COLEÇÕES
BRANCO & PRETO
Publicado por A CASA em 7 de Abril de 2014
Por ETEL

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O local era São Paulo e o ano, 1950. Uma cidade ainda provinciana assiste a um grupo de jovens arquitetos, idealistas e influenciados pelo Zeitgeist daquela época, criar uma nova ordem arquitetônica como resposta à ordem mundial do pós-guerra.
Tempos em que a comunicação não era farta e a importação era rara, que exigiam soluções locais para um novo problema: como decorar e ambientar os modernos projetos que saíam das pranchetas daquele grupo?
Jacob Ruchti vinha de uma experiência pioneira que fizera época em São Paulo: o Instituto Arte Contemporânea (IAC), uma escola de design dentro do MASP, sob a direção de Lima Bo e Pietro Maria Bardi.
Miguel Forte, contemporâneo de Jacob no curso de arquitetura da Escola de Engenharia Mackenzie, formou-se em 1940 e em pouco tempo montou seu escritório, voltado a projetos residenciais. Para os projetos maiores associava-se s Jacob Ruchti, e juntos venceram o concurso para a nova sede do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), em 1947. Também fizeram uma histórica peregrinação pela Meca da arquitetura da época e conheceram Frank Lloyd Wright em Taliesin, o mítico retiro da primeira fase do grande arquiteto. Estiveram também com Calder e, em Nova York, com o diretor do MoMA, Phillip Johnson. Assistiram à montagem de uma grande mostra dedicada ao mobiliário e ao design modernos e renderam-se à inventividade de Isamu Noguchi e Charles Eames. Estava plantada a semente.
Plinio Croce e Roberto Aflalo também se formaram no Mackenzie, em 1946 e 1950, respectivamente. Abriram escritório próprio em 1950. Plinio já tinha trabalhado na filial paulistana do renomado escritório do designer americano Raymond Lowey: e Roberto Aflalo tinha algumas experiências em desenho de mobiliário para a Ambiente, indústria brasileira pioneira na fabricação de móveis modernos. Uma dessas experiências foi a mesinha aranha que Aflalo desenhou, e que mais tarde foi incorporada ao acervo do Branco&Preto.
Carlos Millan era outro paladino do modernismo saído da Faculdade de Arquitetura Mackenzie. Ainda estudante fundou com alguns colegas a revista Pilotis, que foi fonte de ensino e referência de uma geração de arquitetos paulistanos. Millan, um obcecado por detalhes, via a arquitetura - estrutura, materiais, acabamento e mobiliário como um todo, uma forma de religião.
As coisas aconteceram naturalmente. Sentindo falta de um mobiliário que representasse a arquitetura que praticavam, o grupo de amigos se uniu em torno de uma ideia de Roberto Aflalo: fazer uma loja que vendesse móveis de desenho moderno, com matéria-prima brasileira e acabamento impecável. Sob a influência de designers da época, como Paul McCobb, o grupo mergulhou na tarefa de desenhar e produzir um acervo à altura das mais significativas peças do mobiliário brasileiro.
"Todo mundo participou, deu palpites e havia um fato importante, ninguém era a ?prima-dona? nos trabalhos da equipe. Nós nos entendíamos perfeitamente em todos os sentidos, tanto que fizemos vários trabalhos de arquitetura em conjunto, sempre em perfeita harmonia. Daí resultou o projeto da loja. Começamos a desenhar os primeiros móveis e mandamos executá-los com urgência para a inauguração da loja. E já na abertura, o resultado foi imediato. Todo mundo gostou dos móveis e entusiasmou-se pela loja. Tanto que acabou se tornando um ponto de encontro de arquitetos. Todas as vezes que algum colega passava pela rua entrava na loja para discutir nossos projetos".
Fonte: ETEL