A CASA - Newsletter #22 - Ano 2 | Março de 2010

Newsletter N°22

Março de 2010

 

Editorial

 

O Brasil é o destaque da edição 22 da newsletter. Em Entrevista, a designer Baba Vacaro afirma que carregar um produto de brasilidade não tem nada a ver com pintá-lo de verde e amarelo. Em Matéria do MÊS , confira cobertura completa da visita de curadores ingleses ao país. A partir do dia 6 de abril, A CASA inaugura exposição O Objeto, A Arte e O Artista, que apresenta fotografias de Sandra Rossi. A fotógrafa documentou o trabalho artesanal feminino em comunidades tradicionais de Minas Gerais e Sergipe. E você que é designer ou artesão, não deixe para a última hora. Faça já sua inscrição no 2° Prêmio Objeto Brasileiro!



 

Acontece no
museu A CASA

 

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

 

O Objeto, a Arte e o Artista


 

Com curadoria de Roseli Nakagawa, exposição apresenta parte do trabalho da fotógrafa Sandra Rossi que, nos últimos anos, tem documentado a atividade de mulheres artesãs na América Latina. São 25 imagens que retratam duas importantes tradições do trabalho artesanal feminino no Brasil: a tecelagem manual de Carmo do Rio Claro (MG) e a Renda Irlandesa de Divina Pastora (SE), esta última registrada no Livro dos Saberes do Iphan e reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro. Vernissage 06/04, às 19h. Visitação de 07/04 a 19/05, de segunda a sexta, das 10h às 19h, aos sábados sob agendamento. Saiba mais.

 

 

2° Prêmio Objeto Brasileiro

 

A 2ª edição do Prêmio Objeto Brasileiro vai destacar e premiar o que houve melhor no encontro entre design e produção artesanal no país a partir de janeiro de 2008. Poderão ser inscritos no Prêmio objetos já inseridos no mercado, protótipos ou desenhos, além de projetos de ação sócio-ambiental com foco na inclusão social e desenvolvimento sustentável. Os prêmios variam de R$ 1.500,00 a R$ 10.000,00. Inscrições até 12/07. Dúvidas e informações pelo e-mail ou telefone 11 3814 9711. Confira o regulamento.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

 

Coleção Megumi Yuasa


 

Coleção apresenta uma seleção de 15 obras de Meguimi Yuasa, considerado um dos maiores ceramistas brasileiros. Para criar suas esculturas, o artista associa à argila diversos materiais, como metais, madeira e pedras. Veja aqui.

 

 

Museu A CASA no twitter

 


 

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Apoio

 

Entrevista - Baba Vacaro

 

 

"Temos uma relação emocional com os objetos à nossa volta"

 

Baba Vacaro é designer e diretora de criação das marcas Dominici, Dpot e St.James.


Qual a saída para um design realmente sustentável?
Eu não acho que a sustentabilidade ou o consumo consciente queira dizer "escassez" ou "deixar de fazer". As pessoas precisam consumir porque elas precisam viver e elas querem, elas estão atrás dos seus desejos. Se ela vai consumir, que consuma o melhor possível, um produto mais bem feito, mais bem resolvido, que vá durar mais, que ela vai deixar para os seus filhos ou que ela saiba que usa os melhores processos ou o mínimo de material. O consumo não vai deixar de existir. Por isso que o designer existe: a gente cria os produtos para que as pessoas possam consumir, preencher as suas vidas. É fato. O que eu acho é que a gente tem que deixar de consumir lixo, produtos que são feitos empregando sabe-se lá qual mão-de-obra, sabe-se lá qual material poluente, sabe-se lá em que quantidade. Esse consumo é nocivo. De lixo a gente já está cheio. O processo industrial foi pensado desta madeira linear: partia da matéria-prima virgem e terminava em montanhas de lixo. Hoje, é preciso pensar isso de uma maneira circular, quer dizer, nunca partir do virgem para o lixo e sim partir do virgem para o virgem. É a melhor maneira de continuar vivendo, eu acho que a única. É essa consciência que nos fará parar de consumir ou gerar lixo.

