A CASA - Newsletter #23 - Ano 2 | Abril de 2010

Newsletter N°23

Abril de 2010

 

Editorial

 

Na edição 23 da newsletter, Ivo Pons, idealizador do projeto Design Possível, avalia que o sucesso econômico não é mais suficiente para satisfazer e trazer felicidade. Com isso, aposta no engajamento das novas gerações para a promoção de mudanças sociais. Uma das armas possíveis? O design. Confira em Entrevista. A diversidade cultural brasileira é destaque do novo museu de São Paulo: o Pavilhão das Culturas Brasileiras. Saiba mais sobre esta iniciativa em Matéria do mês. E não deixe de navegar pela exposição virtual Brasil na África, que apresenta, de forma dinâmica e interativa, os resultados do projeto que envoveu designers brasileiros e artesãos moçambicanos.



 

Acontece no
museu A CASA

 

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

 

O Objeto, a Arte e o Artista


 

Com curadoria de Roseli Nakagawa, exposição apresenta parte do trabalho da fotógrafa Sandra Rossi que, nos últimos anos, tem documentado a atividade de mulheres artesãs na América Latina. São 25 imagens que retratam duas importantes tradições do trabalho artesanal feminino no Brasil: a tecelagem manual de Carmo do Rio Claro (MG) e a Renda Irlandesa de Divina Pastora (SE), esta última registrada no Livro dos Saberes do Iphan e reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábados sob agendamento. Até 19/05. Saiba mais.

 

 

2° Prêmio Objeto Brasileiro

 

A 2ª edição do Prêmio Objeto Brasileiro vai destacar e premiar o que houve melhor no encontro entre design e produção artesanal no país a partir de 2008. Poderão ser inscritos no Prêmio objetos já inseridos no mercado, protótipos ou desenhos, além de projetos de ação sócio-ambiental com foco na inclusão social e desenvolvimento sustentável. Os prêmios variam de R$ 1.500,00 a R$ 10.000,00 reais. Inscrições até 12/07. Dúvidas e informações pelo telefone 11 3914 9711, e-mail ou pela nossa página no formspring. Confira o regulamento.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

 

Exposição Virtual Brasil na África

 

Confira a versão virtual da exposição que trouxe ao país peças criadas por artesãos de Moçambique a partir de oficinas orientadas por designers brasileiros. O projeto tinha por objetivo resgatar técnicas e tradições locais, delinear a identidade cultural moçambicana e apurar a qualidade do produto final. Além das peças, é possível assistir os vídeos que contam a história do projeto. Veja aqui.

 

 

Museu A CASA no twitter

 


 

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Apoio

 

Entrevista - Ivo Pons

 

 

"O design atua de fato na mudança das hierarquias que existem na sociedade"

 


Ivo Pons é designer, professor, pesquisador e idealizador do projeto Design Possível


O que é Design Possível?
O Design Possível, hoje, é uma associação sem fins lucrativos que faz um trabalho de promoção e aplicação do design, usando a sustentabilidade como direção. Fazemos, por um lado, o trabalho de desenvolvimento de produtos junto a comunidades carentes, de comercialização desses produtos, de desenvolvimento de identidade de marca e, por outro lado, o trabalho de ativismo, de estimular o protagonismo estudantil. Na universidade, todo mundo sonhava em trabalhar em uma fábrica. O Design Possível era uma experiência para os alunos saberem que existiam outras possibilidades. Ninguém de dentro da faculdade sonhava em sair e trabalhar no terceiro setor. Passados cinco anos, hoje isso é possível. Vejo alunos formados que, hoje, vivem do trabalho ligado ao terceiro setor. O trabalho deles é promover desenvolvimento social.

