Brincar
livremente, sem julgamento, com alegria. Brincar com o corpo, com os outros,
com a família, desenvolvendo valores e resgatando o caráter festivo da
brincadeira. Brincar em comunicação com o planeta, tendo a natureza como fonte,
usando o mínimo de material disponível, potencializando-o ao máximo pela a
imaginação. Estas são algumas das ideias transportadas para matéria nos cerca
de 170 brinquedos que compõem SATORILAB
A Infância em Jogo. Realizada por A CASA museu do objeto brasileiro em
parceria com o Senac São Paulo, a exposição ocupa a sede do museu de 12 de setembro a 18
de outubro.
A
mostra reúne parte da produção do projeto SATORILAB, laboratórios de design experimental com
materiais recicláveis idealizados
pelos argentinos Alejandro Sarmiento, designer industrial, e Luján Cambariere,
jornalista especializada em design. As peças foram criadas em oficinas coordenadas pela dupla entre 2007 e
2013, com mais de 800 estudantes
de design e arquitetura da Argentina,
Brasil, Chile e Colômbia. “Nos
anos desta experiência, o resultado mais lindo não são as belas peças, mas a
semente que fica em cada aluno de compreender que é crucial sentir-se criança outra vez e brincar como na infância
para experimentar e desenhar, porque aí está nosso maior acervo material e
imaterial”,
considera a coordeandora Luján Cambariere.
Os brinquedos foram
produzidos a partir de resíduos industriais de empresas como Adidas, Natura e
Chilli Beans. Assim, embalagens de cosméticos se transformam em robôs, lentes
de óculos escuros servem de asas de uma mariposa, restos da fabricação de um
tênis se tornam uma nave espacial. “Costumamos dizer que os resíduos industriais são ‘o lixo
mais silencioso’ porque ninguém sabe a quantidade de coisas que se descartam
todos os dias. Dar-lhes vida nova é uma oportunidade muito interessante de
vários pontos vista: para os alunos, representa um impulso criativo e um grande
aprendizado de trabalhar com o mínimo de material e o máximo de criatividade e,
ainda, é uma tomada de consciência deste ciclo de consumo e obsolência
programada da qual, de algum modo, são responsáveis. Para as empresas e para o
público em geral, é uma oportunidade de ter contato com o que descartamos, o
que muitas vezes é a matéria-prima que permite o desenvolvimento de vários
projetos sociais”, comenta a jornalista.
Para testar os brinquedos eram criados júris formados por crianças. Por
vezes, também, como algumas das oficinas aconteceram em espaços abertos ao
público, haviam crianças passantes que paravam e experimentavam as peças. Segundo
Luján, “As crianças receberam os brinquedos fantasticamente, e por vários
motivos. Principalmente porque são brinquedos que os permitem brincar interagindo
e colocando algo de si na brincadeira. Não como muitos brinquedos atuais, que
de algum modo, já lhes oferecem tudo pronto – falam, caminham... Além de tudo,
ao estarem feitos com tanto amor e energia, os brinquedos têm uma alma especial
que, sem dúvidas, se transmite para adultos e crianças. Têm vida”.