Fale um pouco sobre sua trajetória. Nascida no
sul de Minas Gerais, você começou a trabalhar com a arte moveleira quando se
mudou para um sítio em Louveira, no interior de São Paulo, e em 1988 fundou a
ETEL Interiores, na cidade de Valinhos. Como aconteceu todo esse processo?
É uma
história singular, porque eu não fiz arquitetura nem desenho industrial. Eu fiz
História da Arte, estudei muito a história da arte. O que me levou a trabalhar
com a marcenaria foi a arte. De tudo o que eu estudei, de tudo o que eu
pesquisava em viagens, sempre o que me encantava era a arte. Dessa forma, eu fui
descobrindo a arte na movelaria, no design, na construção de uma peça, de uma
cadeira, de uma credencia, de uma mesa. No início, em 1984, eu comecei
restaurando peças de época na garagem do meu sítio. Para isso, eu pesquisava em
antiquários qual era o local e a época de origem daquela peça. Assim, comecei a
descobrir muitas coisas interessantes sobre esses objetos. E, para ajudar, tudo
acabou começando como um trabalho social, com um marceneiro que tinha construído
a minha casa. Como eu sou mais de ensinar a pescar do que a dar o peixe, quando
ele começou a me pedir dinheiro emprestado eu disse: “Não, você me ajuda a
restaurar os móveis que eu divido as coisas com você”. E, assim, uma sucessão
de acontecimentos foi se desenrolando.
Comecei
a trabalhar muito com o Fúlvio Nanni na década de 1980. Aliás, o Fúlvio foi meu
grande padrinho, meu grande abridor de portas aqui em São Paulo. Ele me
escondeu por dois anos; não falava para ninguém quem estava fazendo as coisas
para ele. A primeira pessoa para quem ele contou foi a Cláudia
Moreira Salles,
e após esse episódio nós começamos a trabalhar juntas. Na época em que eu
montei a loja na Virgílio, na Vila Madalena, só tinha o Carlos
Motta. Quando eu abri essa loja a minha intenção era
inaugurar um ambiente que representasse a força de tudo o que eu tinha na minha
essência. Para mim, todo negócio ou toda ação que você faz na vida deve ser
acompanhada de uma essência, pois é ela que vai te segurar e te dar um norte.
Eu sempre fui uma pessoa muito obcecada, muito determinada, portanto sempre
procurei agir de acordo com a minha essência.
Na época,
para encontrar alguém que me ajudasse, eu fui até o Liceu de Artes e Ofícios,
porque tinha que existir alguém que fizesse aquela arte que eu estudava,
pesquisava e encontrava em peças de época. Depois de um determinado período eu encontrei
um mestre, o Moacir, que está comigo até hoje, há 30 anos. Ele é uma pessoa
maravilhosa. Ele me ajudou muito com cinco meninos que estavam comigo lá no
sítio de Louveira. Eles moravam lá numa casa que eu tinha no sítio. Era uma
coisa bem interessante. O Moacir, no início, vinha para o sítio todos os
sábados, mas teve um momento em que não dava mais para ele vir só um dia da
semana, porque os negócios começaram a crescer muito. Todo o trabalho fazia
parte de um processo muito singular, ímpar, que fugia do habitual. Eu, pensando
em elementos da alta-costura, virava o móvel do avesso, trabalhando tudo no
encaixe. Sobre esse meu modo de trabalhar, o Moacir dizia: “Dona, lá dentro da
gaveta não precisa, ninguém vai ver”, e eu respondia “Mas eu vejo, eu sei como
está todo o interior do móvel”.
A ETEL é
centrada no conceito da alta-costura. Se você virar um dos nossos móveis do
avesso, verá que é perfeito. Desse modo, o negócio explodiu. Quando eu montei a
loja, a fábrica já existia há 7 anos. Num determinado dia, entrou na loja um
intelectual carioca que ficou fascinado com o que viu. Eu nunca ficava na loja,
mas naquele dia, excepcionalmente, eu estava lá e fui atendê-lo. Ele dizia: “Nossa,
que impressionante. É de família? Tem tradição?”. Eu disse: “Não, mas tem uma
história por trás de tudo. O senhor quer ouvir?”. Ele me respondeu: “Não, não
precisa contar. Mas há quanto tempo você faz isso?”. Eu, achando que sete anos
era um tempão, falei isso para ele. Muito surpreso, ele respondeu “Sete anos?! Não
quero ouvir sua história, porque é impossível que em sete anos alguém consiga
fazer isso”.
