A CASA - Newsletter #19 - Ano 2 | Dezembro de 2009

Newsletter N°19

Dezembro de 2009

 

Editorial

 

Mais do que nunca, a edição deste mês da newsletter está com um sabor especial! Para nossa Matéria do Mês, conversamos com Mara Sales, chef do restaurante Tordesilhas que, há quase vinte anos, realiza pesquisas por todo o Brasil descobrindo pratos, temperos e modos de comer. Foi ela quem fez a seleção de restaurantes e os comentários de A CASA INDICA, destacando lugares em diversos pontos do país para aqueles que estiverem viajando. Além de comer bem, aproveite o mês das férias para ampliar os conhecimentos com o workshop Geometria Sagrada & Design. Confira todas as informações em Acontece no museu A CASA. Finalmente, gostaríamos de lembrar que A CASA entra em recesso no dia 21/12 e retoma as atividades no dia 04/01. A equipe do museu deseja a todos Boas Festas!


Acontece no
museu A CASA

 

Cunha Gago, 807

 

 

Exposição Girando o Acervo II


 

A profusão de cores é o destaque da segunda edição da exposição Girando o Acervo, que conta com o conjunto de gamelas e tigelas em papel machê, um vestido de chita de Reinaldo Lourenço, cestas da comunidade indígena Baniwa, além de peças de design gráfico. A partir de 11 de janeiro. De segunda a sexta, das 10h às 19h.

Saiba mais.

 

Workshop Geometria Sagrada & Design

 

 

Ministrado pelo arquiteto e designer Edson Tani, o curso irá relacionar proporção áurea e design, mostrando que proporções encontradas na natureza podem ser aplicadas em projetos de arquitetura e design. Com ênfase em exemplos de projetos contemporâneos, o curso é destinado a designers, arquitetos, artistas plásticos e demais profissionais interessados no assunto. Dias 11, 12, 18 e 19 de janeiro, das 19h às 22h. Inscrições e informações pelo telefone 11 3814-9711 (a partir do dia 04/01) ou por e-mai.Vagas limitadas! Saiba mais.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

 

Coleção Máximo Soalheiro

 

 

Coleção apresenta uma seleção de peças em cerâmica desenvolvidas por Máximo Soalheiro. O artista plástico promove o diálogo entre cerâmica e tipografia por meio da impressão com matriz tipográfica nas peças e, com isso, cria relevos inusitados. Veja aqui.


 

Museu A CASA no twitter

 


 

Saiba antes todas as novidades de A CASA! Siga "Museu A CASA" no twitter e receba diariamente um flash de, no máximo, 140 caracteres. Ainda não sabe o que é twitter? Descubra agora!

 

 

Apoio

 

 

Entrevista - Fernanda Martins

 

 

"A metodologia participativa dá voz aos artesãos, mas não prescinde do designer como condutor e mediador"

 


Fernanda Martins é designer gráfica e diretora do Mapinguari Design


Qual a importância de um projeto de identidade visual para as associações de artesãos?
É uma oportunidade de inserção em um mercado global excludente. Produtos manufaturados, ligados a comunidades tradicionais, tendem a ser pouco valorizados na origem, pois as mesmas não possuem as ferramentas para explicitar os valores que vêm imbuídos nos mesmos, sua origem ou qualidade.  Uma marca e demais produtos gráficos a ela associados, quando bem desenvolvidos (e principalmente, quando desenvolvidos pela comunidade), são ferramentas poderosas de comunicação, possibilitam que o público consumidor compreenda melhor uma realidade distante, ajudam a criar uma ligação entre ambos.

O que é design participativo? Em que ele se diferencia de processos tradicionais de design gráfico?
Em seu início, buscamos transformar o processo tradicional do design corporativo em ferramenta que possibilitasse aos artesãos serem ativos no desenvolvimento da identidade da associação e seu futuro. Hoje, diríamos que é a utilização de metodologias tradicionais do design, participativamente, para a criação de identidades visuais. Trabalhar com e não para o cliente.

Quais as dificuldades e limitações desse tipo de modelo?
Da parte do designer, as dificuldades residem na compreensão das diferenças culturais, pois é mais fácil assumir que temos tudo a ensinar e nada a aprender. É preciso estar aberto, saber ouvir. Também a adaptação da linguagem do design ao universo da comunidade. Muitas vezes chegamos com um discurso incompreensível para as comunidades, parecemos ETs. Os tempos são distintos. Em nossa formação, há uma lacuna no conhecimento das metodologias participativas e a experiência em projeto é fundamental. É preciso compreender que a intervenção do designer gera muitas expectativas que, em sua maioria, serão frustradas.  Por esta razão, o trabalho deve ser de longo prazo. Toda comunidade que visitei se perdeu rapidamente na continuidade do trabalho, voltando a fazer o que estava acostumada. O mais difícil mesmo é deixar o ego de lado, aceitar outros pontos de vista e trabalhar a partir deles. Quanto às comunidades, são limitantes: a falta de maturidade associativa, as rivalidades internas, dificuldade em aceitar mudanças, seu modo de vivenciar os processos novos. A dificuldade em produzir diversos modelos, iguais, a partir de protótipos, é um complicador. Mas a principal dificuldade mesmo é que as comunidades estão habituadas ao assistencialismo e, em sua maioria, esperam que as soluções venham de fora e de imediato.