Como democratizar o design? Quem impulsiona esse processo?
O consumidor. Nosso consumidor está acostumado a consumir porcarias, ele está acostumado a comprar uma jarra que machuca a mão, que a tampa não funciona direito etc. Na Escandinávia, qualquer coisa é bem desenhada, qualquer coisa é boa, adequada, bem pensada. Aqui o consumidor ainda não entendeu o papel dele de exigir o melhor, mas eu acho que, devagar, isto está mudando. A idéia de democratizar tem que partir de todos os lados, mas quem manda é quem consome. Se a pessoa consome lixo, lixo vai lhe ser oferecido. Se a pessoa começa a entender que ela pode consumir uma coisa melhor, se ela tem essa consciência de que existe melhor, a indústria tem que conseguir suprir essa demanda, fabricando melhor e no menor preço. As pessoas estão acostumadas a consumir uma coisa que é inadequada, que é ruim, que é poluente, porque não param para pensar.

Você tem produtos fortemente ancorados em referências culturais brasileiras como, por exemplo, a poltrona Mandacaru, inspirada em uma espécie de cacto nordestino. Qual a importância de se buscar esse tipo de referência na produção de objetos?
É difícil você não antropofagizar o teu redor. No fundo, a gente devolve aquilo que a gente engoliu. Nós vivemos no Brasil, mas isso não significa que a gente deva fazer uma coisa ufanista, verde e amarela. Podemos nos espelhar no design italiano - como eficiência, como resultado, como processo, "porque que deu certo?", "como é que funcionou?", "de onde eles começaram?", "onde eles passaram?", "onde eles vão chegar?" -, mas não fazer a mesma coisa, porque para a gente, às vezes, não vai dar certo. A Mandacaru é o produto mais simples que poderia existir. São seis almofadas presas em um rolo. Isso ele tem de brasileiro: é simples, é fácil de fazer. Além disso, você joga no chão. As pessoas aqui no Brasil têm esse estilo de vida mais descontraído, é um país quente, as pessoas são desencanadas. Então tudo isso de brasilidade não é uma coisa que você pintou por cima, está dentro do produto. É isto que eu vejo como resultado. Como é o caso da Havaianas, que é um clássico. É um produto extremamente simples, adequado para a gente, mas que, ao mesmo tempo, carrega com ele o nosso jeito de viver. Então as pessoas querem consumir aquilo, elas querem ser um pouco brasileiras também. Nós temos um jeito de viver que é encantador. Quando você está fora do Brasil e fala "sou brasileiro", a pessoa abre um sorriso na hora, é incrível. Isso é uma coisa boa para os negócios do Brasil e eu acho que a gente tem que explorar desta maneira. Ou seja, a gente não tem que tentar ser italiano, japonês, o que quer que seja, nem tentar pintar de verde e amarelo um produto só para dizer que é brasileiro. A gente tem que transformar, usar a nossa cabeça, pegar o que nós temos como recursos, a nossa cultura que está impregnada. Como a gente transforma isso em produto? Isso é que é fazer o produto verdadeiro, tendo um propósito, um significado.

Qual a importância de buscarmos objetos mais humanos?
A gente vive em um mundo já soterrado de objetos. Hoje, ninguém mais precisa de muita coisa e, quando você quer consumir, você busca alguma coisa além da função. No começo do século, era assim que a gente entendia os produtos: uma cadeira era pra sentar. Hoje, uma cadeira não é mais só para sentar. Você já sentou em todas as cadeiras que você podia, então você acaba querendo transformar o seu universo numa coisa muito particular, que te diga respeito, porque isso te faz bem. Essa é busca de hoje. A gente encontra isso nos objetos mais humanos. O objeto artesanal entre eles, porque, como diria Octávio Paz, eles "carregam a impressão digital de quem o fez". Isso é perfeito, é isso mesmo, você quer ter aquilo do seu lado. Temos uma relação emocional com os objetos à nossa volta. Você fica o dia inteiro sentado numa cadeira, o dia inteiro olhando para um computador, o dia inteiro cercado por objetos. Eles fazem parte da sua vida. E você pode fazer essa relação ser melhor, ao escolher produtos que realmente façam sentido para você e que alimentem a sua alma. Quando você senta na poltrona Mole, do Sérgio Rodrigues, você vê a garota de Ipanema passando, você ouve a bossa nova, aquilo tudo está nela. Não é uma cadeira qualquer. Isso também explica o sucesso do iMac quando ele apareceu. Não tinha como você não dar um sorriso. Você tem que ficar o dia inteiro na frente daquele computador, aquilo já é o seu calvário, então que você possa dar um sorriso quando olha pra ele.