Sempre
digo que a história da minha vida está escrita nas estrelas. Quando eu conheci o
Jorge
Zalszupin – que tem uma trajetória de vida muito forte, sendo
refugiado de guerra, inclusive – ele me disse que a vida dele era uma sucessão
de milagres e que eu era mais um deles. Então, toda a minha trajetória sempre
foi meio lúdica, meio mágica, até mesmo com o meu envolvimento com a natureza. Eu
sempre amei o verde, a lua, a natureza de forma geral, tanto que já fui levada
para a Amazônia. A ETEL também foi a primeira movelaria no Brasil a ser
certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC), por conta do
nosso uso responsável da madeira.
Em
resumo, gosto de dizer que tive uma trajetória sempre orientada por uma
essência muito forte, desde o início. Para mim, a ETEL tem o ambiental, o
social e o econômico. E não digo isso porque a sustentabilidade está em moda
hoje em dia. Desde o início, comecei trabalhando com o social, com o econômico
e valorizando a madeira. Na época só se usava mogno, ninguém conhecia ou
trabalhava com outras espécies. Eu, em contrapartida, entrei nesse ramo
utilizando uma diversidade de outras espécies. Somente depois é que veio o FSC,
com a proposta de usar a diversidade da floresta. E, ao meu ver, essa é uma
ação muito positiva, porque no Brasil nós temos muitas espécies diferentes de
madeira, como timbaúba, muirapiranga,
freijó, sucupira, maru e tauari branco, por exemplo. Assim, com essa
diversidade de madeiras, podemos testá-las para ver qual pode ser usada em
movelaria – afinal, não são todos os tipos que são bons para se fazer uma peça,
um móvel ou uma cadeira.
Nessa
sequência de eventos, o Fúlvio abriu para a Claudia, e depois disso os negócios
só se ampliaram. O Fúlvio começou a liberar e eu fiz um trabalho com o Ucho
Carvalho também, na Formatex que ficava na Oscar Freire, mas, hoje em dia, nem
existe mais. Quando eu abri a loja em 1993, há vinte anos, aí a iniciativa foi
para o mundo, porque o trabalho que a gente desenvolveu se tornou um
diferencial no mercado. Ganhamos até um prêmio em Londres com uma peça do Isay Weinfeld,
pelo desenho, construção e por trabalhar com o conceito de sustentabilidade.
Em sua opinião,
quais foram as características da arte moveleira que mais contribuíram para que
você se interessasse por essa área?
O que
mais me encanta na arte da marcenaria são os encaixes e o acabamento. Quando
você vê uma peça pronta, você não sabe a arte que está por trás daquele objeto.
É tudo feito à mão, no formão, de modo artesanal. Desse modo, eu falo que aqui
você não compra uma cadeira, mas você compra uma escultura. Você compra uma
peça ou um móvel, abre a gaveta e vê aqueles cabos de andorinha, aqueles
encaixes. Isso, para mim, é arte: os movimentos que a gente consegue fazer com
a madeira.
Nesse
mesmo sentido, o acabamento também é algo que me interessa muito. Cada madeira e
cada artesão possuem a sua própria personalidade. Assim, a face e a
característica de cada artesão ficam marcadas na peça que ele produz. É como um
pintor que deixa as suas pinceladas: cada um tem uma técnica própria. Cada
artesão também carrega isso nas peças que ele faz. Ao vermos duas cadeiras do
mesmo estilo feitas por artesãos diferentes, sentimos a pincelada de um e a
pincelada do outro.
Muitos dizem que a sua filosofia de trabalho é
tratar a madeira como se fosse uma joia, a madeira brasileira especificamente.
Como isso ocorre? Qual a importância de se ter um cuidado tão especial com a
madeira?
