A CASA - Newsletter #03 - Agosto de 2008

Newsletter N° 03
Agosto de 2008

Editorial

A CASA acredita na união entre design e artesanato, de forma a contribuir para a valorização de identidades e saberes e para o desenvolvimento das comunidades. Nesta newsletter, reafirmamos a idéia de incentivar esta união, que é nossa base de trabalho e que motivou a criação do Prêmio Objeto Brasileiro. A Associação Monte Azul, tema de nossa matéria do mês, e nossa entrevistada Janete Costa são exemplos de como essa aliança pode ser concretizada com sucesso. Boa leitura!

Acontece no
museu A CASA


Cunha Gago, 807


Acervo Bibliográfico


A CASA conta com um acervo de mais de 400 títulos na área de design e artesanato. Dentre eles, estão a coleção Sala do Artista Popular, do Museu de Folclore Edison Carneiro, os livros “Tempos de Grossura”, de Lina Bo Bardi, e Que Chita Bacana, editado por A CASA. Os livros estão disponíveis para consulta no local.

Encontros design + artesanato


Últimos dias! Não perca essa retrospectiva de objetos emblemáticos da produção artesanal contemporânea nas duas últimas décadas. De segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 10/09. Saiba mais.

 

 

Premiação e Exposição

1º Prêmio Objeto Brasileiro

 

No dia 25 de setembro, A CASA divulga vencedores e abre exposiçao 1º Prêmio Objeto Brasileiro com 64 finalistas.

 

 

www.acasa.org.br


Coleção ,OVO

 

 

Coleção virtual com objetos da galeria ,OVO dos designers Luciana Martins e Gerson de Oliveira que, no mês de setembro, irão mostrar seu trabalho em uma ambientação na Holanda. A coleção tráz objetos como Huevos Revueltos, Poltrona Cadê e Mesa Camelo. Veja coleção.


 


Apoio

Entrevista - Janete Costa


 

“A nossa obrigação é tirar essa coisa de você ligar o artesanato à pobreza, a coisa inferior”

 

Janete Costa é arquiteta e, em seus projetos de decoração, leva objetos artesanais para ambientes de luxo.

 


Você acha que o artesanato está em crise, ou perto do fim?
Enquanto houver pobreza e necessidade de fazer para se usar, o artesanato persiste. Os artesãos fazem não só para vender, mas também peças para uso próprio, como os tamboretes, mesas, candeeiros. E eles têm a necessidade do fazer, que é inerente ao ser humano. Em Recife, muitas indústrias abriram postos de trabalho e tiveram que fechar logo depois, pois as pessoas não se identificaram. Ganham um salário mínimo que é um salário fixo, mas não é uma expressão cultural. Às vezes a produção feita pelo modo artesanal vende mais e ele faz o que quer, o que gosta, da maneira que quer.

 

O que poderia ser feito no sentido de melhorar a vida de artesãos no país?
O que nós precisamos, uma coisa importantíssima é que nós, arquitetos, designers, intelectuais, pessoas que compreendem, que têm sensibilidade para esse uso, temos que impor para que haja uma mudança de comportamento da sociedade. Quer dizer, não somente é mais bonito, mais interessante e muito mais humano, mas estimular o artesanato também contribui para uma parte da sociedade que é carente e que necessita disso. Então nós temos esse dever, de impor, de fazer, de mostrar o que é feito principalmente por essa população menos privilegiada economicamente.

 

O que seria o interferir sem ferir, a que você sempre se refere?
É, principalmente, não destruir a auto-estima da população, porque quando você interfere demais a auto-estima deles vai abaixo. A gente tem que ajudar na ponta da venda, fazendo um comércio justo, que o comércio do artesanato é um comércio completamente arbitrário, injusto, não valorizado, terrivelmente explorado, e a nossa obrigação é tirar essa coisa de você ligar o artesanato à pobreza, a coisa inferior. O produto artesanal ainda é vendido muito barato, pois a grande maioria do artesanato, principalmente no interior do nordeste, é consumido pela própria classe social e não é consumido por outra classe. O milionário, o rico, não usa, de jeito nenhum. Ele não valoriza porque ele está no mundo de ouro, dourado e não acha legal. Eu acho exatamente o contrário.

 


Leia entrevista na íntegra

 

 

 


Matéria do MÊS

 


Monte Azul: Caminhos possíveis para design, artesanato urbano e ação social

 


Em 1979, uma turma noturna de alunos aprendia, à luz de velas e com poucos recursos de maquinário, os primeiros passos do trabalho de um marceneiro. Esse é o início da história da marcenaria da Monte Azul, ONG criada pela pedagoga alemã Ute Craemer, na favela de mesmo nome da zona sul de São Paulo. Quase 30 anos e muitas turmas depois, essa mesma marcenaria tem uma estrutura digna da intensa produção, que vai de brinquedos a móveis e objetos utilitários. Os produtos são revendidos em 40 lojas espalhadas pelo Brasil, além da lojinha própria. Se antes trabalhavam com materiais doados por grandes empresas, hoje compram seu próprio material e fazem o reaproveitamento das sobras da produção.


