Editorial
O ano se encerra a todo vapor em A CASA! No dia 16 de dezembro será inaugurada a exposição Louça morena do povoado de Poxica, fruto da parceria de A CASA com o Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart). Confira todas as informações sobre a mostra em Acontece no museu A CASA e em Matéria do MÊS.
A newsletter 31 traz ainda entrevista com Renata Mendes, designer e coordenadora de projetos da Associação Mundaréu. A relação entre design e artesanato, o comercio justo e o trabalho da Associação Mundaréu são alguns dos temas abordados. Confira!
Após um ano repleto de realizações como o 2° Prêmio Objeto Brasileiro, o lançamento do livro entreVistas design + artesanato - Volume 1 e as exposições NA CABEÇA, O Objeto, a Arte e o Artista e Girando o Acervo II, desejamos a todos Boas Festas!
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Louça morena do povoado de Poxica

Exposição apresenta peças em barro produzidas no povoado de Poxica, município de Itabaianinha, em Sergipe, e faz parte do projeto Sala do Artista Popular. De segunda sexta, das 10h às 19h. Até 18/03. Saiba mais.
Recesso

Por conta das festas de fim de ano, A CASA estará fechada entre os dias 23/12 e 02/01, retomando as atividades no dia 03/01. Aproveitamos para desejar a todos boas festas!
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Coleção Marina Lafer

