Figura 1: Retraços de malha doados ao GLACOL resultantes do processo de corte dos tecidos na empresa Fiori Oliveira Confecções Ltda
ARTIGO
A TODO PANO: UMA EXPERIÊNCIA EM DESIGN NA PRODUÇÃO ARTESANAL DE BOLSAS FEMININAS
Publicado por A CASA em 20 de Outubro de 2014
Por
Luciana Bugarin Caracas
,
Denilson Moreira Santos
,
Elí James da Silva Guedêlha
, Inez Maria Leite da Silva
e Francisco de Assis Sousa Lobo

Tamanho da letra
Resumo
Este
artigo registra uma intervenção do design em comunidade da perifeira da
cidade de São Luís e sua produção artesanal de bolsas femininas.
Abordam-se questões relativas à economia solidária, sustentabilidade,
artesanato e trabalhos manuais, design e moda. Descreve-se a metodologia
aplicada e apresentam-se os produtos resultantes do trabalho
colaborativo.
Palavras Chave: bolsas artesanais; economia solidária; design sustentável.
Abstract
This article registers the design intervention within a community in a suburb zone in São Luís/MA
and its handmade production of women's bags. Issues related to
solidarity economy, sustainability, handicraft, design and fashion are
approached. The methodology applied is described and the resulting
products from the cooperative work are presented.
Keywords: handmade bags; solidarity economy; sustainable design.
1. Introdução
Cooperação, economia solidária, empreendedorismo, geração de renda, voluntariado, artesanato e sustentabilidade são palavras cada vez mais presentes em nosso cotidiano sinalizando outra via de integração aos que tem dificuldades de acesso ao trabalho, à educação, saúde, alimentação e demais itens indispensáveis para uma vida digna.
E, no contingente de brasileiros sem emprego formal, as mulheres representam a maioria, sendo deslocadas para atividades como serviços domésticos, artesanato e outras tarefas manuais, vistas como trabalhos tipicamente femininos, de baixa ou nenhuma remuneração, ou sequer valorizadas.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio – MDIC (SEBRAE, 2008), dos quase 8,5 milhões de cidadãos que obtém seus rendimentos do segmento artesanal no país, a maioria é constituída por mulheres que se ocupam das mais diversas técnicas: cestaria, tecelagem, bijuterias, costura, cerâmica, rendas, etc.
Recentemente, tem havido uma grande aceitação dos produtos artesanais em contraposição aos artefatos industriais padronizados e repetitivos. Cientes disso, uma série de iniciativas para a valorização do fazer manual surgiu no país, como as parcerias estabelecidas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE que vem fomentando, desde 1991, o contato entre o artesão e a expertise de áreas como o design, a gestão e o marketing.
Assim, neste potencial mercadológico de forte apelo social, a intervenção do design em comunidades/grupos de baixa renda é um campo de atuação para designers desde que utilizem uma abordagem específica ou adaptada a esse público, podendo ainda, contar como parceiros: o poder público; as empresas privadas; e o terceiro setor.
Diante deste contexto, em 2004 o SEBRAE/MA em parceira com o Grupo de Apoio às Comunidades Carentes do Maranhão – GACC/MA, implementou o Programa Líder Solidário visando mobilizar voluntários para capacitar e aconselhar micro e pequenos empreendedores de menor poder aquisitivo. Para tanto, foi identificado no grupo de produção de bolsas artesanais - GLACOL, situado em São Luís/MA, uma demanda de melhoria na qualidade de seus produtos.
Nesse sentido, realizou-se uma intervenção em design junto ao referido grupo, que constitui o presente estudo de caso. O objetivo é registrar aspectos do trabalho desenvolvido com foco na produção de bolsas femininas artesanais, correlacionada às abordagens sobre economia solidária, artesanato, trabalhos manuais, design e moda.
