Editorial
O lançamento do 2° Prêmio Objeto Brasileiro é destaque da edição n° 21 da newsletter. Confira todas as informações sobre o Prêmio na Matéria do mês e participe! Em Entrevista, Luciana Vale, consultora do projeto Veredas, vencedor do 1° Prêmio Objeto Brasileiro na categoria Ação Sócio-ambiental, fala sobre os desafios enfrentados e os dilemas da produção artesanal contemporânea. Em Boa leitura, a crônica Arte Industrial de Lina Bo Bardi também contribui com a discussão.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
2° Prêmio Objeto Brasileiro

A 2ª edição do Prêmio Objeto Brasileiro vai destacar e premiar o que houve melhor no encontro entre design e produção artesanal no país a partir de janeiro de 2008. Poderão ser inscritos no Prêmio objetos já inseridos no mercado, protótipos ou desenhos, além de projetos de ação sócio-ambiental com foco na inclusão social e desenvolvimento sustentável. Os prêmios variam de R$1.500 a 10mil reais. Inscrições até 12/07. Dúvidas e informações por e-mail ou telefone 11 3814 9711. Confira o regulamento.
Exposição Girando o Acervo II
A profusão de cores é o destaque da segunda edição da exposição Girando o Acervo, que conta com o conjunto de gamelas e tigelas de papel machê, um vestido de Chita de Reinaldo Lourenço e cestas do grupo indígena Baniwa, além de peças de design gráfico. A exposição é uma boa oportunidade para conhecer ou rever objetos frutos de projetos realizados por A CASA, como o Design Solidário, que, em 2001, promoveu o encontro entre alunos holandeses da Design Academy Eindhoven e artesãos da Associação Comunitária Monte Azul, em São Paulo-SP, e da Associação dos Artesãos do Sertão Central, em Serrita-PE. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Novas páginas de Arquivo e Biblioteca

As páginas de Arquivo e Biblioteca estão de cara nova, facilitando a busca por objetos, textos e referências bibliográficas no museu virtual. Além da ferramenta de busca, a Biblioteca conta agora com uma seleção de destaques que irá indicar as últimas novidades. Vale a pena conferir!
Museu A CASA no twitter

Saiba antes todas as novidades de A CASA! Siga "Museu A CASA" no twitter e receba diariamente um flash de, no máximo, 140 caracteres. Ainda não sabe o que é twitter? Descubra agora!
Apoio
 |
Entrevista
- Luciana Vale
"Não é da tradição delas fazer uso dos produtos que estão desenvolvendo hoje"
Luciana Vale é gerente de projetos e consultora do Artesanato Solidário e do Sebrae-MG
De que modo a construção de Brasília interferiu na produção artesanal da região?
Para essas mulheres, a fiação e a tecelagem não eram atividades de geração de renda, eram atividades para prover a família, uma obrigação doméstica. Elas faziam porque eram obrigadas a fazer, pois senão não teriam os tecidos. Elas tinham que plantar o algodão, descaroçar e fazer o fio. Com a construção de Brasília, foram criados postos de trabalho, estradas foram abertas e elas tiveram acesso a lojas para poder comprar as roupas que antes elas tinham que fazer à mão. Então, de certa forma, comunidades pararam de produzir pois passaram a ter acesso às coisas e saíram da zona rural. Mas se Brasília, por um lado, foi o maior motivo de pararem de fazer, porque elas queriam ir para lá trabalhar, por outro lado, hoje, para as que retomaram a atividade, é o melhor lugar de vender, porque Brasília tem uma renda per capita alta, o pessoal consome, valoriza esse trabalho e é o centro urbano e a capital mais próxima para nós aqui da região. Então o que foi um dificultador, o que era um risco para a atividade, hoje é o maior dos estímulos, porque é o lugar onde a gente vende melhor.
É comum a gente observar nos relatos sobre programas dessa natureza que se trata de um resgate de uma atividade. "Resgatar", "recuperar", "revalorizar" são termos bastante comuns. Até que ponto podemos dizer que existe um certo retorno ao invés de uma configuração completamente nova e condizente com os modelos atuais?
