Editorial
Buscando firmar-se como um local para a pesquisa e de divulgação de conhecimento, A CASA abre espaço para a publicação de monografias e teses. A seção Boa Leitura desse mês destaca um capítulo de doutorado sobre a produção artesanal em Brasília. Na entrevista, o antropólogo Antônio Arantes discute Cultura Popular e Patrimônio Material e Imaterial. Fique de olho naquilo que acontece no museu A CASA e aproveite o mês de férias para visitar a exposição Que Chita Bacana, o enredo, e para aprimorar os conhecimentos com o seminário Design de Mobiliário!
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Que Chita Bacana, o enredo
Exposição relembra o desfile da escola de samba Estácio de Sá, que apresentou o enredo Que Chita Bacana no carnaval carioca de 2009. Além dos figurinos, que pontuam a história da chita, a exposição conta com desenhos, fotografias e vídeos. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Saiba mais.
Seminário Design de Mobiliário

Ministrado pelo arquiteto italiano Luciano Deviá, o seminário tem como objetivo apresentar uma visão histórica e crítica sobre a evolução do mobiliário a partir da revolução industrial. Dias 22 e 23 de julho, das 14 às 19hs. Vagas limitadas. Informações e inscrições pelo telefone 11 3814 9711 ou e-mail. Saiba mais.
Ação sócio-ambiental: XILOCEASA e ARTESÃS DA LINHA NOVE

Formado por jovens que moram nas redondezas do CEAGESP, o XILOCEASA utiliza a tipografia como um instrumento de comunicação com suas comunidades. Já o grupo ARTESÃS DA LINHA NOVE é formado por mulheres da Favela da Linha e Favela do Nove que desenvolvem um trabalho de costura e bordado. Veja aqui.
Vídeo Play Rethink

Veja o vídeo de que conta como foi o workshop em que Lili de Latarrea apresentou o Play Rethink, jogo de tabuleiro dedicado aos designers e pessoas que querem desenvolver soluções sustentáveis por meio da criatividade. Assista aqui.
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Entrevista
- Antonio Arantes
"O problema é quando as pessoas estão impedidas de serem o que imaginam ser, ou que pensam ser. Quando se restringe de alguma forma a expressão da diferença"
Antônio Arantes é antropólogo, consultor de políticas culturais e professor de antropologia da UNICAMP.

