A CASA - Newsletter #24 - Ano 2 | Maio de 2010

Newsletter N°24

Maio de 2010

 

Editorial

 

A edição número 24 da newsletter traz muitos destaques, a começar pela exposição "Na cabeça", que será inaugurada no dia 26/05 e apresentará chapéus criados pela designer Sílvia Lucchi. Confira todas as informações sobre a mostra em Matéria do mês. Em Entrevista, Maria Helena Estrada, editora da revista ARC Design, critica o uso da madeira maciça pelos designers brasileiros e afirma que o design, hoje, deve repousar no tripé forma, função e sustentabilidade. E um A CASA indica especial traz dicas de presentes diferenciados para o dia dos namorados.


Acontece no
museu A CASA

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

 

NA CABEÇA, exposição de Silvia Lucchi


 

Baseada na coleção particular da designer Silvia Lucchi, a mostra apresenta chapéus em diferentes texturas, cores e materiais, desenvolvidos ao longo de mais de uma década de trabalho. Abertura dia 26/5, às 19h30. Visitação de 27/05 a 27/08, de segunda a sexta, das 10h às 19h. Saiba mais.

 

 

2° Prêmio Objeto Brasileiro

 

A segunda edição do Prêmio Objeto Brasileiro vai destacar e premiar o que houve melhor no encontro entre design e produção artesanal no país a partir de 2008. Poderão ser inscritos no Prêmio objetos já inseridos no mercado, protótipos ou desenhos, além de projetos de ação sócio-ambiental com foco na inclusão social e desenvolvimento sustentável. Os prêmios variam de R$ 1.500,00 a R$ 10.000,00. Inscrições até 12/07. Dúvidas e informações pelo telefone 11 3914 9711, e-mail ou pela nossa página no formspring. Confira o regulamento.

 

 

www.acasa.org.br

 

 

Formspring

 

Tire todas as suas dúvidas sobre o 2° Prêmio Objeto Brasileiro, por meio do Formspring. É fácil e rápido. Experimente!

 

 

 

 

Apoio

 

Entrevista - Maria Helena Estrada

 

 

"Usar madeira maciça é um crime "

 


Maria Helena Estrada é crítica de design e editora da revista ARC DESIGN.

 


Na sua visão, o que é design?
Nos últimos anos, a palavra design está mudando radicalmente de definição, ganhando uma abrangência que ela nunca teve. Hoje, eu acho que o design tem que repousar no tripé forma, função e sustentabilidade. Quando eu digo forma, função e sustentabilidade, quero dizer que ele tem que ser bonito - ninguém quer viver no meio da feiúra -, ele tem que ser funcional, tem que ajudar você a viver, tem que ter uma função clara, precisa, bem resolvida, e ele tem que ter um compromisso com o mundo em que vivemos. Depois você pode fazer o que quiser, mas esse tripé, hoje, é imutável.

Como você avalia o uso da madeira pelos designers brasileiros?
Nós temos um carma com a madeira. Para mim, não é vocação, é carma. Tem que acabar com isso no Brasil. Chega! Além disso, o brasileiro não sabe usar madeira, ele usa madeira maciça. Na Escandinávia, há muitos anos, se faz aquela madeira laminada. Tem um mínimo de madeira ali. E o brasileiro corta uma árvore para fazer uma cadeira. Eu sou curadora de uma feira em Bento Gonçalves e faço lavagem cerebral lá: "Ninguém mais tem empregada para empurrar móvel, nem para limpar a poeira da reentrância de móvel esculpido". Eu pergunto assim: "O seu carro, qual é? Último tipo? E a sua geladeira? E o seu som? Porque que o móvel tem que ser um Luís XV?". O mobiliário representa família, tradição e propriedade, e por isso, em lugares tais como Rio Grande do Sul, é muito difícil você, fazer as pessoas entenderem que não é nada disso.

