A CASA - Newsletter #14 - Ano 2 | Julho de 2009

Newsletter N° 14

Julho de 2009

 

Editorial

 

O patrimônio cultural brasileiro de natureza imaterial, no que diz respeito à produção artesanal é tema de nossa matéria do mês. Nessa edição, trazemos uma breve introdução ao assunto para, em edições futuras, avaliar o impacto do registro dos modos de fazer de comunidades arteasanais no Livro do Registro dos Saberes do IPHAN. Ainda nesse número, não perca a entrevista com Nido Campolongo. Em tempos de febre da sustentabilidade, em que todos estamos preocupados com as formas de produção e com os materiais utilizados, o artista discute a importância da beleza do produto final como verdadeiro ponto de transformação da sociedade.


 

Acontece no
museu A CASA

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

Que Chita Bacana, o enredo


 

Última semana! Exposição relembra o desfile da escola de samba Estácio de Sá, que apresentou o enredo Que Chita Bacana no carnaval carioca de 2009. Além dos figurinos, que pontuam a história da chita, a exposição conta com desenhos, fotografias e vídeos. Até 07/08. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Saiba mais.

 

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Coleção Stella Ferraz

 

Dando continuidade ao projeto de reunir no museu virtual coleções de objetos das principais ceramistas brasileiras, A CASA apresenta agora obras de Stella Ferraz. A variedade e delicadeza de cores e a leveza das formas é a marca registrada dos pratos, potes, travessas, tigelas, vasos, cumbucas e jarras da artista. Veja aqui.


 

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Entrevista - Nido Campolongo

 

 

"A estética é o ponto de transformação"

 

 

Nido Campolongo é cenógrafo, designer e artista plástico. No momento está escrevendo o livro "Re - o prefixo do belo".


Quais os desafios do trabalho com reciclagem?
A minha batalha na área de reciclagem e reaproveitamento é transformar o resíduo em coisas bonitas e em coisas bem acabadas e não em coisas novamente lixo, digamos assim. A gente vê muito isso. Às vezes uma transformação proveniente de uma ONG, de um trabalho social, resulta em um produto muito tosco, mal feito, que vira um lixo pior que aquele que o originou. Aí depois você não sabe nem o que fazer com aquele material. E eu acho que quando você dá um tratamento estético que é realmente expressivo, com qualidade, o público tem uma relação diferente com aquilo. Atinge muito mais, é muito mais abrangente em termos de conscientização do que uma peça tosca. A estética é importantíssima no meu ponto de vista. Ela é o ponto de transformação. É pela estética que você consegue realmente realizar um trabalho de reciclagem.

Você cria produtos ecologicamente corretos muito antes da atual febre da sustentabilidade. Como é que você enxerga essa emergência do sustentável?

É aquela coisa, a maioria das pessoas vai ao médico quando sente uma dor, quando sente um problema, ela não procura se antecipar. E o que está acontecendo hoje é isso: o planeta está doente e as pessoas estão sentindo na pele o problema. Aí vão começar a se mexer. É lógico que existe o mercado também, a questão econômica. As empresas sabem que ser sustentável dá lucro e sustentabilidade vende. Aí então começa a ter um olhar não só pensando no ambiente, mas pensando no lucro. E isso ocorre desde macro empresas, que transformam os meios de produção, até o design autoral, como o meu. E a coisa está dando certo. Há um movimento nessa direção. Eu, por exemplo, sou designer e artista plástico, mas 90% da demanda que eu tenho é nessa área da sustentabilidade. Isso se transformou. Até uns três, quatro anos, eu vinha fazendo um trabalho e a demanda era pela estética, pelo meu design. Agora as pessoas me ligam pela sustentabilidade e nem conhecem o meu trabalho, não sabem da estética.

Com a emergência da sustentabilidade a estética perde o lugar e é posta em segundo plano? A atenção está mais voltada para as formas de produção e para os materiais utilizados do que para a beleza do objeto final produzido?
Olha, eu acho que ela pode perder sim, como ela pode ganhar. Vai depender da relação do artista, seja o designer, seja o artista plástico, com os meios de produção e com aquilo que ele apresenta. Se a estética for o objetivo principal e se ele puder agregar o sustentável, ótimo. Eu nunca penso primeiro na sustentabilidade, a sustentabilidade vem depois. Aí eu posso mudar o material, eventualmente, ou se achar que não, não mudo. E a peça existe independente disso, ela tem a sua qualidade estética. É lógico que se eu tenho uma demanda de algo sustentável eu vou procurar agregar materiais e formas de produção sustentáveis, mas no meu processo normal de pesquisa, a maioria das vezes, a minha preocupação é estética.

Você disse que tem uma paixão pelo papel. Paixão, no sentido mais comum do termo, está muito ligada a sensações físicas que agem diretamente no próprio corpo. Como é a sua relação física com o papel? O cheiro, o toque, o visual...
Essa relação existe muito com o papel e, às vezes, ele ligado à tinta. Eu tenho uma paixão por livraria. Aquilo é papel e ainda tem a mistura da tinta. Quando você abre o livro você sente. Toda a livraria tem esse cheirinho gostoso. O papel me remete a algo aconchegante, acho que pela questão da livraria e também pela questão da ligação com a infância, porque eu tinha a relação com a tipografia do meu pai. Eu lembro que quando a gente era bem criança, eu e a minha irmã gostávamos de pegar papel e ficar colocando dentro de um saco até o saco encher e ficar pulando. Às vezes era papel com tinta, às vezes era só o papel mesmo, de sobra. E tinha aquele cheiro gostoso. Eu gosto também do toque do papel. Mas o que mais me toca fisicamente é o visual. Quando eu vou numa fábrica, eu vejo a forma como aqueles tubos são organizados e dá até certa emoção, o coração fica meio acelerado, porque você acaba tendo idéias. Uma vez eu fui numa fábrica de papelão e, da forma que eu vi, tive a idéia de fazer uma cama e uma poltrona. Aí dá uma ansiedade, uma coisa de paixão mesmo, como um encontro com uma pessoa pela qual você está apaixonado. Você se emociona. Você vê aquilo e você já imagina o que aquilo vai gerar. De uma certa forma, isso é a paixão. Você vê a pessoa e você imagina algo idealizado. Você se apaixona pelo idealismo que você imaginou. É a mesma coisa. No caso do papel, a diferença é que, como não se trata de uma outra pessoa, como se trata de algo que não tem sentimentos, fica mais fácil para você realizar o seu projeto, o seu ideal, porque depende de você. A paixão com outra pessoa envolve dois, aí é mais complicado, você não tem o domínio. Aqui você tem.

