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RENDA-SE | João Braga

Publicado por A CASA em 13 de Abril de 2015
Por João Braga

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Tradição, domínio técnico, sensibilidade, beleza, criatividade e delicadeza: eis algumas premissas que caracterizam as rendas.
Renata Mellão, idealizadora à frente de sua equipe do museu A CASA e Dudu Bertholini, como curador, realizam a exposição RENDA-SE no intuito de documentar, valorizar, promover, divulgar, expandir e incentivar o artesanato brasileiro para o grande público que se interessa por moda, estilo e arte.
Trata-se de uma significativa exposição na qual estilistas e artistas exibem suas respectivas criações em rendas, cada um em parceria com artesãs ou comunidades de artesãs cujos domínios técnicos transformam fios e linhas num emaranhado de motivos vazados utilizando-se de pontos, formas e cores que ao mesmo tempo velam e revelam. Velam porque aparentemente cobrem; e revelam porque sutilmente mostram uma silhueta interna; todavia todos estes trabalhos também revelam muita sensibilidade e criatividade destas artesãs que são verdadeiras Aracnes no domínio dos fios transformando-os em teias, ou melhor, em rendas.
O próprio Dudu Bertholini também integra-se ao excepcional time de profissionais da moda que transformaram as teias/rendas em peças de extrema beleza. Cada um dos componentes da exposição valoriza e executa sua obra com uma artífice e/ou comunidade de rendeiras ao redor desta imensidão geográfica chamada Brasil. 
Portanto, de norte a sul, tipologias de pontos e identidades técnico-visuais são contempladas transformando sonhos em realidades nos trabalhos genuínos e especialmente desenvolvidos para a exposição. Walter Rodrigues se junta mais uma vez à Associação das Rendeiras de Morros da Mariana, com a Renda de Bilro, de Parnaíba, Piauí; Lino Villaventura trabalha a Renda Filé com Perpétua Martins, de Fortaleza, Ceará; a Renda Renascença é utilizada nos trabalhos de Adriana Barra e André Lima com o Clube de Mães de Camalaú, em Camalaú, Paraíba; Amapô e Samuel Cirnansk utilizam a Renda Irlandesa da Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora, em Divina Pastora, Sergipe; a Renda Labirinto é usada nos trabalhos da Neon/Dudu Bertholini e da Huis Clos em parceria com a ONG Caiçara, de Icapuí, Ceará; Liana Bloisi também trabalha a Renda de Bilro no exclusivo ponto “tramoia” com Elita Catarina Ramos, de Florianópolis, Santa Catarina; Martha Medeiros utiliza as Rendas Renascença e Bilro confeccionadas no sertão de Alagoas; além dos convidados Ronaldo Fraga, Alexandre Herchcovitch, as marcas Cavalera e Zuzu Angel cujos trabalhos expostos já pertencem às suas respectivas coleções; e, mencionando ainda, os acessórios de Sabrina Chapéus e Christopher Alexander.
A renda continua sendo um produto a ser historicamente investigado. É de origem europeia, datada oficialmente da segunda metade do século XVI (apesar de existirem alguns protos registros semelhantes bem anteriores) e que especialmente se desenvolveu em Veneza, Flandres (atual norte da Bélgica), França, Inglaterra e Irlanda, além daquelas também realizadas nos países da Península Ibérica.
O “ponto no ar”, como foi anteriormente chamada a renda, fosse de agulha ou de bilro, trouxe divisas a países europeus que investiram e promoveram este artesanato, especialmente à França; e chegou ao Brasil com os portugueses que aqui aportaram em 1500 e nos colonizaram.
Enquanto os lusitanos exploravam nossas riquezas naturais, como foi o caso do pau-brasil –  que forneceu a primeira matéria a ser exportada e transformada em numerários pela obtenção do pigmento avermelhado extraído da madeira para, especialmente, tingir os tecidos sofisticados do Velho Continente – a Terra de Vera Cruz importou, involuntariamente, a técnica da renda com  aqueles (as) que aqui chegavam vindos do outro lado do Atlântico. É num mesmo intervalo de tempo no qual a moda está sendo formatada no Velho Mundo, que Pindorama (Terra das Palmeiras, em tupi-guarani) é “descoberta” e que passou a fornecer a tinta para tingir tecidos e, que também vai, futuramente, acolher e hospedar a técnica da manufatura de rendas,  recém-desenvolvida na Europa.
A renda acolhe, domina, desenvolve, cria identidade própria e mostra ao mundo o quanto somos capazes de transformar conceitos em produto; técnica em arte; além do esforço de trabalho em sobrevivência.
Se a palavra renda também significa rendimento financeiro, sabemos que a renda da renda mantém inúmeras artesãs e famílias que vivem deste ofício. Que a renda, então, também possa ser compreendida e valorizada, aqui e agora, como expressão sensível, experiência estética e valor cultural.