A CASA - Newsletter #15 - Ano 2 | Agosto de 2009

Newsletter N°15

Agosto de 2009

 

Editorial

 

Desde que a newsletter começou a ser publicada, já foram entrevistados designers, professores universitários, pensadores, jornalistas, gerentes e coordenadores de projetos e instituições que promovem o artesanato e o design. Chegou a hora de ouvir o que artesãos tem a dizer! A entrevista desse mês é com Eronildes Correa de Menezes, artesã e presidente da Associação das Paneleiras de Goiabeiras. Ainda nesta edição, é destaque a Exposição Brasil na África, artesanato moçambicano + design brasileiro. Veja o serviço em Acontece no Museu A CASA e conheça um pouco mais dessa história em nossa matéria do mês.

 


Acontece no
museu A CASA

 

Cunha Gago, 807

 

 

Exposição Brasil na África, artesanato moçambicano + design brasileiro

 


 

Exposição traz peças feitas à mão em Moçambique, criadas e desenvolvidas por artesãos daquele país a partir de oficinas de artesanato orientadas por designers brasileiros. O projeto, que tinha por objetivo resgatar técnicas e tradições locais, delinear a identidade cultural moçambicana e local, e apurar a qualidade do produto final, resultou em uma produção de artesanato com certificado de origem, que combina estética e design, tradição e inovação. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 09/10. Saiba mais.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Exposição Virtual Que Chita Bacana,

o enredo

 

Não deu para visitar a exposição Que Chita Bacana, o enredo? Então não perca a exposição virtual, que traz imagens em 360° dos figurinos utilizados pela escola de samba carioca Estácio de Sá no carnaval 2009, além dos desenhos das alegorias e fotos da exposição. Lique as caixas de som e aproveite para escutar o samba-enredo, que homenageia o tecido de chita! Veja aqui.


 

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Apoio

 

 

Entrevista - Eronildes Correa de Menezes

 

 

“É a nossa própria forma de fazer que traz o turista, o fato de não ter mudado a técnica desde o início lá atrás até agora”

 

 

 

Eronildes Correa de Menezes é artesã e presidentes da Associação das Paneleiras de Goiabeiras


De onde partiu a ação que culminou com o registro da técnica e transformação do ofício das paneleiras em Patrimônio Cultural Brasileiro?
Foi um órgão chamado Iphan. Ele é nosso defensor. Foram eles que nos acompanharam. A gente tinha um concorrente, então, para que as panelas verdadeiras se mantivessem na chama viva mesmo, ele lançou o livro que dá o ofício e registrou nosso trabalho como Patrimônio Cultural Brasileiro. Há um livro e um CD-ROOM que contam a história e falam sobre a nossa preocupação com a panela que é nossa concorrente. Ela é aqui do Espírito Santo só que de Guarapari. Eles também fazem, só que de uma maneira diferente da nossa. A nossa é toda artesanal e nós não usamos forno, nós usamos fogueira livre. As panelas deles são totalmente diferentes. Às vezes, o turista que chega acha que é tudo a mesma coisa.


Quais são as diferenças no produto final entre a panela de vocês e de seus concorrentes?
A nossa é totalmente rústica e a deles já é assim bem acabadinha, bem torneadinha, bem lisinha. É totalmente diferente do nosso trabalho.


Em muitos lugares em que se trabalha com matérias-primas naturais, artesãos estão tendo que lidar com o problema do esgotamento da matéria-prima. No caso de vocês, o barro é finito. Vai tirando, vai tirando, uma hora acaba. Como vocês lidam com esse problema? Será que vai haver barro no futuro?
Olha, vieram muitos pesquisadores, escolas, houve muita pesquisa falando sobre isso com a gente. Até os próprios órgãos daqui falam que algum dia a gente vai perder isso, que não fica para sempre. Mas a gente não crê, não. Sabe por que? Essa panela já existe há mais de 200 anos. Minha mãe, quando começou, começou como eu, novinha, aos 12 anos. Ela morreu com 80. Com 50 anos ela já havia escutado que o barro ia acabar. Eu comecei aos 12. De uns dez anos para cá ou mais, eu ouvi que o barro ia acabar. Nós tivemos pesquisadores aqui, fazendo entrevistas com a gente, fazendo essa mesma pergunta que você está falando. Até exemplos eles deram: “quando você faz o arroz, você vai comendo, comendo e comendo. Não acaba? A mesma coisa é o barro. Vocês estão lá tirando, tirando, tirando, um dia ele vai acabar”. Mas eu sempre respondi que enquanto eu viver eu creio que não acaba. Isso aí eu falo porque já faz 31 anos que eu faço panelas e o barro ainda esta lá.