2. Embasamento teórico
2.1 Economia Solidária
O mundo onde tudo é reduzido a um mercado global, em que as transações comerciais prevalecem sobre as relações humanas, a natureza, a sociedade, o indivíduo e seus valores, acabou revelando, nos extremos capitalistas, um sistema incapaz de distribuir as riquezas geradas pelo progresso, agravando o desemprego, a fome, a pobreza, entre outras mazelas.
Em contraposição, propõe-se um modelo centrado no componente gregário e cooperativo sempre presente na história humana, intimamente ligado à solidariedade, ou seja, o vínculo de apoio mútuo nas relações pessoais que valorizam a parceria, colaboração, reciprocidade e independência.
Temos então, uma economia de base solidária que compreende “o conjunto de
atividades de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores [...] sob a forma coletiva e autogerencial”. (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2006).
Este importante segmento econômico que gera no país trabalho e renda aos excluídos do processo produtivo é composto por:
a) Empreendimentos Econômicos Solidários – associações, cooperativas, grupos de produção, redes e centrais;
b) Instâncias Governamentais – administração pública federal, estadual e municipal;
c) Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento à Economia Solidária – ONGs, Fundações, Escolas Técnicas, Instituições de Ensino Superior, Centros de Pesquisa Tecnológica, SEBRAE, SENAI, SENAC, grupos religiosos e movimentos sindicais.
2.2 Artesanato e trabalhos manuais
O artesanato exemplifica apropriadamente a motivação ancestral do feito à mão de produtos que são representações materiais que denotam tradição, saberes, costumes, parentesco, lugar, religião, coletividade, criação e identidade.
E sendo bastante rico e diverso, optou-se pela seguinte definição do termo, pois a mesma se apresentou mais coerente, porém não absoluta:
Artesanato é a atividade predominantemente manual de produção de bens, exercida em ambiente doméstico ou em pequenas oficinas, postos de trabalho ou centros associativos, no qual se admite a utilização de máquinas ou ferramentas, desde que não dispensem a criatividade ou a habilidade individual e de que o agente produtor participe, diretamente, de todas ou quase todas as etapas da elaboração do produto. (BANCO DO NORDESTE DO BRASIL, 2001, p. 41)
A importância social, econômica e cultural do artesanato no Brasil é reconhecida tanto pelo seu elevado potencial na geração de renda, quanto pela valorização dos produtos como peças bem acabadas, criativas, úteis, diferenciadas e exclusivas, garantindo presença em lojas de peças sofisticadas e com alto valor comercial, tal como em eventos de moda com projeção nacional e no exterior: Fashion Rio, São Paulo Fashion Week e Minas Trend Preview, além da parceria com designers, estilistas e marcas.
Seguindo o caminho traçado pelo artesanato, tem-se o trabalho manual, também denominado manualidade, artesanato doméstico ou urbano, relacionado a:
Atividades que exigem destreza e habilidade, mas utilizam moldes e padrões prédefinidos, muitas vezes desvinculados da cultura local, para a feitura de objetos, a partir de matéria-prima geralmente industrializada, que não resultam de um processo criativo efetivo, mas da reprodução e cópia de padrões de uso universal. (SEBRAE, 2004, p. 21-15)
Dessa forma, na ausência de ancestralidades, o artesanato doméstico tende a vislumbrar artifícios que lhe “agreguem lastro, referências e valores culturais” (LIMA, 2005) como o envolvimento das habilidades femininas ou de comunidades carentes, a criação baseada em inspirações locais e a ressignificação de materiais descartados.
2.3 Design: vertentes sustentável e social
Artesanato e trabalhos manuais relacionam-se cada vez mais ao design, entendido como “a atividade criativa interdisciplinar que estabelece, por meio de um planejamento, as qualidades de diferentes objetos, processos, serviços e sistemas” (INTERNATIONAL COUNCIL OF SOCIETIES OF INDUSTRIAL DESIGN, 2007), com base em parâmetros sócio-culturais, ecológicos, tecnológicos, formais e funcionais.