A gente faz um resgate da atividade em si, porque elas estavam parando de fiar e de tecer, mas a introdução do designer não é para garantir que elas façam o mesmo produto que elas faziam há 30, 40 anos, porque nem dá, a gente não conseguiria viabilizar vendas. Por exemplo, tradicionalmente elas faziam colchas para a cama delas, hoje elas fazem a colcha da mesma forma, com a mesma linha, com a mesma técnica tradicional da tecelagem, mas há uma intervenção enorme no produto para poder adequar ao mercado. O designer vem com essa finalidade, de adequar a produção ao mercado, mas a técnica tradicional se mantém. Os produtos não são tradicionais, as técnicas é que são tradicionais. Por exemplo, elas fazem jogo americano, mantas para sofá. São coisas para o mercado. A maior parte delas não tem nem um sofá em casa e não sabem para que serve um jogo americano, elas aprenderam agora. Não é da tradição delas fazer uso dos produtos que elas estão desenvolvendo hoje. Muitas continuam fazendo produtos tradicionais, como os cortes de calças para os maridos e o cochonilho, que usa para por debaixo da sela do cavalo. Mas o cochonilho que, para elas, era um apetrecho para poder andar de cavalo, para nós é tapete. Então elas continuam fazendo os mesmos produtos com outros usos, e produtos novos com a mesma técnica. Há um resgate, mas os produtos não são os mesmos, porque senão a gente nem conseguiria vender.
Não são gerados conflitos a partir do momento em que pedem para elas fazerem coisas que não tem tanto sentido em suas vidas, como um jogo americano ou uma manta para sofá? Isso não desestimula o trabalho e vai contra o próprio sentido do artesanato?
Não, elas acham o máximo o pessoal comprar aquilo e elogiar. Há alguns conflitos em relação ao corante natural. Elas queriam outras cores. O corante natural produz tons pastéis e teve um certo período em que a moda era roxo, laranja, rosa choque e a gente não consegue atingir isso com as cores naturais. Elas queriam fazer com as cores da moda, então queriam comprar outras cores. E mesmo os produtos. Elas falam assim: "nossa, esse pessoal das feiras ama essas mantas e essas estolas", mas elas mesmo não usam isso. Tem produtos que elas fazem para elas, que você vê nas casas delas, como colchas, tapetes, bornal, e muitas coisas elas assimilaram. Por exemplo, hoje algumas delas enfeitam a cama com xales na beirada. Mas elas usam pouco o que elas fazem para o mercado. Algumas começaram a usar jogo americano, mas a grande maioria não, elas não assimilam a produção. A gente não criou nenhum conflito, houve apenas uma certa resistência, no começo, com elas perguntando "para que vamos fazer isso?", "para que serve isso?". Mas depois elas começaram a vender. Cortina, por exemplo. Elas não têm cortina na casa, mas a gente vende muita cortina, as cortinas delas são lindas. E elas acham o máximo poder vender cortinas, mesmo não tendo.
Como conciliar a lógica do modelo de produção artesanal (mais lento, com ritmo próprio, com uma produção em menores quantidade) com a lógica do mercado, que está sempre em busca de novidades, que exigem uma grande produção etc.?
A gente trabalha com elas isso: levando em consideração todas as questões que interferem na produção quanto cada associação consegue produzir? As questões que interferem são, por exemplo, o período de chuva - em que a fiação é muito mais lenta, a colheita do algodão é mais difícil, o transporte é mais complicado -, as festas religiosas - elas têm um calendário religioso muito grande e param nas festas, não adianta você querer que elas produzam na Semana Santa, porque ninguém vai trabalhar. Então você já adéqua isso a uma produção de estoque e uma quantidade definida para eu acertar com o mercado, porque também não tem como eu dar um passo maior do que a perna. O nosso grande desafio é esse: achar um ponto de equilíbrio entre a produção e o que o mercado quer, de forma a garantir renda para todo mundo.