Há instituições e profissionais de diversas áreas que acompanham o trabalho de vocês. Há sugestões de interferências nas peças?
Não, não. A gente tem curso de aperfeiçoamento, mas é gerenciado de outra forma. Fala coisas sobre como trabalhar em grupo, como trabalhar com associações, mas nada que venha mexer com a nossa arte em mão. É a nossa própria forma de fazer que traz o turista, o fato de ser um trabalho que vem de geração em geração, de ter não sei quantos anos e não ter mudado a técnica desde o início lá atrás até agora.

 

 

Leia entrevista na íntegra

 

 

 

 

Matéria do MÊS

 

BRASIL NA ÁFRICA

 

 

Colônia portuguesa até 1975, Moçambique é um país da costa oriental do continente africano, com 801.590 km2 de área, habitado por pouco mais de 20 milhões de pessoas e cuja língua oficial é o português, apesar de haver um grande número de línguas nativas que, hoje, são patrimônio apenas das gerações mais velhas. Uma severa guerra civil que acompanhou a independência e a chegada e rápida disseminação do vírus da AIDS deixaram milhões de mortos e órfãos e paralisaram a economia do país. Atualmente, a agricultura de subsistência e pequenas criações de animais são as principais atividades desenvolvidas pela população do campo.


Neste contexto, dois projetos que promovem o diálogo entre Brasil e Moçambique, aliando a inovação e surpresa do design brasileiro ao apuro técnico do artesanato moçambicano, atuam no sentido de tentar mudar essa realidade. Um ao norte e outro ao sul de Moçambique, os projetos tiveram início no momento em que Eduarda Cipriano, diretora da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), em passagem pelo Brasil, conheceu o trabalho de Renato Imbroisi e ficou encantada. O designer foi convidado a visitar Moçambique e avaliar a possibilidade de fazer um projeto em terras africanas.


Com o objetivo de resgatar técnicas e tradições locais, delinear a identidade cultural moçambicana e local, fomentar o desenvolvimento de novos produtos e apurar a qualidade do produto final, gerando renda para as comunidades, surgiram o projeto Maciene, fruto da parceria entre a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade e a Catedral da Igreja Anglicana de Moçambique, e o projeto Ujamaa, realizado pela Fundação Aga Khan. Ambos os projetos foram coordenados por Renato Imbroisi e promoviam o intercâmbio cultural por meio de oficinas realizadas a partir de visitas periódicas de designers brasileiros à Moçambique.


De acordo com Dulce Solange Mudhlovo, gestora local do projeto Maciene, “em Moçambique havia de tudo: estrutura, espaço, máquinas adequadas, mas não havia produtos. Chamamos os designers brasileiros porque queríamos produtos com qualidade internacional. Hoje há um forte impacto em quem olha os objetos”. O artesão moçambicano Rachid Jonas Conjo, que esteve no Brasil para lançamento da exposição Brasil na África: artesanato moçambicano + design brasileiro, aponta: “os brasileiros deram-nos formação e ensinaram-nos a trabalhar com matérias primas que não conhecíamos. Nós estamos mudando de comportamento, tendo outras idéias a partir das idéias dos brasileiros. Estamos criando novos produtos. Isso é bom!”. Ainda segundo o artesão, os designers brasileiros enfatizavam a idéia de que a produção artesanal e a habilidade manual são patrimônios dos Moçambicanos. “Os brasileiros sempre diziam que tínhamos que mudar de atitude, que temos que ter consciência de que isso é nosso”, afirma. Rachid lembra também que muitos materiais abundantes em Moçambique e comumente descartados começaram a ser aproveitados: “a bananeira de Maciene estava sendo desperdiçada, agora tem um uso, assim como o pneu e o plástico. São coisas que a gente não conhecia. Não fazíamos esse tipo de produto com essas matérias-primas, mas agora estamos fazendo”.


