Editorial
Desde o início da carreira, Ronaldo Fraga insiste na importância do feito à mão para constituição de uma moda brasileira. A 28ª edição da Newsletter traz uma entrevista com o estilista, que convoca todos a nos apropriarmos do Brasil e fala da importância dos intercâmbios culturais.
Por falar em entrevista, as entrevistas realizadas por A CASA serão publicadas em livro! O volume 1, que reúne as dez primeiras, será lançado no próximo dia 20, junto com a cerimônia de premiação e abertura da exposição 2° Prêmio Objeto Brasileiro. Estão todos convidados! Confira a programação em Acontece no museu A CASA.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Premiação e exposição

Está chegando a hora! No dia 20 de outubro, a partir das 19h30, A CASA divulga vencedores e abre exposição 2° Prêmio Objeto Brasileiro. Confira os finalistas.
Entrevistas design + artesanato

Livro reúne as dez primeiras entrevistas de A CASA, trazendo uma miríade de opiniões e vivências que permitem aprofundar o olhar sobre o encontro entre design e artesanato e refletir sobre as dimensões materiais e simbólicas da produção do objeto brasileiro. Lançamento dia 20 de outubro, a partir das 19h30. Mais informações ao lado, em Matéria do MÊS.
www.acasa.org.br
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Entrevista
- Ronaldo Fraga
"Quando uma cultura tem corpo, pode exercitar e trocar com outras sem correr riscos"
Ronaldo Fraga é estilista.
O que é moda? Qual a diferença entre "fazer moda" e "fazer roupas"?
Existem poucos setores hoje tão diversos quanto o setor da moda. Em moda você fala de economia, de registro de um tempo, de história, de cultura, de inclusão ou exclusão. Mas, acima de qualquer coisa, moda, pra mim, é interpretação de texto. Esse texto pode ser o tempo em que a gente está vivendo, pode ser o texto do olhar particular de uma pessoa, pode ser o texto de uma época. Vivemos num momento muito especial da moda, e isso no mundo inteiro, porque existe, sim, essa moda dos blockbusters, da produção em série, do fast fashion, mas existe, cada vez mais, uma moda que venda mais do que roupa, uma moda que venda a cultura de um lugar, a história de um lugar, histórias de pessoas. É nesse lugar que me sinto à vontade.
Qual a importância de buscar referências na cultura brasileira no desenvolvimento de projetos de moda?
Poucos países têm uma cultura tão rica como o Brasil, e não tiramos nenhum proveito disso. Sofremos da falta de apropriação de uma cultura que, como poucas, teve essa mistura mágica do branco, do negro e do índio. Eu seria capaz de fazer cem, duzentas, trezentas coleções até o fim da minha vida em que eu esteja olhando para o Brasil e sempre seja uma coisa nova. Poucos países têm a música como nós temos, poucos países têm a literatura como nós temos, poucos países têm a arte contemporânea como nós temos e poucos países têm o artesanato como o artesanato brasileiro. Seja pela colonização, seja pela ditadura, acho que herdamos um problema de apropriação dessa cultura. Superar esse problema é o grande desafio. Quando fizermos isso, nossa moda vai ser a melhor do mundo, nossa comida vai ser a melhor do mundo, vamos dar um banho. Já caminhamos muito, mas acho que ainda temos muito que caminhar.
Como conciliar o ritmo da moda, que exige novas coleções em curtíssimos espaços de tempo, e a lógica do fazer artesanal, muito mais lenta?
É preciso informar-se. Olha quanto tempo leva para uma trufa branca nascer no interior da Itália, olha o tempo de preparação de determinadas comidas. O valor delas está justamente nisso. No caso do artesanato, falta muito essa comunicação. Se você quer um bordado rápido, faça à máquina, que também tem resultados muito bons. Mas se você informa na peça que por trás de cada ponto tem história, tem gente, tem um lugar maravilhoso, tem um céu de estrelas, então o cliente está comprando muito mais que uma peça bordada, e aí a coisa muda de figura. Quando você leva essa informação numa tag, num release, numa coleção, você projeta essa peça para um outro lugar. Então essa peça tem que ser cara, tem o tempo da espera, dessa preparação. Senão eu te digo: a China tem feito bordados à máquina que você jura que foi à mão, vai para lá fazer.
Uma característica quase sempre presente em projetos envolvendo o encontro entre designers/estilistas e comunidades de artesãos é a presença de pessoas "de fora". A presença de alguém "de fora", com um olhar "não acostumado", facilita a percepção de elementos locais?
Quando o estrangeiro chega e olha, ele valoriza um balaio feito com trama jogado no fundo da cozinha daquela querida que está assando os biscoitos. Normalmente, aquilo, para ela, é simplesmente um balaio para poder colocar as batatas. O dia a dia joga uma névoa sobre o nosso olhar, então você não presta muita atenção. Se você for ao Japão, as cerejeiras em flor vão te trazer um alumbramento que provavelmente não traz àquele cara que passa de bicicleta todos os dias para ir trabalhar numa rua toda coberta de cerejeiras em flor. Daí a importância dessa viagem, dessa troca de olhares e estímulos, de ser estimulado também pelo olhar do outro. Quando há essa troca, a cultura deixa de ser estanque. E quando uma cultura tem corpo, pode exercitar e trocar com outras sem correr riscos.
Ao longo de seu trabalho, como foi a receptividade de peças desenvolvidas junto a comunidades de artesãos em públicos como o da São Paulo Fashion Week, acostumado a outro tipo de moda?
Desde o início, o feito à mão sempre ocupou um lugar de importância nos meus desfiles. Independente de estar na moda ou não, sempre insisti na importância da construção de uma vocação para o produto brasileiro pelo viés do feito à mão. No início, taxaram o meu trabalho de moda "regionalista", "teatral", "caricata", "brasileirinha", de forma extremamente pejorativa. E, de repente, o Brasil entrou na moda. Aí eu vi grandes marcas de produção industrial tentando fazer aquilo que eu sempre tinha feito. Hoje, vivo uma situação muito confortável, mas, para mim, falar do Brasil não é algo que esteja na moda. Eu espero que não entre. Toda vez que o Brasil entra na moda, eu falo: "Tomara que saia logo". Porque tudo o que entra, sai. Romper essas barreiras intransponíveis entre o design e o artesanato é uma necessidade urgente da cultura brasileira. Não é só para agora.
Leia
entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
Entrevistas de A CASA serão reunidas em livro
Com o objetivo de tornar sua leitura ainda mais agradável, as entrevistas de A CASA museu do objeto brasileiro, publicadas mensalmente há mais de dois anos e disponíveis em www.acasa.org.br, serão reunidas em livro. O lançamento do primeiro volume ocorre em 20 de outubro, dia da premiação e abertura da exposição do 2° Prêmio Objeto Brasileiro.
De acordo com Renata Mellão, diretora geral do museu e idealizadora da publicação, as entrevistas visam "contribuir para criar referências para o desenvolvimento de bons projetos que promovam o encontro entre design e artesanato no país".
A interação entre design e artesanato, marcada por tensões e conflitos, envolve profissionais de diversas áreas com variados pontos de vista. São estes profissionais que A CASA procura ouvir, abordando sempre questões que giram em torno dos benefícios desta interação, seus problemas e princípios éticos que devem ser levados em conta em qualquer projeto dessa natureza.
Este primeiro volume compreende as 10 primeiras entrevistas, realizadas entre junho de 2008 e março de 2009, com Renato Imbroisi, Marcelo Manzatti, Janete Costa, Maria Teresa Leal (TT Leal), Christian Ullmann e Tania de Paula, Liana Bloisi e Glaucia Amaral, Paulo Sérgio Franzosi e Marta Mendes, Marisa Ota, Fábio Souza e Helena Sampaio.
O resultado é uma miríade de opiniões e vivências que permitem aprofundar o olhar sobre o encontro entre design e artesanato e refletir sobre as dimensões materiais e simbólicas da produção do objeto brasileiro. Com esta iniciativa, A CASA pretende contribuir com um debate que ainda está se desenvolvendo.
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A CASA indica
Bienal Brasileira de Design

