Editorial
A CASA retoma suas atividades desejando a todos um ótimo ano de 2011. Abrimos a primeira newsletter do ano com uma entrevista com o designer Lars Diederitchen, em que ele conta sua experiência de trabalho com design e artesanato no Instituto Meio.
Neste mês será totalmente reaberta, após três anos de reforma, uma das maiores bibliotecas de nosso país - a Mario de Andrade, em São Paulo. Aproveitamos a ocasião para trazer ao leitor um texto do escritor que dá nome à Biblioteca, no qual Mario de Andrade trata do artesanato como base para as demais artes, e ainda uma matéria sobre as Missões de Pesquisas Folclóricas, projeto de Mario que se configurou como uma das mais importantes contribuições já feitas em termos de pesquisa e documentação da cultura popular brasileira.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Louça morena do povoado de Poxica

Uma amostra das peças de louça feitas em barro e moldadas sem torno produzidas por artesãos do povoado de Poxica (Itabaianinha/ SE). A exposição é uma parceria com o Promoart e faz parte do projeto Sala do Artista Popular. Em janeiro: de segunda sexta, das 11 às 19h. De fevereiro a março: de segunda a sexta, das 10h às 19h. Até 18/03. Saiba mais.
www.acasa.org.br
Vídeo da exposição Louça morena de Poxica

Já está disponível no nosso site um vídeo sobre a exposição "Louça morena do povoado de Poxica", que conta um pouco sobre a produção de cerâmica no povoado de Poxica. O vídeo tem imagens da cidade, dos artesãos durante o trabalho e do resultado final das peças. Assista aqui.
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Entrevista
- Lars Diederischen
"O design na verdade é uma ferramenta. O fim é a autossustentabilidade do negócio"
Lars Diederischen é designer e um dos sócios-fundadores do Instituto Meio.
Conte-nos um pouco da sua trajetória e como nasceu o Instituto Meio.
Entre 2003 e 2004, eu comecei a pensar o Instituto Meio. Me juntei ao Eduardo, que é administrador, porque eu percebi que tinha que ter uma equipe multidisciplinar trabalhando. Não podia ser só um designer, só um administrador, só um psicólogo, ou só um assistente social, só uma pessoa de marketing... Tinha que ser pensado como um todo. O Meio nasceu em 2005, com esse objetivo. A gente trabalhou muito com geração de renda para comunidades artesanais formando uma metodologia que pudesse trabalhar todo o ciclo - desde a sensibilização, trabalho em grupo, design de produto, a questão tecnológica, de melhoria de algumas deficiências técnicas do material. Mais para frente, a própria questão do manejo sustentável da matéria prima, de ferramentas de gestão, ferramentas de mercado, agora estamos começando a formatar uma metodologia de planejamento estratégico para artesãos. Conseguimos fechar esse ciclo. Falando um pouco da equipe multidisciplinar, até o Eduardo entrou no Instituto porque na época ele achou que era interessante fazer uma loja de artesanato. E eu falei “olha, não adianta fazer uma loja se a gente não prepara os grupos”. A gente começou exatamente com essa questão, que muitas vezes você desenvolve um produto, ele é lindo e maravilhoso, vai para uma mostra, pode até ganhar um prêmio, mas o que ele realmente gerou na comunidade de renda? Que outras áreas não foram trabalhadas, que então impediram esse negócio de realmente funcionar? Montando essa metodologia mais holística ou circular, percebemos que tinha que ter profissionais de outras áreas.
O design e a presença do designer vão além do desenvolvimento do desenho do produto, pelo que você fala. Comente um pouco isso.