Hoje, a
madeira é tão preciosa quanto um ouro ou um diamante por causa da devastação
que o homem está fazendo na natureza. Se continuarmos do jeito que estamos,
daqui a pouco a madeira não existirá mais. A Amazônia é a maior floresta
tropical do mundo e, se nós humanos a destruirmos, sofreremos grandes
consequências. Hoje em dia nós já estamos assistindo e vivenciando as mudanças
climáticas. Eu sempre comento com meus clientes que, antigamente, nossos pais
pensavam o que deixar para os filhos em termos de patrimônio, casas ou
dinheiro. Hoje, você tem que pensar no planeta e no mundo que você vai deixar
para os seus filhos. O mundo está sentindo as consequências, mas a devastação
ainda continua.
Nesse
sentido, eu acho que as pessoas devem tratar a madeira como uma coisa preciosa,
semelhante ao diamante e ao ouro. Na fábrica, por exemplo, nada se perde. A
única coisa que eu falo que não é aproveitado é o berro da lixadeira (risos), ou do desengrosso. Existem
várias peças também que a gente faz com resíduos. A serragem vai para uma
granja e tudo é reciclado. Também já participei de um evento que se chamava Joias
da Floresta. Nessa ocasião, produzi joias mesmo, como
anéis de madeira, ouro e diamante.
Em 1993 você
instalou o seu primeiro showroom aqui em São Paulo, na Vila Madalena. Desde
então, uma série de designers renomados como Claudia Moreira Sales, Lia
Siqueira e Carlos Motta já contribuíram com o acervo da loja. De acordo com o
site da ETEL Interiores, esse corpo de profissionais qualificados “contribuem
para a construção e manutenção do DNA
ETEL”. Para você, o que é esse “DNA”?
Com esse
DNA da ETEL toda peça produzida é numerada. Quanto menor for a tiragem da produção,
mais valor a peça poderá ter. Todo objeto vem acompanhado pelo seu número, que
mostra quem fez, quem desenhou, a data em que foi criada e a data em que está
sendo produzida. A peça vem com uma plaquetinha de metal que traz o logo da ETEL
e esse número, que é o DNA. Vem também, acompanhado da peça, um certificado de
garantia escrito manualmente. Desse modo, se você tiver uma peça da ETEL e
amanhã quiser vender, você tem um certificado de garantia e de autenticidade.
O DNA, então, funcionaria também como um selo de
qualidade?
Isso
mesmo. Funciona como uma espécie de selo de qualidade.
Em 2013, o showroom da ETEL Interiores em São
Paulo comemorou seus 20 anos de existência. Nesse encontro foram destacados três
conceitos que, de certa forma, resumem o trabalho desenvolvido até agora. Os
conceitos apresentados foram “uma marca singular”, “uma coleção representativa”
e “um espaço que une arte e design”. Na sua visão, como esses conceitos se
articularam e se desenvolveram desde a fundação do showroom, em 1993, até
agora, em 2013?
Como eu lhe
falei, desde o início a arte sempre esteve envolvida na história. A ETEL nasceu
em virtude da arte. Na Vila Madalena, por exemplo, tínhamos um galpão que era
pura arte. No chão tinha Gaudi e nos muros eu sempre colocava obras de arte,
mas agora abri espaço também para uma exposição das fotos do Araquém.
Sempre tivemos obras do Roberto
Micoli também, gosto muito dele como artista, além de ser meu
amigo de muitos anos. Fizemos um evento misturando a arte com o design, com
biombos que eram telas do Micoli com a parte de marcenaria realizada pela ETEL.
Tivemos também as caixolas do Marcelo
Cipis, em que eu fiz a parte de madeira e ele fez a
ilustração e pintura.
A ETEL é
uma marca singular porque todos os conceitos que nós trabalhamos são verdades. Nada
do que fazemos aqui é por causa de modismos. Atuar com o design brasileiro acabou
sendo uma consequência, porque eu sempre nasci e trabalhei com isso. Assim, quando
eu comecei a reeditar e a materializar a história do design brasileiro, ninguém
conhecia, ninguém se lembrava de Jorge Zalszupin, por exemplo. Nossa loja
também virou um campo de estudo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (FAU-USP) e
da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
Na época de final de ano a loja fica cheia de alunos que vem para fazer
pesquisa.
