A CASA - Newsletter #17 - Ano 2 | Outubro de 2009

Newsletter N°17

Outubro de 2009

 

Editorial

 

A produção artesanal é destaque dessa edição da newsletter. Em Entrevista, mais uma vez nos debruçamos sobre um bem imaterial registrado pelo Iphan como patrimônio cultural brasileiro, mas, agora, trata-se de um trabalho essencialmente masculino: o modo de fazer viola-de-cocho. Alcides Ribeiro é, hoje, um dos artesãos com maior produção de viola-de-cocho no Brasil e fala sobre o ofício. Em Matéria do Mês, não deixe de conhecer a história das Artesãs da Linha Nove. Uma seleção de trabalhos do grupo está em exposição em A CASA. Não perca!


Acontece no
museu A CASA

 

Cunha Gago, 807

 

 

Artesãs na Linha Nove


 

Exposição apresenta uma retrospectiva dos quatro anos de trabalho das Artesãs da Linha Nove, grupo de bordado e costura do Ateliê Acaia formado por cerca de 30 mulheres moradoras da Favela da Linha, da Favela do Nove e do conjunto habitacional Cingapura Madeirite, nos arredores do Ceagesp, zona oeste de São Paulo. Desenvolvendo um artesanato sofisticado, com bordados em painéis, toalhas, colchas e jogos americanos, essas mulheres vão aos poucos deixando de lado suas atividades anteriores - trabalhos pesados e de baixa remuneração - e, hoje, vendem seus bordados para lojas dos Jardins e da Vila Madalena, gerando renda para suas famílias. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 18 de dezembro. Saiba mais.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Coleção Shoko Suzuki

 

 

Complementando o acervo de ceramistas do museu virtual, que já conta com coletâneas de obras de Caroline Harari, Kimi Nii, Laïs Granato e Stella Ferraz, a nova coleção apresenta o trabalho de uma das mais importantes ceramistas do Brasil: Shoko Suzuki. Além de peças da artista, a coleção traz um vídeo com belíssimas imagens do trabalho em torno manual. Veja aqui.

 


Biblioteca

 

 

Agora a lista completa de todo o acervo da biblioteca de A CASA pode ser acessada pelo site! Dentre os destaques, estão a coleção de catálogos Sala do Artista Popular, publicados pelo Museu de Folclore Edison Carneiro desde a década de 1980, dezenas de números das revistas Arc Design e uma série de livros de Lina Bo Bardi, inclusive esgotados, como “Tempos de Grossura – o design no impasse”. Os livros, revistas e catálogos estão disponíveis para consulta no museu, de segunda a sexta, das 10h às 19h. Veja aqui!

 

 

Museu A CASA no twitter

 


 

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Apoio

 

 

 

Entrevista - Alcides Ribeiro

 

 

“Na parte do acabamento, tem que ter um toque feminino”

 

 

 

Alcides Ribeiro é artesão de viola-de-cocho e filho do mestre Caetano Ribeiro dos Santos.


Qual a diferença da viola-de-cocho para as violas comuns?

A viola de cocho foi classificada por pesquisadores como som de veludo. Ela tem um som todo especial. Hoje os músicos que tocam MPB se encantam com a viola-de-cocho no sentido que ela tem um som suave, um som como que de veludo. Ela é genuinamente brasileira, é original mesmo daqui.

 

Normalmente, a produção da viola de cocho é um ofício masculino. Por quê?

Porque o começo da viola-de-cocho é muito rústico. Você vai trabalhar com uma tora de madeira, vai ter que entalhar, escavar, com facão, usando só ferramentas cortantes. É um trabalho pesado. A mulher, pelo menos na minha família, entra na parte de acabamento. Aí tem que ter um toque feminino.

 

E importante que o acabamento seja feito por uma mulher?

Eu faço um acabamento bem feito, mas eu prefiro que a mulher faça, pois ela tem uma delicadeza a mais. Tem que ter uma sensibilidade no acabamento, porque o que vende hoje é a qualidade. Às vezes, por conta de um detalhezinho no acabamento o cliente recusa a viola.

 

O que é mais importante na hora de fazer uma viola–de-cocho? É mais importante que ela seja bonita, ou que ela toque bem, que ela soe bonito?

A ressonância da viola-de-cocho é o mais importante. Não adianta ela ser uma viola-de-cocho bonita na aparência, mas, na hora do uso, que você precisa da ressonância, que dá a afinação, ela não está boa. É igual violão. Nem todos os violões que fabricam são bons. O Roberto Correia, um pesquisador, uma vez me fez uma pergunta: “porque a cada dez violas que você faz, as dez são bonitas, mas três não tocam bem?”. É uma coisa inexplicável, todos instrumentos de corda tem isso. Quando você compra um violão, você tem que ir até um mestre que entenda de violão para ver se não está empenado. De repente ele está perfeito em todo tipo de acabamento e tudo o que você fez em um você fez no outro, mas um deles não dá um som bom. Você afina, mas o instrumento não segura a afinação. Tem vários detalhes que fazem com que ela não fique boa em ressonância. Mas também já aconteceu dela não estar bonita em aparência, mas estar bonita de som. Assim como tem algumas pessoas que falam “eu quero que ela esteja bonita de tudo, boa na aparência e boa de som”, têm outros que dizem: “eu quero que seja mais barata e não quero tocar nada”. Aí você faz a viola que não tem uma ressonância 100% e vende até com desconto.