Se você for pesquisar como o artesanato surgiu, e o que significa o artesanato para as pessoas, principalmente é uma atividade para gerar renda, sempre foi assim. Quando as pessoas começaram a fazer objetos de uso próprio, o segundo passo era a troca. Vou trocar a minha tigela de cerâmica por uma pele do meu vizinho que é caçador. Depois quando tiveram os ofícios, que foram muito importantes na Europa, eram profissões reconhecidas para o desenvolvimento econômico da região. Essa necessidade nunca se perdeu no artesanato. Quer dizer, artesanato não é arte. A arte popular é uma expressão do povo, você não faz pensando em vender. Já o artesanato é um mecanismo de renda para as pessoas. Hoje em dia, até na própria definição do artesanato tem essa questão da geração de renda, é um negócio. Por isso tem que entrar com ferramentas de gestão. E não adianta num projeto de geração de renda você só dar. Você tem que montar uma estrutura para que ela possa se desenvolver por si só, fazer uma estrutura autossustentável. Então na verdade é mais complexo. E às vezes até mais caro. Às vezes até você fala "Bom, se eu vou investir um milhão de reais, quantas creches dá para fazer? Ou quantos cursos eu consigo fazer?" Você consegue fazer muitos. Agora se você pega isso e fala "quantos negócios eu consigo fazer, que quando acabar esse dinheiro eles consigam sobreviver e gerar renda sozinhos?". Aí são menos, porque o projeto é mais caro. Porque a gente sabe que tem que investir em infraestrutura, em capacitação das pessoas, em ações de mercado, em design para o produto, em melhoria tecnológica, em todo esse ciclo que está ali.
Você diria que essa é a grande questão talvez? De você construir uma coisa que seja autossustentável, que consiga se manter depois que o designer sai, mais do que a questão da atuação em cima do produto?
Acho que sempre é bom se perguntar qual é o objetivo, o que é que eu quero fazer. Se você tem o objetivo de fortalecer a comunidade e gerar um negócio sustentável para que as pessoas possam viver dessa renda, o design na verdade é uma ferramenta. Ele faz parte do ciclo, do processo. O fim é a autossustentabilidade desse negócio. Como designer, às vezes é importante você passar também a metodologia, mais do que desenvolver o produto. Para que, quando você for embora, se possa ao menos fazer pequenas mudanças, algumas adequações e aumentar a linha de produtos, sem necessariamente precisar de o designer ir sempre lá. No fundo, você tem que desmistificar um pouco essa questão do designer. Como designer também tem que dar um passinho para trás. Isso às vezes não é fácil. Falar "peraí, eu não sou o cara mais importante, eu faço parte, como outros também, de um sistema que depois deve funcionar". E eu acho que hoje isso está mudando.
Leia
entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
Mário de Andrade e o legado da Missão de Pesquisas Folclóricas
Era 1938. O processo de urbanização no Brasil estava acelerado e novas tecnologias revolucionavama comunicação - em especial o rádio, o meio então dominante. Paralelamente, o governo de Getúlio Vargas decretava perseguição policial aos cultos afro-brasileiros no nordeste, por julgá-los "baixo espiritismo". Diante desse contexto, o escritor Mário de Andrade temia pelo desaparecimento das manifestações populares. Mário, na época Diretor do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo, decidiu então organizar um grupo de pesquisa para viajar ao redor do Brasil com o objetivo de registrar as manifestações folclóricas brasileiras, em especial canto e dança, antes que elas se extinguissem.
A equipe foi composta por Martin Braunwieser, músico e maestro austríaco membro do Coral Paulistano, Luiz Saia, arquiteto e membro da Sociedade de Etnografia e Folclore e chefe da expedição, Benedito Pacheco, técnico de som, e Antônio Ladeira, assistente técnico de gravação do Departamento de Cultura e auxiliar geral da missão. Equipados com a melhor tecnologia da época - uma máquina americana Presto Recorder que gravava em discos de acetato, uma filmadora Kodak de 16 mm, uma câmera fotográfica Rolleiflex, e dezenas de outros acessórios, entre filmes, lentes, filtros e microfones -, partiram de navio do porto de Santos em fevereiro de 1938, com destino a Recife.