Por fim,
a ETEL tem uma coleção representativa porque é uma marca forte. Nós temos aqui
os maiores nomes do design brasileiro, incluindo artistas contemporâneos
também. Temos Isay Weinfeld, Claudia Moreira Salles, Lia Siqueira, Carlos
Motta, entre outros. Fabricamos e comercializamos peças de todos esses
artistas.
Ao longo das
entrevistas, percebemos que o conceito de design é entendido de maneira muito
variável pelos profissionais da área. Na sua visão, o que é design?
É uma
questão difícil. Para mim, uma peça deve ter um bom desenho e ser bem elaborada.
Eu, quando vou desenhar um objeto, sempre penso na beleza, na funcionalidade e
na qualidade. Uma peça precisa ter qualidade. Uma peça tem que ser bela, porque
o primeiro sentido humano é o olhar. A beleza de um produto é o que chama a
atenção do observador num primeiro momento. Podemos até criar uma peça
diferente, que apresente formas não usuais, mas ela deve ser bonita e precisa ter
funcionalidade. Eu gosto muito da coisa lúdica também, então toda peça que eu
faço sempre tem uma surpresa. Em resumo, eu acho que design é isso: é esse conjunto
de atributos reunidos numa única peça.
Há muitos anos você está envolvida em projetos
sustentáveis que utilizam madeira de manejo florestal da região amazônica. Em
2001, como você já mencionou, a ETEL foi uma das primeiras empresas moveleiras
do Brasil a conquistar a certificação do FSC (Forest Stewardship Council). Qual
foi a importância e os impactos causados com a aquisição desse certificado para
o trabalho da ETEL Interiores?
Para
mim, a aquisição desse certificado foi muito importante porque veio ao encontro
da minha filosofia. Quando eu soube que isso existia, me surpreendi. Fui levada
para conhecer o projeto e fiquei super impressionada porque, até hoje, não
existe outra forma de se preservar a floresta a não ser pelo manejo. Na minha
opinião, o manejo é uma ferramenta muito importante de preservação. Contextualizando
um pouco com o cotidiano: você, por exemplo, é um herdeiro que ganhou uma
floresta de dinheiro, mas se você for lá e começar a derrubar as árvores aos
poucos, chega uma hora que acaba. Assim, fica aquela história: avô milionário,
pai rico e neto pobre, porque as gerações não preservam a herança. Dessa forma,
é importante divulgar esses projetos e iniciativas para todos os tipos de
pessoa. A minha dica é que quando forem comprar madeira, perguntem a origem e
vejam se ela é certificada. Se você não tem muito conhecimento sobre o assunto,
pelo menos questione. Aqui mesmo, na Alameda Gabriel Monteira da Silva, se você
perguntar se a madeira é certificada as pessoas vão responder “Sim, é
certificada”, mas se perguntar “Você sabe o que é certificação?”, as pessoas
dizem que não sabem.
Sabe que existe, mas não sabe o que é.
Sim.
Então, para mim, esse certificado foi muito importante. Como eu já pregava essa
filosofia, os impactos trazidos com o FSC vieram incentivar positivamente o
nosso trabalho.
Em 2002 você fundou a AVER Amazônia, instalada
no estado do Acre, que trabalha com a capacitação profissional dos povos da
floresta. Como surgiu esse projeto? Quais são os principais objetivos dessa
iniciativa?
Essa
floresta, com quem eu tenho ligação, é uma floresta comunitária. Na época eu
fui convidada pelo governador do estado, Jorge Viana, cuja levantava a bandeira
do “governo da floresta”. Ele queria fazer um trabalho com os seringueiros
dentro da Reserva
Chico Mendes, com todos sobrinhos, irmãos e demais parentes do
Chico Mendes, para que eles entendessem e fizessem a certificação dessa
floresta. Eu acabei me envolvendo e, do jeito que sou apaixonada por floresta e
por gente, acabei indo e montei essa oficina. Essa foi a primeira floresta
comunitária certificada no Brasil, até então só existia a Biomadeira, no
Amazonas. E depois, a segunda floresta a ser certificada foi a do Cachoeiro,
graças ao trabalho de um cientista chamado Virgílio Viana, que fez toda a
capacitação. Ele também era presidente da Imaflora,
uma das certificadoras.