Dependendo do enfoque abordado para um novo produto, o designer pode fornecer algumas contribuições (BONSIEPE, 1997), enumeradas a seguir: observação e análise do mercado, especificação funcional, de uso e detalhes técnico-formais dos produtos (materiais, fabricação, acabamentos, cores e texturas), prospecção de cenários de uso para novos produtos, conceituação, interpretação de testes aplicados ao consumidor e análise da viabilidade ambiental de projetos.
Com os produtos cada vez mais parecidos em forma, função, qualidade e preço, as empresas nacionais viram-se obrigadas a investir em design para se diferenciarem dos concorrentes, atribuindo a seus produtos um “estilo brasileiro” que se destaca não necessariamente por envolver alta tecnologia em sua fabricação, mas pelo diferencial estéticofuncional que traz consigo.
Há, também, a expectativa pelo desenvolvimento de artefatos com base na ecoeficiência de sistemas ou no design sustentável, também denominado ecodesign e design orientado ao meio ambiente, pautado nos seguintes preceitos (PEREIRA, 1996):
a) Parcimônia – otimização das fontes produtivas (naturais, materiais, humanas e tecnológicas);
b) Infrafuncionalidade – reutilização, após o descarte, de produtos com funções secundárias;
c) Modularidade – combinação de bens segundo as conveniências do usuário;
d) Perenidade – ciclo de vida duradouro, biodegradação, reciclagem, fácil manutenção, reparo, desmontagem ou atualização;
e) Limpeza – ausência de poluentes ou elementos tóxicos.
A redução dos impactos ambientais está presente ainda no redesign ecológico de produtos (MANZINI, 1991 apud RAMOS, 2001) que se preocupa em evitar grandes alterações nos artefatos e processos tecnológicos atuais, empregar menos material, recusar componentes danosos e prolongar a vida útil dos objetos ou retardar sua obsolescência.
Aos requisitos funcionais, estéticos, tecnológicos e ambientais deve-se adicionar o critério social, defendido somente a partir da década de 1970 por Vitor Papaneck em seu livro Design for the real world (Design para o mundo real), dando início à busca por outros modelos de atuação de designers com o objetivo de “desenvolver programas de design para necessidades sociais” (MARGOLIN; MARGOLIN, 2004) de idosos, enfermos, pobres, deficientes, ou seja, pessoas que eram desconsideradas na visão mercadológica.
Enquanto não se consolida uma prática para o design socialmente responsável, as intervenções dessa natureza em grupos ou comunidades que realizam trabalho cooperativo com objetivos comuns devem considerar que:
I. A idéia de projeto autoral é descartada, pois os produtos desenvolvidos, sob a orientação do designer, pertencem às pessoas atendidas, pois os resultados gerados provêm da criação coletiva;
II. “O objetivo é divulgar e fortalecer o mercado de produtos comunitários, e não assinar produtos inovadores” (ULLMMAN, 2003, p. 122), visto que, para cada problema são obtidas soluções originais ou previsíveis, sendo importantes os benefícios sociais gerados;
III. As hierarquias inexistem, visto que tanto os conhecimentos dos orientadores/mediadores, quanto as experiências dos artesãos são relevantes;
IV. A linguagem deve ser simples, clara e adequada ao grau assimilativo das pessoas atendidas, evitando os tecnicismos e jargões;
V. O design como a “tábua de salvação” é inconcebível, pois a busca por soluções tangíveis depende da dedicação de todos os envolvidos.
2.4 Moda: considerações pertinentes
A moda como fenômeno sócio-cultural alcança uma complexidade que ultrapassa a relação do ser humano com os trajes ou vestimentas, estando intimamente conectada aos hábitos, modos, maneiras, usos, costumes e estilos, socialmente aceitos e variáveis no tempo, resultantes de fatores históricos, econômicos e culturais pertencentes a um determinado período, lugar e grupo de pessoas.
A indústria da moda no Brasil se modernizou a partir de 1994 e projetou o país no cenário mundial, passando a figurar entre os grandes exportadores de moda praia e acessórios. (SKAF, 2005).