Qual o papel do designer neste modelo de trabalho? Como fazer para que o seu repertório não se sobreponha à participação dos próprios artesãos?
A metodologia participativa dá voz aos artesãos, mas não prescinde do designer como condutor e mediador. É o designer que conhece a metodologia e o mesmo, por sua experiência e por ser conhecedor, que traduz o resultado para uma linguagem de mercado. O importante é que os artesãos naveguem pela metodologia com prazer e tomem para si os conceitos que decidirem como seus. É mais importante sair da comunidade com um acordo sobre os conceitos do que com um desenho final. O resultado final sempre será finalizado pelo designer, porém mais como um técnico que como autor. É importante lembrar que o designer faz parte do processo, ele pertence ao grupo neste momento, e o resultado é o resultado da participação de todos, designer incluso. É uma experiência coletiva e não há como imaginar um designer invisível. O processo deve ser conduzido em suas etapas pelo designer, mas os dados, o conteúdo, deve vir do grupo. As decisões e conclusões devem ser sempre tomadas coletivamente. Desta forma, evita-se que o repertório do designer se imponha.

 

De que modo o design pode funcionar como um agente de transformação econômico-social e de promoção do desenvolvimento?
De várias formas. O design, hoje, conquistou uma autuação muito ampla por este caráter sistêmico de desenvolver projetos, de compreender o problema, de envolver competências distintas. É através desta forma de atuar que o design cumprirá seu papel, principalmente se o designer deixar de lado o enfoque consumista dos dias de hoje.  Acredito que o designer, o profissional que pensa criativamente o futuro, poderá imaginar maneiras inclusivas e inovadoras de estarmos neste mundo. Não podemos manter os padrões de consumo atuais e projetos inclusivos devem propor novas maneiras de oferecermos o mesmo padrão de vida a todos.
E mais: só promovendo a reflexão é que o desenvolvimento deixará de ser uma conquista de desejos ultrapassados para se tornar a realização de verdades que fazem sentido, no presente e no futuro.

Leia entrevista na íntegra

 

 

 

 

Matéria do MÊS

 

 

Em busca da identidade gastronômica brasileira

 

 

Mara Salles tornou-se um nome conhecido dentro do círculo gastronômico paulistano. Há quase vinte anos, e muitas vezes acompanhada de seu sócio e companheiro Ivo Ribeiro, a chef do restaurante Tordesilhas viaja todo o país fazendo pesquisas sobre a cozinha brasileira, experimentando coisas novas, descobrindo ingredientes e modos de fazer. Ao relembrar a trajetória da amiga, Ivo costuma dizer que tudo começou "na roça". Mara Salles nasceu em Penápolis e veio a São Paulo ainda jovem. Na capital, era secretária de um grande banco, mas estava insatisfeita com o trabalho. Até que certa vez, em Ouro Preto, experimentou um prato na casa de uma mulher da região e adorou. Foi o momento em que decidiu largar o emprego e abrir um restaurante. No início, tudo era meio caseiro e bem familiar. O pai ficava no caixa, a irmã no salão e a mãe, grande mestre e exímia cozinheira, na cozinha. Com o tempo, resolveram construir algo mais sofisticado e mudaram-se para os jardins. O restaurante ficava no térreo de um flat, numa rua sem saída e só mais tarde que foi para a rua Bela Cintra, onde ficou conhecido.


Mara sempre ressaltou seu interesse pelo Brasil e revela que na comida estão expressas muitas das características do povo brasileiro. "A nossa cozinha é mesclada, misturada, mestiça. O brasileiro reflete no prato esse seu caráter mestiço. É curioso que nós não comemos um prato único - a salada separada do arroz e do feijão, separada de algum outro prato. Nós misturamos tudo. É o prato feito, o arrumadinho". Nesse sentido, Mara afirma que o Brasil, verdadeiro caldeirão de culturas, sempre teve essa vocação agregadora. "O Brasil não transforma, ele absorve, agrega. Em tudo. Na música, na arte e especialmente na comida".


Noentanto, de acordo com Mara, ainda não podemos falar de uma gastronomia brasileira. "A identidade gastronômica brasileira está sendo construída, ela ainda engatinha. Falta consistência, pesquisa e um pensamento comum. Além disso, não dá para falar de identidade se você não conhece a matriz, se não conhece o passado, onde tudo começou. Quem somos nós? Quem são os nossos pais? Eu acredito na construção dessa identidade, mas acho fundamental que a gente aprenda o passado, o que aconteceu com a gente antes". E sobre as releituras de pratos tradicionais por grandes chefs, Mara não tem dúvidas: "não se pode fazer uma releitura sem ter lido antes. Ainda temos um longo caminho pela frente".


