Editorial
O calendário de 2011 traz duas datas festivas numa interessante coincidência - no dia 8 de março será comemorado o Carnaval e também o Dia Internacional da Mulher. Por isso, A CASA decidiu homenagear na matéria do mês as figuras femininas que tiveram papel de destaque no universo carnavalesco - e não só pelo bom samba no pé e os belos corpos que ostentam na avenida.
Na sessão da entrevista, conversamos com a jornalista Mara Gama, que há tempos circula pelo ambiente do design. Mara conta como o design – em suas mais variadas formas – sempre esteve presente em sua vida, comenta sobre o atual panorama do design brasileiro, o papel das universidades na formação de novos profissionais e de sua experiência como juri de prêmios da área.
Já o Boa Leitura deste mês traz um texto do antropólogo Marcelo Manzatti, que durante o governo Lula integrou a equipe da Secretaria de Identidade e Diversidade do Ministério da Cultura (SID/MINC). Manzatti faz uma avaliação da gestão petista no campo das culturas populares, e dá indicações de quais serão os desafios da área para Dilma Roussef.
Acontece
no
museu A CASA
Cunha
Gago, 807
Últimos dias da exposição "louça morena do povoado de Poxica"

Termina dia 18 de março a exposição Louça morena puxada à mão, fruto da parceria dA CASA com o Promoart, do Ministério da Cultura. A exposição integra ainda o projeto Sala do Artista Popular, do Museu do Folclore, e reúne artefatos de louça artesanais produzidas no povoado de Poxica (Itabaianinha/ SE), uma das mais importantes regiões brasileiras de tradição popular na produção e comercialização de louças de barro. As peças em exposição estão também disponíveis para venda. Não perca! De segunda a sexta, das 10h às 19h. Saiba mais.
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Entrevista
- Mara Gama
"O design não vai resolver o problema do Brasil. Resolve o problema do designer quando for bom, quando não for bom não resolve o problema de nada. Só inventa uma chatice e tranqueira."
Mara Gama é jornalista especializada em design e mantém o BlogDesign.
Com essa experiência toda que você tem, cobrindo design e participando do júri de vários prêmios da área, dá para dizer onde estamos em termos de design no Brasil?
Consigo ver melhor o design brasileiro, mas não que eu possa te dizer onde estamos. Consigo ver que estamos em vários lugares, porque de verdade no Brasil tem uma desigualdade muito grande, e essa desigualdade não é uma questão de vontade. É uma questão que existe. (...) Acho que caminhamos numa coisa que é uma consciência um pouco maior, pelo menos das pessoas que mexem com design. Nos últimos vinte anos, partimos de quatro cursos de graduação em design para quinhentos. Isso já é uma indicação. Não quer dizer que a gente está formando gente excelente em todos os cursos, porque tem muitos. Estamos formando gente ruim em muitas áreas por causa dessa mercantilização da educação, isso acontece com o design também. E acontece também essa fetichização do design. Então vou fazer um curso de design. Mas para quê? Se não gosto de criar, não gosto de desenho, não gosto de objeto, enfim. As pessoas também fantasiam muito o que é ser designer. (...)
E acho que a gente teve uma mudança também de percepção, que foi de começar a ter um pensamento no Brasil de que fazer alguma coisa com o que é dado não é só uma solução de terceiro mundo abandonado. Não é uma solução pós-industrial, e o mundo inteiro está fazendo isso. Então não é só porque eu não posso comprar não sei o quê, que eu vou fazer a minha casa ser barata. É porque eu acho que não tenho que gastar dinheiro com porcaria. E esse pensamento dá uma espécie de racionalidade no mundo, do luxo ser menor. (...)