Leia entrevista na íntegra

 

 

 

 

Matéria do MÊS

 

 

Brasil sob olhar inglês

 

 

No dia 25 de fevereiro, um grupo de curadores de destacadas instituições inglesas desembarcou no Brasil para conhecer de perto o que há de melhor em arte, design e artesanato no país. Trata-se do projeto Forming Ideas, programa de desenvolvimento profissional financiado pelo Arts Council britânico, direcionado a curadores de galerias de artes, museus ou independentes da Inglaterra, que tem o objetivo de ampliar e fortalecer o debate em torno prática artesanato contemporâneo.

 

O programa consiste na promoção de uma série de visitas internacionais, conferências e debates on-line visando criar uma network entre profissionais da área. De acordo com Ann Jones, diretora de projetos do Forming Ideas, trata-se de "fomentar parcerias de trabalho que irão conduzir a futuros projetos colaborativos". O grupo, que já passou pelo Egito, em 2008, e pelos cinco países nórdicos - Dinamarca, Suécia, Finlândia, Noruega e Islândia -, em 2009, esteve no Brasil até o dia 12 de março.

De acordo com Jones, o Brasil foi um dos países escolhidos "devido ao design inovador e projetos de engajamento social e ao modo em que os artistas do Brasil se relacionam com os seus materiais". Durante a estadia, passaram por São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

 

Em São Paulo, visitaram diversas instituições como A CASA museu do objeto brasileiro, Artesanato Solidário, Museu da Casa Brasileira, Museu de Arte Moderna, Capela do Morumbi, Instituto Tomie Ohtake, Instituto de Arte Contemporânea (IAC), Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, Galeria Vermelho, Galeria Choque Cultural, Galeria Luciana Brito, Galeria ,Ovo, ateliê dos Irmãos Campana, ateliê de Luiz Hermano, além das feiras 16ª Craft Design e 17ª Paralela Gift. Também entraram em contato com o trabalho de profissionais como Caio Medeiros e Daniela Scorza, do Estudio Manus, Domingos Tótora, Jum Nakao, Miriam Pappalardo, Paula Dib e Paulo Roberto C. Foggiato, e conheceram os projetos Design Possível, Arrastão e Ateliê Acaia. No Rio de Janeiro, o ateliê de Ernesto Neto, a Associação Cultural "O Mundo de Lygia Clark", e a Coopa-Roca foram alguns dos lugares visitados. Em Minas Gerais, foram ao ateliê de Máximo Soalheiro, ao Museu de Artes e Ofícios, ao Museu de Arte da Pampulha e, recebidos por Fernando Maculan, conheceram trabalhos e projetos de diversos profissionais.

 

"A visita foi extraordinária! Os curadores tinham interesses muito diferentes e vimos muitas coisas com uma qualidade fantástica. Pessoalmente, meus destaques foram o Ateliê Acaia, de Elisa Bracher, o estúdio de Máximo Soalheiro e a visita à Pampulha e Inhotim, em Minas Gerais - mas os meus colegas terão outras histórias!".