O design tem uma função social?
O design tem uma relação intrínseca com o social. Aquilo que a gente faz é para a sociedade, o fim maior de tudo o que qualquer designer faz tem a ver com a sociedade. O que muda no trabalho que o Design Possível faz é o que a gente quer e para onde a gente quer que essa sociedade vá. No instante em que eu desenvolvo um carro, que eu desenho um abajur ou que eu faço um sofá, eu sei que alguém vai usar e isso vai mexer com a sociedade de alguma forma, gerando emprego, estimulando a produção etc. Ótimo. Os benefícios desse meu trabalho podem vir para o industrial, para o comerciante, ou podem ser articulados em outras direções. Além disso, pode-se desenvolver produtos cujos fins sejam a resolução de situações de problema ou a promoção de melhorias na sociedade. Por exemplo, uma vez fizemos um workshop de móveis temporários para desabrigados. Pode-se também contribuir com o trabalho de comunidades produtoras, facilitando sua inclusão nos mercados. A maneira com que o designer se relaciona com a produção, com a matéria-prima ou com o fim do projeto não muda, o que muda é aquilo que ele quer para a sociedade. Se em um projeto normal em que eu sou contratado por um industrial, a única coisa com que estou preocupado é que aquele projeto tenha sucesso econômico, para que isso retorne para o industrial, no trabalho que fazemos não queremos só o sucesso econômico, queremos a perspectiva de continuidade da sociedade do ponto de vista da sustentabilidade, queremos que o benefício desse sucesso econômico seja destinado àqueles que têm maior dificuldade na localidade. A idéia é que o fim maior desse processo beneficie alguém que hoje está excluído. Quando você faz isso, o design atua de fato na mudança de hierarquias que existem na sociedade.

O slogan de vocês diz: "Design ecologicamente correto, socialmente envolvido, economicamente justo". Este é exatamente o tripé da sustentabilidade. Embora o termos sustentabilidade apareça no site e nos materiais de divulgação do Design Possível, aparentemente ele é usado de maneira discreta. A impressão que dá é a de que vocês falam de sustentabilidade sem utilizar esta palavra. Vivemos um momento em que o termo sustentabilidade é muito empregado - por vezes, sem qualquer critério -, até mesmo como estratégia de marketing. Vocês estão seguindo um caminho contrário?
A gente vem da área acadêmica, nascemos dentro da universidade. Sou professor, coordeno uma pós-graduação em Design para a sustentabilidade, no Mackenzie, então tenho uma preocupação muito grande com aquilo que a gente diz e aquilo que a gente faz. Sustentabilidade é um termo que, hoje, está sendo amplamente utilizado, mas suas definições ainda não caíram para a população de um modo geral. Academicamente, ele até tem definições bem sólidas, mas a maneira com que as pessoas se apropriam para comunicação, para o marketing, é muito pouco profunda. O que fazemos é sustentabilidade? É. Mas, se eu disser só "sustentabilidade", algumas pessoas, principalmente as pessoas que não são da área de design, vão nos enxergar como mais uma entidade no meio de tantas outras que dizem que fazem sustentabilidade, nos associando a empresas como o Banco Real e o Santander. A gente não quer ser igual nem ao Real, nem ao Santander, então talvez por isso falamos a mesma coisa de uma maneira diferente.

Como os alunos recebem este tipo de projeto? Há uma nova geração preocupada com as questões que ele levanta?
Atualmente, as pessoas desta faixa etária buscam outro tipo de sucesso. E não sou eu que estou falando isso. A expressão "geração Y" foi criada justamente para designar esta mudança. Hoje, jovens buscam muito mais o engajamento. O sucesso econômico, que é o que a geração anterior buscava, não é mais suficiente para satisfazer e trazer felicidade. Sinto que uma porcentagem maior dos alunos tem, de fato, outros objetivos. Querem, claro, ganhar dinheiro, construir uma vida bacana, alguns querem se tornar professores, outros querem ser famosos, mas muitos deles querem usar o conhecimento e aquilo que eles escolheram como profissão em prol da sociedade. Sem deixar de ganhar dinheiro, sem deixar de ficar famoso, querem que aquilo que eles estão fazendo faça sentido de uma maneira mais ampla, querem se sentir bem com aquilo que eles fazem. Acho que essa é uma preocupação que as gerações anteriores tinham em menor proporção. Havia menos gente preocupada se aquilo que estavam fazendo fazia sentido ou não. "Ah, me mandou jogar lixo nuclear aqui no buraco e está pagando bem, eu jogo". Até esse tipo de expressão é muito característica: "Tá pagando bem, que mal tem?". Hoje há uma porcentagem menor de gente que escolhe se submeter a qualquer tipo de trabalho ou a qualquer tipo de ação, simplesmente para conquistar dinheiro ou fama. Pelo menos na área de design, eu sinto que tem cada vez mais estudantes engajados ou buscando esse sentido.