O uso de madeiras de demolição ou certificada é uma saída?
Não dá para dizer que é madeira de demolição, pois seria necessário demolir o Brasil inteiro para ter tanta madeira de demolição. Não dá para dizer que é certificada, pois se você não controla nem o seu quarteirão, como vai controlar a Amazônia? Usar madeira maciça é um crime, pois você não pode atestar sua origem, você não sabe nada sobre as barbaridades que estão cometendo. Não dá para confiar. "Ah, é manejo sustentável". Que manejo sustentável? Estão cortando as árvores, você vê os montes de caminhões aprendidos. As pessoas não têm que acreditar, fingir que acreditam ou divulgar aquilo que elas sabem que não é verdade, dizendo que a madeira é certificada, que é de reflorestamento ou que é de manejo sustentável.

Que outros materiais podem ser utilizados para substituir a madeira?

O bambu. Você quer coisa melhor para substituir a madeira do que o bambu? Bambu é praga, bambu nasce, cresce, não acaba. Quer eleger um material para o Brasil hoje? Bambu. Sem sombra de dúvida, sem titubear, bambu.

O que de há de mais interessante em termos de design, hoje, no Brasil?
Para começar, os irmãos Campana. Eu digo: "Meninos, como é que vocês conseguem fazer tanta coisa?". Eles vão do mais pesado ao mais leve, do mais artesanal possível ao mais tecnológico. Eles têm um mix de produtos, eles vão para todo o lugar. Eles é que alavancaram o nome do design brasileiro lá fora e são muito mais famosos na Europa do que aqui. Aqui tem ciúme, mas lá eles são, hoje, os mais importantes designers do mundo, sem sombra de dúvida. E aqui está surgindo uma coisa muito interessante: a idéia de fazer um móvel pobre. Temos dois exemplos: Marcelo Rosenbaum e Márcio Kogan. O Marcelo queria desenhar o móvel bom, bonito e barato para a classe C. Acabou colocando na Micasa. Ficou bom, bonito e caro! Mas é uma nova estética. O Márcio Kogan é um arquiteto que trabalha muito com aquela linha de arquitetura que começou com o Aurélio Martins - o rigor na arquitetura. Ele é um arquiteto do rigor e estava visitando um canteiro de obras. Ali, os operários batem o prego na madeira e fazem um banquinho, fazem uma mesa. Ele pegou esses produtos, essas coisas que saíram da mão do operário, tingiu essa madeira toda de preto, deu um toque mínimo aqui e ali, e formou uma coleção belíssima. É a estética do móvel pobre com um toque seguro da mão firme de um designer. Isso é uma coisa brasileira, isso é uma coisa que vai dar fruto.


Leia entrevista na íntegra

 

 

 

Matéria do MÊS

 

NA CABEÇA

 

 

Os chapéus de Silvia Lucchi estavam guardados há muito tempo. Agora, vem à público na exposição "Na cabeça", que será inaugurada no dia 26/5, às 19h30, em A CASA museu do objeto brasileiro.

Silvia Lucchi nasceu em São Paulo em uma família de imigrantes italianos. Depois de alguns anos estudando arquitetura, decidiu viajar à Itália em 1980 para continuar seus estudos. De volta ao Brasil, coordenou o departamento de estilo da Zoomp e foi estilista da Fiorucci, além de desenvolver trabalhos independentes. Mas logo retornou à Europa e lá permaneceu durante dez anos. Desde 2005 mora em Marília, interior de São Paulo.

Durante os últimos 20 anos, Lucchi criou inúmeras coleções de chapéus que foram apresentadas em Paris e Milão e vendidas nos EUA, Europa e Japão. A partir do dia 26/05, o público brasileiro poderá acompanhar de perto a memória desta produção. "De 1995 a 2005, período que estive na Europa, tem uma grande produção que ninguém conhece". O contexto italiano influiu de forma decisiva em seu trabalho. "Tudo o que fiz na Itália tem uma qualidade enorme. Só se consegue fazer uma coisa dessas quando se está num lugar assim".

