A CASA - Newsletter #27 - Ano 3 | Agosto de 2010

Newsletter N°27

Agosto de 2010

 

Editorial

 

O 2° Prêmio Objeto Brasileiro já tem os finalistas! Dentre designers, artesãos, associações e instituições, o prêmio teve 281 inscritos e 398 objetos/projetos de 16 Estados do país. O júri foi coordenado por Christian Ullmann e composto por Baba Vacaro, Jum Nakao, Mara Gama e Renata Mendes. Agradecemos a todos que participaram e desejamos boa sorte àqueles que continuam na disputa!

O antropólogo Carlos Rodrigues Brandão é o entrevistado da 27ª edição da Newsletter, que traz ainda uma matéria sobre o projeto CorArrastão. A discussão sobre a interação entre design e artesanato continua no Boa leitura. Confira!




Acontece no
museu A CASA

 

 

 

Cunha Gago, 807

 

 

 

NA CABEÇA, exposição de Silvia Lucchi


 

Exposição prorrogada! Baseada na coleção particular da designer Silvia Lucchi, a mostra apresenta chapéus em diferentes texturas, cores e materiais, desenvolvidos ao longo de mais de uma década de trabalho. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 03/09.
Saiba mais.

 

 

2° Prêmio Objeto Brasileiro

 

Confira a lista dos finalistas em todas as categorias do Prêmio! Os objetos selecionados deverão ser entregues até 24 de setembro. Veja aqui.


 

www.acasa.org.br

 

 

 

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Apoio

 

Entrevista - Carlos Rodrigues Brandão

 

"O processo da cultura não cabe em nenhum programa"

Carlos Rodrigues Brandão é antropólogo.

 

 

Resiliência da cultura
O que nós vemos é que, mesmo debaixo dos sistemas mais opressivos e totalitários, há sempre formas e experiências de reprodução de crenças e mitos. A cultura, por mais massacrada que venha a ser, sempre tem uma vida subterrânea, própria, e, além disso, uma capacidade de auto-regeneração. Uma vez eu conversava com o Leonardo Boff, e ele, que esteve em Moscou algum tempo depois da queda do regime soviético, me contou que era mais difícil ingressar num noviciado para ser padre da Igreja Ortodoxa Russa do que na melhor universidade. Havia uma re-explosão do mundo religioso ortodoxo russo de tais dimensões que, de repente, uma das coisas mais cobiçadas era ser um prelado da Igreja Ortodoxa. A mesma coisa aconteceu na Galícia, Espanha, que, durante os quarenta anos do governo franquista, sofreu grande repressão do ponto de vista cultural. Era proibido hastear a bandeira galega, falar o galego e dançar as danças galegas. Quando aquilo acabou, em menos de um ano houve uma re-explosão. Tudo aquilo que foi reprimido e sufocado re-explodiu de uma forma fulgurante.

Configuração da identidade nacional
O processo da cultura não cabe em nenhum programa. Não acredito na possibilidade de que culturas populares venham, de alguma maneira, se transformar numa espécie de cultura identitária nacional. Eu acho que, antes, pelo contrário, a contraparte do processo de homogeneização globalizante, é um contra-processo de busca de pluralidade, de busca de diferenças. Ao contrário do que parece estar acontecendo na superfície, por debaixo, nas entranhas do mundo sócio-cultural, há um processo de neo-hibridizações e de recriações, inclusive com buscas do arcaico e do passado.

Programas de promoção do artesanato
Há um lado perigoso com relação às políticas de promoção de artesanato. Pela qualidade e peculiaridade do seu trabalho, alguns artesãos e artistas populares acabam vendendo muito e ganhando dinheiro - embora eu não conheça nenhum deles que tenha ficado rico. Com isso, há "uma elite" de artesãos populares. No fundo, não se resolve o problema, você continua tendo uma massa de gente produzindo e vendendo muito barato, como as mulheres aqui da região, que vendem chapéus a R$5,00. Aí você vai ter uma elite erudita, uma elite popular e o povão continuando na mesma. Então eu pergunto: será que uma solução desse tipo resolve alguma coisa ou apenas cria uma nova elite? Como é que se socializaria um pouco mais em termos de direitos para dar a quem cria o que a pessoa merece?