Também não existe esse “o design brasileiro”. Existe o design feito por brasileiros, e tem muitas características semelhantes, principalmente se procurarem produtos brasileiros. Se não procurarem, não necessariamente tem. E isso não é um problema. Acho que eu sentia mais um nacionalismo maior quando eu comecei a escrever, uma atitude de "vamos defender o design brasileiro", que eu acho que era uma coisa de luta, de tentativa do design brasileiro conseguir que as pessoas olhassem para ele. Tinha uma visão meio corporativa. Eu sinto menos isso, mas claro, ainda tem o marketing da sustentabilidade, do Brasil que é naturalmente verde. Não é naturalmente verde, você tem que fazer uma super força para fazer alguma coisa verde, é um super esforço fazer uma coisa sustentável. Não é assim "oh, nascemos fadados a sermos auto-sustentáveis". É uma besteira isso. Requer muito planejamento, uma energia limpa requer muita tecnologia. Você pode fazer uma coisa cujo processo seja de baixa tecnologia, seja low tech mas, para você planejar, tem que ter uma grande tecnologia pelo menos de projeto, para você fazer com que aquilo tenha algum ciclo de verdade de produto.
Acho que estamos num processo generalizado de qualificação. E, falando do design, realmente a gente não precisa ter mais sempre um produto novo, com uma cara nova, porque nem consegue ter... E nem precisa...
E nem precisa, porque você produz se tem alguma necessidade. Eu fui duas vezes à Milão, e eu não quero mais ir. O que eu mais gostei quando eu fui para Milão foi entender o tamanho do negócio. Isso foi muito chocante para mim. Eu não tinha a dimensão de como aquilo movimenta grana, como é profissional. Tem as casas de design onde os lançamentos são super chiques, mas ali no dia-a-dia é indústria, caminhão, um negócio muito forte. E depois, o Salão Satélite, que é um salão de experimentação onde participam estudantes de várias universidades, para mim foi o máximo. Nos dois anos que eu fui, adorei o Salão Satélite. Fica no mesmo lugar que a feira de móveis, e ali eu vi muita coisa que eu acho que seria muito importante para o designer brasileiro ver. (...)
Por essa dificuldade de entrar na indústria brasileira, de a gente conseguir que a indústria banque os projetos dos designers brasileiros, acho que tem uma vontade de ficar descobrindo o que que a indústria está precisando e tentar fazer. Vejo em muitos concursos um monte de projetos que eu falo "mas por que que o cara está criando isso se já tem seiscentos mil iguais?" Ou é por falta de repertório, que é bem capaz, ou é também falta total de liberdade criativa. Acho que a Internet ajuda pra caramba isso, fazer essas imagens chegarem em você. O cara que está lá em Londres resolveu inventar uma colherzinha de azeite que é um pouco diferente, não foi inventar um sistema de móveis que vira casa, vira banheiro, vira cozinha... Que são ideias muito primárias sobre design: "eu vou desenvolver uma casa numa caixa". Não vai, nunca ninguém vai todo dia chegar em casa e montar o negócio, aí daqui há pouco desmonta. Não adianta você fazer um móvel que tenha oitenta utilidades que ninguém vai usar, ninguém tem paciência. Você quer chegar em casa e sentar, e descansar, e e cuidar de seus filhos... Enfim, ninguém precisa disso.
Acho que esse amadurecimento passa por um maior repertório e liberdade criativa. E disso eu sinto muita falta. Não vejo nos concursos nada assim. Nada não, que seria muita injustiça eu dizer isso, mas eu vi poucos projetos que fossem completamente inovadores. Porque eu acho que a gente ainda continua um pouco preso na hora da criação de produtos, de projetos. (...) Acho que a gente ainda fica com aquela ideia, que é um pouco herdada do modernismo na arquitetura, de que a arquitetura ia resolver o problema do Brasil. A arquitetura não resolve o problema do Brasil, e o design também não vai resolver. Resolve o problema do designer quando for bom, quando não for bom não resolve o problema de nada. Só inventa uma chatice e tranqueira.