As criações de Silvia Lucchi geralmente não nascem no papel, no desenho, mas principalmente a partir das texturas e dos materiais que tem à disposição. Materiais que são, grande parte das vezes, desenvolvidos pela própria designer. "Quando eu estava na Itália, passava o dia misturando os fios para chegar aos materiais". Cada pedaço de restos de materiais caídos no chão pode servir de inspiração para novos materiais ou formas, e o resultado é uma grande variedade de chapéus originais e criativos. "Meu trabalho era justamente fazer um produto interessante para ser usado a partir de materiais inusitados".

Pode parecer anacrônico falar em chapéus no Brasil do século XXI, já que são poucas as pessoas que ainda os utilizam. Os chapéus não estão ultrapassados? De acordo com Luchhi, não. Muito pelo contrário. Para ela, chapéus são comumente usados de duas formas. "Ou as pessoas usam uma coisa super diferente, para sejam notadas, ou é o chapéu do dia a dia, para proteger do sol ou embalar quando está frio". Mas, atualmente, há novos significados. "As pessoas estão assumindo uma identidade própria e, nesta tentativa de encontrar o seu personagem, o chapéu é um grande acessório", afirma. Para a designer, o chapéu adjetiva o look. "É exatamente por isso que tem espaço para voltar".


 

A CASA indica

 

 

Xícaras de café e de chá

 

 

Com desenho da artista plástica e designer Rachel Hoshino, as xícaras são vendidas pela Associação Mundaréu, organização que promove o comércio justo e faz parte da rede da International Fair Trade Association. Xícara de café:  R$ 14,20. Xícara de Chá R$ 18,50. Rua Mourato Coelho, 988. Vila Madalena. São Paulo - SP. Telefone: 11 3032 4649.

 

Caixa Bola Segredo

 

Peça lúdica, desperta o interesse por conta de seu corte: as pessoas ficam tentando abrir a caixa e nem sempre conseguem de primeira. Internamente, possui duas gavetas. O produto é feito com troncos caídos na natureza e sua beleza está na própria madeira que, ao ser polida, tem suas nuances destacadas. R$ 242,00. Projeto Terra. Av. Nações Unidas, 12.901 - loja 150 E. Brooklin Novo. São Paulo - SP. Telefone: 11 5103 1980.

 


Festa de São Benedito

 

 

Uma festa religiosa onde dançam casais sem roupa une e celebra o sagrado e o profano. A obra é de Nilson Pimenta, um dos grandes pintores populares ainda atuantes no Brasil e cujo trabalho é caracterizado pela liberdade na abordagem dos temas. Este e outros quadros do artista estão em exposição na Galeria Brasiliana. 0,90m x 1,28m. R$ 10.000,00. Rua Artur de Azevedo, 520. Jardim América. São Paulo - SP. Telefone: 11 3086 4273.


 

Boa leitura

 

"As oleiras do Vale do Jequitinhonha não foram à escola aprender como fazer uma 'boneca' de cerâmica, que elas chamam de 'levantar o corpo', nem estudar como manter o calor da queima no tempo certo ou como distribuir as obras no interior do forno. É óbvio que aprenderam muito do que sabem vendo, participando. É a esse aspecto que elas se referem, quando não se pode atribuir a transmissão do conhecimento adquirido a um único indivíduo. Elas se referem a uma memória e uma herança que vem 'do tempo' e emergem em parceria, mencionadas, até alguns anos atrás, como exclusivamente feminina".

Ângela Mascelani
Caminhos da Arte Popular: O Vale do Jequitinhonha

 

O livro está disponível para consulta na biblioteca do museu A CASA.


www.acasa.org.br R. Cunha Gago, 807 - Pinheiros - São Paulo - SP CEP 05421-001 - Tel. (+5511) 3814-9711 acasa@acasa.org.br
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