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1 - Ilha do Ferro - Foto Eliane Guglielme


MATÉRIA DO MÊS

ENTRE ARTES E VIAGENS: ARTESANATO E TURISMO NO CASO BRASILEIRO

Publicado por A CASA em 2 de Setembto de 2015
Por Angelo Miguel

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Dissociar artesanato e turismo, certamente, é uma tarefa bastante difícil. Isso ocorre porque apesar de terem conceitos distintos, ambos estão fortemente interligados por interesses mútuos. Se por um lado o turismo pode ser compreendido como uma atividade que incentiva o turista a conhecer outros locais, regiões e culturas, por outro, o artesanato pode ser uma forma de materializar esta experiência por meio de objetos, trazendo ao visitante a possibilidade de levar consigo algo que represente uma memória afetiva ou a cultura daquele local.

“Para o turismo é interessante identificar e destacar segmentos econômicos que possibilitem a ampliação e a diversificação da oferta turística. Já para o artesanato é uma grande oportunidade de ampliação de seu mercado, além de destacar as riquezas da cultura brasileira”, afirma Maíra Santana, Coordenadora Nacional da Carteira de Projetos de Artesanato do Sebrae Nacional em Brasília.

Embora as relações entre turismo e artesanato sejam próximas, aparentemente órgãos governamentais de diversos países demonstram certa resistência para compreendê-los como atividades importantes para a economia. Provavelmente, isso se deve às inúmeras dificuldades para se coletar e produzir dados sobre como o turista enxerga e consome as produções artesanais de diversas regiões.

A falta de dados nacionais, por exemplo, é um dos fatores que podem limitar a implementação de políticas públicas de incentivo à produção artesanal. Segundo o coordenador da Rede Internacional de Desenvolvimento do Artesanato – RIDA, Indrasen Vencatachellum, a importância econômica e social do artesanato tem sido exaltada há décadas por especialistas em vários continentes. ”Entretanto, nem sempre eles têm sido ouvidos pelos tomadores de decisões e agências responsáveis, porque, entre outras razões, esta importância não é algo simples de se demonstrar com números e documentos”, afirmou em maio de 2015 durante o Congresso Internacional “Innovation Dimension in Arts and Crafts”, realizado no Irã.

Ainda durante o mesmo evento, Vencatachellum observa alguns fenômenos recentes que se configuram em pesquisas realizadas em diversas nações pela Organização Mundial do Turismo. “Um número crescente de viajantes tem relatado que as artes, o patrimônio e outras atividades culturais são seus principais interesses na hora escolher um destino. Os serviços online também têm ajudado a facilitar a vida dos turistas que desejam escolher atividades mais personalizadas e correlatas aos seus gostos pessoais”, afirma.  

No Brasil, a atuação de associações sem fins lucrativos, cooperativas e de outras instituições tem sido fundamental neste processo de reconhecimento do artesanato como um fator importante para o turismo. Sabe-se que em território nacional existem diversas regiões que se destacam pelo seu artesanato. Nesses casos, essa característica de forte expressão cultural, por si só, já é um grande atrativo para a atividade turística. 

Porém, em alguns momentos, é preciso fazer com que o artesão compreenda a importância do próprio trabalho para a manutenção da cultura daquela região. Neste sentido, Maíra Santana, do Sebrae, afirma que há inúmeras maneiras de se desenvolver o artesanato e isso vai depender da região, da atividade e de cada artesão. “É importante que o artesão se renove para se adaptar às necessidades do mercado, seja com uma simples adequação do produto, inovando por meio da inserção de matérias-primas diferentes, ou pela ampliação da linha de produtos. Obviamente, é preciso que isso seja feito sem que haja uma perda de identidade”, diz. 

Esta é uma das premissas do projeto A CASA viaja, que desde 2013 leva interessados para conhecer regiões e comunidades com forte atuação artesanal. “Estar em contato com todas as etapas de produção dessas comunidades faz com que o consumidor passe a valorizar ainda mais o seu trabalho”, afirma Eliane Guglielme, coodenadora do projeto.

Como maneira de aproveitar o momento vivenciado pelo Brasil no cenário internacional, sediando eventos como a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016, o Sebrae Nacional desenvolve algumas estratégias para o desenvolvimento do artesanato como um todo. A elevação do patamar de qualidade, o desenvolvimento de produtos de alto valor agregado e a melhoria da percepção do artesanato brasileiro pelo mercado e pelos consumidores são alguns dos fatores considerados pela instituição. “Tendo em mente que o valor do artesanato não é só para preservar a identidade cultural, trabalhamos na busca da sustentabilidade dos pequenos negócios artesanais agregando sua identidade cultural como diferencial competitivo”, revela Graziele Vilela, gestora da Carteira de Projetos de Turismo da entidade.

Em agosto de 2014, logo após o final do Mundial, A CASA desenvolveu uma matéria que traçou um breve balanço das atividades comerciais relacionadas ao setor artesanal durante os meses de junho e julho.

Dentre os projetos desenvolvidos pelo Sebrae, o projeto Brasil Original prevê capacitações, consultorias, além da realização de showrooms de artesanato nos principais shoppings das cidades, fazendo com que o artesanato se aproxime do seu consumidor final, mostrando seu valor agregado e descaracterizando o artesanato como um produto de feirinha, barato, de baixa qualidade. 

“Algo bastante relevante e que merece atenção está no fato de que os hotéis, restaurantes, agências de viagens, entre outros locais que atendem ao turista, podem e devem usar o artesanato local em sua própria decoração. Mais que isso, sempre que possível, a história por trás da peça artesanal deve ser contada para o turista. Assim, é estimulada a visitação nos locais de produção, a aquisição de souvenirs e uma consequente valorização dos artesãos”, finaliza Graziele.