Leia
entrevista na íntegra
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Matéria do MÊS
Mulheres na avenida
Não só pela beleza e graça das passistas, madrinhas de bateria, pela maestria das baianas e porta-bandeiras, as mulheres são presença essencial para o carnaval. Uma ala de mulheres que não aparece na avenida garante a beleza do desfile - as artesãs, bordadeiras, costureiras. E no meio tradicionalmente masculino dos músicos e compositores, ao longo da história grandes nomes femininos se destacaram, rompendo barreiras e abrindo espaço para as mulheres na música, como ritmistas, compositoras e puxadoras de samba.
Ô Abre Alas
A presença feminina foi marcante desde a primeira marchinha carnavalesca. Em 1899, os foliões cariocas cantavam Ô Abre Alas, composição de Chiquinha Gonzaga para o bloco Rosas de Ouro. Mas foi só séculos depois que pela primeira vez uma mulher integrou a ala de compositores de uma escola de samba: em 1965, quando Dona Ivone Lara venceu o concurso para samba-enredo da Império Serrano com "Os cinco bailes da história do Rio". Mas Dona Ivone, que já em 1947 fez o samba "Nasci para sofrer", o qual se tornou o hino da escola, durante anos compôs sob o pseudônimo do primo Fuleiro, antes de que fosse reconhecida como compositora.
Quem igualou o feito de dona Ivone na tradicional ala de compositores da Mangueira foi Leci Brandão, em 1972. Assim como ela, várias outras cantoras passaram pelo sambódromo, "ajudaram a dar voz o samba" - também literalmente - dentro e fora da avenida.
As vozes femininas do samba
Um grupo de mulheres pioneiro na interpretação de samba foi As Gatas, formado pelas cantoras Dinorah, Nara, Zélia e Zenilda. Gravaram todos os discos de samba desde 1968 e são responsáveis pelos corais nas faixas. E até hoje são frequentemente convidadas para auxiliar os intérpretes na avenida, em especial pela Beija-Flor, escola pela qual desfilaram pela primeira vez em 1977.
Difícil é precisar quem foi a primeira puxadora de samba-enredo. Duas das precursoras foram Tia Surica, que em 1966 ao lado de Maninho e Catoni puxou o samba-enredo “Memórias de um Sargento de Milícias”, e Elza Soares, convidada pelo Salgueiro no carnaval de 1969 para puxar o samba "Bahia de todos os deuses", que garantiu para a escola o título daquele ano. O sucesso da cantora na vermelho-e-branco inspirou outras escolas a buscarem “a sua Elza”.
Foi na voz de Marlene, legendária cantora da época de ouro do rádio, que o Império Serrano garantiu o título de 1972 com “Alô, alô, taí Carmem Miranda”. Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes (o chamado ABC do samba da década de 70), Selma Reis e Simone foram algumas das mulheres que subiram ao carro de som na Marquês de Sapucaí. Em São Paulo, a maior delas é a cantora Eliana de Lima, que há 25 anos puxa sambas no carnaval paulista.
80 mulheres nas ruas de São Paulo
Em São Paulo, um bloco só de mulheres toma as ruas do centro da cidade nos dias de Carnaval. Mas não é uma bateria de escola que marca o ritmo, e sim a batida afro de djembês, alfaias, ilús, agogôs e xequerês. São as cerca de 80 instrumentistas, cantoras, dançarinas do grupo afro Ilú Obá de Min que, em mais de 20 anos de formação, trabalha pesquisando e divulgando as tradições percussivas, musicais e coreográficas africanas e afro-brasileiras.
A cada carnaval seguem uma temática relacionada à cultura afro-brasileira: a viagem dos negros escravos nos navios negreiros, mitos africanos sobre a origem do mundo e o panteão dos orixás. Já prestaram também tributo a mulheres marcantes da cultura afro-brasileira, como em “Leci Brandão, Guerreira Verdadeira”, tema de 2006. Confira a agenda do grupo para o carnaval deste ano.