 

As manifestação do cururu e do siriri já não são mais tão espontâneas, isto é, grande parte das rodas tradicionais organizadas pela própria comunidade foram substituídas por festas grandiosas, promovidas pelo governo. Uma das críticas que se faz é que essas festas têm hora marcada para começar, hora para terminar, um número determinado de pessoas que vão fazer as apresentações. Como você enxerga isso?

É como eu falei para você. Quando a festa é feita pelo poder público, você não pode colocar todo mundo. Nós somos 200 cururueiros, numa festa de 3 dias. Temos 143 grupos. Você não pode colocar uma festa com todos esses grupos, porque não daria para atender todo mundo. São 30 minutos de apresentação para cada grupo. Por noite, das 19h às 23h, o máximo que dá para fazer é seis, sete grupos, fazendo o show uma coisa bem feita. Mas ainda existe festa e existe manifestação que não tem nada a ver com o poder público, nos interiores, aqui dentro da cidade mesmo. Às vezes, a festa de cururu vai a noite inteira, os cururueiros tocando, cantando. No siriri se dança à vontade, não tem um padrão, não tem um regulamento para seguir, nada, é à vontade, como é o tradicional no povo da região da baixada cuiabana.


 

Leia entrevista na íntegra

 

 

 

 

 

 

Matéria do MÊS

 

ARTESÃS DA LINHA NOVE

 

 

 

apiaiNo último dia 28, dezenas de pessoas estiveram em A CASA para a abertura da exposição Artesãs da Linha Nove, que apresenta uma retrospectiva dos quatro anos de atividades desse grupo de mulheres que fazem parte do Ateliê Acaia. O embrião disso tudo nasceu há mais de dez anos, em 1997, quando a artista plástica Elisa Bracher decidiu abrir o seu ateliê para crianças moradoras da Favela da Linha, da Favela do Nove e do Cingapura Madeirite, localizados nos arredores do Ceagesp, grande entreposto alimentício da cidade de São Paulo. Ao todo, 960 famílias vivem nesses locais em condição de risco. Nas duas favelas não há sistema de esgoto nem luz elétrica regular e o tráfico de drogas domina as áreas livres.


Aos poucos, o crescimento do grupo levou à necessidade de institucionalizar o projeto e foi assim que, em 2001, surgiu o Instituto Acaia, que abriga hoje em seu seio, além do Ateliê Acaia, o Centro de Estudar Acaia Sagarana, que busca preparar jovens que tenham concluído ou estejam prestes a concluir o Ensino Médio em escolas públicas para o ingresso no Ensino Superior, e o Acaia Pantanal, que atua em Corumbá, MS, e visa contribuir para a conservação do bioma pantanal na região da Serra do Amolar. Acaia, em tupi-guarani, que dizer "útero", "mãe".

 

Atualmente, o Ateliê Acaia oferece cursos de animação, artes, biblioteca, capoeira, costura e bordado, culinária, dança, design, matemática, marcenaria, música, oficina de linguagem oral e escrita, vídeo e xilogravura/tipografia. São atendidas 320 pessoas. O público é composto por crianças, jovens e adultos carentes, migrantes ou descendentes de migrantes, com baixa escolaridade e moradoras dos arredores do Ceagesp.


As Artesãs da Linha Nove constituem um dos diversos grupos do Ateliê. De acordo com Elisa Bracher, a idéia de reunir mulheres para bordar era despretensiosa. Na realidade, tratava-se de poder reunir as mães das crianças que freqüentavam o Ateliê Acaia em um espaço em elas pudessem ficar à vontade e que permitisse a conversa. O objetivo era se aproximar um pouco mais da comunidade e entender melhor as crianças. Os resultados, no entanto, foram surpreendentes. Hoje, o grupo de artesãs é formado por cerca de 30 mulheres que, muitas vezes, tem o bordado como principal atividade profissional.  Elas vendem seus produtos - painéis, jogos americanos, toalhas, capas de almofadas - para lojas dos Jardins e da Vila Madalena, gerando renda para suas famílias.