“Quando começamos, tentamos saber o contexto dos alunos, produzir peças que eles utilizassem no dia-a-dia”, conta Evanilda Dias (Evinha), há 26 anos na Monte Azul. Ela conta que o aprendizado teve continuidade na vida dos jovens. Três dos ex-alunos abriram pequenas empresas fora da comunidade, outros seguiram via universitária no curso de design, e sete deles continuam lá, agora como funcionários.


Em 2001, a Monte Azul participou do projeto Design Solidário, de iniciativa de A CASA, que promoveu o encontro dos artesãos da associação com estudantes de design da Holanda. “Após o trabalho com os holandeses, surgiram designers interessados em trabalhar com a gente”, conta Ronaldo Pereira, ex-aluno que há sete anos se tornou funcionário de lá. “Desde então, fizemos trabalhos com o Projeto Terra e Ornare, e temos também parcerias fixas com Flavia Pagotti e Design Possível”, completa.


A Monte Azul atua em três favelas da região, atendendo a cerca de 5 mil pessoas. Além da marcenaria, a infra-estrutura conta com creches, ambulatório médico e Centro da Juventude, biblioteca, horta orgânica, padaria e farmácia antroposófica. Com três décadas de trabalho, a ONG já se tornou referência. “Estou embarcando amanhã para divulgar no Japão o nosso trabalho”, contou Evinha na despedida.

 


A CASA indica

60 anos de Guto Lacaz

 

 

O artista completa em setembro seis décadas de vida e mais de 30 anos de trabalho. Cumprindo a sua vontade, Guto Lacaz vai comemorar seu aniversário no palco, com o ciclo 3 – pequeno repertório de performances. De 5 a 28 de setembro, sextas e sábados às 21h e domingos às 19h. Ingressos: R$ 10. No Teatro Aliança Francesa. Rua General Jardim, 182, São Paulo.

 

Também do artista, a exposição Maquetes Reunidas está aberta até 28/9. De terça a domingo, das 9h às 17h. Grátis. Na Capela do Morumbi. Av. Morumbi, 5387, São Paulo.

 

 

Benjamin Taubkin + Núcleo de Música do Abaçaí

www.myspace.com/benjamintaubkineabacai

 

O link reúne composições, adaptações e arranjos produzidos por Benjamin Taubkin e Núcleo de Música do Abaçaí a partir do repertório tradicional de várias regiões do país, como Caixeiras do Divino do Maranhão, Moçambique de Minas Gerais, Ciranda Pernambucana e Sambas-de-roda baianos. O trabalho resultou no CD Cantos do Nosso Chão que foi lançado pelo selo independente Núcleo Contemporâneo.

 


Sorvete de Castanha do Pará


 

A Loja Feira Moderna oferece uma variedade de sorvetes de frutas regionais do Pará, produzidos pela marca Cairú, de Belém. A nossa equipe experimentou e recomenda os de tapioca e castanha. O café funciona de domingo a quarta, das 10h às 23h e de quinta a sábado, das 10h às 1h30. Rua Fradique Coutinho, 1246/1248, São Paulo.

 

 

Música no Museu – “Toninho Ferraguti em Nem sol, nem lua”

 

 

No próximo domingo, o acordeonista Toninho Ferragutti faz o show “Nem sol, nem lua” no terraço do Museu da Casa Brasileira. Último espetáculo da temporada de três meses da curadoria de Antonio Nóbrega. Domingo, 31 de agosto, às11h, entrada franca. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705, São Paulo. Mais informações no site www.mcb.sp.gov.br.

 

 

Boa leitura

Numa das reuniões com os artesãos, eu levantei a questão do uso exagerado do verniz cobrindo esses brinquedos. Os brinquedos refletiam como um espelho, algo que não está de acordo com o meu gosto. Eu falei: “Diminuam esse verniz, vocês não acham que ficaria melhor? Voltem a fazer esses brinquedos como vocês faziam.”. Isto porque, em 1986, quando estive pela primeira vez pesquisando aqueles brinquedos, eles praticamente não recebiam qualquer envernizamento. Logo após, uma grande empresa entrou em contato querendo fazer uma encomenda de brinquedos para dar como brinde. Foi marcado um dia para a visita da pessoa que escolheria os modelos que seriam feitos. No dia acertado, todos os artesões compareceram com suas amostras de brinquedos para serem escolhidos. Um artesão não me ouvira e levou seus brinquedos altamente envernizados. Foi ele que ficou com todas as encomendas e os outros voltaram para casa com seus brinquedos de “fino” gosto. Esse caso ilustra bem a impropriedade ao dizermos que o mercado quer isto ou quer aquilo. Afinal, quem é o mercado?

 

Texto "Estética e gosto não são critérios para o artesanato", de Ricardo Lima, publicado pelo ArteSol, no livro Artesanato, Produção e Mercado: uma via de mão dupla.

 


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