No meio da multidão
Outra personagem feminina marcante no imaginário carnavalesco, frequentemente presente nos salões de baile, é a Colombina. Uma das fantasias mais populares entre as folionas, a personagem tem suas origens na Commedia Dell’Arte, em fins da Idade Média. No tradicional teatro italiano, é uma bela serviçal que vive entre o amor do astuto Arlequim - a figura de roupas de losango coloridas, cujo sentimento é correspondido por Colombina - e o romântico Pierrot - constantemente retratado com uma lágrima nos olhos, por sofrer pelo amor da donzela.
Tal triângulo amoroso já serviu de inspiração aos mais diversos artistas, como tema de pinturas, enredos e marchinhas e canções, como a popular “Máscara Negra”, de Zé Keti. E, entre os mascarados do salão, quem já não se apaixonou e disputou entre Arlequins e Pierrots o amor de uma bela colombina?
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A CASA indica
Brasil Fio a Fio: bordar, criar e compartilhar

Uma viagem pelo bordado brasileiro através das tradições, criação e produção de 14 grupos de várias regiões do país. É o que propõe o evento, que reúne uma extensa programação com exposições, oficinas, palestras e bate-papo, contação de histórias e apresentações musicais. Parte da programação aborda a relação do bordado com o fazer artístico, em especial a literatura de Guimarães Rosa. Todas as atividades são gratuitas. De 18 de fevereiro a 13 de março, no Sesc Pinheiros - rua Paes Leme, 195 - Pinheiros - São Paulo - SP - Tel. (11) 3095-9400. Saiba mais.
Glória Coelho Linha do Tempo

O Museu da Casa Brasileira traz uma retrospectiva dos 20 anos de produção da estilista, cuja trajetória se destaca na transformação e reconhecimento atual da moda brasileira. São 60 obras com curadoria da própria designer e de Ana Lúcia Castro. Visitação até 20 de março. Museu da Casa Brasileira - Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705 - São Paulo. Tel. 3032-3727 / 3032 2564. Saiba mais.
Paralela Gift

Considerada um dos mais importantes eventos de design contemporâneo destinado a lojistas no Brasil, a feira chega a sua 19ª edição em março de 2011. Com curadoria de Marisa Ota, reúnes grandes nomes em acessórios, cerâmca, design têxtil, joalheria, luminárias, mobiliário, objetos de design, papelaria, vestuário e produtos artesanais. De 12 a 15 de março, no Shopping Iguatemi. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2232 – Jardim Paulistano - São Paulo - SP. Saiba mais.
Seminários Internacionais Museu Vale

A sexta edição dos seminários traz como tema “Homo Faber: o animal que tem mãos", a partir do conceito de Hannah Arendt e Max Scheler que pensa os seres humanos como controladores do seu ambiente por meio de ferramentas. As discussões trazem à reflexão o fazer do homem e suas transformações, os vários dilemas que envolvem a criação artística, o design e o consumo. Com participação de Adélia Borges, Paulo Mendes da Rocha, Ivaldo Bertazzo, Mana Bernardes, Jum Nakao e o diretor do Design Museum de Londres, Deyan Sudjic. De 16 a 20 de março, no Museu Vale - Antiga Estação Pedro Nolasco s/n - Argolas - Vila Velha - ES. Tel. (27) 3333-2484. Inscrições gratuitas através do site do evento. Veja aqui.
Boa
leitura
"Minha tese inicial é a de que, a despeito das inúmeras ações, programas e projetos específicos de cultura iniciados pelo governo Lula (não ousaria falar que atingimos o patamar de uma política pública), os benefícios maiores ocorreram apenas de forma indireta, como efeito da melhora geral nas condições de emprego e renda da população mais carente. A maior estabilidade em relação a este fator, determinante para a qualidade geral da vida das classes populares, permitiu que inúmeras ocorrências negativas para o equilíbrio necessário ao florescimento da criação, da produção, da circulação, da difusão, do ensino e da memória destas expressões culturais tradicionais fossem se não exterminadas, pelo menos, neutralizadas".
Marcelo Manzatti
As culturas populares e tradicionais no governo Dilma
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