No que se refere às comidas, uma das coisas mais importantes é levar em conta o contexto em que ela é produzida. Mara e Ivo costumam contar uma história que ilustra bem essa questão. Em uma de suas viagens, descobriram o "azul-marinho", prato feito com peixe e banana verdolenga, comum no litoral norte de São Paulo e sul do Rio de Janeiro. "Nós achávamos estranho que em qualquer lugar que comíamos e sempre que fazíamos este prato, o caldo era esverdeado. Então por que o nome azul-marinho? Se tem esse nome é porque em algum momento ele ficava azul. Suspeitávamos que havia algo errado no modo como estávamos fazendo",  conta Ivo. Até que um amigo que viajava muito solucionou o mistério. "Ele disse: 'porque vocês não fazem com uma panela de ferro? Nós fizemos e aí ficou azul". O caldo azul-marinho era fruto de uma reação química do tanino, presente na banana verde, com o ferro da panela. A substituição da panela de ferro pela de alumínio fez com que isso se perdesse ao longo do tempo. Pensando nisso, Mara revela: "uma receita não é uma ficha técnica, você tem que entender o contexto".


Neste momento, Mara está finalizando um livro sobre suas experiências em campo pelo Brasil. O lançamento está previsto para ocorrer no primeiro semestre de 2010.


A CASA indica

 

 

Panela Mágica - Goiânia-GO


 

Comida muito esmerada, com uma pegada muito forte em ingredientes vegetarianos. Mas não é só isso, lá come-se também bons peixes. De segunda a sexta, das 12h às 15h. Sábados e domingos, das 12h às 16h. Rua 04, n° 394. Setor Oeste. Goiânia - GO. Telefone 62 3223 6604.

 

Amazônia - São Paulo-SP

 

 

Vale a pena experimentar o maniçoba, um prato amazônico feito com a folha da mandioca brava. Este prato também é conhecido como a feijoada paraense. Segunda e terça, das 12h às 16h. De quarta a sábado, das 12h às 16h e das 19h às 23h30. Domingos, das 12h às 22h. Rua Rui Barbosa, 206. Bela Vista. São Paulo-SP. Telefone 11 3142 9264. Saiba mais .

Terra Papagalli - Ubatuba-SP


 

O restaurante traz pratos muito variados e tudo que é feito lá é divino. Segundas, quartas e quintas, das 18h às 23h. Sextas e sábados, das 12h às 0h. Domingos, das 12h às 22h. Rua Xavantes, 537. Itaguá. Ubatuba-SP. Telefone 12 3832 1488.

 

Zanzibar - Salvador-BA

Da chef Ana Célia Santos. É o local onde encontrei a comida tradicional baiana mais verdadeira, que é feita por pessoas muito envolvidas com a cultura afro-brasileira. De quinta a sábado, das 12h até o último cliente. Domingos, das 11h às 18h. R. Jardim Federação, 40. Federação. Salvador-BA. Telefone: 71 3332 2260

 

 

 

Boa leitura

 

"Em janeiro de 2008 cheguei pela primeira vez em Cascavel, carregada com todo aparato que uma "antropóloga de primeiro campo" julga, minimamente, necessário. Planejava ir à feira já, no primeiro sábado, na expectativa de encontrar alguma rendeira que residisse em um povoado rural próximo e que - e essa era a parte mais complicada - estivesse disposta a me "acolher", por um mês, ou mais. Já na feira, me aproximei e fiz a mesma tentativa frustrada algumas vezes: chegava, me apresentava e perguntava onde moravam, ao que obtinha de resposta nomes de diversos povoados para mim desconhecidos. Quando elas percebiam que não estava interessada em comprar rendas, rapidamente se esquivavam da conversa. A única de quem me aproximei e que deu continuidade ao diálogo, foi Dona Creusa. Ela contou que morava em Alto Alegre, um povoado próximo a Capim de Roça, pertencente ao município de Pindoretama. À medida que ela descrevia o lugar, eu me convencia que havia encontrado o, tão buscado, campo "ideal". O povoado constituia-se, na sua fala, de uma rua com cerca de 200 casas, cujos moradores são todos parentes e a principal atividade era a agricultura. Além disso, tanto no povoado como nos seus arredores residiam mulheres que produziam renda de bilro".

Julia Brussi

Introdução. Capítulo da dissertação de mestrado "Da 'renda roubada' à renda exportada: a produção e a comercialização da renda de bilros em dois contextos cearenses", submetida ao Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília.

 

Leia o texto na íntegra


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