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Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi na Casa de Vidro (foto: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi)


MATÉRIA DO MÊS

LINA BO BARDI E SUA PAIXÃO PELAS CULTURAS E AS ARTES POPULARES BRASILEIRAS

Publicado por A CASA em 12 de Setembto de 2014
Por Agda Sardinha

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"Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi esse lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, é minha 'Pátria de Escolha', e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri, ao Triângulo Mineiro, às cidades do Interior e as da Fronteira”. 

Em virtude das comemorações do centenário de nascimento da arquiteta Lina Bo Bardi (Roma, Itália, 1914 – São Paulo, SP, 1992), a Matéria do Mês procura desvelar a contribuição de Lina no campo das culturas e das artes populares.

A arquitetura de Lina Bo Bardi quebra a rigidez de fronteiras espaciais e busca a criação de espaços de diálogo que promovam o encontro de pessoas e o convívio social na cidade, bem como supera os limites de possibilidades de usos entre diferentes tipos de materiais. Entre os seus projetos se destacam: a Casa de Vidro (1949), o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP (1957) e o Sesc Pompeia (1977).

O pensamento humanista e libertário de Lina Bo Bardi perpassava diferentes esferas do conhecimento. O legado de Lina extrapola o campo da arquitetura, pois ela também trouxe contribuições também para o design, a museografia e a cenografia.

Entre 1958 e 1964 Lina Bo Bardi morou em Salvador, BA. Nesse período, ela entrou em contato com as matrizes das culturas e das artes populares do Nordeste. A partir de 1959, ela projeta o restauro do Solar do Unhão, um conjunto arquitetônico do século XVI, e sua adaptação para abrigar a sede do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Em 1963, Lina inaugura nesse espaço o Museu de Arte Popular do Unhão (MAP) com a mostra “Nordeste”, que contava com artefatos feitos de madeira e de argila, peças feitas de material reciclado, ex-votos, santos e objetos do Candomblé. O projeto de Lina para o Solar era muito mais amplo, ela desejava criar uma Universidade Popular que unisse escolas de desenho industrial e de artesanato, pois ela acreditava que a industrialização brasileira poderia se desenvolver a partir das matrizes  culturais do Brasil.

Do encontro entre Lina e o Nordeste veio a transformação que influenciaria os trabalhos posteriores da arquiteta:  a articulação entre o popular e o moderno, que pode ser observada em trabalhos como  a “Cadeira de beira de estrada”, criada por ela em 1967, e a “Grande Vaca Mecânica” idealizada por Lina em parceria com o arquiteto Marcelo Suzuki.

Lina Bo Bardi possuía um olhar sensível para a cultura popular brasileira. Ela não via a arte popular como “folclore” e sim como algo que “que define a atitude progressiva da cultura ligada a problemas reais”[1]. Para Lina: “Arte popular é o que está mais longe daquilo que se costuma chamar de Arte pela Arte. Arte popular, neste sentido, é o que mais perto está da necessidade de cada dia, NÃO-ALIENAÇÃO, possibilidade em todos os sentidos. (...). Precisamos desmitificar imediatamente qualquer romantismo a respeito da arte popular, precisamos nos libertar de toda mitologia paternalista, precisamos ver, com frieza crítica e objetividade histórica, dentro do quadro da cultura brasileira, qual o lugar que à arte popular compete, qual sua verdadeira significação, qual o seu aproveitamento fora dos esquemas românticos do perigoso folclore popular”[2].

Com o olhar antropológico Lina Bo Bardi coletou diversas peças de arte popular ao longo de sua vida. Esses acervos estão salvaguardados no Instituto Lina Bo e P. M. Bardi que abriga cerca de 200 objetos de arte popular e no Centro Cultural Solar Ferrão no Pelourinho em Salvador, que guarda cerca de 800 peças oriundas da coleção organizada por ela nas décadas de 50 e 60, em sua passagem pelos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará.

Em 2014 estão previstas várias atividades e exposições que apresentam por diferentes vieses a versatilidade de Lina Bo Bardi.  Agora a expectativa é que ocorram mais mostras que exibam ao público os objetos que representam o olhar de Lina sobre a arte popular brasileira.


Notas:
[1] BARDI, Lina Bo. Tempos de Grossura: o design no impasse. Ed. Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, São Paulo, 1994, p. 37
[2] Ibid., p. 2