Desigualdade na atribuição de valor da criação cultural
Uma das coisas mais depravadas que a gente tem numa sociedade como a brasileira é essa desigualdade do ponto de vista do valor da criação cultural. O disparate, não só em termos econômicos, mas em termos de publicidade e celebrização, se tornou abissal. Eu escrevo muito melhor do que o Paulo Coelho, e devo vender, por ano, o que ele vende por hora, então também sou vítima disso. Sem falar que a Zíbia Gaspareto deve vender, por minuto, o que eu vendo por ano. Mas espero que quando ninguém mais ler o livro dela, ainda leiam alguns dos meus. É a única vingança que a gente pode ter.

Leia entrevista na íntegra

 

 

 

Matéria do MÊS

 

 

Uma manhã no Jardim Vale das Flores

 


"Quando a gente deixa a nossa marca, ampliamos a nossa existência". É assim que Henrique Alberto Heder, membro da equipe técnica do projeto CorArrastão, inicia a conversa com cerca de 20 crianças e jovens de diversas idades, com o objetivo de preparar-lhes para uma visita à favela conhecida como Jardim Vale da Flores, em que poderão conferir de perto pinturas nos muros e casas que estão dando nova cara à comunidade. As crianças e os jovens, que ouvem atentamente as instruções, fazem parte do Arrasta-Lata, grupo que utiliza a percussão para divulgar a importância da preservação ambiental. Tanto o CorArrastão como o Arrasta-Lata são programas desenvolvidos pelo Projeto Arrastão, ONG que promove diversas atividades com a população moradora da região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, e parte do município de Taboão da Serra.

Coordenado pela designer Kitty Carvalho, o CorArrastão busca transformar a vida da comunidade por meio da pintura dos muros e casas - realizada em conjunto com os moradores. De acordo com Kitty, a pintura funciona como um impulso. "Depois de ter a fachada da casa pintada, a pessoa, muitas vezes, faz uma reforma, constrói em cima, vai procurar emprego. A cor resgata a auto-estima". A idéia de colorir as favelas não é nova. Projetos como esse já foram e continuam sendo desenvolvidos em outros bairros de São Paulo e em outros Estados do país com resultados bastante animadores.

Logo que o grupo adentra a comunidade, uma senhora que aparenta cerca de 70 anos reclama sobre um problema de infiltração de água em sua casa. Henrique promete pensar em uma solução para ajudá-la a resolver essa situação. A cena é comum, e se repete diversas ao longo das quase duas horas de passeio. As dificuldades enfrentadas pelos moradores sobrecarregam os membros do Projeto Arrastão, vistos pela comunidade como facilitadores na resolução dos problemas do dia-a-dia.

Eram 9 horas da manhã de uma quarta-feira e, contrastando com o caos característico do horário no centro da cidade de São Paulo, a comunidade estava tranqüila e relativamente vazia, sem muitos carros ou pessoas na rua. Casas do norte, cabeleireiros, bares e pequenos armazéns formam o pacato comércio local.

O grupo para em frente a uma grande escada. Há mosaicos coloridos entre cada degrau e uma série de pinturas no muro que a ladeia. Festas populares e uma vegetação composta por cactos e mandacarus são alguns dos desenhos que podem ser observados. A inspiração para o trabalho é a terra natal da maior parte dos moradores da comunidade: o nordeste. O resgate da origem nordestina e o trabalho com a cor são realizados em atividades coletivas. "O pessoal vem para São Paulo e vira cinza. A cidade impôs isso, e eles esquecem a cor", lamenta Kitty.

Com o objetivo de gerar referências para suas pinturas, os moradores foram também convidados a visitar exposições em instituições como o MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo e o MAC - Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, assim como para participar de oficinas e realizar pesquisas sobre artistas brasileiros.


Além das pinturas, poesias criadas pelos próprios moradores são também escritas nos muros. Ao passar em frente ao muro no momento em que este era contemplado pelo grupo, Ailton Rosa, um dos autores de uma poesia ali inscrita, é apresentado por Henrique. Sua poesia é lida em voz alta por uma das crianças e Aílton é ovacionado.

 

Henrique reconhece bem os moradores e, ao longo da jornada, vai cumprimentando quase todos que encontra pelo caminho. "Nossa missão é formar cidadãos capazes de transformar a realidade e o meio em que vivem, sempre considerando o espírito coletivo", afirma.