Quais os riscos, se é que eles existem, de encarar a cultura popular como um conjunto de tradições do passado que se mantém hoje nos moldes de como ela existia?
Vamos pensar no caso extremo, que são as práticas sociais identificadas como patrimônio de um grupo, que devem ser salvaguardadas com a participação do Estado e das organizações internacionais. Um dos mandamentos é de que aquela prática cultural é dinâmica. Se ela é tão extraordinária que deve merecer uma atenção especial em nome do interesse público, esse caráter extraordinário deve gerar formas de registro e documentação refinadas de modo a que cada momento, cada expressão, cada aspecto técnico, cada sutileza, sejam registradas a cada momento na sua transformação. O registro que se faz, e a documentação que se produz a respeito de uma prática cultural em qualquer tempo e lugar é uma coisa. Agora, a prática, enquanto ação social, não pode ser preservada. Até há uma proposta museológica de construção de eco-museus e as pessoas representam certos atores sociais em determinados papéis compatíveis com o sítio preservado, por exemplo. Mas aí são atores, quer dizer, não é uma comunidade fake que foi posta num zoológico ou dentro de uma redoma. São pessoas que são pagas e isso é o trabalho delas, elas atuam para mostrar como se fazia a farinha em certo tempo, para mostrar como funciona o maquinário, como as pessoas se vestiam, que valores tinham. É uma representação, que é uma forma de documentação. Agora, paralelamente, há um processo de constante recriação, transformação e abandono mesmo. Eu fazendo um trabalho na África e lá, como você sabe, a disseminação da AIDS é muito grande. E muitos rituais fundamentais que fazem parte daquelas culturas implicam no contato de sangue. E são rituais que dão o sentido da vida da pessoa: a pessoa é alguém ou alguma coisa, está em determinada posição social, e se espera dela isso ou aquilo dependendo dos ritos pelos quais ela passa. E, se muitos desses ritos implicam em contato com sangue e se o sangue hoje dia é altamente contaminado pelo vírus do HIV, esse fato "extra-cultural" põem em cheque uma prática cultural vital para aquele grupo e eles estão tendo que enfrentar o abandono ou a redefinição de práticas importantíssimas, religiosas, de inserção do sujeito, do indivíduo e das comunidades, no cosmos, por causa de uma questão como essa.
Como você enxerga a interação entre tradição e mudança no momento em que festas populares se transformam em grandes espetáculos?
Eu acho que o carnaval foi exatamente isso, mas é interessante você ver os aspectos mais permanentes de uma atividade, no contexto de todas essas transformações. Há várias redes sociais que se articulam e dão uma sustentabilidade social, vamos dizer assim, para a atividade no seu lugar de origem. Uma delas é a dada pelos terreiros de Candomblé e, muitas vezes, algumas batidas e alguns gestos dos passistas ou dos figurantes especiais numa escola de samba, remetem a esse aspecto: a batida de determinado orixá, ou uma coreografia que sugere algum aspecto gestual do orixá. E tem certas áreas também das escolas de samba que são mais impermeáveis a mudanças de certo modo como é, por exemplo, o caso da bateria, a ala dos compositores, as baianas. Você vê que a tradição foi negociando com o mundo em transição. Porque não não é só o estado, os meios de comunicação de massa, os patrocinadores e os bicheiros. É o mundo, é uma o carnaval é uma atividade que está no mundo. Se o mundo muda, a atividade dificilmente vai permanecer a mesma, a menos que ela fosse desenvolvida num templo, num lugar absolutamente isolado, e mesmo assim ela teria que sofrer algumas mudanças de contextualização e aí você vê que, ao longo do tempo, vai havendo uma relação tensa entre aspectos da atividade que são mais nucleares, que são mais permanentes, e aspectos menos importantes, que são mais permeáveis ao mundo externo. E como se a atividade tivesse um núcleo duro e uma área envoltória, um entorno, que vai absorvendo esses acontecimentos e vai ganhando a forma do contexto em que ela se realiza. Mas mesmo esse núcleo duro vai se modificando porque, por exemplo, por um lado, para fazer parte da bateria de uma escola de samba, tem algumas pré-condições sociais e culturais, por outro, a bateria tem que se limitar às regras dos organizadores do carnaval: a escola tem que passar com uma certa distância, num certo tempo, num certo ritmo, ela tem um lugar onde ela tem que recuar para dar passagem, depois ela volta, quer dizer, isso não é só uma coreografia, isso aí imprime mudanças na musicalidade e independem da escolha dos executantes. A música tem que ser nesse tempo, o bailarino tem que dançar dessa forma em tal lugar, depois tem que repetir a coreografia em tal outro, então tem toda uma cronometragem, que é uma cronometragem de espetáculo e que não é o samba de quadra. Mas o samba de quadra está por de trás do carnaval e, por assim dizer, alimenta as relações mais imediatas tanto do grupo de carnavalescos de uma escola, como sua comunidade de apoio mais imediata. Eles vão lá comer feijoada sábado, cantam um samba juntos etc.
Como comunidades tradicionais se situam em mundo globalizado, homogeneizador e em permanente transformação?
Quando eu estive no Acre eu estava numa reunião com os Índios Waiãpi, na terra indígena, e um deles sentou do meu lado e estava usando o mesmo perfume que eu, o Eau Sauvage do Dior. E engraçado que chamava Eau Sauvage! Eu senti aquele perfume e pensei, "será?". Mas é claro, porque a gente estava do lado da Guiana Francesa. E não tem nenhum problema, ele usa o perfume e se pinta como Índio, então fica aquela pintura perfumada, fica melhor ainda! Ele não esqueceu o que é Waiãpi. Então ele está tirando um bom proveito das coisas boas de cá e de lá. Mas é claro que a gente não pode ser ingênuo e dizer "que bom, todos os índios estão vendo televisão, estão assistindo jornais, estão sabendo o que está acontecendo no mundo". Estão sabendo o que está acontecendo no mundo, mas pautado pelas empresas de comunicação, por uma ou duas em particular. É uma visão. Precisariam ter acesso a todas as demais. Mas eu acho que não dá para lamentar o compartilhamento de práticas, de valores, num mundo em que a comunicação inter-cultural e global, cresceu tanto. Eu acho que o problema é quando as pessoas estão impedidas de serem o que imaginam ser, ou que pensam ser. Quando se restringe de alguma forma a expressão da diferença. Eu acho que esse é o problema, a restrição do direito de expressar a diferença.
Leia
entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
O BOM DESIGN BRASILEIRO EM NOVA YORK