Leia
entrevista na íntegra
|
Matéria do MÊS
A CASA abre inscrições para o 2° Prêmio Objeto Brasileiro
A cultura de um povo se expressa de diversas formas e o objeto brasileiro é um exemplo fundamental da expressão de nossa cultura. Carregado de identidade, símbolos e significados, o objeto artesanal representa a riqueza cultural principalmente no que se refere à sua dimensão imaterial, constituída pela escolha e coleta de materiais, técnicas e modos de produção, transmissão e perpetuação de saberes. O design, por sua vez, contribui com a novidade e propõe soluções técnicas, funcionais, estéticas e ergonômicas aos objetos.
Local por excelência da união de realidades originalmente distintas, uma orientada para a produção industrial e o mercado (design) e outra para a produção manual e o uso (produção artesanal), o Objeto Artesanal Contemporâneo é, por isso mesmo, o ponto nodal de todo o movimento de revalorização da produção artesanal brasileira, tendo um papel fundamental no esforço de conquista do desenvolvimento sustentável.
Com o objetivo principal de promover a sustentabilidade do fazer artesanal contemporâneo no Brasil, A CASA museu do objeto brasileiro organiza o 2° Prêmio Objeto Brasileiro, que vai oferecer prêmios de R$1.500,00 a R$10.000,00.
De acordo com Renata Mellão, diretora geral de A CASA, o prêmio difere de outros prêmios de design na questão da presença do artesanal, que pode estar aliado ao design ou não. "Em outros prêmios a produção artesanal não é o foco principal", afirma. Diferentemente de outros prêmios, que costumam ser anuais, o Prêmio Objeto Brasileiro acontece a cada dois anos. "A própria especificidade do prêmio exige que ele seja um acontecimento bienal, pois o ritmo do artesanal e das comunidades de artesãos é outro", explica a diretora da instituição.
Poderão ser inscritos no Prêmio objetos de todas as áreas da produção artesanal ou semi-artesanal criados e/ou produzidos a partir de janeiro de 2008. Mobiliários, objetos utilitários e decorativos, acessórios para cozinha, acessórios para banheiro, luminárias para áreas internas e externas, tapetes e produtos têxteis, brinquedos, vestuário e acessórios pessoais e de moda, embalagens estão no rol de possibilidades. A inscrição deve ser feita em uma das seguintes categorias:
Categoria 1 - OBJETO DE PRODUÇÃO AUTORAL
Objetos contemporâneos que refletem o encontro do artesanato com o design, produzidos de forma artesanal ou semi-artesanal e concebidos por profissionais, artesãos ou micro/pequena empresas. 1º lugar: R$ 5.000,00 e 2º lugar: R$ 2.500,00
Categoria 2 - OBJETO DE PRODUÇÃO COLETIVA
Objetos contemporâneos que refletem o encontro do artesanato com o design, produzidos de forma artesanal ou semi-artesanal e concebidos por grupos de artesãos, comunidades, associações ou cooperativas em colaboração, ou não, com profissionais - consultores, designers, arquitetos, artistas, entre outros. Somente poderão ser inscritos nesta categoria objetos produzidos e atribuídos a comunidades, associações ou cooperativas. 1º lugar: R$ 5.000,00 e 2º lugar: R$ 2.500,00
Categoria 3 - AÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL
Projetos bem sucedidos, desenvolvidos por instituições, cooperativas, associações, empresas, universidades e organizações, com foco na responsabilidade sócio-ambiental (geração de renda, reutilização e reciclagem, desenvolvimento sustentável e inclusão social) e que geram produtos frutos do encontro do artesanato com o design. Nesta categoria serão avaliados os projetos de maneira geral e não apenas os objetos resultantes da ação. 1º lugar: R$ 10.000,00 e 2º lugar: R$ 5.000,00
Categoria 4 - NOVOS PROJETOS
Projetos de protótipos de objetos contemporâneos que refletem o encontro do artesanato com o design. Serão selecionados três projetos que receberão um prêmio de R$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos reais) para a produção do protótipo.