Como costuma acontecer em projetos realizados no interior de favelas, é preciso saber lidar com o tráfico de drogas. No ponto mais distante do percurso, é possível sentir a presença do tráfico e o seu domínio sobre o pedaço. Vestindo camiseta do Projeto e crachá, Henrique anda sempre identificado, e garante que o tráfico respeita o trabalho desenvolvido pelo Arrastão.

Após subidas e descidas em meio a vielas estreitas, chegamos a uma série de casas com suas fachadas pintadas. Uma moradora ouve o movimento, abre a porta e, quando questionada, dá sua impressão sobre a nova fachada: "Eu adorei".

Junto com o programa de revitalização das casas por meio da pintura das fachadas, são desenvolvidas atividades diversas com o intuito de melhorar a auto-estima e tornar o indivíduo cidadão. Muitas vezes, para determinadas conquistas, é necessário estabelecer um diálogo com o poder público. A nomeação e numeração das ruas foi uma delas. E, para evitar que lhes fosse dado o nome de "dr. Fulano de Tal", como na poesia de Manuel Bandeira, uma pesquisa sobre a flora brasileira buscou criar uma identidade entre os nomes das ruas e o nome do bairro: Jardim Vale das Flores.

O percurso termina e, dirigindo-se às crianças e jovens, Henrique dispara: "Uma casa digna e confortável é direito de todos os brasileiros. Está em nossas mãos mudar o mundo".

 

A CASA indica

 

 

Biblioteca Belmonte - Temática em Cultura Popular

 

 

A biblioteca conta com acervo especializado de temática popular, abrangendo temas como literatura de cordel, folclore, tradições populares brasileiras e história das culturas africana e afro-brasileira. Conta ainda com uma programação cultural diversifica que envolve oficinas de cordel e xilogravura, contação de histórias, sessões de cantoria e repente, saraus sertanejos, além de cursos, palestras, shows, apresenta- ções teatrais e exibições de vídeos. Rua Paulo Eiró, 525. Santo Amaro. São Paulo-SP. Telefone 11 5687 0408. De segunda a sexta, das 8h às 17h. Sábados, das 9h às 16h. Saiba mais.


3ª Mostra Jovens Designers

 

Com o objetivo de promover novos talentos, a exposição apresenta projetos de alunos do último ano das escolas de design e traz representantes de todos os Estados do país. A mostra tem curadoria de Auresnede Pires Stephan (prof. Eddy) e será exibida em quatro cidades: de 9 a 26 de setembro em São Paulo (SP), de 05 a 24 de outubro em Florianópolis (SC), de 11 de novembro a 11 de dezembro em Brasília e de 5 a 31 de janeiro de 2011 em Belo Horizonte (MG). Saiba mais.


Portal Domínio Público



 

Desenvolvido pelo Ministério da Educação, o Portal disponibiliza obras literárias, artísticas e científicas já em domínio público ou cedidas pelos titulares dos direitos autorais. O acervo é composto por quatro tipos de mídia - imagem, som, texto e vídeo - e conta com mais de 170 mil títulos. Confira!

 


Design Essencial 2010

 

 

Tendo a Brasilidade no Design como tema deste ano, o evento conta com palestras de Christian Ullmann, Fabio Galeazzo, Fabíola Bergamo, Marcelo Teixeira, Marili Brandão e Silvia Grilli. Grátis. De 25 de agosto a 1 de dezembro, em várias unidades do Senac. Saiba mais.

 

 

 

Boa leitura

 

"Sob que circunstâncias a busca de soluções para a valorização mercantil dos produtos artesanais pode ser vantajoso para as comunidades produtoras sem implicar na sua submissão total aos imperativos do mercado e nem a medidas restritivas ao processo de transformação natural das culturas tradicionais? Os métodos sistemáticos de desenvolvimento de produtos aplicados a técnicas de fabricação "autóctones" mantêm o produto artesanal como resultante de uma prática intimamente vinculada ao universo imaginário dos valores e tradições, ou o transforma em um objeto cuja identidade cultural é convertida em adereço ou espetáculo "exótico", que se distingue do produto industrializado pelo modo de confecção manual? A incorporação do processo de design no artesanato tradicional não ocasionará a produção ininterrupta de signos para corresponder às tendências do mercado, ou seja, a obsolescência programada do produto?"


Clovis dos Santos Dias Filho

Artesanato, Design e Interculturalidade

 

Leia o texto na íntegra


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