A visita à maior parte dos museus costuma terminar apenas após uma passagem, mesmo que rápida, pelas tradicionais lojinhas que ficam na saída e oferecem ao visitante desde lembrançainhas e souvenires até objetos mais rebuscados. Aclamado mundialmente, o Museu de Arte Moderna de Nova York (Museum of Modern Art - MoMA) é também famoso por sua 'lojinha', a MoMA Store, conhecida por reunir produtos de qualidade e de bom design. Estes são os últimos dias para conferir os objetos da coleção "Destination: Brazil", dedicada a produtos brasileiros.
A coleção faz parte da série "Destination: Design", que tem por objetivo selecionar trabalhos, ideias, formas e materiais característicos de diversos locais ao redor do mundo. Finlândia, Dinamarca, Buenos Aires, Berlim, Japão e Seul foram os outros locais já destacados. Para a coleção "Destiantion: Brazil", cujo logo foi desenhado pelos irmãos Campana, foram selecionados mais de 75 itens que representam uma gama variada de produtos. São peças exclusivas de diversos tipos e materiais. Há produtos para casa, móveis, peças de decoração, brinquedos, jóias e acessórios, produzidos a partir de materiais industrializados e naturais.
A história de peças brasileiras vendidas na MoMA Store nos remete ao ano de 1976, em que o premiado Talher Camping, dos designers José Carlos M. Bornancini e Nelson Ivan Petzold foi selecionado para ser vendido na loja. O objeto foi destaque pela novidade que trazia no sentido de facilitar a guarda e o transporte dos talheres: uma acomodação perfeita do garfo e da colher na própria estrutura do cabo da faca, que tinha o formato de uma bainha. Atualmente, outros produtos brasileiros como a luminária Eclipse, de Maurício Klabin e as bolsas Flip-Flop, de Francisca Ribeiro de Souza, são destaques da loja.
A coleção "Destination: Brazil" é fruto de uma visita de representantes do MoMA ao país em 2008. Muitos dos objetos foram descobertos em feiras de design, como Paralela Gift, Craft Design e na Mostra Marco 500. Há peças de todos os preços, que variam de $3.00 - Copo Americano de Nadir Figueiredo - a $8,910.00 - Corallo Chair de Humberto e Fernando Campana . Todos os objetos podem ser vistos - e comprados - pelo site do MoMA.
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A
CASA indica
A Barca

Partindo da reflexão sobre o fazer artístico e suas responsabilidades estéticas e sociais e acreditando na cultura tradicional como material de formação essencial do artista brasileiro e matéria-prima para uma criação artística universal, o grupo musical paulista A Barca mergulhou nas incontáveis manifestações populares do Brasil e procura refletir de forma abrangente sobre o papel da arte nas comunidades tradicionais. Ouça aqui.
Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana
Artes cênicas, música, patrimônio natural, literatura, artes visuais, patrimônio cultural e artes plásticas estarão presentes em diversos seminários, debates, cursos, oficinas de capacitação, apresentações culturais e pesquisa. São quase 20 dias de efervescência cultural em cidades aconchegantes e cheias de história. De 8 a 26 de julho. Saiba mais.
Sempre Modernos
Exposição tem a curadoria de Adélia Borges e exibe móveis, tapeçarias, estudos e objetos originais dos designers Joaquim Tenreiro, Sergio Rodrigues , Jorge Zalszupin e Jean Gillon. Até 25 de julho. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábado, das 10h às 15h. Passado Composto Século XX. Alameda Lorena, 1996. São Paulo, SP. Telefone: 11 3088 9128. Saiba mais.
Pintura na margem da cidade

A mostra apresenta fotos e DVDs das intervenções urbanas de Mônica Nador, que levaram cores para as casas de favelas em São Paulo e no México. Os trabalhos contaram com o apoio das comunidades, que criaram desenhos de acordo com seu repertório e realidade. A ação busca valorizar as pessoas e sua cultura e viabilizar um entorno menos hostil para as populações que habitam a periferia de grandes cidades. Até 12 de julho. De terça a domingo, das 10h às 18h. Museu da Casa Brasileira – Av. Faria Lima, 2705. São Paulo, SP. Telefone: 11 3032 3727. Saiba mais.
Boa
leitura
"Com isso, somos forçados a nos apartar daquela idéia romântica do artesão que vive meio isolado do mundo, produzindo um artefato apenas pela "arte", ou simplesmente para ser vendido a preços baixíssimos no meio da calçada de uma rua qualquer. O artesão de que estamos tratando está inserido numa rede de relações, vive num mundo globalizado, em que exportação e feiras internacionais não são realidades tão distantes. (...) A busca por conquistar o mercado consumidor torna-se uma etapa necessária para garantir a sustentabilidade do projeto de artesanato com finalidade de geração de renda, e não um fim em si mesmo. Observar esse dado permite a apreensão de novos significados para as antigas práticas".
Aline Sapiezinskas Kras Borges Canan
Artesanato de Design: uma "cara nova" para as "coisas da vovó". Capítulo da tese de doutorado De Bonecas, Flores e Bordados: Investigações Antropológicas no Campo do Artesanato em Brasília apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília.
Leia o texto na íntegra
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