Jones explica que, agora, o grupo precisa de tempo para digerir toda a gama de trabalhos que foram vistos antes de começar a abordar a forma de como o conhecimento adquirido será transmitido. "É claro que estamos cheios de idéias para exposições e apresentações de trabalhos brasileiros no Reino Unido, mas resultados mais tangíveis como exposições podem demorar mais para aparecer", afirma. "No curto prazo (próximos meses), esperamos poder realizar discussões e apresentações no Reino Unido com a participação de alguns dos nossos colegas brasileiros. No longo prazo, exposições e projetos. Eu também gostaria de ver um evento maior, que reunisse as questões comuns observadas em todas as nossas visitas - uma questão em particular, é sobre como a identidade cultural pode ser percebida/transmitida através do ofício artesanal", completa.

Jones não tem dúvidas de que o encontro entre designers e artistas brasileiros e curadores ingleses é de grande importância. "Nós podemos aprender muito uns com os outros. Nossa prática contemporânea é formada por diferentes histórias, tradições e contextos. Ao compreender outras culturas, podemos atingir nosso melhor e, ouvindo as opiniões e idéias dos outros, podemos abrir nossas próprias cabeças".

 

 

A CASA indica

 

 

Eldorado Design

 

 

Acaba de estrear na Rádio Eldorado FM (São Paulo 92,9) a coluna Eldorado Design. Comandada pela designer Baba Vacaro, serão abordados temas do universo do design, arquitetura e decoração. A coluna vai ao ar terças e quintas, às 08h05 e às 16h55 e pode ser ouvida também no Território Eldorado. Podcasts de todas as edições do programa estão disponíveis no mesmo endereço. Confira.

Coletivo Amor de Madre

 

23 artistas e marcas de diferentes vertentes fazem parte do coletivo que é estruturado de forma colaborativa e apresenta objetos de decoração e design, jóias, acessórios de moda e utilitários para uso doméstico e pessoal. Vale a pena conhecer o espaço de dois andares, 300m² e com uma fachada que, de tempos em tempos, recebe uma nova intervenção artística. Rua Estados Unidos, 2186. Jardins. São Paulo-SP. Telefone: 11 3061 9044. Saiba mais.

 

Véio | Esculturas

 

 

Exposição apresenta uma série de obras de Cícero Alves dos Santos, o Véio. O escultor sergipano utiliza troncos de madeira para retratar a cultura do semi-árido sertanejo. De segunda a sexta, das 11h às 19h. Sábados, das 11h às 15h. Entrada gratuita. Até 15 de maio. Galeria Estação. Rua Ferreira de Araújo, 625. Pinheiros. São Paulo-SP. Telefone 11 3813 7253. Saiba mais.

Omemhobjeto Guto Lacaz

 

 

Livro reúne os trabalhos mais significativos de Guto Lacaz ao longo de seus 30 anos de atividade. São desenhos, objetos, esculturas, pinturas, instalações, performances e sites specifics, apresentados na forma de memorial de descritivo e acompanhados de comentários e críticas de importantes personalidades do cenário artístico nacional. Décor Books. 320 páginas. R$ 195,00. Saiba mais.

 

 

 

Boa leitura

 

"Arte popular é o que mais longe está daquilo que se costuma de chamar Arte pela Arte. Arte popular, neste sentido, é o que mais perto está da necessidade de cada dia, NÃO-ALIENAÇÃO, possibilidade em todos os sentidos. Mas esta não-alienação artística coexiste com a mais baixa condição econômica, com a mais miserável das condições humanas. Assim, não é a apologia da arte popular que cumpre fazer se esta arte, para sobreviver, necessita da conservação do statu-quo, nem tampouco a consolação através da arte em lugar da solução técnica e do planejamento econômico. Precisamos desmistificar imediatamente qualquer romantismo a respeito da arte popular, precisamos nos libertar de toda mitologia paternalista, precisamos ver, com frieza crítica e objetividade histórica, dentro do quadro da cultura brasileira, qual o lugar que à arte popular compete, qual sua verdadeira significação, qual o seu aproveitamento fora dos esquemas "românticos" do perigoso folklore popular".


Lina Bo Bardi
Arte popular e pré-artesanato nordestino

 

Leia o texto na íntegra


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