Leia entrevista na íntegra

 

 

 

 

 

Matéria do MÊS

 

 

Misturas Brasileiras

 

 

 

Tudo começou quando o Secretário de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, avisou Adélia Borges que a Prefeitura de São Paulo iria herdar o acervo do Museu do Folclore Rossini Tavares de Lima e perguntou o que poderia ser feito com ele. A resposta foi imediata: "Ressignificá-lo". Eram os primeiros passos para a criação do Pavilhão das Culturas Brasileiras, que pretende ser um espaço "onde as diferentes culturas brasileiras possam se encontrar, se contrapor e dialogar" e fazer com que "possamos, todos, nos ver como produtores de cultura, e não apenas consumidores e espectadores".

De acordo com Adélia Borges, uma das responsáveis pela elaboração do pré-projeto conceitual da instituição, "Hoje as coisas são muito segmentadas, cada museu é dedicado a uma coisa. Há um museu dedicado a índio, outro museu dedicado a arte popular, outro dedicado à arte contemporânea etc. Havia a necessidade de se criar um espaço onde pudéssemos nos reconhecer e sermos reconhecidos. A cidade ganha, assim, um museu do reconhecimento".

O novo museu estará localizado no Pavilhão Engenheiro Armando Arruda Pereira, um edifício de 11 mil metros quadrados projetado por Oscar Niemeyer nos anos 1950. Nas últimas décadas, o prédio abrigava a Prodam (Companhia de Processamento de Dados do Município de São Paulo), e constituía o último prédio do Parque do Ibirapuera ainda ocupado por escritórios administrativos. A iniciativa marca a retomada da vocação cultural de todos os equipamentos do principal parque da cidade. Segundo Borges, o local escolhido para a criação do Pavilhão é sugestivo. "O parque do Ibirapuera é um local onde diversas tribos, faixas etárias e classes sociais convivem no mesmo espaço. É como as praias do Rio de Janeiro".


Desde o dia 11 de abril, o Pavilhão abriga a exposição que pretende dar uma idéia de como o espaço será aproveitado. Em "Puras Misturas", que tem curadoria geral de Adélia Borges, os visitantes têm a oportunidade de conferir parte do acervo do futuro museu, que inclui, além das peças do Museu do Folclore Rossini Tavares de Lima, a Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade e objetos de arte erudita, popular e indígena adquiridas recentemente pela Secretaria Municipal de Cultura.

Logo na entrada, o visitante é convidado a participar de uma experiência pouco comum em museus tradicionais: interagir com as obras. Dezenas de banquinhos das mais diversas origens estão prontos a acolher o espectador. Há desde bancos produzidos por designers conceituados, como o Mocho, de Sérgio Rodrigues, até um banco de papelão que deixa dúvidas no visitante se é resistente o suficiente para agüentar seu peso. O melhor de tudo é que a dúvida pode ser tirada a limpo. Há também uma série de bancos indígenas e outros de autoria anônima. Lado a lado, estes bancos parecem simbolizar exatamente a diversidade brasileira.

De acordo com Adélia Borges, a exposição está sendo visitada por grupos que nunca haviam entrado em um museu, como os moradores da periferia da cidade. Além disso, pipoqueiros que trabalham no parque têm trazido suas famílias para verem e fotografarem o carrinho de pipoca em exposição. A curadora conta também que, no dia da abertura, foi organizada uma apresentação musical envolvendo cinco grupos de diferentes estilos. Um deles, composto por índios que trabalham na construção civil em São Paulo, voltou ao local dois dias depois como visitante. "Não pode haver coisa mais linda do que essa, eles ensinaram aos educadores sobre as coisas deles. Ao se reconhecer, as pessoas se apropriam dessa herança comum", afirma.

Mesmo assim, Borges acredita que ainda existe um desprezo pela cultura indígena e popular em alguns segmentos. "Há, na própria imprensa, certo silêncio em relação à exposição devido a um preconceito sobre tudo o que existe de arte popular". Por isso, ao falar em Culturas Brasileiras no plural, a idéia é enfocar a diversidade cultural do país, entendida como riqueza. "Nós temos uma diversidade muito presente e é preciso estimular a troca respeitosa. O Brasil tem a ensinar para o mundo a tolerância e o regozijo pelas diferenças".

