Editorial
A CASA acredita na união
entre design e artesanato, de forma a contribuir para a valorização
de identidades e saberes e para o desenvolvimento das comunidades.
Nesta newsletter, reafirmamos a idéia de incentivar esta
união, que é nossa base de trabalho e que motivou
a criação do Prêmio Objeto Brasileiro. A Associação
Monte Azul, tema de nossa matéria do mês, e nossa entrevistada
Janete Costa são exemplos de como essa aliança pode
ser concretizada com sucesso. Boa leitura!
Acontece no
museu A CASA
Cunha Gago, 807
Acervo Bibliográfico

A CASA conta com um acervo de mais de 400 títulos na área
de design e artesanato. Dentre eles, estão a coleção
Sala do Artista Popular, do Museu de Folclore Edison Carneiro, os
livros “Tempos de Grossura”, de Lina Bo Bardi, e Que
Chita Bacana, editado por A CASA. Os livros estão disponíveis
para consulta no local.
Encontros design + artesanato

Últimos dias! Não perca essa retrospectiva de objetos
emblemáticos da produção artesanal contemporânea
nas duas últimas décadas. De segunda a sexta, das
10h às 19h. Até 10/09. Saiba
mais.
Premiação e Exposição
1º Prêmio Objeto Brasileiro
No dia 25 de setembro, A CASA divulga vencedores
e abre exposiçao 1º Prêmio Objeto Brasileiro
com 64
finalistas.
www.acasa.org.br
Coleção ,OVO

Coleção virtual
com objetos da galeria ,OVO
dos designers Luciana Martins e Gerson de Oliveira que, no mês
de setembro, irão mostrar seu trabalho em uma ambientação
na Holanda. A coleção tráz objetos como Huevos
Revueltos, Poltrona Cadê e Mesa Camelo. Veja
coleção.
Apoio
|
Entrevista - Janete Costa
“A nossa obrigação
é tirar essa coisa de você ligar o artesanato
à pobreza, a coisa inferior”
Janete Costa é arquiteta e, em seus projetos de
decoração, leva objetos artesanais para ambientes
de luxo.
Você
acha que o artesanato está em crise, ou perto do fim?
Enquanto houver pobreza e necessidade de fazer para
se usar, o artesanato persiste. Os artesãos fazem não
só para vender, mas também peças para
uso próprio, como os tamboretes, mesas, candeeiros.
E eles têm a necessidade do fazer, que é inerente
ao ser humano. Em Recife, muitas indústrias abriram
postos de trabalho e tiveram que fechar logo depois, pois
as pessoas não se identificaram. Ganham um salário
mínimo que é um salário fixo, mas não
é uma expressão cultural. Às vezes a
produção feita pelo modo artesanal vende mais
e ele faz o que quer, o que gosta, da maneira que quer.
O que poderia ser feito no sentido
de melhorar a vida de artesãos no país?
O que nós precisamos, uma coisa importantíssima
é que nós, arquitetos, designers, intelectuais,
pessoas que compreendem, que têm sensibilidade para
esse uso, temos que impor para que haja uma mudança
de comportamento da sociedade. Quer dizer, não somente
é mais bonito, mais interessante e muito mais humano,
mas estimular o artesanato também contribui para uma
parte da sociedade que é carente e que necessita disso.
Então nós temos esse dever, de impor, de fazer,
de mostrar o que é feito principalmente por essa população
menos privilegiada economicamente.
O que seria o interferir sem ferir,
a que você sempre se refere?
É, principalmente, não destruir a auto-estima
da população, porque quando você interfere
demais a auto-estima deles vai abaixo. A gente tem que ajudar
na ponta da venda, fazendo um comércio justo, que o
comércio do artesanato é um comércio
completamente arbitrário, injusto, não valorizado,
terrivelmente explorado, e a nossa obrigação
é tirar essa coisa de você ligar o artesanato
à pobreza, a coisa inferior. O produto artesanal ainda
é vendido muito barato, pois a grande maioria do artesanato,
principalmente no interior do nordeste, é consumido
pela própria classe social e não é consumido
por outra classe. O milionário, o rico, não
usa, de jeito nenhum. Ele não valoriza porque ele está
no mundo de ouro, dourado e não acha legal. Eu acho
exatamente o contrário.
Leia
entrevista na íntegra
|
|
Matéria do MÊS
Monte Azul: Caminhos possíveis
para design, artesanato urbano e ação social
Em 1979, uma turma noturna de alunos aprendia, à
luz de velas e com poucos recursos de maquinário,
os primeiros passos do trabalho de um marceneiro. Esse é
o início da história da marcenaria da
Monte Azul, ONG criada pela pedagoga
alemã Ute Craemer, na favela de mesmo nome da zona
sul de São Paulo. Quase 30 anos e muitas turmas depois,
essa mesma marcenaria tem uma estrutura digna da intensa
produção, que vai de brinquedos a móveis
e objetos utilitários. Os produtos são revendidos
em 40 lojas espalhadas pelo Brasil, além da lojinha
própria. Se antes trabalhavam com materiais doados
por grandes empresas, hoje compram seu próprio material
e fazem o reaproveitamento das sobras da produção.
“Quando começamos, tentamos saber o contexto
dos alunos, produzir peças que eles utilizassem no
dia-a-dia”, conta Evanilda Dias (Evinha), há
26 anos na Monte Azul. Ela conta que o aprendizado teve
continuidade na vida dos jovens. Três dos ex-alunos
abriram pequenas empresas fora da comunidade, outros seguiram
via universitária no curso de design, e sete deles
continuam lá, agora como funcionários.
Em 2001, a Monte Azul participou do projeto Design Solidário,
de iniciativa de A CASA, que promoveu o encontro dos artesãos
da associação com estudantes de design da
Holanda. “Após o trabalho com os holandeses,
surgiram designers interessados em trabalhar com a gente”,
conta Ronaldo Pereira, ex-aluno que há sete anos
se tornou funcionário de lá. “Desde
então, fizemos trabalhos com o Projeto Terra e Ornare,
e temos também parcerias fixas com Flavia Pagotti
e Design Possível”, completa.
A Monte Azul atua em três favelas da região,
atendendo a cerca de 5 mil pessoas. Além da marcenaria,
a infra-estrutura conta com creches, ambulatório
médico e Centro da Juventude, biblioteca, horta orgânica,
padaria e farmácia antroposófica. Com três
décadas de trabalho, a ONG já se tornou referência.
“Estou embarcando amanhã para divulgar no Japão
o nosso trabalho”, contou Evinha na despedida.
|
|
|
A
CASA indica
60 anos de Guto Lacaz

