Editorial
Sustentabilidade é, sem dúvida,
um dos termos mais característicos desse início de
século XXI. Está presente desde os discursos de líderes
mundiais até nas campanhas de marketing das grandes empresas.
Isso nos traz uma série de questões: é possível
conciliar a lógica do desenvolvimento sustentável
com a lógica empresarial atual de vender o máximo
possível? Em um mundo com mais de 6 bilhões de habitantes,
como promover avanços sociais, que obrigatoriamente implicariam
o aumento do consumo de recursos naturais, sem destruir o planeta?
No mês que marca a ampliação de nosso interesse
pelo tema da sustentabilidade e o início da parceria de A
CASA com o instituto para o desenvolvimento do design sustentável
(idds), a entrevista de Fábio Souza e iniciativas como a
do Play Rethink buscam jogar alguma luz em torno de todas essas
questões.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Que Chita Bacana, o enredo
Com curadoria de Renata Mellão e Renato
Imbroisi, exposição relembra o desfile da escola de
samba carioca Estácio de Sá, que apresentou o enredo
Que Chita Bacana, do carnavalesco Cid Carvalho. Além dos
figurinos, que pontuam a história da chita, a exposição
conta com desenhos, fotografias e vídeos. A partir de 18/05.
De segunda a sexta, das 10h às 19h. Saiba
mais.
Coleção Laïs Granato

Laïs
Granato explora todas as granulações
da argila, sua textura, cor, plasticidade e consegue resultado surpreendente:
a transforma em uma cerâmica belíssima, moderna e única.
A artista experimenta ainda a mistura de materiais, usa porcelana,
grès, terracota e óxidos. A gama de cores que se atinge
é enorme. Do vermelho envelhecido, passando pelo cru, branco
e marrom, ao verde, azul, rosa. Queimados em temperaturas altas,
os potes são finos e encantam porque trazem o primitivismo
do barro para um universo sofisticado (Paulo Klein). Veja
aqui.
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Entrevista
- Fábio Souza
"O
design sustentável não trabalha apenas a forma,
trabalha principalmente questões culturais e de comportamento"
Fábio Souza é idealizador
e diretor executivo do instituto de design para desenvolvimento
sustentável (idds).
O que é design sustentável?
Design sustentável, é um conjunto
de ferramentas, conceitos e estratégias que vão
gerar benefícios ou melhorias nos âmbitos dos
3 pilares da sustentabilidade: econômico, social e ambiental.
No entanto, quando a gente fala de design sustentável,
a gente pensa em um âmbito muito mais macro. Ou seja,
não pensa apenas em desenvolver um produto de menor
impacto ambiental trabalhando apenas os processos de fabricação,
os materiais, procurando utilizar materiais reciclados ou
provenientes de fonte renovável. Isto é, não
trabalha apenas a forma, trabalha principalmente questões
culturais e de comportamento para saber como otimizar o beneficio
daquele produto. Trata-se de mudar a questão cultural
e de uso daquele produto ou serviço.
No mundo de hoje, em que a população
ultrapassa 6 bilhões de pessoas, como a conciliar melhorias
sociais, o que necessariamente vai levar ao consumo de mais
recursos naturais, com preservação ambiental?
Uma das coisas que a gente fala muito em
Design Sustentável, é que ele tende a inverter
a polaridade do impacto. Então algo que tem hoje um
impacto muito negativo pode efetivamente causar a mesma proporção
do impacto, mas para positivo. No caso da super população,
podemos pensar o seguinte: quando você come, o que você
está fazendo? A comida é um combustível
para você usar como energia, que é necessária
para você chegar ate aqui. Então todo ser humano
é uma mini usina de energia para ele mesmo. A gente
pode falar assim: “já que eu tenho uma super
população, vou usar cada um como uma usina de
energia”. É possível fazer isso e isso
está ocorrendo em algumas universidades. Existem alguns
projetos conceituais como uma calçada em que as pessoas
vão andando e vão gerando energia. Aquele tênis
de criança em que quando ela pisa acende a luzinha
vem desse conceito. Todos os produtos que hoje são
à base de energia elétrica ou de outras fontes
podem ser feitos com energia dinâmica. Outro exemplo
de uso de energia humana é aquele relógio em
que você vai andando, vai balançando, e vai gerando
a própria energia. Dentro desse conceito existem já
academias, danceterias. É um negócio super legal.