Utilizando tear manual e materiais como algodão, seda, viscose e linho, Marina Lafer combina cores diversas para a criação de echarpes, xales, mantas, bolsas, jogos americanos e tecidos. Veja aqui.
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Entrevista
- Renata Mendes
“Todo mundo tem medo do feio”
Renata Mendes é designer e coordenadora de projetos da Associação Mundaréu.
Como a Associação Mundaréu enxerga o encontro entre design e artesanato? Até onde vai a atuação do designer? Há espaço para a criação do grupo?
O produto final é o que primeiro chama a atenção do grupo. É no momento em que se vê o produto pronto que cai a ficha: “Nossa, a gente consegue fazer uma coisa bacana!”. Apesar de ser um trabalho que não é só de design, o que é palpável é o produto. É o produto que é aceito ou não, é o produto que vende ou não, é o produto que trás o dinheiro. Então há muita expectativa em cima disso. Para que seja um resultado que possa se sustentar e se desdobrar no grupo quando o projeto acaba, a gente faz um processo bastante integrado de profissionais com o grupo. Primeiro a gente se conhece e vai conhecer o que as pessoas sabem fazer. Em seguida, junto com as pessoas, fazemos um trabalho de olhar o lugar que elas estão. É daí que vão sair inspirações para que os produtos sejam originais, para que os produtos falem por eles mesmos. Depois disso, a gente junta as duas coisas – o que a gente olhou e as técnicas que haviam naquele lugar – e faz um laboratório de experimentação. Muitas vezes, esse não é um passo agradável, não é um passo fácil, porque todo mundo tem medo do feio. As pessoas normalmente vão pelo caminho em que elas estão seguras do resultado que vai dar. É por isso que as revistas de artesanato dão tão certo: elas mostram o resultado a que se vai chegar. Elas seguem e chegam. Desconstruir esse caminho para incentivar a criação, uma criação que envolve experimentação para poder descobrir novos efeitos, nem sempre é bem aceito. Mas as pessoas experimentam e descobrem coisas, o que é muito legal, porque elas se envolvem, se sentem capazes e animadas com essa ousadia. Pelo material, pelas referências de cores e de imagens e pela vivência que a gente tem no mercado têm-se os elementos para construir o produto. O produto final não é apenas uma sugestão do designer, ele é conseqüência do trabalho. Ele está super integrado com o que o artesão descobriu e com a sua experiência. É uma parceria mesmo.
A Mundaréu trabalha no âmbito do comércio justo. O que é comércio justo? O que significa pagar um preço justo por um produto artesanal?
Atualmente os princípios do comércio justo são: contratos de longa duração, apoio para aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, ausência de trabalho escravo e infantil, ambiente de trabalho cooperativo, igualdade entre homens e mulheres, estímulo a práticas ambientais sustentáveis, remuneração justa ao produtor, com preço justo para o consumidor. Como garantir esses princípios? Uma das formas é fazer com que o artesão aprenda a calcular custos – contando tempo de mão-de-obra, gastos com material – e a formar preço. Logo, ele tem esclarecimento para decidir se pode dar desconto ou não, por exemplo. Trata-se de fazer com que ele tenha poder de negociação, porque se o artesão faz um determinado objeto, chuta que ele vale dez e o comprador vem e fala “Eu te pago cinco”, ele não sabe se está sendo explorado ou não, pois não tem argumentos para justificar o preço. De repente, ele acha que cinco está bom, mas se colocar na ponta do lápis – o que não é uma coisa simples – vai perceber que custou sete para fazer. Como você instrumentaliza, esclarece e informa? Fazemos um trabalho de educação para que as pessoas possam estar preparadas para essas relações. Pessoalmente, acho que o comércio justo não é uma maneira de “proteger” o artesão no sentido paternalista da palavra, porque isso não leva longe. O comércio justo é bom para nortear novas relações de produção e de comércio, não para colocar o produtor numa redoma.
À primeira vista, os princípios do comércio justo parecem encarecer os objetos. No entanto, comparando-se com lojas não certificadas, os preços dos produtos vendidos pela Associação Mundaréu são bastante convidativos. Como isso é possível?
A gente não faz mágica: a diferença é que nossa atividade não gera lucro. Procuramos adequar o preço final do produto de maneira a fazer com que as peças tenham saída, porque a gente quer ter um canal de comercialização que venda e traga retorno aos grupos. A gente se baseia em parâmetros de mercado. Na nossa concepção, fazer um produto que encha de orgulho, mas que fique na prateleira, não traz resultados para o que a gente se propõe a fazer. Não é um trabalho apenas para aumentar a auto-estima. Isso é uma conseqüência. Mas o que está movendo tudo isso é a formação de um negócio, é um empreendimento feito por um coletivo. Não se pode deixar de olhar o mercado, porque isso não está num mundo paralelo, está inserido aqui dentro, dentro do sistema capitalista, dentro de uma série de concorrentes, dentro de clientes que vão dizer: “Olha, eu pago tanto, eu não pago tanto”. É assim. Trata-se de pensar como preparar melhor o grupo para funcionar dentro disso.
O que poderia ser destacado como principal dificuldade do trabalho da Mundaréu?
Há duas dificuldades um pouco amarradas. Primeiro, a comercialização – principalmente este pontapé inicial, de começar a comercializar e ter a manutenção desse retorno. É uma dificuldade porque isso tem altos e baixos, tem sazonalidade, e o grupo muitas vezes tem necessidades e desejos imediatos, e não tem a vivência e o hábito de planejar, de investir para o futuro, logo desiste. E aí já estamos falando da segunda dificuldade, que é desenvolver o espírito empreendedor, a dificuldade de formar empreendimentos que se formalizem. A gente sempre procura vivenciar o empreendimento para depois formalizar com a cara que ele tiver, porque a gente sabe que tem inúmeras pedras no caminho, e não adianta eu criar uma cooperativa para depois saber como funciona uma cooperativa.
Leia
entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
A tradição popular da louça de barro de Poxica
A partir do dia 16 de dezembro, quinta-feira, até 18 de março de 2011, A CASA museu do objeto brasileiro, receberá a exposição e venda de obras de Louça morena do povoado de Poxica, uma das mais importantes regiões brasileiras de tradição popular na produção e comercialização de louças de barro, localizada no município de Itabaianinha, em Sergipe.
A exposição faz parte do projeto Sala do Artista Popular, que é uma realização do Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural (Promoart)/Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) e Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro (Acamufec), que contam com a parceria regional de A CASA Museu do Objeto Brasileiro, além da parceria institucional e apoio financeiro do BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Itabaianinha
Itabaianinha está localizada na região centro-sul do Estado de Sergipe, a 118 km da capital Aracaju, com aproximadamente 38.000 habitantes divididos entre os cerca de cem povoados da região. É referida sempre como a "Princesa das Montanhas", como a teria batizado o poeta sergipano João Pereira Barreto, por sua localização entre cadeias de montes.
Se a produção cerâmica destinada à construção civil logo se anuncia na paisagem, ao olhar imediato do visitante escapa haver ali uma outra atividade que transforma o barro, dispersa nas oficinas de seus produtores, em geral instaladas no ambiente doméstico. A "louça morena", como a chamou Cecília Meireles, pode ser encontrada na área urbana ou em diferentes povoados. Fazer peças de barro em Itabaianinha aparece como uma atividade caracteristicamente masculina quando ocorre o uso do torno, mas a produção manual de louça para uso doméstico é de domínio feminino. E é no povoado Poxica, a sete quilômetros de Itabaianinha, que a produção manual da louça de barro está concentrada e adquire expressão.
"É coisa passada de geração"
As louceiras de Poxica modelam mais frequentemente vasilhas arredondadas - passarinhos, caqueiros, pratos e alguidares. Mais recentemente produzem travessas, além de grande variedade de peças introduzidas - lembradas, aprendidas ou inventadas - por dona Valdeci, conhecida por Nem, sejam panelas, xícaras, bules, sopeiras, flores, moringas e tantas mais.
Começaram a aprender crianças ainda, quando, olhando as mães, se distraíam fabricando boizinhos e miniaturas para as brincadeiras. O aprendizado da louça se iniciava com os "passarinhos", vasilhas pequenas assim chamadas porque nelas se usava deixar água para essas aves coloridas virem beber e se refrescar. À medida que pegavam jeito cresciam as peças, abrindo-as a partir de seu interior e fazendo girar o barro entre as palmas das mãos, como em uma espécie de torno imaginário.
As mulheres do povoado perguntam apreensivas quem irá continuar fazendo a louça quando as que aí estão também deixarem, mas, de pouco em pouco, moças e meninas têm chegado, revelando que dar forma à massa espessa é memória compartilhada e que no fazer do barro pode estar guardado um percurso também para si.
Fonte: ZACCHI, Marina Sallovitz. Catálogo da exposição Louça Morena puxada à mão: o fazer do barro no povoado de Poxica. Novembro de 2010.
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A CASA indica
Mercado Brasil de Artesanato Tradicional