Prova disso é que as bolsas voltadas para o público feminino tiveram seu potencial de vendas reconhecido internamente há cerca de dez anos, com a ênfase na personalização que abriu espaço para a versatilidade e ousadia dos criadores brasileiros, pois “hoje a busca da grife pela grife perde cada vez mais força [...], em detrimento da necessidade de criar e demonstrar um estilo pessoal”. (MONTANARINI, 2005, p. 85).
Com este nicho em plena expansão, observa-se o volume de estilistas, designers, empresas de confecções e fabricantes nacionais dedicados à produção de bolsas, além, dos artesãos espalhados pelo país.
Vivemos cercados pelos produtos de moda e nela, de alguma forma, todos se inserem.
Conscientes ou inconscientemente, todos consumimos roupas e complementos (calçados, bolsas, relógios, chapéus, jóias, bijuterias, etc) ou qualquer artigo posto à venda e que adote as mesmas estratégias da moda: renovação perpétua e diferenciação.
Atender à demanda de um mercado tão notável requer uma indústria organizada que planeja cada lançamento de coleções, tendo como balizador a pesquisa de tendências que decorrem de fenômenos sociais mutáveis e dinâmicos em que há o deslocamento de uma situação qualquer, determinado pelo inconsciente coletivo, por razões históricas ou induzido por leis, meios de comunicação de massa e eventos que afetam um número considerável de pessoas pertencentes num universo comum, gerando, num dado tempo transcorrido, mudanças em seus hábitos de consumo, padrão econômico, escala, etc. (KAKUTA; RIBEIRO,2007).
Desse modo, temos as tendências macroambientais ou gerais que fornecem dados demográficos, econômicos, tecnológicos, políticos, legais e sócio-culturais e as tendências microambientais ou específicas, dispondo de feiras setoriais que antecipam conceitos, cores, materiais, texturas, acabamentos, formas e aplicações das próximas temporadas para o segmento têxtil, de confecções, calçados e acessórios.
E neste último, a bolsa firmou sua presença como artigo indispensável no guarda roupa feminino, pois há muito tempo este complemento deixou de ser um mero coadjuvante no transporte e guarda de objetos, para atuar na composição do visual, juntamente com as peças do vestuário.
Como resultado, infinitos modelos deste, assim chamado, objeto do desejo feminino são lançados anualmente, atentos ao fato de que seu maior consumidor – as mulheres, trabalhadoras, mais instruídas, donas do seu próprio negócio ou ocupantes de cargos de comando, respondem hoje pela decisão de compra de toda sorte de produtos/serviços.
Por isso, a produção diversificada de bolsas para esse público tem aliado aos aspectos estéticos e funcionais, atributos ambientais na concepção das mesmas, originando as chamadas ecobolsas ou sacolas de compras (retornáveis) que têm conquistado seu espaço na preferência da consumidora brasileira graças, em parte, ao apelo sustentável e à rejeição causada pelas concorrentes feitas de plástico que não se degradam facilmente.
3. Grupo de produção artesanal - Luz da Manhã da Cidade Olímpica
O Grupo Luz da Manhã da Cidade Olímpica–GLACOL está localizado no bairro Cidade Olímpica, periferia de São Luís/MA e é composto por sete donas de casa, mães, com idade variando entre 24 e 55 anos, de baixa escolaridade e renda mensal familiar de até dois salários mínimos, que aproveitam seus talentos comuns em torno da costura para confeccionar produtos como alternativa à falta de trabalho e ocupação remunerados.
As artesãs reúnem-se diariamente na sede da Associação de Moradores do bairro e dispõem de três máquinas de costura doméstica e uma overloque, mesa, cadeiras e demais utensílios típicos de sua atividade – tesouras, agulhas, linhas, etc, empregados na produção de até dez bolsas por dia, comercializadas na vizinhança a preços que variam de R$ 7,00 a R$ 30,00.
Sobre as habilidades individuais, todas as integrantes do GLACOL sabem costurar e bordar, embora haja, entre elas, variação na destreza e rapidez. Três delas também se dedicam ao crochê e somente uma se interessa em utilizar material reciclável na feitura dos produtos.
