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Mesa 01: Cláudia Márcia Ferreira, Raul Bittencourt Pedreira e Adélia Borges



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ESPECIAL SEMINÁRIO OBJETO BRASILEIRO E MERCADO

Publicado por A CASA em 28 de Junho de 2013
Por Daniel Douek

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Seminário discute a comercialização do objeto artesanal contemporâneo

No último dia 10 de junho, dezenas de profissionais que atuam diretamente em áreas relacionadas à produção, certificação e comercialização do objeto artesanal contemporâneo reuniram-se na sede do museu A CASA, em São Paulo, para acompanhar o Seminário Objeto Brasileiro e Mercado.

As diversas maneiras de agregar valor ao produto artesanal, a relação entre artesanato e mercado e a elaboração de políticas públicas na área foram alguns dos temas debatidos no evento, que contou com a participação de representantes de instituições do primeiro, segundo e terceiro setor.

De acordo com Renata Mellão, diretora geral do museu A CASA, “muitos de nós temos indagações a esse respeito e sentimos falta de uma conversa com outros atores. A pergunta que nos fazemos é: onde se encontram as facilidades e dificuldades neste percurso que o objeto realiza, de sua produção à sua comercialização?”.

Na primeira mesa do dia, “Agregando valor ao objeto artesanal: design, certificação e pesquisa etnográfica”, a jornalista Adélia Borges chamou a atenção para a necessidade de se criar um sistema para o artesanato. “Para além das qualidades técnicas e estéticas dos objetos, devemos discutir o sistema que vai suportar sua inserção no mercado nacional e internacional”.
O Analista de Indicação Geográfica do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Raul Bittencourt Pedreira, por sua vez, ressaltou a importância de certificados de propriedade intelectual como ferramenta para proteger o saber-fazer local. “[Com a Indicação Geográfica] o nome do lugar de origem de determinado produto torna-se propriedade daquela coletividade”.
A inclusão social pela perspectiva da cultura e a atualização de conceitos no campo do folclore e da cultura popular foram tema da palestra de Cláudia Márcia Ferreira, Diretora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do IPHAN. “A sociedade brasileira ainda atua com um conceito europeizante de cultura, onde o discurso da diversidade passa muito pelo exótico e pouco pelo reconhecimento de que aqui está, efetivamente, a nossa brasilidade”.
“A comercialização do objeto artesanal” foi destaque da segunda mesa, que contou com a participação de profissionais que atuam nas mais diversas frentes de mercado: loja, supermercado, brindes corporativos, internet e venda por representantes.
Segundo Miriam Lima, da Rede Asta, “99% dos artesãos com os quais trabalhamos afirmam ter dificuldade de comercializar seus produtos”. Uma das estratégias encontradas pela empresa para contornar esse problema foi a de trabalhar com representantes que apresentam aos clientes os diferenciais do produto artesanal. “Dizemos que as pessoas não estão comprando simplesmente um produto. Há toda uma história por trás”.
Ricardo Pedroso, idealizador do Projeto Terra, chamou a atenção para a importância de ser rigoroso na seleção de produtos em termos de design. “No começo, chamávamos Projeto Terra Comércio Solidário. Depois, tiramos o ‘Comércio Solidário’ do nome, porque percebemos que algumas pessoas entravam na loja e saíam se sentindo culpadas por não terem comprado nada. Aí, não voltam mais! Abomino a história de que a pessoa comprou para ‘ajudar os coitadinhos’. Tem que comprar porque o produto é bonito e está com os atributos certos”.
Patrícia Luisa Santana, Coordenadora do Programa Caras do Brasil, do Grupo Pão de Açúcar, contou que o projeto foi criado em 2002 com o objetivo de abrir um canal de comercialização para o pequeno produtor. “Haviam muitos projetos voltados para a capacitação e desenvolvimento de pequenos grupos, mas quando chegávamos para visitá-los, a grande dificuldade era a comercialização”.
Já Andressa Trivelli, da Tekoha Brindes Sustentáveis, afirmou que o problema da comercialização de artesanato, não é mais a inexistência de canais de comercialização. “Há 15 anos, não existia internet. Ligar para uma comunidade, era um problema muito sério. Hoje, isso mudou”.
O comércio pela internet foi o tema da palestra de Jaques Weltman, sócio do Airu. De acordo com ele, o ponto crucial da venda online é o atendimento. “Quanto mais longe o consumidor está do produto, mais inseguro ele fica e, por isso, necessita de mais interações. Somente um atendimento rápido, detalhista e paciente dá segurança a quem está comprando”.
Na terceira e última mesa do dia, o foco foram as “Políticas públicas para o artesanato”. Lizete Prata, Diretora Executiva da Associação Mundaréu, defendeu a ideia de que não existe uma política pública voltada para o artesanato. “O que temos são ações desagregadas, sem lógica entre si. Acho que chegou a hora de nos colocarmos como interlocutores qualificados para construir a viabilidade econômica desses empreendimentos”.
De acordo com Maíra Fontenele Santana, Coordenadora Nacional da Carteira de Projetos de Artesanato do Sebrae, “Para que possamos desenvolver políticas públicas, precisamos, basicamente, de duas coisas: dados do setor e representatividade”. O desafio, segundo ela, é a formação política do artesão. “Formação política não é em quem eu devo votar. Está além disso. Começa pela autoestima, para que, a partir daí, a pessoa se veja como um cidadão, como alguém que merece direitos e possa lutar por eles”.
Com experiência no primeiro, segundo e terceiro setor, Warny Moreira Santana, Superintendente da Sutaco, observou que “É o terceiro setor, junto com as comunidades, que conseguem fazer pressão para que haja uma política pública”. Em suas palavras, “Essa política pública só vai ocorrer a partir do empoderamento das pessoas”.
Encerrando o dia de debates, Renata Mellão, anunciou a formação de uma rede de profissionais que atuam na área, convidando todos os interessados a participar. “Acho que todo mundo vai sair daqui com a cabeça borbulhando e com a vontade de querer fazer alguma coisa. Vamos aproveitar essa onda”.