Ao final, os objetos e projetos selecionados integrarão uma exposição que será inaugurada em 20 de outubro de 2010, data da entrega dos prêmios. "O Prêmio dá muita visibilidade aos projetos finalistas e sempre existe a chance de ganhar. A pessoa tem que mandar para ver o que vai ser", afirma Renata Mellão. "Além disso, ainda não existem outros espaços para esses produtores", completa.
As inscrições vão até o dia 12 de julho de 2010. O regulamento e a ficha de inscrição já estão disponíveis. Confira!
|
|
|
A CASA indica
17ª Paralela Gift

Neste ano, a tradicional feira de design e produtos contemporâneos está hospedada no Shopping Iguatemi. Organizada por Marisa Ota e destinada a lojistas e profissionais da área, a feira é uma excelente oportunidade para conferir as novidades nas áreas de design, design trend, têxtil, artesanato e joalheria. Dias 26 e 27 de fevereiro, das 10h às 20h, 28 de fevereiro, das 11h às 20h e 1 de março, das 10h às 17h. Shopping Iguatemi - 9° andar - Área de eventos. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2232. Jardim Paulistano. São Paulo-SP. Saiba mais.
Portfólio Design
Como parte da programação da 17ª Paralela Gift, o Museu da Casa Brasileira irá abrigar duas palestras gratuitas ao longo do segundo dia de feira. Às 10h, a palestra Panorama do Artesanato Contemporâneo no Mundo conta com a participação de Ann Jones, diretora de projetos do Forming Ideas, além de outros 10 curadores internacionais. Às 14h30, a palestra Art Jewellery no Brasil e no mundo traz a polonesa Ela Bauer, pelo conceito Contemporary Art Jewellery, e será coordenada pelas curadoras Mirla Fernandes e Renata Porto, do projeto Nova Jóia. Para participar é necessário fazer inscrição. Dia 27/02. Museu da Casa Brasileira. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705. São Paulo-SP. Telefone: 11 3032 3727. Saiba mais.
10 cases do design brasileiro - Vol. 2

Organizado por Auresnede Pires Stephan (prof. Eddy), este é o segundo volume do projeto que mostra os bastidores do trabalho de designers e suas concepções. O lançamento será no dia 10/03, às 19h, no Museu da Casa Brasileira. Editora Blucher. 216 páginas. R$78,50. Saiba mais.
A Arte de J. Borges: do Cordel à Xilogravura

Último fim de semana para conferir xilogravuras, cordéis e matrizes originais de José Francisco Borges, um dos mais expressivos artistas populares brasileiros. Além dos trabalhos, a exposição apresenta também um documentário produzido por Vincent Carelli sobre a vida e obra do pernambucano. Aos sábados, das 14h30 às 17h, são oferecidas oficinas gratuitas de xilogravura aos interessados em conhecer a técnica. É necessário fazer inscrição. De terça a domingo, das 9h às 21h. Até 28 de fevereiro. Caixa Cultural São Paulo (Sé). Praça da Sé, 111. Centro. São Paulo-SP. Telefone: 11 3321 4400. Saiba mais.
Boa
leitura
"O que é artesanato? A expressão de um tempo e de uma sociedade, um trabalhador que possui um capital mesmo modesto, que lhe permita trabalhar a matéria prima e vender o produto acabado, com lucro material e satisfação espiritual, sendo o objeto projetado e executado por ele mesmo. O que é o artesão hoje? É um executor, um especialista sem capital que empresta o próprio serviço a quem a ele fornece a matéria prima, seja dono ou cliente, e recebe um salário em troca do próprio trabalho de execução. É o assim chamado proletário.
Qual seria a pergunta justa para uma válida resposta? Evidentemente a seguinte: existe uma razão eficiente que justifique as injeções oficiais a este pseudo-artesanato? Evidentemente não. Porque desse modo tira-se ao artesão a razão mesma de sua existência, quer dizer, a satisfação do poder criar o objeto artisticamente e ser materialmente o proprietário desse objeto e, em seguida, o seu vendedor".
Lina Bo Bardi
Arte Industrial
Leia o texto na íntegra |
|