Antes de iniciar as atividades, foi constatado capital insuficiente para a compra de tecidos a serem utilizados pelas artesãs. Este entrave foi contornado pela parceria com a Fiori Oliveira Confecções Ltda., microempresa local do setor de moda feminina, que doou ao grupo, aproximadamente 130 kg de retraços de malha (Viscolight) provenientes das aparas do corte em seu processo produtivo. Por sua vez, o SEBRAE/MA disponibilizou quarenta bolsas em algodão cru, decorrentes de uma ação do Projeto de Turismo, que se encontravam novas, intactas e sem uso ou destino definido.
Diante deste contexto, o aconselhamento coletivo prestado por um designer voluntário foi composto por um conjunto de oficinas, previamente agendadas com as artesãs, em local e horário específicos.
4. Metodologia projetual
Em se tratando da bolsa feminina artesanal, consideramos o desenvolvimento de produto de moda (RECH, 2002) fundamentado na coleta de informações (referências), definição do tema (conceito), triagem, esboços, definição de modelos e prototipagem final, associado à ótica do design (MUNARI, 1998): problema, definição e componentes do problema, coleta e análise de dados, criatividade, materiais e tecnologia, experimentação, modelo, verificação, desenho construtivo e solução.
Desse modo, partiu-se da necessidade de melhoria estético-formal das bolsas produzidas pelo GLACOL, iniciando a coleta de dados, com o devido registro fotográfico, para se identificar os produtos confeccionados pelo grupo e os similares encontrados no mercado local, na Internet, em catálogos de fabricantes, publicações de moda e comportamento, jornais e revistas semanais, obtendo informações sobre os tipos, modelagens, dimensões, formatos, materiais, fabricação, marcas, acabamento, forro, cores, texturas, mecanismos (fechamento/ abertura), alças, compartimentos e adereços.
A análise desses itens mostrou as vantagens e desvantagens das bolsas, servindo de base para gerar repertório visual/técnico, considerando também, as tendências referentes à criação de acessórios, na elaboração dos requisitos projetuais: matéria prima, estrutura, utilização, mão-de-obra, equipamentos, coerência estética e acabamentos.
Na etapa posterior, as sessões de criatividade foram direcionadas ao material disponível no grupo: bolsas de algodão cru e retraços de malha colorida (lisa/estampada).
Assim, geraram-se soluções para a remodelagem das bolsas até se chegar ao modelo sacola, por sua concepção formal e confecção simplificadas, aliadas ao apelo sustentável. No caso dos resíduos de malha, o propósito era criar elementos estéticos que cobrissem a serigrafia relativa à educação ambiental, estampada na parte frontal da bolsa de algodão.
Na etapa da criatividade, as ideias levaram a inúmeras possibilidades que foram agrupadas em três conceitos: elementos abstratos, arranjos figurativos e composições mistas.
Selecionou-se os conceitos mais interessantes, efetuando os ajustes necessários, conforme votação realizada entre as artesãs.
O próximo passo foi a elaboração do modelo da sacola destinado à experimentação tátil e avaliação formal para, em seguida, ser confeccionado o protótipo (peça-piloto) e testar as interfaces com o usuário.
Como resultado, obteve-se o redesign das bolsas doadas que foram desmontadas e recosturadas. Desenvolveram-se três alternativas para o reaproveitamento dos resíduos de malha, cuja sequência de montagem pôde ser avaliada e, posteriormente ajustada durante a elaboração dos protótipos. Os retraços de malha foram colados e/ou costurados na parte frontal das bolsas e nas alças, obedecendo a um roteiro (gabarito) conforme cada composição.
Empregou-se também as técnicas do fuxico, bordado e crochê.Ao final, uma etiqueta de papel reciclado e malha identificava o produto, atestando sua origem artesanal e informando os cuidados para conservação.
5 Conclusão
O processo de design aplicado junto ao GLACOL foi marcado pela troca de experiências, interdependências e subjetividades, impactando o método adotado (design + moda) e as etapas dele decorrentes.