Munidos de uma tonelada de equipamentos, viajando de barco, caminhão, e ainda se esquivando da ameaça de um possível ataque do bando de Lampião, o grupo ingressou numa incursão romanesca. Passaram por volta de 30 cidades dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Maranhão e Pará. Em quase seis meses de viagem, os pesquisadores angariaram um acervo de 1.500 melodias gravadas, 1.126 fotografias, 17.936 documentos textuais (cadernetas de anotações, cadernos de desenhos, notas de pesquisas, notações musicais, letras de músicas, versos da poética popular e dados sobre arquitetura), 19 filmes de 16 e 35 mm, e mais de mil peças catalogadas entre objetos etnográficos, instrumentos de corda, sopro e percussão.
Construíram um rico mapa cultural do nordeste: Bumba-meu-boi, Nau Catarineta, Cabocolinhos, Maracatu, Tambor-de-Criola, Tambor-de-Mina, Praiá, Aboios, Cocos, Catimbó, Sessões de Desafio, Xangôs, Cantigas de Roda, de Ninar, Cantos de Trabalho, Cantos Religiosos, Cateretê, Barca, entre outros. Além de cantos e danças diversas, registraram também detalhes da fabricação de utensílios artesanais e da poética popular. Informações complementares às gravações possibilitaram ainda construir uma visão ampla do contexto socioeconômico das regiões visitadas.
Mario esperava contribuir assim com a incipiente etnografia científica nacional. Tudo o que fosse coletado seria destinado ao acervo da Discoteca Pública, uma divisão do Departamento de Cultura. O material compõe o acervo da Discoteca Oneyda Alvarenga, que hoje está sob a guarda do Centro Cultural São Paulo desde 1993. Parte dos registros foram também lançados em um box com 6 CDs pelo Selo SESC.
O Escritor Turista
Guiado pelos ideais modernistas de nacionalismo, Mario já havia feito antes três grandes viagens pelo Brasil buscando entrar em contato com o que havia de mais primitivo na cultura popular. Na primeira, em 1914, foi a Minas Gerais, acompanhado do escritor Oswald de Andrade, da pintora Tarsila do Amaral, do poeta suíço de expressão francesa Blaise Cendrars e de Dona Olívia Guedes Penteado, a mecenas dos modernistas de São Paulo. Em 1927, em plena fase de criação de Macunaíma, foi para a Amazônia. Um ano depois, viaja para o Nordeste, visita Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Lá, coleta cerca de 900 melodias e conhece pessoalmente o folclorista Luís da Câmara Cascudo, com quem passa a se corresponder regularmente. Toda biografia de Mário de Andrade registra as três grandes viagens que o escritor fez pelo Brasil, e as anotações feitas durante as visitas ao Norte e Nordeste, com clara preocupação etnográfica, deram origem ao livro O Turista Aprendiz.
Embora não tenha podido participar pessoalmente da viagem de 1938, o escritor, segundo correspondência trocada com Câmara Cascudo, considerava a missão “coisa de vida ou morte". Mario pretendia juntar-se ao grupo, mas seus planos sofreram um duro golpe quando, no final de maio, Getúlio Vargas substituiu o prefeito paulista Fábio Prado por Prestes Maia, que afastou o escritor do cargo de diretor do Departamento de Cultura e ordenou desfazer-se a missão.
Refazendo os caminhos da Missão
Se na época Mário teve seus planos interrompidos, mais de 60 anos depois outro projeto não só conseguiu recriar o percurso completo de sua viagem como também ganhou incentivo para ser repetido e ampliado. Os cineastas Luiz Adriano Daminello e Jorge Palmari se interessaram por refazer o roteiro das Missões de Pesquisas Folclóricas e descobrir o que havia restado daquelas manifestações populares.
Algumas delas já haviam desaparecido por completo, enquanto por outro lado muitos grupos ainda resistiram e permanecem com participação ativa na cultura local, como no caso dos índios Pancararus, da aldeia Brejo dos Padres, em Pernambuco. Na reconstituição do trajeto original, o cineasta filmou congos, pontões e aboiadores em Pombal e Souza, na Paraíba, reisado, cocos e maneiro-pau, na região do Cariri, Ceará, tambor de crioula e boi-bumbá, em São Luís, Maranhão, e a festa do Círio de Nazaré, em Belém do Pará.