 

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

 

 

Matéria do MÊS

 

 

PATRIMÔNIOS CULTURAIS BRASILEIROS

 

 

 

Em 20 de dezembro de 2002 o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras era registrado como Patrimônio Cultural do Brasil e, com isso, inaugurava o Livro de Registro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Tratava-se do primeiro registro de um bem de natureza imaterial no Brasil.

 

De acordo com o IPHAN, o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), instituído em 4 de agosto de 2000, busca “viabilizar projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão imaterial do patrimônio cultural”. Na definição da UNESCO, Patrimônio Cultural Imaterial são as “práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhe são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.

 

O Patrimônio Cultural Imaterial é, portanto, o conjunto de expressões culturais transmitidas de geração em geração, e é aí que se encaixam algumas das mais importantes produções artesanais brasileiras. Além do Ofício da Paneleiras de Goiabeiras, no Espírito Santo, o Modo de Fazer Viola-de-cocho, na Região Centro-Oeste do Brasil e, mais recentemente, o modo de fazer Renda Irlandesa produzida em Divina Pastora, em Sergipe, também foram registrados no Livro de Registro dos Saberes.

 

A formação do patrimônio e o registro de um bem é ação que provém da relação entre Estado e Sociedade Civil e é resultado de um longo processo de pesquisa e documentação. Com base em todo o conhecimento gerado durante a pesquisa, é elaborado um plano de salvaguarda que tem por objetivo promover melhorias sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam a existência do bem cultural de natureza imaterial de modo sustentável.

 

Reconhecer a importância dos bens de natureza imaterial e promover seu desenvolvimento é fundamental para a formação de um corpo cultural baseado na produção dos grupos sociais formadores da sociedade brasileira. O registro e a criação de um plano de salvaguarda constituem um passo importantíssimo para a divulgação do patrimônio de natureza imaterial. No entanto, para que as ações tragam os resultados esperados é preciso estar atento para que o plano de salvaguarda seja posto em prática. Verificar quais os impactos do registro nas comunidades artesanais das paneleiras, dos fazedores de viola-de-cocho e das rendeiras de Divina Pastora, será tema de nossas próximas newsletters!

 

 

 

 

A CASA indica

 

Arcos design

 

 

Revista, agora virtual, da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) dedica-se ao estudo dos objetos e das linguagens visuais no contexto mais amplo da sua produção e recepção. A revista divulga estudos e trabalhos científicos que priorizam o artefato: nas suas qualidades técnicas e construtivas, como expressão formal; nas suas qualidades informativas e significativas, como linguagem visual; nas suas qualidades mercadológicas e acumulativas, como objeto de consumo e de coleção.  Veja aqui.

 

 

23° Prêmio Design Museu da Casa Brasileira

 

 

Mobiliário, Utensílios, Iluminação, Têxteis, Equipamentos Eletroeletrônicos, Equipamentos de Construção, Equipamentos de Transporte e Trabalhos Escritos, são as categorias do 23° Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, que contemplará objetos e projetos em estágio de desenvolvimento, com prêmios de até R$ 6.000,00. Inscrições até 17 de agosto. Confira aqui o regulamento.

 

 

Roberto Burle Marx 100 anos: a permanência do instável

 

 

A exposição, que já foi apresentada no Rio, vem agora para São Paulo, cidade natal de Burle Marx, um dos maiores paisagistas do século XX. Entre as suas principais obras está o calçadão da Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. Até 13 de setembro. De terça a domingo e feriados, das 10h às 18h. Museu de Arte Moderna de São Paulo - Grande Sala MAM - Parque do Ibirapuera, Portão 3 - s/n° - São Paulo - SP. Telefone: 11 5085 1300. Saiba mais.

 

 

16ª Paralela Gift

 

 

Feira de produtos contemporâneos, inovadores e antenados com as tendências do design mundial, destinada a lojistas e profissionais da área. De 15 a 18 de agosto, das 9h às 19h. Expo Center Norte. Rua José Bernardo Pinto, 333. São Paulo-SP. Saiba mais.

 

 

Boa leitura

 

"O consultor figura como intermediário entre as práticas tradicionais de produção local e o mercado consumidor, cujas exigências estabelecem parâmetros globais de qualidade, e como promotor da identidade local, já que muitas vezes representa os objetivos do órgão propositor junto aos grupos, na comunidade. O seu papel é de grande importância, uma vez que o designer dialoga com todos os atores envolvidos, e ele próprio transita em cada uma das instâncias do processo, como se transitasse entre diferentes mundos".

Aline Sapiezinskas
Artesanato, Moda e Design. Capítulo da tese de doutorado "De Bonecas, Flores e Bordados: Investigações Antropológicas no Campo do Artesanato em Brasília", apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília.

 

Leia o texto na íntegra


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