do Departamento. Esse grupo tem o viés da pesquisa científica sobre as atividades de extensão que o Imaginário desenvolve.
Ana Maria Queiroz de Andrade: A não dissociação da pesquisa e da extensão é o grande desafio e nosso diferencial. De fato, não dissociamos.
Virgínia Pereira Cavalcanti: Isso contribui para o trabalho que O Imaginário desenvolve, porque somos forçados a refletir e questionar constantemente. Isso vem se tornando uma realidade tão concreta que recebemos pessoas do país inteiro interessadas especificamente nessa relação entre design e artesanato para a orientação de mestrado e doutorado.