 

SERVIÇO:
Exposição "Puras Misturas"
Visitação: de 11 de abril a 12 de setembro de 2010
Horários: terça a domingo, das 9h às 18h, entrada até às 17h.
Grátis . Censura livre . Exposição acessível
Local: Pavilhão Eng. Armando Arruda Pereira - Parque do Ibirapuera, portão 10
Endereço: Rua Pedro Álvares Cabral, s/nº - São Paulo, SP - Telefone: 11 5083 0199
Visita monitorada: atendimento a grupos escolares, organizações da sociedade civil, associações de moradores etc, mediante agendamento pelo telefone 11 5083 0199 ou e-mail.



 

A CASA indica

 

 

Hélio Oiticica em revista

 

 

Lançadas pelo Itaú Cultural, revistas digitais buscam oferecer a adultos e crianças um aprofundamento sobre o trabalho de Hélio Oiticica.


Aos adultos, Oiticica - A Pureza É um Mito apresenta a repercussão e o diálogo da obra do artista com outras áreas de expressão e conta com depoimentos de personalidades como Tom Zé, Nelson Motta, Eduardo Rossetti e Zé Celso Martinez Corrêa. Há ainda uma galeria de imagem das obras, entrevistas em vídeo e imagens dos Penetráveis espalhados pela cidade.

 

Às crianças, Cosmogolé mostra uma exposição de arte na qual, para aprender, é preciso tocar nas obras. A infância de Oiticica e a história do dia em que a cor saiu do quadro e invadiu o espaço também são apresentadas. As crianças poderão ainda participar da próxima edição da revista, em atividade interativa.

 

Até o dia 16/05, São Paulo conta com diversas obras do artista espalhadas pela cidade. Os trabalhos integram a exposição Hélio Oiticica - Museu É o Mundo, promovida pelo Itaú Cultural. Saiba Mais.


Artur Pereira: Esculturas

 

Exposição reúne dezenas de obras do escultor mineiro Artur Pereira (1920-2003), que utiliza a madeira como suporte e é um dos nomes mais importantes da arte popular brasileira. De terça a sexta, das 13h às 19h. Sábados e domingos, das 13h às 18h. Entrada gratuita. Até 30/05. Instituto Moreira Salles. Rua Piauí, 844, 1° andar. Higienópolis. São Paulo-SP. Telefone 11 3825-2560.
Saiba mais.

 

 

Arte Popular Brasileira Vol. 2.

 

 

Acaba de ser lançada a segunda edição do livro que destaca dezenas de artistas populares. O livro é bilíngüe e apresenta nomes como Antonio Julião, Manoel da Marinheira, Fernando Rodrigues e Manuel Eudócio. Décor Books. 304 páginas. R$ 195,00. As obras que aparecem no livro estão em exposição na Galeria Pontes até o dia 05/06. De segunda à sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 10h às 17h. Rua Minas Gerais, 80 Higienópolis São Paulo - SP. Telefone 11 3129 4218.

 

 

Boa leitura

 

"Museu? O que é o Museu? Correntemente, quando se quer designar uma pessoa, uma coisa, uma idéia antiquada, inútil, fora de uso, costuma-se dizer: "É uma peça de museu". Querendo indicar com estas palavras o lugar que, no quadro da cultura contemporânea, o museu ocupa, lugar poeirento e inútil. Às vezes, o museu é um mero palco para exercícios exibicionistas dos arquitetos que projetam para a exposição das "peças", vitrinas, aparelhamentos tão complicados que interferem com o seu decorativismo no caráter geral do que se chama "museografia". Outras vezes, o museu é o palco para os diletantes, senhoras à procura de uma ocupação, dedicando-se, nas horas vagas, à escultura, à pintura, ou à cerâmica e que expõem suas obras no "museu" em que geralmente está ausente o que lá deveria estar: o acervo verdadeiro de pintura e escultura. O museu moderno tem que ser um museu didático, tem que juntar à conservação a capacidade de transmitir a mensagem de que as obras devem ser postas em evidência".

Lina Bo Bardi
Casas ou museus?

 

Leia o texto na íntegra


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