Em 2000, o projeto iniciou uma nova etapa, com apoio da Fapesp e coordenação do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp (Labjor). Foi uma nova viagem, objetivando comparar os registros feitos pela Missão de Mário de Andrade com o material coletado pelos cineastas, em relação aos aspectos estéticos, melódicos e do ritual, além de estudar a interferência nessas tradições da mídia – hoje, além do rádio, através de novas ferramentas como a televisão e da internet. Além do projeto de pesquisa, o resultado pode ser visto no vídeo Missão de Pesquisas Folclóricas, exibido pela TV Cultura, e na série televisiva de cinco capítulos Mário e a Missão, veiculada em 2004 pela STV (atual SescTV).
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A CASA indica
Reabertura da Biblioteca Mário de Andrade

Fechada para reforma desde 2007, a Biblioteca reabre suas portas no dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo. Estarão novamente acessíveis as coleções de Atualidades – jornais e revistas correntes, Artes, Mapoteca e Obras Raras e Especiais, além do salão de arte e o auditório. Fundada em 1926, a biblioteca é a segunda maior do país, depois da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, com um acervo de mais de 3 milhões de itens (livros, periódicos e cartões-postais). Biblioteca Mario de Andrade - Avenida São Luís, 235 - Centro. Tel.: (11) 3256-5270.
Paralela Móvel

Em sua primeira edição, a feira reúne o que há de mais inovador em termos de design de mobiliário brasileiro. De 15 a 18 de fevereiro. Na Fundação Bienal de São Paulo, junto à Abup Móvel - Parque Ibirapuera - Portão 3 - Pavilhão Ciccillo Matarazzo.
Exposição Mão da América

O Memorial da América Latina homenagem aos 103 anos do arquiteto Oscar Niemeyer com uma exposição que reúne 50 obras de artistas latino-americanos cujo suporte são réplicas em miniatura da “Mão”, a escultura símbolo do Memorial e seu criador. De terça a domingo, das 9 às 18h, até 12 de fevereiro. Na Galeria Marta Traba, no Memorial da América Latina (www.memorial.sp.gov.br). Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 portões 1, 5 e 6. Tel: (11) 3823-4708 / 3823 4706. Entrada franca.
Eólices Experimento Ambiental

Intervenção de Renata Mellão no Parque Ibirapuera, a estrutura é composta de 500 varas de bambu de 4m de altura que, sobrepostas em seu ponto de equilíbrio, formam uma eólice de 7m de comprimento que se move ao sabor do vento. O projeto teve apoio da administração da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente. De 5 de dezembro de 2010 a março 2011. No Parque Ibirapuera - próximo a Praça da Paz (portão 07 - entrada Av. República do Líbano).De segunda-feira a domingo, das 8h às 18h. Tel: (11) 5574 - 5177.
Boa
leitura
“Nos processos de movimentar o material, a arte se confunde quase inteiramente com o artesanato. Pelo menos naquilo que se aprende. Afirmemos, sem discutir por enquanto, que todo o artista tem de ser ao mesmo tempo artesão. Isso me parece incontestável e, na realidade, se perscrutamos a existência de qualquer grande pintor, escultor, desenhista ou músico, encontramos sempre, por detrás do artista, o artesão. O artesanato, os segredos, os caprichos, as exigências do material, isto é assunto ensinável, e de ensinamento por muitas partes dogmático, a que fugir será sempre prejudicial para a obra de arte. (...)Artista que não seja ao mesmo tempo artesão, quero dizer, artista que não conheça perfeitamente os processos, as exigências, os segredos do material que vai mover, não que não possa ser artista (psicologicamente pode), mas não pode fazer obras de arte dignas deste nome. Artista que não seja bom artesão, não que não possa ser artista: simplesmente, ele não é artista bom. E desde que vá se tornando verdadeiramente artista, é porque concomitantemente está se tornando artesão.”
Mário de Andrade
“O Artista e o Artesão”, texto contido no livro “O Baile das quatro Artes”, disponível para consulta e empréstimo na Biblioteca Mário de Andrade e outras da rede municipal. Consulte aqui. |
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