O grupo de bordadeiras é coordenado pelas artesãs conhecidas como "as três Marias": Maria Gomes da Silva Cavalcante, Maria Aparecida Ribeiro da Silva e Celia Maria dos Santos Silva. Elas organizam o recebimento das encomendas, estipulam o preço, dividem as tarefas e materiais. "No início achei que não tivesse cabeça para isso. Quando comecei a fazer eu estava nervosa, ansiosa, até tremia. Hoje, o grupo é, para mim, uma segunda família", conta Maria Aparecida. Pernambucana, Maria Cavalcante sempre trabalhou com costura. "Vim de lá e não tinha nada o que fazer aqui em São Paulo. Entrar para o grupo das artesãs foi ótimo, pois ingressei em algo que eu já fazia. Antes eu não gostava de bordar, só costurar. Agora eu prefiro bordar!", revela. Já Celia Maria é mãe de seis filhos e ex-catadora de papelão.  "Eu trabalhava na rua com o meu marido. Agora ele trabalha sozinho. Prefiro mil vezes o trabalho de bordadeira. Ficar na rua é perigoso, tem sol, chuva e dá muito trabalho. Bordar também dá trabalho, mas é mais prazeroso. Você trabalha com alegria, feliz".


Para Elisa Bracher, "nada que funciona de verdade nasce de um sentimento de pena". De acordo com ela, "existe, hoje, no grupo social mais intelectualizado, uma distância com a cultura brasileira. Este trabalho tenta aproximar as culturas". Tendo conduzido o projeto desde o início, Bracher percebe mudanças significativas na vida dessas mulheres. "Vendo as famílias e lembrando de anos atrás, a diferença é nítida. Hoje, elas se sentem muito mais donas de si mesmas", afirma.


O melhor dessa produção está em exposição no museu A CASA! Confira!

 

 

A CASA indica

 

 

 

Revista Observatório IC n°8

 

 

Publicação do Instituto Itaú Cultural traz como tema a diversidade cultural brasileira. Em suas 180 páginas, a edição número 8 conta com um dossiê em torno da Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais e as políticas públicas que buscam aplicá-la no Brasil, além de apresentar um roteiro de leituras em que o leitor encontrará sugestões de livros e textos capazes de subsidiar buscas para o alargamento e o aprofundamento da compreensão da diversidade cultural e de seus temas conexos. O músico e compositor Marcelo Yuka, um dos fundadores e ex-integrante da banda O Rappa, participa da revista com uma inédita poesia de sua autoria. A publicação conta também com textos de especialistas e pesquisadores de seis países, que lançam diferentes abordagens sobre a temática da diversidade cultural, dentre eles, Néstor Garcia Canclini e Jésus Martín-Barbero. Todo o conteúdo está disponível para leitura online. Imperdível! Veja aqui.

 

 

As frutas de Jorge Amado - O livro de delícias de Fadul Abdala


 

Livro é um passeio pelas feiras e mercados da Bahia. Paloma Jorge Amado, filha do escritor baiano, descreve todos os sabores, ingredientes e combinações de pratos presentes nas histórias do pai, em especial, os que levam frutas. São apresentadas receitas fáceis e saborosas a partir de frutas conhecidas, como banana, manga, cajá, cupuaçu entre outras. Cada receita é acompanhada de trechos dos livros de Jorge Amado em que a fruta é citada, fazendo o leitor recordar-se e também abrindo-lhes o apetite para a iguaria. Companhia da Letras. 208 páginas. R$ 90,00. Saiba mais.

 


"Alejandro Sarmiento - designer"

 

 

Museu da Casa Brasileira apresenta mostra retrospectiva dos trabalhos do premiado designer argentino Alejandro Sarmiento, referência máxima em design sustentável na cena internacional. Com 50 peças, feitas com a reutilização de descartes, a exposição revela uma trajetória marcada pela invenção, inovação tecnológica e experimentação de novos materiais. O robozinho "Naturito", que está à venda no MoMA, em Nova York, é um dos destaques da mostra. De terça a domingo, das 10h às 18h. Até 22 de novembro. Museu da Casa Brasileira. Av. Faria Lima, 2705. São Paulo-SP. Telefone: 11 3032 3727. Saiba mais.

 

 

 

Boa leitura

 

"Treze anos depois de Segunda Guerra Mundial, passada a ilusão de se poder mudar logo, por meio de uma imposição violenta, o estado de coisas que parecia anacrônico, na frente da ciência e da lúcida capacidade crítica, nós perguntamos ainda como encontrar uma solução para que a maioria dos homens seja provida do mínimo necessário para viver, possua uma casa, não ria em face de um quadro ou de uma escultura moderna, não proteste contra a música, a poesia, a arquitetura, não demonstre a sua incompreensão em face da máquina, expressão da nossa época, servindo-se apenas dela como de uma necessidade imposta, não zombe da figura do filósofo, sinônimo de isolamento e extravagância. (...) Parte dos homens, assediada pelos problemas econômicos, não tem o tempo necessário para se dedicar a decifrar enigmas, cuja chave não possui; a outra parte, abaixo economicamente da média normal, não se pode preocupar com um problema que não está no raio de suas necessidades imediatas e do qual não suspeita da existência. Essa parte da humanidade, levada pelas necessidades, a resolver por si mesma o próprio problema existencial e não possuindo esta pseudocultura, tem a força necessária ao desenvolvimento de uma nova e verdadeira cultura".

 

Lina Bo Bardi
Cultura e não-cultura

 

Leia o texto na íntegra


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