Quem
cuida da floresta são os seus próprios moradores, portanto nada mais justo que projetos
como esse se desenvolvam. Eu me envolvi e estou até hoje envolvida. É longe,
tem horas que tenho vontade de desistir, mas é tão simbólico, é tão importante
para o meu coração que eu vou. Trabalhar com essas comunidades é muito gratificante.
Se cada um de nós fizesse a sua parte, o mundo seria bem melhor.
Como você enxerga a parceria entre designers e
comunidades de artesãos?
Pela
minha trajetória, eu vejo que existe uma sinergia enorme entre artesãos e
designers. Eu trabalho com 130 artesãos e a interação deles com os designers sempre
foi muito boa. Na minha opinião, o designer, o criador, precisa do artesão para
materializar as suas ideias. Eu não seria nada sem o Moacir. Eu tinha o
conhecimento da criação, do desenho, mas não sabia como fazer, como tornar
aquilo real, material. Um não vive sem o outro.
Um complementa o outro?
Sim. Um
complementa o trabalho do outro.
Os produtos que trazem a marca ETEL são
considerados hoje como a alta costura do mobiliário brasileiro. Além disso,
diversos desses produtos já alcançaram presença nos principais mercados
internacionais (como Nova York, Los Angeles, Londres, Lisboa, Zurique e
Toronto). Em sua opinião, o que ocasionou esse grande reconhecimento nacional e
internacional dos produtos confeccionados pela ETEL?
Eu acho
que são vários fatores. Primeiro, a construção, dado que é algo que quase não
existe mais no mundo. Hoje é tudo industrializado, fica tudo com a mesma
carinha, massificada. Quase ninguém usa mais a madeira sólida. Usa-se MDF,
enfim, só folhado. Aqui, na ETEL, nós usamos madeira maciça. Toda a construção
é feita à mão. Nossos produtos também apresentam uma qualidade diferenciada. Queremos
que um móvel feito hoje, daqui a quinhentos anos ainda continue impecável. Na
minha visão eu acho que o mundo está mudando um pouco seus conceitos de
valores, principalmente em relação ao descartável. As pessoas estão meio
arredias a isso. Aqui, por exemplo, há vários colecionadores que compram ETEL
como investimento: não só porque são peças bonitas, mas porque eles sabem que
vão durar.
Nós
também temos muita seriedade, sempre nos preocupando com o DNA, com o
certificado de origem. Isso, no mercado externo, é muito valorizado. Grandes
designers brasileiros, como o Jorge Zalszupin – que, para mim, é um Picasso – não
eram conhecidos. O Branco e Preto também tem coisas lindas, só que ninguém (nem
o mercado internacional) tinha conhecimento. Quando eu comecei a reeditar obras
desses grandes designers, a mídia veio em cima e esse trabalho se espalhou no
mundo. E quando algum estrangeiro vê a qualidade da peça, aí não tem para
ninguém. Uma vez me perguntaram na Europa quanto tempo levava para fazer uma
mesa marchetada; eu falei “de um a dois meses de trabalho”. Eles ficaram
assustados, pois achavam que demorava um ano para o artesão fazer aquela peça. Então,
eu acho que tudo isso contribui para nosso sucesso e para o respeito da marca ETEL.
Pela seriedade e pelo compromisso assumido, a marca foi sendo construída por
meio do trabalho mesmo, não foi através de marketing; antigamente, eu não fazia
anúncio nenhum. A gente está sempre inovando, criando e mostrando seriedade,
compromisso, qualidade e novidade para o mercado. Dessa forma, a marca ETEL
acaba trazendo credibilidade, construída através do trabalho, do serviço
interno. Não é só o produto, mas é o serviço também. Muitas vezes, você tem até
um produto de qualidade, mas não tem uma qualidade de serviço, de compromisso.
Compromisso com a palavra: se tal dia a gente combinou de entregar, se ocorrer
qualquer imprevisto, a gente vai avisar. Não podemos deixar o cliente esperando
sem dar uma satisfação.
Esse relacionamento com o cliente é muito
importante?
Muito
importante. Tanto que nosso representante no Canadá só trabalha com a ETEL,
aqui no Brasil. Na opinião deles, nós somos a melhor marca com a qual eles
trabalham do mundo. Isso ocorre porque além da nossa qualidade, também temos
compromisso. E olha que ele trabalha com marcas alemãs, italianas, francesas,
americanas. Tudo isso acaba se tornando um diferencial da marca.