Com o tema "Design, Inovação e Sustentabilidade" e curadoria geral de Adélia Borges, a III Bienal Brasileira de Design está sendo realizada em Curitiba. O evento pretende refletir sobre como projetar, produzir e consumir bens, satisfazendo as demandas do mundo atual, sem comprometer o futuro do planeta. As ações acontecem simultaneamente em diversos locais da cidade. Até 31/10. Saiba mais.
Energia

Exposição lúdica e interativa que estimula nos visitantes reflexões sobre sustentabilidade, o presente e o futuro energético da humanidade dos pontos de vista científico, histórico, econômico e político. Sesc Itaquera. Av. Fernando do Espírito Santo Alves de Mattos, 1000. Itaquera. São Paulo-SP. Telefone: 11 2523 9286. De quarta a domingo e feriados, das 9h às 16h30. Até 11/09/2011. Saiba mais.
Revista Digital Arte

A 11ª edição da revista virtual traz a segunda parte da entrevista com o antropólogo Ricardo Gomes Lima, além de artigos, ensaios e resenhas sobre o universo da arte. Veja aqui.
Boa
leitura
"Rendas são obras de malha ou tecido aberto em que os fios entrelaçados formam desenhos, podendo ser confeccionadas em fios de algodão, linho, seda, ouro, prata, e até de fibras como as de bananeira. Usadas na confecção de peças de vestuário ou em detalhes como golas e punhos, têm sido tradicionalmente empregadas também na decoração de enxovais de cama e mesa e na guarnição de toalhas de altares. Segundo a técnica de elaboração, há vários tipos de rendas, destacando-se as rendas de agulha, as de bilros e o crochê, além daquelas chamadas mecânicas, ou feitas industrialmente. No Brasil, as rendas de bilros estão dentre as mais tradicionais, ocorrendo desde o nordeste até o litoral sul do país".
Giselle Paixão
A Mão na Moda, uma história brasileira
Leia o texto na íntegra
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