Em fevereiro de 2002, a Academia de Design de Eindhoven recebeu a mostra Design Solidário Brasil - Holanda, um projeto que reuniu artesãos brasileiros, de Pernambuco e São Paulo, e estudantes holandeses.
O diálogo entre designers e artesãos ocorreu por meio de protótipos elaborados pela escola holandesa a partir de uma visita inicial, em maio de 2000, às comunidades brasileiras da Frente Cultural Serrita, posteriormente substituída pela Fundação Padre João Câncio-Associação dos Artesãos do Sertão Central, ambas de Pernambuco, e da Associação Comunitária Monte Azul, de São Paulo.
A idéia de reunir artesanato e design é uma proposta que vem ganhando terreno no Brasil: veja as reportagens sobre as mostras Pernambuco - Arte Popular e Artesanato e sobre o projeto Design Tropical da Amazônia. No projeto Design Solidário, a criação baseou-se nas técnicas e temáticas tradicionais de cada comunidade: os artefatos e vestuário de couro dos vaqueiros em Pernambuco e a produção de móveis em madeira, bonecas de pano e papel reciclado em São Paulo.
O arquiteto holandês Paul Meurs, um dos idealizadores do projeto, informa que, embora houvesse nítida divisão de tarefas, “nos objetos que foram produzidos não se pode mais dizer o que é holandês e o que é brasileiro”. Segundo ele, todas as idéias nasceram na Holanda, mas foram completamente alteradas no Brasil pelo trabalho em cooperação. Meurs observa, porém, que os objetos de Serrita, no sertão pernambucano, relacionam-se mais profundamente à tradição do artesanato local. O contexto cultural do vaqueiro foi mantido por intermédio do tema do vestuário em couro, criando-se bolsas, sandálias, chinelos e acessórios que, embora inéditos na região, reproduzem a ornamentação e o bordado vazado (com recortes) característicos da cultura local.
Já no que se produziu na associação da Favela Monte Azul, zona sul de São Paulo, a ausência de tradição fez com que houvesse contribuição mais evidente do design holandês. Nas oficinas com os artesãos, foram trabalhadas basicamente as técnicas da madeira moldada e trançada em lâminas extremamente finas, introduzindo no universo dos artesãos a possibilidade de móveis e utensílios de madeira com pequenas espessuras e desenho curvilíneo. O banco desenhado pelo estudante Jeroen Koolhaas e produzido na marcenaria da Monte Azul, é um dos belos exemplos dos objetos desenvolvidos em São Paulo.
Segundo a documentação da mostra, o programa Design Solidário referencia-se na tendência atual do design internacional de procurar raízes na produção artesanal no mundo todo. A exposição esteve em cartaz no Brasil, entre dezembro e início de fevereiro, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM Higienópolis) e posteriormente no Espaço Cultural Bandepe, em Recife. Foi organizada por três entidades:
A Casa - Museu Virtual de Artes e Artefatos; The Urban Fabric (de Paul Meurs) e Academia de Design de Eindhoven.
Texto resumido a partir de reportagem de Evelise Grunow Publicada originalmente em PROJETODESIGN Edição 264 Fevereiro de 2002 |