Aproveitando a recepção que os produtos da ETEL
têm no exterior, como você enxerga a percepção dos estrangeiros em relação ao
designer brasileiro?
Muito
boa. Eles ficam encantados com o que produzimos aqui. Ontem mesmo, tivemos um
casal de franceses passeando pela loja e eles saíram daqui encantados. Recentemente
fizemos uma grande exposição
no Canadá sobre o design brasileiro e as pessoas se
encantaram. Na semana de realização do evento foi vendido Niemeyer, Jorge,
Carlos Motta, Etel. O Carlos esteve aqui na semana passada com um sorriso enorme,
contente com a percepção da beleza do design brasileiro no exterior.
Desde o início, quais foram as principais
dificuldades enfrentadas pelo trabalho que você e a sua empresa desenvolvem?
Sinceramente,
foi tudo tão escrito nas estrelas, foi tudo tão mágico, que eu acho que nunca
tive dificuldade. Eu sou uma pessoa muito correta e muito séria. Minha palavra
vale mais que minha assinatura, como dizia meu pai. Então, uma das coisas que
eu mais valorizo é o respeito e o compromisso, tanto que o Fúlvio não queria
abrir mão de mim por nada.
Muito
antes de começar com o trabalho de reeditar o design brasileiro, de contar a
sua história no Brasil, eu já tinha um nome muito respeitado nesse mundo do
design. “A Etel? O trabalho dela é impecável! Ela tem compromisso”. Eu acho que
isso foi e vai ser sempre o legado da Etel para uma marca: não se prostituir, presando
sempre pela qualidade do trabalho e do serviço.
A ETEL é
uma empresa familiar, desse modo estou fazendo a minha sucessão. Por isso,
espero que minhas filhas tenham no sangue isso também, de não perder esse DNA
da ETEL: que é o respeito, a qualidade do produto e a qualidade do serviço. Eu
não vou aumentar a produção. Eu não vou ser uma indústria porque não desejo que
os nossos produtos percam a sua essência e virem outra coisa. A peça pode até
ter um bom desenho, mas não terá a mesma energia do que a gente faz hoje. Para
mim, é isso que faz a ETEL ser essa marca forte. Uma vez que você entrou aqui, você
vira nosso cliente e fica para o resto da vida. Tenho clientes que não
conseguem dar presentes se não for daqui. A casa inteira já está toda mobiliada
com peças da ETEL. Tenho cliente aqui desde a hora zero, que sabe que o nosso
trabalho tem um valor, responsabilidade e qualidade.
Assim,
de maneira geral, eu não tive muitas dificuldades porque as coisas foram
acontecendo e eu fui simplesmente acompanhando. Quando eu vi, estava lá na
Amazônia, sozinha, no Acre (risos). Eu
voava, fazia escala e não chegava nunca. Estava no fim do mundo (risos). Mas eu fui! Tudo foi se
encaminhando naturalmente, magicamente.
E para o futuro, quais são as prioridades em
seu trabalho como designer?
No ano
que vem temos mais coisas para criar. Estamos pensando em trabalhar com alguns
outros nomes do design brasileiro, que eu não posso lhe falar ainda pois
estamos em negociação. Dos contemporâneos, muitos permanecem. Provavelmente teremos
uma nova coleção do Isay Weinfeld. E tem um projeto com os novos talentos
também, pois vejo que a ETEL deve dar chance para outras pessoas boas que estão
nascendo no mercado. Eu, Carlos Motta e Maria Cecília Loschiavo (que é da Academia),
queremos montar um conselho aqui na ETEL também, para atuar com a curadoria.
Nós sempre fizemos uma curadoria, mas eu sempre penso muito com a minha
intuição, olhando a personalidade, se o santo bate ou não bate, se o desenho
tem qualidade. Você pode ver que aqui tem Isay, Niemeyer, Claudia Moreira
Salles, Jorge Zalszupin, e todo mundo se conversa. Todo mundo interage, ninguém
está fora do contexto. Essa é nossa força. Então, esses novos talentos também
devem ter essa mesma linguagem, devem dialogar com o que temos. Estes são os
projetos futuros para 2014, 2015.