Toda vez que o design sustentável olha para uma atividade
ou um problema, ele tende a pegar esse problema e inverter
a polaridade. Por mais que o impacto inicial seja massivo
negativamente, o design sustentável tem a capacidade
de inverter a polaridade disso e causar um impacto massivo
positivamente.
De que modo o mundo virtual da internet pode contribuir
no sentido da criação de um planeta mais sustentável?
Sabemos que a desmaterialização é uma
das estratégias mais eficazes de design sustentável
para um planeta mais sustentável. O resultado disso,
é que haverá uma mudança comportamental
nos consumidores. Usuários não vão se
apegar tanto ao material/produto, mas sim ao benefício
do mesmo, o que chamo de “conceito de benefício”
ou o início da “espiritualização
do design”. Outras conseqüências são
a menor quantidade de extração de matéria–prima
para produção e conseqüentemente menos
descarte de resíduos. Empresas poderão aplicar
uma série de estratégias para tornar seu cliente
mais fiel a marca e principalmente não haverá
mais desperdícios ao longo do ciclo de vida dos produtos,
já que serão utilizados apenas no momento necessário,
podendo ser compartilhados, ranqueados e debatidos em tempo
real por usuários de países diferentes. Sendo
compartilhados e utilizados apenas nos momentos necessários,
até mesmo os melhores produtos (que teoricamente seriam
mais caros) poderão ser mais acessíveis. Essa
é a verdadeira democratização do design.
Haverá também uma busca pela melhor qualidade
dos produtos oferecidos, pois o poder de escolha e veto estará
mais nas mãos dos consumidores. Essas possibilidades
certamente fazem por si só, a virtualização/digitalização,
uma das importantes ferramentas de um futuro menos ambientalmente
impactante, com novas possibilidades mercadológicas
e de inovação, e de uma sociedade mais interativa,
coletiva, cooperativa e democrática, tão importantes
para uma ambiente mais sustentável.
Leia
entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
REPENSANDO O MUNDO À
NOSSA VOLTA
Na
noite do último dia 16, 50 pessoas se reuniram em
A CASA para jogar o Play Rethink – the eco design
game. O evento inaugura a parceria de A CASA com instituto
de desenvolvimento para o design sustentável (idds)
e faz parte do programa abril com idds: mês para
repensar os produtos e serviços à nossa volta.
O Play Rethink é um jogo de tabuleiro criado pela
espanhola Lili de Larratea e dedicado aos designers e pessoas
que querem desenvolver soluções sustentáveis
por meio da criatividade.
Lili esteve presente em A CASA e comandou as atividades.
Ela conta que a idéia de criar o jogo surgiu enquanto
cursava o mestrado na Inglaterra, em 2003, ao perceber que
o modelo clássico de ensino com aulas e palestras
não estava envolvendo suficientemente os alunos.
Era preciso buscar alternativas e passaram-se quatro anos
até Lili chegar ao resultado final. De acordo com
ela, “a idéia principal do jogo é promover
o estilo de vida sustentável e encorajar pessoas
a repensar todos os dias aquilo que as circunda”.
Lili destaca a importância do elemento lúdico:
“quando você está jogando, é um
jeito diferente de entrar em contato com essas questões.
As pessoas gostam e no dia seguinte ainda se lembram de
que foi muito divertido”. Caio Medeiros, do Estúdio
Manus, participou do evento e revela: “achamos ótimo,
funcionou muito bem conosco, que trabalhamos num ambiente
muito particular e com poucas pessoas envolvidas. E, melhor,
é divertido e produtivo”.
Paralelamente ao jogo de tabuleiro, foi desenvolvido o
site www.playrethink.com,
que permite que as pessoas façam uploads de seus
projetos e troquem idéias online a qualquer hora
e de qualquer lugar do planeta. Para Lili, “é
preciso colocar pessoas juntas para dividir idéias.
Quando você divide idéias há um crescimento.
O site permite dividir idéias e inspirar pessoas”.
Tanto o jogo como o site, propõem formas inovadoras
para as pessoas se relacionarem com o mundo. De acordo com
Lili, “o mais interessante é que as pessoas
começam a fazer conexões com o ambiente, e
vão para a casa pensando nisso. Passam a olhar os
objetos à sua volta de um jeito diferente”.
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