Organizada pelo Programa de Artesanato de Tradição Cultural (Promoart), a feira reúne a produção de 65 comunidades de 22 estados do país. Brinquedos, cerâmicas, rendas, objetos em madeira, produtos têxteis e de cestaria poderão ser adquiridos durante o evento, que conta também com demonstrações da feitura dos trabalhos pelos próprios artesãos, exibições de documentários etnográficos e lançamento de livros. De 16 a 19 de dezembro, das 11h às 19h. Jardins do Museu da República. Rua do Catete, 153. Catete. Rio de Janeiro-RJ. Saiba mais.
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Textos escolhidos de cultura e arte populares

A revista, que tem versão impressa e virtual, é uma publicação semestral do Núcleo de Cultura Popular da UERJ e do Centro de Referência do Carnaval. Editada por Luiz Felipe Ferreira e Ricardo Gomes Lima, tem por objetivo ampliar e difundir o pensamento contemporâneo sobre a cultura popular entendida em seu sentido amplo, em sua dinâmica cotidiana e em sua diversidade de manifestações. Veja aqui.
Big Blog Brasil Design

Escrito por Maria Helena Estrada, crítica de design e editora da revista ARC DESIGN, o blog pretende mostrar a força do novo design brasileiro de forma a torná-lo conhecido e reconhecido. Veja aqui.
Enciclopédias Itaú Cultural

O Itaú Cultural disponibiliza gratuitamente na internet mais de 6 mil verbetes constantemente atualizados, com biografias, histórias e obras de diferentes expressões artísticas. Veja aqui.
Boa
leitura
"O encontro entre design e artesanato é um campo permanentemente tensionado, a despeito de todo o tempo que se passou desde os primeiros projetos reunindo designers e comunidades de artesãos e do quanto se evoluiu na área desde então. Posicionamentos os mais diversos são acompanhados de defesas apaixonadas de pontos de vista e fortes críticas a formas de atuação divergentes. Surgem desde questionamentos sobre a legitimidade da intervenção de designers em uma comunidade tradicional de artesãos, pelo risco sempre presente de se extinguir toda uma cultura ancestral, até a argumentação de que promover essa intervenção é, pelo contrário, uma obrigação, já que possibilita elevar a renda de milhares de artesãos que, mesmo dotados de um incrível saber-fazer, por vezes vivem à margem da sociedade e em condições de indigência. Mesmo dentre aqueles que apóiam e promovem essa intervenção, há quase que um consenso de que ela deve se pautar por alguns princípios éticos que possibilitem uma relação equilibrada – segue-se daí, nova rodada de debates".
Daniel Douek e Lígia Azevedo
Introdução ao livro "entrevistas deisgn + artesanato vol. 1"
Leia o texto na íntegra
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