O artista completa em setembro
seis décadas de vida e mais de 30 anos de trabalho. Cumprindo
a sua vontade, Guto
Lacaz vai comemorar seu aniversário no palco,
com o ciclo 3 – pequeno repertório de performances.
De 5 a 28 de setembro, sextas e sábados às 21h e domingos
às 19h. Ingressos: R$ 10. No Teatro Aliança Francesa.
Rua General Jardim, 182, São Paulo.
Também do artista, a exposição
Maquetes
Reunidas está aberta até 28/9. De terça
a domingo, das 9h às 17h. Grátis. Na Capela do Morumbi.
Av. Morumbi, 5387, São Paulo.
Benjamin Taubkin +
Núcleo de Música do Abaçaí
www.myspace.com/benjamintaubkineabacai
O link reúne composições,
adaptações e arranjos produzidos por Benjamin Taubkin
e Núcleo de Música do Abaçaí a partir
do repertório tradicional de várias regiões
do país, como Caixeiras do Divino do Maranhão, Moçambique
de Minas Gerais, Ciranda Pernambucana e Sambas-de-roda baianos.
O trabalho resultou no CD Cantos do Nosso Chão que foi lançado
pelo selo independente Núcleo
Contemporâneo.
Sorvete de
Castanha do Pará

A Loja
Feira Moderna oferece uma variedade de sorvetes de
frutas regionais do Pará, produzidos pela marca Cairú,
de Belém. A nossa equipe experimentou e recomenda os de tapioca
e castanha. O café funciona de domingo a quarta, das 10h
às 23h e de quinta a sábado, das 10h às 1h30.
Rua Fradique Coutinho, 1246/1248, São Paulo.
Música no Museu
– “Toninho Ferraguti em Nem sol, nem lua”

No próximo domingo, o
acordeonista Toninho Ferragutti faz o show “Nem sol, nem lua”
no terraço do Museu da Casa Brasileira. Último espetáculo
da temporada de três meses da curadoria de Antonio Nóbrega.
Domingo, 31 de agosto, às11h, entrada franca. Av. Brigadeiro
Faria Lima, 2705, São Paulo. Mais informações
no site www.mcb.sp.gov.br.
Boa
leitura
Numa das reuniões com
os artesãos, eu levantei a questão do uso exagerado
do verniz cobrindo esses brinquedos. Os brinquedos refletiam como
um espelho, algo que não está de acordo com o meu
gosto. Eu falei: “Diminuam esse verniz, vocês não
acham que ficaria melhor? Voltem a fazer esses brinquedos como vocês
faziam.”. Isto porque, em 1986, quando estive pela primeira
vez pesquisando aqueles brinquedos, eles praticamente não
recebiam qualquer envernizamento. Logo após, uma grande empresa
entrou em contato querendo fazer uma encomenda de brinquedos para
dar como brinde. Foi marcado um dia para a visita da pessoa que
escolheria os modelos que seriam feitos. No dia acertado, todos
os artesões compareceram com suas amostras de brinquedos
para serem escolhidos. Um artesão não me ouvira e
levou seus brinquedos altamente envernizados. Foi ele que ficou
com todas as encomendas e os outros voltaram para casa com seus
brinquedos de “fino” gosto. Esse caso ilustra bem a
impropriedade ao dizermos que o mercado quer isto ou quer aquilo.
Afinal, quem é o mercado?
Texto "Estética
e gosto não são critérios para o artesanato",
de Ricardo Lima, publicado pelo ArteSol, no livro Artesanato, Produção
e Mercado: uma via de mão dupla.
|
|