Dessa forma, observou-se a evolução pessoal, comportamental e produtiva das artesãs ao emitir opiniões, aprimorar suas habilidades, assimilar informações, reconhecer e valorizar os trabalhos manuais relativos à costura, experimentando considerável autonomia ao se apoderarem do que foi vivenciado.
Quanto ao profissional (designer), este assumiu a função de orientador do grupo na busca por soluções que, em virtude das particularidades inerentes à criação coletiva de caráter social, foram as mais coerentes, tanto para o redesign da bolsa de algodão cru, quanto para o aproveitamento dos retraços de malha, permitindo que a prática projetual exercitada durante esse percurso seja registrada, ampliada, modificada, contestada e atualizada, servindo então, de parâmetro para intervenções similares.
Este saldo positivo, entretanto, requer a continuidade das assessorias em design, pois o presente trabalho configurou a primeira atividade nessa área específica junto às artesãs, de maneira programada e consistente, visando assim, manter a união, o foco e o comprometimento do grupo em torno de seu talento, bem como evoluir a partir do que foi conquistado até agora.
Referências
BANCO DO NORDESTE DO BRASIL. Ações para o desenvolvimento do artesanato nordestino. Fortaleza, 2001.
BONSIEPE, G. Design: do material ao digital. Tradução por Cláudio Dutra. Florianópolis: FIES, IEL, 1997.
DIAS, M. M. Moda e mercado do olhar. In: O consumidor: objeto da cultura. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 9-22.
GRUPO DE APOIO ÀS COMUNIDADES CARENTES DO MARANHÃO. Programa
Líder Solidário: relatório de atividades. São Luís, 2005.
INTERNATIONAL COUNCIL OF SOCIETIES OF INDUSTRIAL DESIGN. Definition of
design. In: Icsid, 2007. (http://www.icsid.org).
KAKUTA, S.; RIBEIRO, J. Trends Brasil: tendências de negócios para micro e pequenas empresas. Porto Alegre: SEBRAE/RS, 2007.
LIMA, R. Artesanato: cinco pontos para discussão. In: Portal Iphan, 2007.
(http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=569).
MARGOLIN, V.; MARGOLIN, S. Um “modelo social” de design: questões de prática e
pesquisa. Design em foco. Salvador: UNEB, v. 01, n. 001, p. 43-48, jul./dez. 2004.
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Secretaria Nacional de Economia Solidária. Atlas da Economia Solidária no Brasil: 2005. Brasília, DF, 2006.
MONTANARINI, H. Um toque de personalidade. In: Um olhar sobre o design brasileiro. 2. ed. atual. ampl. São Paulo: Objeto Brasil, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005. Cap. Indumentária, p. 84-91.
MUNARI, B. Das coisas nascem coisas. Tradução por José Manuel de Vasconcelos. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
PEREIRA, A. F. O design e o uso de materiais sob uma visão ecológica. In: Congresso de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, 2., Belo Horizonte, 1 a 4 nov. 1996. Anais do II Congresso de Pesquisa e Desenvolvimento em Design. Rio de Janeiro: Estudos em Design, 1996. p. 13-21.
RAMOS, J. Alternativas para o projeto ecológico de produtos. 2001. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
RECH, S. R. Moda: por um fio de qualidade. Florianópolis: UDESC, 2002.
SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS. Artesanato: um negócio genuinamente brasileiro. Brasília, DF, 2008. Edição comemorativa 10 anos. Programa Sebrae de Artesanato: termo de referência. Brasília, DF, 2004.
SKAF, P. São Paulo Fashion Week e a indústria da moda. In: Um olhar sobre o design brasileiro. 2. ed. atual. ampl. São Paulo: Objeto Brasil, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005. Cap. Indumentária, p. 74-79.
ULLMANN, C. Para um design solidário e sustentável. In: Comércio Ético e Solidário no Brasil. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert, ILDES, 2003. Cap. Interfaces e experiências em um ambiente ético e solidário, p. 119-123