Dulce Solange Mudhlovo destaca que “não se trata de trazer algo de fora e imputar dentro da comunidade. Trata-se de buscar o que nós temos e melhorar”. Ela afirma ainda que os benefícios trazidos pelos projetos são nítidos. “A vida das pessoas melhorou muito, pois todo o processo desde a coleta de matérias-primas até a comercialização do produto final é feito pela comunidade. Há uma série de envolvidos indiretos”.


Os projetos revelam que, além da língua e apesar da distância, Brasil e Moçambique têm muito em comum. A troca de experiências e idéias e o diálogo entre pessoas que convivem em realidades distintas é um jogo em que os dois lados só têm a ganhar.


O melhor dessa produção está em exposição no museu A CASA!  Confira!

 

 

 

A CASA indica

 

Balaio de Gato

 

 

Venda & cantina, loja+bar. A loja traz inúmeras opções de moda-arte-design, enquanto a cantina apresenta um cardápio original e, nos almoços de sábado, conta com pratos especiais preparados por chefs convidados. O Balaio de Gato é ainda palco de eventos festivos, lançamentos culturais e carnavais improvisados! Rua Piauí, 1052 – Funcionários. Belo Horizonte – MG. Telefone: 31 3213 9374. Saiba mais.


 

Artevida Brasileira

 

 

Em comemoração ao centenário de Mestre Vitalino (1909-1963), a exposição tem curadoria de Ricardo Gomes Lima e reúne os trabalhos mais significativos de 25 artistas populares brasileiros que integram o universo que se formou a partir do surgimento e legado de Vitalino. Os temas das obras vão da imaginária sacra católica e afro-brasileira às figuras de animais, passando por representações de festas, formas fantásticas e humanas, carrancas, mitologias, crenças populares e cenas do cotidiano rural. De segunda à sexta, das 9h às 20h. UERJ - Galeria Cândido Portinari. Rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã. Rio de Janeiro – RJ. Grátis. Até 02/10. Telefone 21 2334 0728. Saiba mais.


 

50 anos de Lina Bo Bardi na encruzilhada da Bahia e do Nordeste

 

 

O evento tem o objetivo de fomentar novas reflexões sobre a atuação de Lina Bo Bardi no Nordeste e especialmente em Salvador, assim como incentivar considerações sobre a situação dos legados de Lina na cidade contemporânea. O prazo para entrega dos resumos das comunicações e dos documentos das apresentações / instalações vai até 01/09. Saiba mais.

 

 

Revista Digital Art&

 

 

Publicação semestral digital destinada à divulgação científica de pesquisas e projetos na área de arte em todas as suas manifestações. Destina-se também à publicação de entrevistas, traduções e resenhas. Atualmente a revista encontra-se em sua 10ª edição e acesso é livre a todo o conteúdo do número atual e dos números anteriores. Saiba mais.

 

 

 

Boa leitura

 

“A literatura de Cordel, sob uma aparente revolta e violência, apresenta, na realidade, uma falsa imagem do homem do Sertão do Nordeste – simples e bondosa. Assim como a cerâmica “figurativa”, aparentemente irônica, de Caruaru. O homem do Sertão que sorri com bondade dos “doutores”, das autoridades, das leis e dos “Senhores”, simplesmente não existe: é uma produção “bonitinha” que se repete ad usum dos visitantes, nacionais e estrangeiros, das feiras e dos mercados”.


Lina Bo Bardi
Arte Popular nunca é kitsch

 

 

Leia o texto na íntegra


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