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Livro conta histórias e modismos do tecido floral

Publicado por A CASA em 20 de Janeiro de 2005


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  Chita fashion

Livro conta histórias e modismos do tecido floral
Joana Dale

Assim como o futebol é o mais brasileiro dos esportes e nasceu na Inglaterra, o mais brasileiro dos tecidos, a chita, tem origem fora no país, na Índia. Nos dois casos, detalhes na certidão de nascimento ficam pequenos perto da febre em que se transformaram no Brasil. A profusão das quentes estampas florais em algodão (base original de todas as chitas) começou com a chegada de Dom João VI ao Rio de Janeiro, em 1808. Com a abertura dos portos, no mesmo ano, os ricos se deslumbraram com as roupas sóbrias e pesadas, típicas do clima europeu, e a chita tropical sobrou para vestir os escravos.

Quase duas décadas se passaram e o tecido continua firme e forte entre os brasileiros. Só que de forma mais democrática. A presença é garantida nas cortinas e toalhas de mesa em casebres nordestinos e nas saias rodadas dos vestidos nas quadrilhas da Festa de São João. Assim como encanta os fashionistas que escolheram a chita para integrar coleções recentes, como as dos estilistas André Lima, Isabela Capeto, a dupla Marco Maia e Luciano Canale, da grife Santa Ephigênia, e a criativa Alessandra Migani, da Alessa.

Uma espécie de coroação do tecido ralinho, que já foi estigmatizado como ''de pobre'', pode ser vista em forma de livro: Que chita bacana (editado pela A Casa - Museu do Objeto Brasileiro) será lançado quarta-feira na loja Novo Desenho, no Museu de Arte Moderna, aproveitando o burburinho inicial do badalado Fashion Rio.

Idealizado e coordenado por Renata Mellão e Renato Imbroisi, com texto de Maria Emilia Kubrusly, pesquisa de Liana Bloisi e ensaio fotográfico de Lena Trindade, o livro de luxo foi recheado por imagens feitas em viagens pelo país. Em 2002, a equipe foi ao Espírito Santo acompanhar a festa Ticumbi ou Baile de Congos, que acontece em janeiro, ;em Itaúnas. Na ocasião, os participantes se vestem de reis e usam capas feitas de chita. No ano seguinte, foi a vez de explorar o Nordeste e Minas Gerais.

- O povo gosta de cor, é alegre. Descobri que no Brasil a chita ganhou características particulares. Ela veio para cá como chitinha, estampa de flores miúdas, e virou o chitão, com desenhos tropicais e hibiscos imensos - conta Lena, que já era apaixonada pelo tecido, mas descobriu a história nas viagens e nas entrevistas da pesquisadora.

O chitão caiu no gosto dos brasileiros a partir de 1960 e ultimamente está em voga na moda. Uma de suas maiores fãs é a Alessa, que há exatos três anos, adotou o tecido quando elaborou suas primeiras peças.

- Queria sofisticar o popular. Numa ida ao Saara, vi os tecidos de flores e gostei, achei as cores lindas. Até então, minha referência eram aquelas divisórias de casas de pau-a-pique - conta a estilista.

Alessa é uma verdadeira mulher-chita. Ela usa o tecido em roupas de festa e decorou o quarto de dormir com a estampa, revestindo até a cama. Para sua marca, gosta de fundir padronagens nos modelos. Um tailleur ou casacos têm pelo menos quatro padrões. Para arrematar, na etiqueta de cada peça, Alessa prende uma semente da flor de chita.

Marco Maia e Luciano Canale, da Santa Ephigênia, foram outros estilistas que adaptaram a matéria-prima popular à alta costura.

- A chita é muito divertida, abusada, debochada. Para uma pessoa vestir uma roupa dessa tem que estar pelo menos de bom humor, caso contrário, nem consegue colocar no corpo. A chita tem aquela coisa: ame ou odeie - opina Luciano que, ao lado de Marco, produziu a coleção de verão 2004 da grife empregando chitão tradicional com fundo preto e ainda criou uma segunda versão pintada à mão.

Realmente é preciso ter muito bom humor para se vestir de chita. Alessa que o diga. Sua primeira aparição em público com terninho de chita numa festa onde as mulheres usavam vestidos Versace, causou furor. Ainda mais com a própria regando as flores de seu modelito com a bolsa-regador forrada de chita levada a tiracolo.


Fonte: JB on line